segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Jornachismo

Ao me deparar com uma capa da revista Veja no banheiro, comecei a pensar sobre o tipo de matérias que a revista faz. Falo insistentemente que a Veja é uma revista panfletária, e que por (muitas) vezes deixa de fazer Jornalismo de verdade, aquele escrito com "J" maiúscula. Então, o que seria ?
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Tal qual os jornais do século XIX, a Veja defende os interesses de um extrato social descaradamente. Naquela época haviam republicanos, monarquistas, abolicionistas, escravistas... vários tipos de grupos. Hoje, a Veja defende uma classe média que se posiciona de maneira conservadora e que coloca o dedo na cara do governo. Tudo é motivado por interesses e qualquer publicação editorial defende uma linha ideológica, concordo, mas a Veja escancara esse conceito.
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As matérias contra o governo (ou seja, grande parte (pra não dizer todas) da área política, principal da publicação), porém, tem uma peculiaridade pouco agradável: as fontes escassas, quando não nulas. Já vi matérias com "acusações graves e chocantes" sem uma declaração textual sequer.
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Mau jornalismo, inegável. Mas eu me pergunto porque a revista de maior circulação no país cometeria tantos erros, e me parece que seus leitores são os principais culpados. Eles acham que a informação da Veja é dogmática, ou seja, se ela falou, está certo. Eles não buscam outras fontes de informações, ora porque não tem acesso ou tempo, ora porque acham que a revista nunca erra e não monopoliza nem distorce nada - algo que todas as publicações fazem ao "puxar a sardinha" para a sua linha editorial.
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E se a Veja errar publicamente, ser desmascarada ? O público da revista não vai saber. E como esse público é o maior das revistas impressas do país, segue-se a bola de neve que tanto faz mal.
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No popular, o que a Veja faz é "jogar verde pra colher maduro". Ela tem uma suposição e coloca isso como matéria de capa. Ora essa acusação é verdadeira, ainda que um achismo, à priori (o escândalo do mensalão começou assim, por sinal), ou é simplesmente balela - e já foram tantos casos furados que a Veja já deu que não vale nem recordar alguns em específico aí. A Veja fundou o seu próprio conceito editorial, o jornachismo.
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A Veja tem partes muito boas - eu adoro a seção de livros e música da revista, por exemplo. A base governista está longe de ser e ter santos. Mas o que a Veja faz é algo ridículo.

Em tempo de mídias sociais, o agora pode ser muito tarde ~ Wilson da Costa Bueno, para o Portal Imprensa

Quem trabalha com redes sociais sabe o que pensam. "Sua vida é ficar no Facebook e no Twitter ? Nossa, até eu !", é algo comum. Depreciar o trabalho também é algo comum, existem vários tipos de comentários a respeito da nova área... mal sabem eles que esses descobridores das redes sociais são pioneiros, e não aproveitadores. Elas já estão mudando o mundo - e tenho pena de quem usa as redes apenas para se divertir. Veja o que Wilson da Costa Bueno, grande acadêmico da área da comunicação, pensa a respeito desse novo filão comunicacional?
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"Muitas empresas e organizações andam assustadas com a aceleração do processo de circulação de informações que caracteriza os novos tempos, particularmente com a ação frenética, muitas vezes virulenta, das redes e mídias sociais.
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No fundo, elas têm razão porque é necessário mesmo ficar com os olhos bem abertos, quando as informações começam a correr pra lá e pra cá, aparentemente sem nenhum controle, contaminando espaços e ambientes, como se fossem uma insidiosa gripe digital, uma A1N1 tipo gripe suína que deixou o mundo com os cabelos em pé há muito pouco tempo (a comparação faz sentido porque algumas ações nas redes são inspiradas por mentes que têm o chamado “espírito de porco”).
