domingo, 29 de maio de 2011

Wembley, a Olímpia contemporânea


Os brasileiros, acostumados com o seu pseudo-gigantismo no futebol, acabam desmerecendo muitas vezes clubes de países vizinhos e outros estádios, jogadores e tudo o que se relacione com o futebol. Mesmo quando admitem admirar algo relacionado ao esporte bretão eles subestimam, ainda que sem querer, o que se elogia.
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Esporte bretão, repito. A seleção inglesa pode não ser a mais forte hoje em dia - e, na imensa maioria das vezes, nunca foi a mais forte -, mas temos que admitir o quão tradicionais são suas instituições. Seus clubes, suas competições, sua federação e suas tradições. Vale lembrar que o clube mais antigo do mundo é o Notts County, e a competição mais antiga do mundo é a FA Cup, a Copa da Inglaterra. Mas pouco se fala - ou, ao menos, não se fala o quanto merece -
, do maior monumento do futebol inglês, que representa toda a tradição do futebol britânico.
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Wembley é muito mais que um estádio multi-uso, um estádio nacional ou a casa da seleção inglesa. Wembley é o maior sinônimo de futebol que eu conheço. O futebol que glorifica, que é visitado apenas por monstros sagrados e que fizeram muito para lá chegar. Regularmente, apenas cinco times jogam lá por ano: o English Team e os finalistas da FA Cup ( Copa da Inglaterra ) e da Carling Cup ( Copa da Liga Inglesa ). Entre tantos que vislumbram atuar por lá,
ele mantém-se irredutível, aceitando apenas gabaritados para tal. Quem visita o estádio, ou melhor, o templo, o pagode, o terreiro máximo do maior esporte do planeta, sente-se honrado, mais próximo do paraíso.
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Poucos estádios podem dar-se ao luxo de ter uma final de Champions League apenas como coadjuvante diante de tanta história. Ontem, Barcelona e Manchester United visitaram o estádio e escreveram seu nome na história, mas Wembley é bem mais que isso, é bem mais que a Champions League, é bem mais que qualquer história já escrita. É um estádio com vida própria, que tem vida, que dá vida a tudo que sedia.
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O Barcelona venceu sua primeira Champions League lá, em 92. O Manchester idem, em 68. Para provar o quanto isso é pequeno, Wembley é o recordista em decisões de Champions L
eague: a de ontem foi a sexta final. No confronto entre os times que tornaram-se campeões da Europa pela primeira vez em seu gramado santo, nada mais justo que um dos maiores times de todos os tempos tenha sido coroado no estádio mais emblemático de todos os tempos.
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Wembley é mais importante que o Maracanã, que o Monumental de Nuñez, que o Defensores del Chaco, que o Centenário, que o Campím, que o Luzhniky, que San Siro, Santiago Bernabeu, Camp Nou ou Luz, por não receber a todos. Que o Jamor e que o Stade de France por sua história.
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Wembley é ainda mais célebre pros ingleses. Foi lá que a seleção nacional venceu a arquirrival Alemanha na Copa de 66, com o gol mais polêmico da história das Copas, anotado por Geoff Hurst. Lá também ocorreram shows históricos de Queen, Michael Jackson, Madonna, Rolling Stones, U2, Foo Fighters, Green Day e Muse. É uma ode cultural, como se observa.
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Também é interessante notar os traçoes caractéristicos de cada tempo. O antigo Wembley, construído em 1923 e demolido em 2003 - o último gol do velho estádio, aliás,
foi ma
rcado pelo brasileiro França, em amistoso das seleções inglesas e brasileiras - tinha como característica as duas torres em sua entrada leste, sendo conhecido na época como o " Estádio das Duas Torres ". Já o novo Wembley, inaugurado em 2007, tem como símbolo o arco que o corta por cima.
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Novo Wembley que, aliás, custou cerca de 800 milhões de libras esterlinas, num exemplo do que não fazer com dinheiro público. A reforma até hoje é indagada pela sociedade e pelos políticos, graças a escândalos de superfaturamento e lavagem de dinheiro.
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Isso não apaga o glamour, o charme e a imponência de Wembley. Nada apaga a história de Wembley. Nem um pouco. Wembley é uma palavra que o vocabulário do futebol ainda não conseguiu definir com exatidão, e jamais conseguirá. Não porque o futebol é pequeno, mas porque toda e qualquer língua é pequena para definir o estádio de futebol mais imponente e importante do planeta.

O melhor do mundo

Falar que o Barcelona joga demais é pouco. Elogiar Messi, Iniesta, Xavi, Villa, Puyol ou Pedro, além de clichê, soa como algo repetitivo demais. Já tá na hora de deixarmos os medos de lado e falar o que ninguém parece ter coragem por desrespeitar alguns times e ídolos antigos, o que não é desrespeito pois estão sendo comparados a verdadeiros mitos do futebol mundial.
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O Barcelona é o melhor time do mundo, um dos melhores times da história. Figura no meu top 3 de times de clubes da história do futebol mundial. Falo que desde 2005 vivemos a era Barcelona, primeiro com Ronaldinho e Rijkaard e depois com Messi e Guaridola. Um time que em 6 anos soube se reinventar mesmo perdendo peças outrora fundamentais. Soube achar na sua base - ou, como dizem na Espanha, na sua cantera - jogadores que supriram deficiê
ncias do time. Soube mesclar a experiência de jogadores criados na Catalunha há algum tempo, alguns catalães que mal saíram das fraldas direito e contratações cirúrgicas. Soube perder e se reerguer, soube investir e teve a sorte de ter uma diretoria que soube administrar um clube como empresa sem perder a paixão que envolve um clube.
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O futebol embasbacante de hoje é reflexo de tudo isso. O Manchester jogou melhor os primeiros trinta minutos de jogo, é bem verdade. Mas quando o Barcelona quer, e quando o Barcelona acha um espaço, não há como detê-los. Foi assim que Pedro fez 1x0 pros time blaugrana. Em jogada tramada por outra lenda, Ryan Giggs, Rooney empatou.
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O melhor do mundo iria se abater ? Não. O melhor do mundo não se abate. O melhor time do mundo e o melhor jogador do mundo idem. Messi mostrou porque é tão sensacional por surpreender seus marcadores, que ficaram esperando ele partir pra cima. Os zagueiros mancunianos só atacaram quando viram a pena da pulga pronta pro chute. Tarde demais, bola na rede, Barcelona 2x1.
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Os bretões ainda respiravam. Tentavam algo, sem muita organização. O Barcelona, clássico, tocava a bola, girava o jogo para achar um espaço. E achou. Após infiltração pela esquerda, David Villa anotou o terce
iro.
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Sobre o Manchester United, vale repetir o que eu sempre disse: tem deficiências demais para ser campeão inglês, imagine da Champions League. Talvez os próprios jogadores saibam que o título da Inglaterra só não foi do Chelsea graças ao período ruim dos Blues nas rodadas entreturnos. O time de Stamford Bridge tem um time bem melhor e um plantel bem maior. O lado direito evidencia bem isso. Os gêmeos Fábio e Rafael atacam muito bem, mas não voltam para defender e, quando voltam, mostram que ainda pecam na marcação. Que
m quer que ajude pela destra - Carrick, Smalling, Valencia, Scholes ou Giggs - não dão conta ( os três primeiros por deficiência técnica, os dois últimos pela idade avançada ). Como se não bastasse, o artilheiro do time e o maior garçom da equipe - Berbatov e Nani, respectivamente - ficaram no banco de reservas. Os Diabos Vermelhos ajudaram demais o Barcelona.
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Foi fácil. Pode parecer heresia falar isso, mas o chocolate foi explícito. Apostava num 3x0 catalão sobretudo graças ao lado direito que só apóia do
Manchester. Errei pelo gol feito dos ingleses, mas o show foi ainda maior do que eu previa.
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Show que não apaga o resultado, afinal de contas, o Barcelona é tetracampeão europeu. O que mais me encanta no Barcelona, aliás, é a fusão perfeita de eficiência com beleza. Parece que quanto mais eles ganham, mas eficientes e letais eles ficam, e mais bonito é o futebol mostrado por eles. É uma bola de neve que parece não ter fim, e eles tem a gana de querer sempre mais. Se mantiverem essa ambição, vão aonde nenhum outro time já foi.
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É difícil medir até onde esse time é encantador. É, disparadamente, o melhor time que eu já vi jogar. Isso risca da minha lista o Cruzeiro de Alex, o Santos de Robinho, o Real Madrid dos galáticos e o São Paulo de Muricy. O Barcelona é o melhor desde qual time ? Do Milan de Sacchi ? Da seleção brasileira de 82, da de 70 ? Do Santos de Pelé ?
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Perguntas que cada um responde da maneira que entender. A certeza, entretanto, é uma só: ver o Barcelona jogar é um prazer inenarrável. É sentir o sangue dum apaixonado por futebol fervilhar e se encantar a cada lance mágico.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Raoni, o Brasil que chora


Quando surgiu, o PT pregava ser um partido diferente. Era ético, representava o povo e tinha como único interesse o melhor para a maioria. Com o tempo, todos vimos que não é bem assim. Seja nos episódios da emenda Dante de Oliveira, na votação de Tancredo, no mensalão, nos sanguessugas e em qualquer outro escândalo recente do partido vermelho, vemos que a ilusão do PT bonzinho e popular nada mais é do que nada mais que sonho. Porém, hoje, o PT foi longe demais.
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A presidente Dilma Rousseff liberou hoje o início das construções da polêmica usina hidrelétrica de Belo Monte. A usina, a terceira maior do mundo, alagará uma área de 516km² no entorno do rio Xingu. Uma enormidade. Tudo o que existe de vivo nessa área será modificado: o curso do rio vai mudar, a flora passará a inexistir - bem como a fauna - e até mesmo os índios da região terão que sair do local. A maioria, eterno foco do PT, fez um abaixo-assinado com 600 mil assinaturas, ignorado pelo governo, tal qual as cartas dirigas ao gabinete da presidente.
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Sim, os índios. Eles, que sempre representaram muito bem a minoria que o PT queria defender. O PT acabou com sua base. O PT mudou. O verdadeiro PT acabou.
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A comovente foto do cacique Raoni chorando com a decisão me emocionou como poucas imagens nos últimos anos. Senti a dor dum líder que nunca quis pra si os holofotes, quis apenas defender os interesses - interesses humanos, não políticos - duma etnia que nunca teve voz no Brasil. Etnia essa que é a verdadeira nativa do país. O Brasil pertence a eles, e nós devemos respeito aos índios. Respeito esse que, para a presidente Dilma, é extradita-los para um lugar totalmente desconhecido pelos mesmos.
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Não me admiraria que esse governo insensível colocasse os indígenas no meio duma metrópole, deixando-os totalmente fora da vida. Eles precisam de seu espaço, de convivência entre si, de sua religião e de seus costumes. Não de fumaça ou problemas com o transporte.
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Anhangá Rousseff e os patrões Xandorés fizeram Raoni chorar. Eles foram mais fortes que Catú, que não conseguiu falar com Guaipira a tempo de mudar essa triste história. Parajás nada pôde fazer ao ver sua justiça traí-lo e a proteção de Aruanã afrouxou contra sua vontade.
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Que Tupã esteja com vocês, nativos. Esse atentando contra a humanidade não ficará assim.
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Brasil, a eterna injustiça. O eterno Belo Monte. Belo Monte de merda.
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PS: Sei que não costumo colocar fotos aqui, e preciso começar a fazer isso. Nada mais justo que colocar essa tocante imagem do dia.

domingo, 22 de maio de 2011

O jovem, de fato, lê mais ?