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As empresas podem ter razão por se mostrarem preocupadas (todos os gestores de comunicação, mesmo os mais competentes e bem intencionados também estão) mas, convenhamos, muitas delas são responsáveis pela sua inquietação. Deram motivos, foram pouco inteligentes, mostraram-se incompetentes para administrar as suas crises e, em muitos casos, buscaram, equivocamente, negar a sua responsabilidade ou demoraram muito para reagir às investidas dos adversários (que, nos casos citados, somos todos nós!).As redes e mídias sociais podem impactar de maneira dramática as marcas e os negócios e muitas empresas ou organizações já sentiram isso na pele . Esse é o caso da a BP – com seu injustificável crime ambiental no Golfo do México; a glamurosa Apple, desmascarada recentemente porque fabrica iPads e iPhones, explorando e matando cidadãos simples de países emergentes ou pobres; a Zara, que freqüenta os shoppings mas também os porões que escravizam imigrantes no Brasil, e até instituições indispensáveis, como o Judiciário, que está na boca do povo pelas denúncias recorrentes de má conduta de seus representantes.
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Administrar crises em tempo de mídias sociais exige posturas e competências que, infelizmente (para elas), a maioria das organizações e empresas ainda não têm. Presas a estruturas e culturas tradicionais (dinossáuricas pode ser o termo mais adequado), imaginam que podem manter-se impunes, blindadas, mesmo afrontando os direitos humanos, agredindo o meio ambiente ou desrespeitando os consumidores. Têm apostado nisso com muita freqüência e, quase sempre, pagam caro pela falta de alinhamento com os novos tempos.
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As redes e mídias sociais legitimam a comunicação e o marketing em tempo real e sua dinâmica é independente dos sistemas tradicionais, que sempre estiveram sintonizados com os grandes interesses empresariais ou políticos (como a mídia impressa, radiofônica ou televisiva) em nosso Paísl Logo, elas não podem facilmente ser controladas, sufocadas, submetidas à censura e assim por diante. Seduzir ou cooptar jornais ou emissoras de TV será sempre mais fácil (em alguns casos a única exigência é dispor de autoridade ou muita grana) do que fazer calar blogueiros, twitteiros ou usuários do Facebook e as organizações pouco a pouco irão se dar conta disso (muitas já incorporaram esta realidade em sua prática de comunicação).
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O que, então, devem fazer as organizações para não serem sugadas por este formidável torvelinho de informações, esse imenso buraco negro que constitui as redes e mídias sociais?
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De maneira geral, é preciso reconhecer que falar sobre os procedimentos e posturas requeridos é mais fácil do que colocá-los em prática, mas ter consciência do problema já é um primeiro passo. Para se contornar um problema, é fundamental ter ciência de que existe um problema porque, só assim, ele vai merecer atenção, ser analisado e, se o diagnóstico for competente e a terapêutica adequada, poderá ser finalmente superado.
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Algumas considerações podem ser úteis para que as empresas ou organizações façam uma revisão profunda em sua política de comunicação e marketing (na verdade, elas não têm política alguma de comunicação, sistemática e legitimamente implantadas!).
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Em primeiro lugar, as organizações devem ter presente de que a velha comunicação e o velho marketing já não funcionam mais e que é imperioso virar literalmente as coisas do avesso. O consumidor não é mais o público-alvo, aquele que se busca atingir com produtos ou serviços definidos unilateralmente pelas empresas, mas um dos stakeholders com quem se deve estabelecer parcerias para identificar as demandas. Não se empurra mais produtos ou serviços para o mercado sem ouvir os interessados e isso vale tanto para vender sorvete como para comercializar automóveis de luxo. Além disso, o relacionamento (saudável, respeitoso) com o consumidor não se encerra com o fechamento da venda mas deve permanecer por toda a vida (as empresas não ignoram o fato, mas dificilmente o concretizam na prática) porque só assim poderão tê-lo fiel por algum tempo (por todo o tempo bem poucas empresas conseguirão agora e no futuro). Se há abusos (e há aos montes, com as operadoras de telefonia e de TV por assinatura, por exemplo) é porque as autoridades são omissas, a legislação é frouxa e o monopólio não abre espaço para alternativas (por isso a gente tem que agüentar serviços de atendimento precários como os da Telefônica, da Net ,da Sky , campeãs de reclamação no PROCON, no Idec, nas redes etc).