Na semana passada, a revista Veja trouxe na capa uma informação chocante: os jovens estão lendo mais que antigamente. É bacana ver o senso comum sendo quebrado, duma forma ou de outra, mas devemos analisar a afirmação com cautela. Hoje diz-se com muita frequência que os adoelscentes só querem saber de internet e não se interessam sequer pelos autores contemporâneos, quanto mais pelos clássicos. A Veja contestou isso, e eu me interessei pela reportagem. O interesse acabou na capa.
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Achei incrível ver como a Veja usou argumentos ruins e poucos dados estatísticos para defender sua idéia. As artes da revista, usadas normalmente para trazer dados e explicá-los, preferiram fazer uma linha de livros a serem lidos de acordo com um inicial, que faz sucesso hoje em dia. Por que fazer uma reportagem sem dados, na pura base do achismo, como essa ? isso é desinformação na sua forma mais bruta.
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É fácil falar, também, que os jovens da classe média lêem mais. Eles sempre leram, seja para ir bem na prova da escola, por imposição dos pais ou por vontade própria, mas sempre leram. Se lêem mais que em outros tempos não se sabe - eu sinceramente acho que sim, e isso deve-se ao fato das editoras terem descoberto o mercado dos 15 aos 22 anos de idade - e não cabe a nós discutir infundadamente, como a revista faz. O que incomoda a todos, entretanto, é o acesso que os mais carentes tem à leitura.
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Os jovens mais abastados, com a ascenção ecônomica, podem comprar livros com tranquilidade. Mas e o que mora em comundiades carentes, tem oa cesso a informação e ao conhecimento sem passar por nenhum sufoco, como pregam diversos estatutos de direitos humanos ?
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Como a situação social do país melhorou e muitas pessoas das classes D e E passaram para a C, é claro que os números absolutos de leitura melhoraram. Mas o desafio principal, que a Veja não falou, é fazer com que todos tenham como ler um livro de seu interesse, sem exceção. Além disso, é improtante despertar neles a vontade de ler, o que uma educação de qualidade pode fazer. Nesses dois aspectos, o Brasil fica devendo.
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Um dos maiores pecados jornalísticos é profanar dados sem contextualizá-lo. A Veja pecou, por mais que isso não seja nenhuma novidade.

Futebol fora de campo

Os jornalistas esportivos que julgam saber mais que qualquer reles mortal sobre o esporte bretão falam insistentemente que futebol se ganha dentro das quatro linhas. Eles e os jogadores - a maioria desses, de inteligência nula ou próxima disso - criaram o jargão de que " futebol se ganha dentro das quatro linhas ", uma oração tão pobre de conteúdo quanto de argumento. Tudo que é criado e feito no gramado é apenas o resultado de treinos e métodos que são feitos ao longo de todo o trabalho. Negar isso e acreditar no acaso sempre é duma inocência e duma ignorância sem tamanho.
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Darei dois exemplos pra ilustrar esse fato. Ao longo da década passada, o Palmeiras sofreu com seu departamento médico. Diversos especialistas passaram por lá, mas nenhum conseguia recuperar de fato os seus jogadores, que, vira e mexe, voltavam para o estaleiro. Casos como o de Pedrinho - o popular Podrinho - e Valdivia tornaram-se célebres ao explicar como um departamento médico pode ser tão incompetente e prejudicar tanto um time. Não por acaso, títulos foram raros para o Palmeiras nessa época. Aliado à diretorias amadoras que comandavam o clube, pode-se culpar boa parte dos insucessos palestrinos no começo do milênio graças ao seu DM.
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Recentemente, o São Paulo demitiu o fisiologista Turíbio Leite de Barros e o preparador físico Carlinhos Neves, ambos com passagem pela seleção brasileira. Junto com o fisioterapeuta Luiz Rosan, o trio de especialistas marcou época no São Paulo fazendo o time vencer diversos títulos. Com a demissão dos dois primeiros, subitamente, uma série de lesões começou a abater o São Paulo, que foi eliminado do Paulistão e da Copa do Brasil em dez dias. Hoje também é difícil acreditar que o São Paulo terá fôlego para brigar por algo maior no Brasileirão. Não por falta de elenco, mas sim pelos profissionais extracampo que perdemos. A diretoria, capitaneada pelo tirano e déspota Juvenal juvêncio, é a culpada não só por isso, mas também pela atual fase do São Paulo, que cada dia menos lembra o tricolor que eu me habituei a ver.
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Tenho pena de quem acha que só raça e vontade ganham jogos e campeonatos. É claro que ajudam, e, ao menos pra mim, isso é o mais importante. Mas sem planejamento e bons profissionais em áreas que não entram em campo não há vitórias ou títulos.

Juro que eu tenho o quê falar

Pode parecer que esse blog tá às moscas, que eu não tenho mais o que criticar, falar ou opinar, mas não é bem por aí. Aliás, definitivamente, não é por aí. Cada vez mais minha cabeça fervilha com idéias e vozes contrárias ao que diz a maioria, mas me falta tempo pra colocar tudo em ordem, num papel, e começar a escrever sobre. Talvez amanhã, domingo e sem projetos urgentes da faculdade, eu vá escrever sobre algumas coisas que me afligem. Talvez.
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Pra não dizer que esse blog não tem nada de novo, você pode curtir o post via facebook. Basta clicar no título de cada mensagem que o botão mundialmente conhecido vai aparecer no lado direito do primeiro parágrafo ( lead, pros jornaleiros de plantão ) e deixar esse autor feliz. Agradeço desde já.

sábado, 14 de maio de 2011

Uma vitória do bom-senso

A geração café-com-leite, aquela que assiste passivamente a tudo enquanto os engravatados fazer tudo o que lhes dá na telha, pouco a pouco vai tendo alguma consciência do que não faz. Ela mobiliza-se pela internet, esse meio tão singular que dá voz a todas as opiniões mas tira a vontade de ir pra rua e fazer o que se deve por puro comodismo. Se a internet é a principal culpada da ausência de protestos não discuto agora, mas que ela dá voz a algumas causas bem interessantes, ela dá.
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Nessa semana foi julgado no Superior Tribunal de Justiça a lei que visa legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Só por ver tal projeto ir tão longe, no STJ, já fiquei surpreso. A sociedade brasileira ainda tem certos preconceitos escabrosos como o machismo e a homofobia, e os artigos, bem liberais pro país, estariam sendo analisados por aqueles que detém o maior conhecimento jurídico do país. Um feito. Restava saber se eles, que tem muita bagagem na advocacia e parecem ter às vezes pouca no bom-senso, dariam a vitória pro mais nobre dos sentimentos ou pra mais asquerosa das atitudes.
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Foi uma lavada. Por unanimidade, o STJ aprovou a lei. Isso sim deve ser comemorado por nós, brasileiros. Uma vitória que não é tão política quanto se pensa, mas é um freio nos que ainda defendem a sociedade na base das fobiais sociais, onde o modelo de família perfeita de sempre seria o único a ser seguido, sem levar em conta que os humanos mudaram muito dos séculos anteriores pra cá, em tudo. A antropologia fala por mim.
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As reações à aprovação da lei foram instantâneas. Em seu twitter, o pastor Silas Malafaia conclamou várias personalidades do mundinho gospel para protestar contra a lei, dizendo que ela é inconstitucional ( aliás, me espanto em ver como projetos de leis que não são do gosto de alguém sempre viraM inconstitucional, encontrando algum artigo fora de qualquer contexto e usado para manipular alguns poucos que não devem sequer saber ler ), twittando e usando seus seguidores como massa de manobra. Um típico exemplo de alienação de pessoas que só enxergam a palavra de deus, e não a de algo que poderia favorece-las caso elas tivessem uma mente mais aberta e disposta a fazer algo que não pagar o dízimo e custear esses calhordas que enriquecem a custa de fiéis alienados. Em Brasília, Jair Bolsonaro ( sempre ele... ) falou que a lei é uma afronta aos bons costumes da sociedade e fez até o kit antigay, num exemplo incrível de homofobia. Ao ver suas idéias quinhentistas sendo vencidas, ele, naturalmente, perdeu a linha e apelou para o popular, o que sempre o ojerizou. Quem te viu quem te vê, filho de milico.
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Em território por vezes adverso, o Brasil conseguiu uma vitória como poucas. Seja pelo twitter, pela internet ou pelo lugar que for, sempre espero ver os interesses das pessoas em primeiro lugar. Por mais liberdade e pelo livre arbítrio total na vida.