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Em segundo lugar, as culturas organizacionais continuam repetindo valores e posturas que vão de encontro (como cabeças moles indo em direção a um rochedo) ao que se postula nos dias atuais. Elas temem a interação porque não conseguem reconhecer os erros e assimilar as críticas, são prepotentes e arrogantes (lembra-se do episódio da Volks com o banco traseiro do Fox?) e querem tapar o sol com a peneira (o Consórcio Via Amarela continua negando até hoje que teve culpa no acidente do Metrô em Pinheiros/São Paulo, que matou várias pessoas e destruiu mais de uma centena de residências), quando a sociedade nunca duvidou que elas tinham “culpa no cartório”. Mais ainda: mantêm em suas estruturas chefias autoritárias que se valem do assédio moral para ameaçar funcionários e que são inseguras o suficiente para abrir o diálogo franco com os públicos internos (têm autoridade – até quando? – mas não legitimidade). Muitas chefias têm bocas de jacaré (enormes) e ouvidos de carrapato (nanosféricos).
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Em terceiro lugar, as organizações parecem ter uma preguiça patológica em sua prática de comunicação e marketing e não estão capacitadas ou dispostas para reagir imediatamente às circunstâncias do mercado e às movimentações dos stakeholders e da opinião pública. Agem como a Toyota e a Chevron que demoraram um tempo incalculável para prestar contas de suas mazelas, talvez esperando que algum santo protetor caísse do céu para resolver os problemas que suas incompetências haviam produzido. Santos protetores têm caído quase vezes menos por aqui (vai ver que é culpa da poluição, do efeito estufa, do qual eles querem se safar!) e já não se pode invocar com tanta facilidade alguns “santos” terrenos para resolver as crises (como faziam as montadoras à época da ditadura que sufocavam as greves dos operários ordenando a Polícia que os dispersassem com seus formidáveis cacetetes de borracha e gases de efeito moral!).
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Finalmente, as organizações precisam mudar a forma pela qual enxergam o monitoramento das redes e mídias sociais e verdadeiramente trilharem o caminho da democracia e da cidadania. Sabemos que muitas delas investem milhões, têm estruturas refinadas, para ler e ouvir o que os cidadãos andam dizendo delas, mas não sabem utilizar as informações que conseguem captar. A maioria tem as informações (as criticas, as sugestões, as reivindicações etc) mas a estrutura de coleta (o SAC, a Ouvidoria, a auditoria de comunicação e de imagem) não se articula com os demais setores da empresa e há uma distância (sideral, de anos-luz) entre os departamentos que estão próximos do consumidor e as diretorias (que vivem refasteladas em salas à prova de som para não serem incomodadas com o barulho que vêm das ruas). As organizações modernas, competentes, não monitoram as mídias e redes sociais para encontrar adversários e exercer pressão sobre eles, mas humildemente esticam os pescoços (e os ouvidos) , buscando perceber se há algo que precisa ser mudado. Não fazem como a Renault que andou perseguindo uma consumidora no interior de Santa Catarina porque ela “ousou” colocar vídeo no YouTube e manter um blog para denunciar a compra de um carro que não saia da garagem porque tinha defeito insanável. Não fazem como a Sky ou a Telefônica que postam mensagens padronizadas e hipócritas no Twitter, quando a gente reclama que o atendimento não funciona, mas dificultam o acesso via telefone ou portal para não receberem reclamações (a gente entende porque são mesmo milhares ao mesmo tempo).
Empresas que, estão sempre disponíveis quando se deseja comprar os serviços e muitas vezes nos incomodam, sem a nossa autorização, em nossas casas valendo-se de telefonistas que repetem frases fabricadas, tão artificiais e falsos como os sorrisos dos políticos às vésperas das eleições. As redes e mídias sociais podem, efetivamente, gerar problemas para as organizações, provocar ou acirrar as crises, muitas vezes injustamente, mas apenas posturas competentes, ágeis, proativas, profissionalizadas, democráticas conseguem evitar que elas vivam eternamente em uma zona de desconforto institucional ou mercadológico.
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As redes e mídias sociais incorporam manifestações autênticas, espontâneas e espelham o que está acontecendo a cada momento, pela participação intensa, às vezes acalorada, dos cidadãos. Antes de se postarem contra elas, as organizações deveriam entendê-las, saber como funcionam, interagir com e dentro delas a partir de uma nova cultura de relacionamento.