Todos os diferenciados dessa terra sem igual e sem iguais

Em 2009, naquele período " já-estou-em-campanha-mas-o-TSE-não-pode-saber-disso ", Lula chamou Sarney e Collor de " diferenciados ", exaltando os grandes feitos políticos e memorável história que os dois possuem. Vamos ao popular agora: Sarney e Collor são donos de Maranhão e Alagoas, e elogiá-los significa ter apoio dos dois estados nordestinos nas urnas. Nas eleições de 2010, não por acaso, a candidata governista, Dilma Rousseff, teve uma vantagem esmagadora nos estados citados, e ganhou a eleição no segundo turno. Não preciso nem entrar aqui no histórico de Lula com Collor e Sarney, mas todos sabem o quão essas relações já foram tumultuadas. Na verdade, qualquer relação de Collor e Sarney é tumultuada, mas não cabe a mim falar isso agora.
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Nessa semana, o governador paulista, Geraldo Alckmin, disse que a estação de Higienópolis do metrô seria deslocada para uma outra região, mais próxima da praça Charles Miller e distante da avenida Angélica. O ato, surpreendente, tornou-se ainda mais surpreendente após todos saberem o motivo: pressão popular.
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Sim, pressão popular. Falar o que é pressão popular é algo subjetivo demais principalmente na politicagem, e, para os tucanos, o povo é representado pelas 3.500 assinaturas juntadas por residentes de Higienópolis que se mobilizaram para impedir esse verdadeiro atentado ao bairro, um dos mais tradicionais e valorizados da cidade. O metrô atrairia várias pessoas de renda bem inferior aos moradores de lá. O pedido, claro, visando o bem-estar comum do povo, foi acatado por Alckmin. O PSDB governa pro povo, dizem. Mas o povo, pra eles, é o povo que coloca a mão no dinheiro, e não nas máquinas.
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A palavra usada pelo governador para (des)qualificar os que iriam passar a andar por Higienópolis, veja só, foi " diferenciado ". Pessoas diferenciadas, que causariam mudança do panorama do bairro. O povo que pega nas máquinas começaria a andar nas largas calçadas da Angélica ou nas praças Vilaboim e Buenos Aires, um verdadeiro atentado contra os enriquecidos. Esses mesmos diferenciados que ergueram todos aqueles prédios antigos e participaram do aterramento das ruas e das praças que só o povo tucano anda, desconsiderando o outro povo, o que o tucano não vê.
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Ao comparar os dois casos, temos diferenças e semelhanças que acabam convergendo prum cenário desolador. Lula chamou dois muito ricos de diferenciados. O diferenciado de Lula é o de " pessoa que está acima da lei, que tudo pode e tudo faz ". Assim como Lula, outro " diferenciado " dessa espécie como deu a entender em todo o governo, eles queriam exaltar a si mesmos, esquecendo de quem os dá votos na sagrada hora da eleição. O diferenciado de Alckmin, se tivesse um significado, poderia ser o " que é estranho a determinada região, não contextualizando em sentidos maiores ". Em Higienópolis, de fato, pobres são diferenciados. Mas... e na cidade de São Paulo ? E para aquele que pega metrô em Itaquera ou trem em Pirituba, a maioria da população paulistana ? Esse diferenciado vale ? O diferenciado, para esse, seria o de Higienópolis. E a maioria de verdade ficou irritada, como deveria ficar com esse absurdo.
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Politicamente, temos um cenário ainda mais triste. Os episódios mostram apenas como as autoridades tratam quem não lhe é importante, ou só o é em determinados momentos. Ao taxar Sarney e Collor de diferenciados, Lula mostra que pode ser um distribuidor de renda, mas não deixa de lado seu lado camarada, distribuindo vantagens das mais diversas espécies a quem o rodeia. Já Alckmin mostra que os diferentes dele só são importantes para dar os votos necessários para o pleito, pois na hora de definir o local da estação do metrô, do hospital ou da escola-modelo, ele só tem olhos pros iguais a si, pra quem sempre mandou em São Paulo e vota sistematicamente em quem vence quase que por inércia na capital.
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O que é chamado hoje de direita e esquerda usa o mesmo termo não à toa. Ambos são iguais, mais do mesmo, cocô e excremento. Há um grupo que obtém o poder e não liga pros demais, seja direita, esquerda, vermelho, azul, tucano ou petista. A política pública está cada vez mais perdida em velhos conceitos que não podem ser explicados por não a termos na prática.
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Quem sofre com tudo isso são os diferenciados de Alckmin. Quem consegue o que quer são os diferenciados de Lula. E os diferenciados que assistem a tudo alheios a isso precisam acordar e se mobilizar.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Acabou o martírio

Sabe aquele semana que nada dá certo ? Que você o céu dourado e coloca uma regata, mas vê que o dia tem apenas um fio de Sol e faz reflexo na parede do seu prédio ? Ou que você acha que a cota de impossibilidade já foi batida em semanas anteriores, mas essa cota ganha sobrevida ? A minha foi assim.
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Semana de entrega do Projeto Integrado na faculdade, de devolução corrigda do mesmo projeto de uma professora, de três provas em dois dias e de tudo o que isso implica de ruim.
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Problemas com a coordenação do PI, dúvidas com o referido, algumas anotações da professora que não te agradaram, a primeira pergunta medonha de uma das provas, ir dormir uma da manhã fazendo modelos de laudas e dando um trato no PI, algumas noites de sono perdidas, conversas estranhas e ruins com muitos... tudo isso e mais alguns outros fatos foram consequência dessa semana que só poderia terminar numa sexta-feira treze.
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Acabou. Acabou, enfim acabou ! Que a próxima seja melhor, menos stressante e mais feliz e bem-vivida.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Avenida Paulista, mas pode chamar de felicidade