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Só não será mais possível ignorá-las, minimizar a sua importância, imaginar que se possa viver num mundo à parte, alheio ao que elas dizendo, denunciando, vociferando em alguns casos. Em tempo de redes e mídias sociais, não há tempo pra pensar: o agora pode ser muito tarde e, é lógico, tudo tem que ser pensado muito antes. Mas quantas empresas têm efetivamente um planejamento em comunicação?
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Quem apostar contra as redes e mídias sociais perderá com certeza. Porque será apostar contra a realidade no novo universo da comunicação e do marketing. No mundo dos bits, diferentemente dos átomos, não existe areia ou terra para que se possa, como os avestruzes, enfiar a cabeça para não contemplar o que está acontecendo ao redor. E ficar com a cabeça enterrada pode não ser muito bom para quem deixa expostas outras partes bem sensíveis. No mundo da comunicação e do marketing real, assim como no dos bêbados, alguns riscos costumam ser iminentes. Quem tem, diz o povo, deve cuidar."

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O carnaval foi pro saco

A frase do título é o máximo de humor que eu consegui ter e fazer ao longo da apuração do carnaval paulistano. Essa ocasião, que já é tensa por sua natureza, ganhou status de selvageria em 2012, quando diversos tipos de crimes foram cometidos, e todos que gostam realmente do mundo do samba sentiram-se apunhalados.
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A apuração desse ano já começou errada. Houve um atraso de quase meia hora graças a uma reunião de última hora na qual algumas mudanças pareciam ser discutidas. Na transmissão tudo era muito confuso, com algumas pessoas falando uma coisa, outras falando outra... não se sabia direito o que de fato aconteceu - e acho que ninguém saberá ao certo jamais. O que fica desse episódio é a frase de Darly Silva, o Neguitão, presidente do Vai-Vai, que disse que todas essas situações deixavam um "cheiro de clorofila no ar".
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Muitos pensaram que a palavra "clorofila" foi estrategicamente colocada por Neguitão para não soltar um palavrão, mas tudo explicou-se depois. Ele usou essa palavra para dar a entender, subjetivamente, que a Mancha Verde estaria sendo ajudada graças a substituição de dois jurados do carnaval - a pauta da tal reunião secreta. Supondo que a clorofila é o que dá o pigmento verde para a folha, ele supunha que estavam querendo dar um pigmento verde para o carnaval, jogar o título no colo da Mancha. Outra informação que mostrou-se importante nessa história toda: por 8 votos a 6, a substituição das notas foi acatada - guarde sobretudo a diferença entre esses números.
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Ao longo da apuração, tudo ia dentro dos conformes legais (falo isso pois estranhava a colocação de algumas escolas e certas notas atribuídas a algumas agremiações) até a jurada Mary Dana, do quesito evolução, aparecer. Entre outras notas, ela deu um 9,2 para a Pérola Negra, um 9 para a Águia de Ouro (notas justas, já que as escolas correram no final do desfile para fechar dentro do tempo regulamentar), um estranho 9,6 para o Vai-Vai e um bizarro 8,9 para a Gaviões da Fiel.
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Duas notas depois, pouco antes de serem reveladas as duas últimas notas de cada escola, um homem com a camisa da Império de Casa Verde pulou a grade de proteção, roubou as notas das mãos do mestre Zulu (o narrador da apuração paulistana) e as rasgou, colocando alguns papéis dentro da calça (o que explica o escrachado título desse post) para quem quisesse ver, antes de sair fugido. Com os papéis no chão, um integrante da Camisa Verde e Branco os jogou para o alto, alegremente. Um vídeo que saiu logo após o lamentável fato mostra integrantes das duas escolas citadas conversando com pessoas do Vai-Vai, da Pérola Negra e da Tom Maior.
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Não é a primeira vez que a Império causa tumulto no carnaval de São Paulo. Em 2009, ao terminar em quinto lugar, o Tigre voltou para o desfile das campeãs fazendo muito barulho e protesto contra notas que ela julgava ser baixas demais. Esse ano acontece o que todos viram. Sou totalmente a favor da exclusão da escola da LIGA. Aos boçais que jogam um coquetel molotov num carro alegórico parado, outra punição exemplar, mesmo sabendo que a direção da Gaviões da Fiel é totalmente favorável ao samba, mas muitos de seus pseudotorcedores (aqueles que tem em toda torcida organizada, que só querem saber de baderna e violência) ligam mais pra selvageria... é triste esse cenário.