Fui poucas vezes na Paulista, confesso. Mas, sempre quando vou, tenho uma grande felicidade, sempre. Lembro de quando fui pela primeira vez, com o Bruno, e o vi radiante de alegria. Lembro de quando fui pra Bandeirantes e dei poucos passos lá, mas o suficiente pro cartão-postal de São Paulo ficar marcado na história. Lembro de várias outras histórias, fatos e eventos, mas o que não muda é a imensa felicidade que tenho, por vários acasos, ao estar na avenida.
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Num sábado qualquer, fiz um curso de jornalismo esportivo na Cásper Líbero, outro ponto muito famoso da Paulista. Chegar lá antes das nove horas, ver a avenida com poucos carros, pouca gente, contemplar a imensidão daquelas construções imensas e observar cada detalhe dos prédios fez bem demais pra mim. Ver que a Paulista não é só do corre-corre e do charme, mas também da beleza e da cosmopolitude paulistana, algo que eu nunca tinha me dado conta, me fez bem. Me fez, novamente, feliz.
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Ora, em qual local poderia-se ter, no mesmo dia, palestras de Paulo Vinícius Coelho, Mauro Beting e Antero Greco ? Em qual local poderia-se sentar num McDonald's num prédio velho e ficar notando o movimento, as construções de cima, os carros e as pessoas zanzando, o Sol e até o céu azul mais escuro graças ao vidro blindado ?
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Andar por aquela calçadas imensas, ver aquelas pessoas tão exóticas em passos dos mais variados, cruzar a Brigadeiro... não adianta, a Paulista tem algo que a faz especial.
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A Paulista está cada dia mais viva. E eu cada dia mais feliz.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Atitude infantil com resposta mais infantil ainda

Quando o Botafogo foi eliminado pelo Avaí na Copa do Brasil, aconteceu de tudo. Guerra campal na Ressacada, socos, pontapés, voadoras, Marcelo Mattos justificando um erro da arbitragem com um suposto separatismo sulista, técnico do Botafogo reclamando da arbitragem, choro no vestiário, jogadores reclamando do juiz após a partida... tudo que envolve arbitragem, reclamações e Botafogo é algo repetitivo, chato e, muitas vezes, sem embasamento nenhum. Mas a resposta que a Associação Nacional de Árbitros de Futebol deu ao time beirou ao absurdo.
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A nota já começa atacando o clube gratuitamente, isentando-se de culpa. A arbitragem brasileira, além de não ser perfeita, está bem longe disso. Árbitros são humanos, erros acontecem, mas o que se vê é um festival de bagunça e pessoas mal-preparados apitando o jogo que e a maior paixão nacional, e, em certos casos, vê se juízes mal intencionados, apitando para favorecer determinados times por qualquer motivo escuso. O Botafogo tem seus problemas em campo e os que já foram citados no primeiro parágrafo, mas quem lê a nota acha que a arbitragem é composta apenas por bispos que participam de cada conclave papal. E basta ver uma rodada de qualquer campeonato pra provar que isso é mentira.
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Também achei interessante a insistência da nota em falar numa certa transferência de responsabilidades. O Botafogo não ganha, a culpa é da arbitragem. Isso, claro, não está correto. Mas o objetivo central da nota é, exatamente, transferir a responsabilidade da derrota, do juiz da partida para o Botafogo. E, se eles viram necessidade de fazer isso, a atuação do árbitro foi, no mínimo, contestável.
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Acompanho futebol há muito tempo e pergunto: você já tinha ouvido falar da ANAF ? Eu não. Ao ver que um time de pouca força política nos bastidores da CBF reclama seguidamente de seus protegidos, é fácil para uma entidade supra-política do futebol nacional aparecer e falar o que bem quiser. Se o time que reclamasse fosse o Flamengo, o Corinthians ou o São Paulo, a ANAF teria a mesma posição, de sair do ostracismo pra ganhar seus 15 minutos de fama ?
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Se tem algo que os dirigentes botafoguenses tem razão em reclamar é do quanto a arbitragme evoluiu de uns tempos pra cá. Qualquer outra resposta que não seja nada está errada. Antes, víamos jogos claramente manipulados para favorecer times de massa, de dirigentes simpatizantes da ditadura ou de grande torcida e força política. Hoje eles podem até não ter motivação extracampo nenhuma ( o que, muitas vezes é difícil de acreditar ), mas são dum desconhecimento da regra que daria pena se não fosse revoltante. Não sei como são os treinos e as aulas minsitradas pela ANAF, mas não é preciso muito para questiona-la.
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Há, porém, um ponto positivo em meio a tanta desgraça dita pela ANAF. É bom ver que há um projeto de lei que defende a profissionalização dos árbitros, o que criaria mais empregos no país e deixaria a arbitragem nacional com um melhor nível - profissional de fato, dedicando-se apenas para isso, ganhando apenas para isso e sem desculpa nenhuma para erros graves ou manipulação de resultados. Não só o Botafogo, mas todos os clubes brasileiros deveriam pressionar o governo a votar tal projeto.
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Reclamar sistematicamente da arbitragem pode ser ( e é ) um absurdo, mas escrever tantas abobrinhos como fez a ANAF é ainda mais estapafúrdio. Se eles fossem tão competentes e treinassem e exigissem metade do que escreveram de ridículo na nota à imprensa o futebol nacional estaria a salva de arbitragens que deixam o esporte sem lei.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Notas sobre a noite tenebrosa