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Deixo bem claro aqui que sou a favor da participação das escolas de samba no carnaval paulistano. Repito: quem briga são vândalos, e não devemos punir quem samba graças a eles - devemos identificar os marginais e afastá-los. A Mancha Verde, por exemplo, não vai ao Anhembi na apuração para evitar tumultos. A Dragões da Real, ligada ao São Paulo, fez o mesmo. Não confundam torcedores e sambistas com delinquentes.
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Voltando ao lado político do carnaval: o resultado da apuração foi divulgado quase 6 horas após o esperado. Justamente e como o previsto, a Mocidade Alegre sagrou-se campeã, com a Rosas de Ouro vice, seguida por Vai-Vai e Mancha Verde. Tudo isso foi decidido após outra reunião, na qual, pasmem, a diferença também foi de dois votos para o resultado seguir como estava antes de todo o ocorrido.
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Acredite, isso é estranho demais e eu duvido que seja uma mera coincidência. Para quem não sabe, até o ano passado a LIGA dividia as atenções com a SuperLiga das Escolas de Samba. Eram duas instituições, mas ambas se fundiam e faziam o mesmo carnaval. Isso nunca fez muito sentido para mim, e a única explicação que eu encontro para a existência da natimorta SuperLiga é a defesa das escolas de samba desportivas - aquelas ligadas a torcidas organizadas de futebol. Quem era favorável uniu-se a SuperLiga, enquanto os contrários ficaram na LIGA.
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Além de Gaviões da Fiel, Mancha Verde, Dragões da Real e Torcida Jovem, ficaram na SuperLiga a Vai-Vai, a Camisa Verde e Branco, a Pérola Negra, a Império de Casa Verde, a Unidos do Peruche e a Imperador do Ipiranga - coincidentemente ou não, escolas com diretorias que buscavam uma linha mais progressista, que queriam tentar algo novo no carnaval paulistano. Repare que, com uma ou outra inclusão, são sempre escolas ligadas ao que era a SuperLiga que aparecem nesse post. Isso, ao menos pra mim, é coincidência demais. Mas eu não sei porque as antigas escolas da instituição se uniriam, se o presidente do Vai-Vai falou que visavam favorecer a Mancha Verde, outra escola da antiga SuperLiga. Tudo é um mistério, mas tudo parece ter alguma ligação.
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Após o anúncio da campeã, um boato forte tomou conta do Twitter, dizendo que a presidente da Mocidade Alegre, Solange Bechara, arquitetou a troca dos jurados sem avisar a ninguém. É uma denúncia grave, mas não podemos esquecer que a Morada do Samba fez um desfile praticamente perfeito, impecável. E, claro, boatos do Twitter também devem ser analisados com muita frieza e apurados muito bem. Outros boatos que ainda não foram provados também surgiram, como a de que houve um arranjo nos bastidores para que nenhuma escola fosse rebaixada... tudo muito triste.
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Por fim, é lamentável ver a cobertura de carnaval da TV Globo. A todo instante eles falavam que quem causou a confusão foram integrantes da Gaviões da Fiel. Ousavam inventar coisas que a própria imagem desdizia, e mentiam de cara lavada - até uma suposta briga com torcedores da Mancha Verde, que nem no Sambódromo estava, foi ventilada. A emissora a todo tempo tenta incriminar as torcidas organizadas, julgando a atitude de poucos como a de todos, um erro de generalização que ninguém que se considere jornalista deve ousar cometer.
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É tudo uma grande suposição de quem acompanha de maneira muito distante o carnaval paulistano - mas ao menos eu acompanho, e não especulo, como vejo muito. O que será do carnaval de SP em 2013 eu não sei, mas tenho a certeza de que desdobramentos graves ocorrerão. Sei que tudo sempre foi uma máfia, mesmo adorando o mundo do carnaval, mas o que aconteceu foi algo grave demais.