Quatro de Maio de dois mil e onze. Guardem essa data. Nessa noite, o futebol brasileiro aprendeu que ele não comanda sozinho o futebol sul-americano. Pasmem, ele descobriu que existem outros países na Libertadores. Quem diria, existem até bons times em outros países, como Chile e Colõmbia. Se eu falasse isso em outro dia, provavelmente diriam que isso era dor de cotovelo pelo fato do meu time não estar na Libertadores. Hoje, a minha voz, a minha solitária voz de quem sempre defendeu uruguaios e paraguaios fez-se ecoar no silêncio, calando quatro imensas torcidas de grandes times brasileiros.
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A noite começou com toda a pinta de que prometeria pros times brasileiros. Oscar, logo com um minuto de jogo, abriu o placar pro Internacional ante o Peñarol no Beira-Rio. O Inter era melhor, dominou o primeiro tempo e parecia que a goleada viria com naturalidade ante um limitado time carbonero. A classificação era inquestionável. Com quinze segundos de jogo, Martinuccio empata a partida. A torcida se cala. Os aurinegros presentes no Beira-Rio se inflama e empurram o time. Não precisou muito pra, cinco minutos depois, Olivera vira o jogo, na frente da incrédula e calada Guarda Popular Colorada. O estádio volta a ter os cantos vermelhos, após os cinco minutos de reflexão que mostraram pra torcida do Internacional que futebol não tem lógica ou time superior que garanta vitória ou dê tranquilidade total. O Inter perdeu, no mínimo, três boas chances de conquistar a vaga. Poderia ser goleada, mas acabou sendo uma vergonha. O Peñarol é imenso, tem mais que o dobro de títulos de Libertadores que o próprio Internacional. Mas o time colorado é imensamente melhor que o amarelo e preto. E, no final, foram os vermelhos que amarelaram.
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Após o gol de Oscar, logo no começo do jogo do Inter, todos lamentaram a derrota do Grêmio pra Universidad Católica no Olímpico. Todos já confabulavam e imaginavam como seria o " GreNal do milênio ", que valeria uma vaga nas semifinais da Libertadores. Todos esperavam que os dois gigantes gaúchos se enfrentassem nas quartas quando o chaveamento foi anunciado. Na semana passada, com a derrota do Grêmio, esperavam ver ao menos o Inter. No final das contas, o GreNal virou Peñarol x Universidad Católica. A UC teve mais dificuldades hoje, mas bateu o Grêmio por 1xo em seu estádio, e confirmou a superioridade ante o Imortal. O Grêmio, que cinco anos átras arrotava sua arrogância internacional pra cima dos rivais, mais que abrir o olho pra ver que os inimigos estão com a mesma quantidade de títulos continentais que eles, tem que ficar espertos pois não vencem um título nacional desde 2001. Nesse meio tempo, aliás, já passam pela série B. A participação do Grêmio esse ano na Libertadores foi fraquíssima, perdendo para o Oriente Petrolero e tomando dois vareios morais da Católica. O Imortal dos últimos tempos bate em Caxias e em Náutico, mas, quando joga contra Boca Juniors e Internacional, é presa fácil.
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Ultimamente, convivemos com as alcunhas dos grandes times. O Grêmio é o Imortal, e a torcida do Fluminense apelidou seus jogadores de guerreiros. O Fluzão acostumou-se a fazer verdadeiros milagres das mais diversas formas desde 2008, protagonizou jogos emocionantes e situações inenarráveis. O time recuperou a alta-estima de sua exigente torcida, que sabe apoiar, mas também adora cobrar. O Fluminense voltou a ser de Nelson Rodrigues, e não o de Tuta. Como diria o poeta tricolor, o primeiro citado - óbvio -, o Fluminense nasceu com uma vocação para a eternidade. Em grandes jogos, de fato, o Fluzão ostenta uma mística quase grega e clássica para escrever páginas de ouro bordada em tipologia de safiras. Mas, por uma imensa ironia do destino, o tricolor adora se complicar em jogos tolos. Semana passada, um confortável 3x1 ante o Libertad, no Rio de Janeiro, conseguiu uma boa vantagem pra administrar em Assunción. Tudo parecia tranquilo até os doze minutos do segundo tempo, quando Ricardo Berna falha e toma o gol de Rojas. O Fluminense perdia gols e via um desespero desnecessário bater, pois ainda se classificava com o resultados. Viriam dois gols nos cinco minutos finais, de Samudio e Nuñez. E viria também a decepção. Estava tão fácil, tão na cara... o que teria acontecido ? A sombra da má fase vivida com Muricy Ramalho e Emerson Sheik voltaria ? As confusões pesaram ? Jamais saberemos o que aconteceu com o Fluminense, um dos melhores elencos do país e que perdeu um jogo tão simples para um time tão pior. Faltou emocional pros guerreiros fluminenses, quem diria, o emocional que faz os milagres acontecerem tornou-se o motivo duma eliminação decepcionante.
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Indo de encontro à imortalidades e guerreiros, temos a figura de Cuca. Um técnico capaz de formar times fascinantes, de futebol ofensivo e vistoso, e capaz igualmente de perder todo e qualquer jogo eliminatório que pareça impossível de escapar. Ele também é lembrado pelo chororô do time botafoguense e pelo descontrole emocional por onde passou. Mas tudo mudaria esse ano. Esse Cruzeiro sem defeitos, que resgatava o futebol dos bons tempos do esporte era uma verdadeira máquina imparável. A vitória contra o Once Caldas em Manizales, mais que só mais uma, era algo fácil pro time mais incrível que a nova geração já viu. A expulsão de Roger, logo no primeiro tempo, indicava que o time seria cada vez mais Cuca que Cruzeiro. O gol de Amaya emudeceu os azuis mineiros por alguns instantes, que estavam tão sem força pra gritar quanto o time pra lutar. Quando Moreno fez 2x0, o Cruzeiro virou Cuca, e isso, claro, é algo ruim. Tanto virou Cuca que o fim do jogo foi marcado por algo inédito: a cotovelada de um técnico num adversário. O técnico, claro, era Cuca. O Cruzeiro dos sonhos foi estragado por uma noite de pesadelo e por um técnico fantasmagórico. E o time das cinco estrelas, cada vez mais, parece fadado ao bonito, não ao título.
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De cinco brasileiros que estavam nas oitavas-de-final da Libertadores, restou o Santos. O Santos de Neymar, Ganso e Muricy. Vai enfrentar o Once Caldas, que já tirou o Santos de Diego, Elano e Robinho nas mesma quartas-de-final desse ano, em 2004. Xi...

terça-feira, 3 de maio de 2011

O novo conto de fadas

Lembro parcamente do funeral da princesa Diana. Marcou-me Elton John executando Candle in the Wind em homeangem à duquesa de Gales e toda a comoção que tomou conta da Grã-Bretanha. Com o advento da internet, anos mais tarde, entendi porque e como Lady Di morreu e tomei conhecimento de seu infeliz casamento com o príncipe Charles, nos anos 80, num evento que parou o planeta.
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Não lembro, porém, do filho mais velho da finada princesa, William. Meu xará, obviamente, estava abatidíssimo com a morte da mãe, e sua vida estava condenada pra sempre.
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Como imaginar que o próximo casamento da realeza britânica seria o dele, e menos de quinze anos depois da tragédia envolvendo Diana ? Como imaginar a sua esposa, uma linda plebéia que pendurava no quarto pôsteres de William ? Como imaginar um novo casamento real após o trauma instaurado na Inglaterra após o último grande evento da aristocracia ?
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Se era possível imaginar ou não, ele ocorreu. E como foi bonito. William é uma figura bem mais carismática que Charles - e, segundo as mulheres, bem mais bonito também -, Kate Middleton é linda, Londres tem um ar que consegue ser pop e tradicional ao mesmo tempo e toda a tradição que só uma família real exerce deram o tom e o charme necessários para que, novamente, o casamento real fosse um evento dos mais assistidos e bonitos já vistos.
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A despeito de toda a boataria, futilidade, inutilidade e fofoca que um evento desse porte impõem, não é preciso ver o quanto o enlace matrimonial pode dar um respiro na contestada e antiquada monarquia britânica de hoje. A realeza agradece aos plebeus e meros mortais, que não podem nem de longe dar-se ao luxo de ter um casamento desse naipe. Os plebeus, maravilhados, agradecem toda a festa acompanhada inteiramente, da chegada dos primeiros convidados até a saída triunfal dos noivos num Aston Martin.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Opiniões sobre o domingo esportivo mundo afora

Poucas vezes vi um time inteiro ser operado pelo juiz. Sempre prefiro ser cético e frio para não entrar na onda de torcedores mais exaltados, mas o que vi hoje no Pacaembu foi um verdadeiro assalto à mão armada. Criticado durante toda a semana pelos cartolas do Palmeiras, Paulo César de Oliveira mostrou-se magoado com o time ou mostrou que as críticas eram verdadeiras, pois o árbitro desfavoreceu claramente o time alviverde. Antes de realizado o sorteio para definir quem seria o juiz do Derby contra o Corinthians, o JT anunciou o nome, que foi confirmado dias depois. Se foi sorte, se o repórter sabia de algo de alguma forma, talvez jamais saberemos. Mas, que ficou estranho, ficou. De qualquer forma, Paulo César amarelou Kléber, ídolo palmeirense, logo com três minutos, num lance totalmente desnecessário. Ao ver um carrinho desleal de Danilo e um pé alto igualmente desleal de Liédson, o homem do apito preferiu expulsar apenas o palestrino. Felipão, que pedia calma aos jogadores e era o palmeirense mais tranquilo em campo, deu a entender com a mão que a partida estava comprada pro seu adversário e foi expulso. Expulsão justa, mas só seria justa se Paulo também expulsasse Tite, que estava igualmente eufórico e falando coisas esdrúxulas. Foram os piores minutos duma arbitragem que eu já vi na vida, certamente. Ao sair o gol do Palmeiras, a torcida verde, em maioria no estádio, urrou contra todo o absurdo que via diante de seus olhos. Pouco depois, à sua frente, a torcida viu a bola de William ultrapassar a linha de gol. Ultrapassou mesmo ? Pra mim, atravessou, mas o lance é dificílimo. Mas, tenho certeza que se o lance fosse pro Palmeiras, a arbitragem não validaria o gol. Nos pênaltis, Júlio César defendeu a cobrança de João Vitor e colocou o Corinthians na final do Paulistão. No entanto, o César que tirou o Palmeiras do Paulistão não foi o Júlio, mas sim o Paulo.
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Falar que o Flamengo é campeão carioca não é novidade pra ninguém. É o maior vencedor da competição, com 32 títulos, e, desde 1999, é o oitavo título, uma verdadeira dinastia no campeonato. Mais impressionante ainda é a incrível coincidência - ou nem tanto - de vermos que, em cinco jogos finais desses campeonatos, quem perdeu para o Flamengo foi o Vasco. Outra dinastia, se é que existe isso em clássicos com finais. Pelo segundo ano consecutivo um time vence todos os turnos do Campeonato Carioca, feito inédito na história da competição. E, mais uma vez, quem faz história no Rio de Janeiro é o Flamengo.
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O Campeonato Mineiro fica cada vez mais sem graça. A final vai ser Galo x Cruzeiro, o Cruzeiro chega com a melhor campanha mas clássico é clássico. Falar mais o quê ?
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No extremo sul, o azul dava a cor, a rima e a graça. Time encaixado, primeiro turno vencido. Aí, duas semanas átras, veio o Oriente Petrolero e a viagem pra Bolívia, na qual o time misto de Santa Cruz de la Sierra humilhou os titulares do Imortal por 3x0. Acidente de percurso, classificação garantida, tudo passou. A classificação pra final da Taça Farroupilha veio à duras penas contra o Cruzeiro, mas veio. Na terça-feira, a derrota no Olímpico pra Universidad Católica ligou o alerta vermelho nos lados da Azenha. E não só o alerta, mas o lado vermelho do Rio Grande prevaleceram hoje. O Internacional, atual campeão da América e numa crescente desde a chegada de seu ídolo-mor Falcão pra ser técnico da equipe, saiu na frente, tomou o empate no finzinho mas soube se garantir nos pênaltis. Agora, a lógica parece contrariar a literatura e insistir que a rima de sul com azul não dará mais liga. Com o Inter cada vez mais forte e com uma finalíssima do Gauchão, o colorado deve ver seu rival fora da Libertadores e numa crise pra final estadual. A rima de final estadual é diferente de sul azul, e parece que a rima que vigorará nos pampas será a do Internacional que matou o Imortal.
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A torcida do Náutico sempre vomitou contra os rivais Sport e Santa Cruz que só ela era hexampeã estadual. A frase " hexa é Luxo " é famosa em Pernambuco como marca dum time sem tanta força nacional, mas hegemônico nos anos 60, no inesquecível time dos grandes Lala e Bita. A marca por pouco não foi igualada pelo Santa Cruz dos anos 70 de Ramón, Luciano Veloso, Levir e Givanildo, e pelo Sport dos anos 90, de Leomar, Nildo, Jackson e Wallace, ambos pentacampeões. Em ambas as oportunidades, quem acabou com a série de títulos dos inimigos foi o próprio Náutico. Novamente o Sport engatou uma sequência de cinco títulos seguidos em anos anteriores, mas, como uma sina maldita, o Leão vinha mal no campeonato, e classificou-se a duras penas para a semifinal do campeonato pernambucano. Nas semifinais, como manda o roteiro cinematográfico, teria pela frente o Náutico, em dois jogos que prometiam ser eletrizantes. O 3x1 pro Sport na Ilha do Retiro foi muito comemorado, o time parecia numa melhor fase que o Timbu e a chance de classificação era grande. No meio da semana, Eduardo Ramos, do Náutico, foi acusado de ser subornado pela diretoria rubro-negra, o que acirrou ainda mais os ânimos para o jogo de volta. Dentro dos Aflitos, o goleiro Glédson fez um lance bizarro e Bruno Mineiro marcou um golaço pro Sport, que, mesmo com a derrota por 3x2, classificou-se pra final, contra o Santa Cruz. os dois rivais do Náutico. Os dois que já foram impedidos de ser hexacampeões pelo Náutico. A história do futebol pernambucano pode ser reescrita se o Sport vencer, e o hexa, de luxo, pode virar o caminho dum hepta único.
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No fim do ano passado, com o Vitória rebaixado em casa e o Bahia ascendendo a série A após sete anos longe dela, dava a impressão que o eixo do futebol baiano havia mudado. Com o começo do estadual, o tricolor titubeava, enquanto o Vitória parecia que jogava junto há anos. Jogando mal e burocraticamente, o Bahia amargaria o sempre inevitável BaVi logo nas semifinais. E de nada adiantou vencer no Barradão por 3x2, pois perdeu em Pituaçu por 1x0. Na final, outro BaVi, mas o Ba da final é de Feira de Santana. Não tem clássico ou time páreo pro Vitória na Boa terra há muito tempo, e o rubro-negro tem tudo pra conquistar seu décimo quarto título em dezessete anos, um número impressionante. Não mais impressionante que a hegemonia do Leão.
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Mesmo com as duas torcidas mais presentes de Goiás sendo Atlético e Vila Nova, o maior time do estado, ou, ao menos, o mais vitorioso, reconhecido e por mais tempo na série A é o Goiás. Uma das torcida mais fanáticas do estado, o Vila, e o próprio Goiás fazem o Derby do Cerrado, o confronto com mais tradição em Goiás. E esse foi o clássico da semifinal do Goianão esse ano. Após um ataque de abelhas, o eletrizante clássico teve um gol no final e o resultado de 2x2 que classificou o time verde, o maior, pra final contra o da outra torcida fanática, o Atlético. Ao ouvir o apito de encerramento, Rafael Tolói ajoelhou e abraçou um companheiro de seu time, numa cena que refletiu o grande jogo no Serra Dourada. Betinho, do Vila, o chutou. Um chute fraco, é verdade, mas o chutou. O time do Goiás ficou revoltado e partiu pra cima de Betinho, e os do Vila, sem saber, correram pra cima do Goiás. Muitos, sem saber o que de fato acontecia, começaram a se bater. E como se bateram. A violência não foi só entre torcedores, mas a carnificina também rolou entre os jogadores. Cenas que só se via em lutas de boxe, jiu-jitsu ou MMA, socos, pontapés, voadoras e todo o tipo de agressão. Na arquibancada, nem se fala. A polícia era impotente, e um policial foi socorrido por um torcedor, numa cena impressionante. Filhos choravam, pais tentavam explicar o que acontecia pros rebentos, e o que se via era uma selvageria sem fim iniciada por dois atos impensados. Toda essa confusão levou à morte dum torcedor, que não importa de qual time era, teve a vida perdida. Após o fim do empate entre Goiás e Vila Nova, quem perdeu foi o futebol.