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Espero ter respostas para a minhas perguntas e ter certezas ao invés de ter tantas dúvidas. Quero que o carnaval volte a ser a festa do povo, e não a dos bicheiros ou a de quem tem dinheiro para comprar o carisma de alguma comunidade.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Três minutos de silêncio

Tudo foi estratégia, diriam os mais fanáticos mangueirenses. Ok, a primeira paradona foi uma pane no carro de som, mas o efeito ficou lindo. Já a segunda, essa sim, premeditada - e que com resultado final... empolgante, único, histórico. É tudo verdade, eu concordo e fiquei arrepiado com o desfile da Mangueira. Mas temos que olhar mais criticamente a situação.
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A bateria Surdo Um sempre foi conhecida por não fazer paradinhas. Ela passava reta, apenas mantendo sua cadência famosa, sem brincadeiras. Conforme Ivo Meirelles foi alçando lugares mais altos na hierarquia da escola, na segunda metade da década passada, os ritmistas ganharam força política na escola. Hoje, todos sabem que os desejos da bateria tornam-se leis na verde-e-rosa, mesmo quando são minoria. A Mangueira tornou-se uma ditadura.
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Sendo assim, é claro que a bateria iria fazer o que quisesse. Após o desfile de 2011 registrar uma grande paradinha, de 40 segundos, tivemos em 2012 uma passagem inteira do samba (cerca de três minutos) do mais puro silêncio. O samba não tinha tambor, caixa ou repique. A Mangueira calava o surdo de marcação. Um pouco de sua história morria.
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Muitos falarão que a escola tem que emocionar, entrar pra história. Eu concordo com essa tese, mas... não haveria outra forma de entrar pra história ? Uma forma que respeitasse as tradições da agremiação, que não ferisse o coração dos puristas que ajudaram a fazer o nome da maior escola de samba do planeta, como diria o puxador Luizito ?
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No final da apuração, a Mangueira ficou na sétima colocação. Será que o desfile foi tão histórico a ponto dessa colocação, que não leva a verde-e-rosa nem pro desfile das campeãs, ter valido a pena ? Será que não compensaria mais investir um pouco mais em alegorias, fantasias, comissão de frente... ? Emocionar é algo sensacional no carnaval, mas nenhuma escola se mantém grande como a Mangueira jogando apenas pra galera.
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Por fim, o que será que o Cacique de Ramos, um dos blocos mais tradicionais de carnaval do RJ, gostou dessa inovação toda num desfile em sua homenagem... ? Será que essas duas instituições imensas do carnaval carioca não poderiam emocionar de outra forma, mais clássica e não tão radical... ? Perguntas que talvez ninguém vai responder.
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Decreto três minutos de silêncio. A Mangueira pode ter se reinventado, mas, para isso, deve-se despir de todas as glórias do passado. Ivo Meirelles e a atual Surdo Um acabaram com uma das tradições mangueirenses. E você, mangueirense, prefere a escola de Cartola ou a de Ivo Mirelles ?

Martinho da Vila ~ Pra tudo se acabar na quarta-feira

Ainda no melancólico clima de fim de carnaval, o samba-enredo da Unidos de Vila Isabel de 1984, que conta exatamente como é esse sentimento de quem ama a festa e a vê acabar na quarta-feira de cinzas. Áudio aqui:
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A grande paixão
Que foi inspiração
Do poeta é o enredo
Que emociona a velha-guarda
Lá na comissão de frente
Como a diretoria
Glória a quem trabalha o ano inteiro
Em mutirão
São escultores, são pintores, bordadeiras
São carpinteiros, vidraceiros, costureiras
Figurinista, desenhista e artesão
Gente empenhada em construir a ilusão
E que tem sonhos
Como a velha baiana
Que foi passista
Brincou em ala
Dizem que foi o grande amor de um mestre-sala
O sambista é um artista
E o nosso Tom é o diretor de harmonia
Os foliões são embalados
Pelo pessoal da bateria
Sonho de rei, de pirata e jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira
Mas a quaresma lá no morro é colorida
Com fantasias já usadas na avenida
Que são cortinas, que são bandeiras
Razão pra vida tão real da quarta-feira
É por isso que eu canto

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Análise e palpites do carnaval de 2012 do RJ

Foram 13 desfiles de ótimos sambas e grandes desfiles, dissecados a partir de agora:
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Renascer de Jacarepaguá: Comunidade forte, que canta o samba alto; chão exemplar; samba denso, valente e de boa qualidade... a escola da Zona Oeste foi quase uma Beija-Flor em proporções menores. Cantando a vida do artista Romero Britto, todos tinham muita esperança de que a escola poderia ficar no Grupo Especial graças aos investimentos feitos, porém tudo foi pelo ralo com o acabamento pobre de algumas alegorias e alguns erros de harmonia. Além da escola abusar do preto-e-branco ao retratar um artista que abusa do colorido e do pop-art, deixando a homenagem pouco condizente com o homenageado, os erros foram graves, e devem custar o rebaixamento da escola, uma pena. Nem a Explosiva bateria de mestre Paulão, que estava visivelmente emocionado, salvaram a escola.
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Portela: A maior vencedora do carnaval e que está a quase trinta anos na fila desfilou como gente grande falando de Clara Nunes e da Bahia. Alegorias muito bem-feitas (apesar da águia vir dourada, o que não me agradou), escola bem fantasiada, um samba arrasa-quarteirão e que empolgou a todos... era pra ser desfile de título. Era. A bateria Tabajara do Samba, que vinha muito bem, atravessou o samba ao executar uma de suas paradinhas e certamente será prejudicada por isso. Mas, após muito tempo, vimos Oswaldo Cruz e Madureira gigantes de novo, e o caminho a ser seguido nos próximos carnavais é esse.
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Imperatriz Leopoldinense: A escola de Ramos era um caldeirão. Com Luiz Pachedo Drumond, bicheiro patrono da escola, preso e mestre Marcone, uma das revelações do carnaval nos últimos tempos à frente da Swing da Leopoldina, baleado, não se sabia o que esperar da verde-e-branco da Zona Norte. Com exceção de ótimo samba sobre as lendas baianas retratadas por Jorge Amado e duma atuação segura do sempre afinado puxador Dominguinhos, o resto era uma grande incógnita. A comissão de frente merece destaque, com alguns bailarinos girando em torno dum farol baiano. No entanto, a escola teve vários problemas ao manobrar os carros alegóricos na esquina da Presidente Vargas com a Marquês de Sapucaí, fazendo com que várias alas ultrapassassem esses carros, prejudicando o andamento do enredo. Esteticamente a escola veio linda, em um grande trabalho do carnavalesco Max Lopes - não por acaso chamado de "Mago das Cores". A bateria também fez muito bem, com várias convenções. O mistério gira em torno do porque a escola da região da Leopoldina não conseguiu empolgar o público, que mostro-se frio e apático ao longo de todo o desfile.
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Mocidade Independente de Padre Miguel: Que me perdoem as escolas que sempre lutam pelo título, a escola mais aguardada no Sambódromo, ano após ano, é a Mocidade. Não pelo que ela pode fazer de bom, e sim pelo que ela pode fazer de ruim. Muito tumultuada recentemente nos bastidores, a escola alterna bons desfiles com momentos ruins na avenida, o que nunca nos dá a certeza sobre a real situação da escola. Nesse ano correu tudo bem até demais pra estrela verde-e-branca. Com um desfile sem maiores problemas e muito bonito homenageando Portinari, a escola deve vir bem na apuração. Destaque para o carro de som, que contou pela primeira vez com Luizinho Andanças como puxador (um dos melhores nos últimos anos) e pra bateria Não Existe Mais Quente, a eterna bateria nota 10, de mestres Andrezinho, Bereco e Dudu.
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Unidos do Porto da Pedra: Mais do que sempre ser cotada pra cair, a escola de São Gonçalo veio pro seu desfile de 2012 como a favorita para ocupar esse posto. Com pouco dinheiro, com um enredo fraco sobre iogurtes e com o pior sabma do ano, disparadamente, era preciso um daqueles desfiles monumentais pro Tigre permanecer no Especial. E ele veio. Apostando na simplicidade e na total identificação das pessoas com o enredo, a vermelho-e-branco passou bem e sem grandes erros de harmonia e evolução. Jaime Cezário, bom carnavalesco da escola que não tem tanto nome, merece ser muito elogiado pelo que fez. E mestre Thiago Diogo, da bateria Ritmo Feroz, idem.