domingo, 1 de maio de 2011

O que evitaria mais minha tristeza ?

Ver uma derrota do São Paulo em um jogo importante ou não saber o resultado da partida ? Esse foi um dilema com o qual eu convivi a vida inteira, e jamais imaginava passar por ele. Nesse sábado, passei.
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Fui fazer um curso na Avenida Paulista que acabava às 16:30h, enquanto o SanSão pela semifinal do Paulista começava às 16:00h. Meia-hora não é nem um tempo de jogo, mas, como sabem, eu moro no ABC. Precisaria voltar pra Santo André - que fica ainda mais longe que São Caetano - de condução, metrô e trem.
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Calculava quanto tempo demorava de estação pra estação. Via todos com um radinho de pilha ouvindo a partida, e eu me sentia o maior alienado do planeta mesmo após todo o conhecimento do curso. No meu imaginário, todos viam perfeitamente a partida e estavam mais bem informados que o Julian Asange, e eu seria um capacho do Cidadão Kane. Eu poderia muito bem lançar a simples pergunta " Quanto tá o jogo ? ", mas minha ânsia em saber da partida não ia me permitir apenas indagar isso. Perguntaria como a partida estava ocorrendo, se o Morumbi tava cheio, se o juiz apitava bem, quem tava melhor ou quantos dribles o Neymar deu no Rodrigo Souto.
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Pra não ser chato, me calei, deixei o meu lado jornalista de lado e agi com o que achava certo no momento. Enquanto aqueles radinhos falavam " Cadê seu fanatismo ? Você me quer que eu sei ! ", eu os ignorava, com muito pesar. Ao ligar pro meu pai vir me buscar na estação de Santo André, ele me falou que o jogo estava 2x0 pro Santos. A sensação que tive ao ouvi-lo foi um rebuliço de duas sensações tão antagônicas quanto conflitantes.
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Eu não sabia de nada, nem sabia que o São Paulo perdia. Um segundo depois, sabia de tudo, e sabia que o São Paulo perdia. Falta de informação e ver seu time perder são indicadores duma tristeza infinda pra mim. Num instante eu pulei de um pra outro, e o cenário desolador daquele terminal rústico, com vários vendedores ambulantes, cachorros mal cuidados e taxistas que assobiavam para qualquer mulher que passava aumentava ainda mais essa sensação depressiva.
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A angústia foi-se embora, mas eu fiquei triste hoje. Pela alienação e pela derrota, e não pelos dois juntos, pois ao ter um perdi o outro.