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Beija-Flor de Nilópolis: me dispo da imparcialidade pra falar que ser Beija-Flor é ter a certeza de que a sua escola vai apresentar um ótimo desfile mesmo quando não ganha. E, novamente, foi assim. Falando dos 400 anos de São Luís do Maranhão, a azul-e-branco veio com tudo novamente: belos carros, ótimas fantasias, um samba pra lá de bem cantado por Neguinho da Beija-Flor, uma bateria acertada dos mestres Plínio, Rodnei e Binho... o destaque, porém, vai sempre pra Laíla, o homem-forte do carnaval nilopolitano. E não vai para o seu trabalho, feito, mais uma vez, com primor. Ano passado, quando a escola ganhou o título cantando Roberto Carlos, ele disse que queria ver a Beija-Flor mais popular, sem enredos que falassem tanto de mitologias e por aí vai. Esse enredo sobre o Maranhão era da Beija-Flor antiga, Laíla. Você rasgou sua palavra. A escola está de parábens, como sempre, mas algo aconteceu.
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Unidos de Vila Isabel: A escola de Noel Rosa acostumou-se a fazer bons desfiles e parece não querer largar essa alcunha jamais. Contando hábitos tradicionais de Angola, a azul-e-branco passou kizombando na avenida, como é de seu costume. Aos desavisados, kizomba é uma festa popular angolana que deu o primeiro título para a Vila, em 1988. Um samba estupendo (pra este que vos escreve o melhor do ano), fantasias e alegorias que remetem à África, a Swingueira da Vila de mestre Paulinho e Wallan com bossas bem ensaiadas... mais uma vez, vem forte pra disputar o título.
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São Clemente: Maior beneficiada pelo incêndio que destruiu alguns barracões na Cidade do Samba, a única escola da Zona Sul da cidade passou como nunca. Se não foi o maior desfile da história da agremiação foi algo bem próximo disso. Sem os erros comuns das escolas de menor expressão, a amarelo-e-preto cantou grandes musicais da história do teatro, e contou com um violino no carro de som que mantinha a harmonia da escola em altíssimo padrão enquanto a bateria Fiel dos mestres Gil e Caiquinho fazia suas paradinhas. O carnavalesco Fábio Ricardo está novamente de parabéns, com um desfile muito criativo e repleto de balões, material pouco utilizado através dos tempos na Sapucaí. E, claro, é ótimo ver que a irreverência da escola de Botafogo voltou.
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União da Ilha do Governador: Acostumada a desfiler pra galera e sempre ter má-sorte com os jurados, a escola exagerou dessa vez. Com um samba de apelo extremamente popular, com dois refrões muito bons, a vermelho-e-azul apostou nisso, e unicamente nisso para ganhar o público. Não deu certo. Se não estava feio, faltou empolgação por parte dos integrantes da escola. Apesar dos pesares, a BaterIlha de mestre Riquinho passou bem. Se conseguir livrar-se do rebaixamento a Cacuia já estará feliz, certamente.
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Acadêmicos do Salgueiro: Todo ano o Salgueiro entra como campeão. A escola, acostumada a explodir na avenida, tem que ser analisada com frieza e razão, e essas nunca foram as maiores características salgueirenses. O samba é bom, a Furiosa bateria de mestre Marcão nem sem fala - esse ano até paradinha em formato de forró teve... mas faltou estética. Renato Lage e Márcia Lávia erraram na mão ao dar brilho demais e acabamento de menos pra sua escolas, bem como os carros e seus eternos problemas pra virar o cruzamento da Presidente Vargas com a Marquês de Sapucaí. A literatura de cordel, tema do enredo, merecia o Salgueiro vencedor de alguns anos átras.
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Estação Primeira de Mangueira: Foi, certamente, o desfile mais emocionante de 2012. Com a chamada "paradona", três minutos sem cantores ou bateria Surdo Um e a escola sendo sustentada apenas pelo canto da arquibancada e de quem desfilava, a verde-e-rosa entrou pra história. Mas, assim como tantos outros carnavais memoráveis, não vai ganhar o título. Aliás, diga-se de passagem, vai passar bem longe disso. Novamente os problemas financeiros da escola fizeram-se presentes nas fantasias que desfaleceram-se na avenida e nos carros mal-acabados da escola. O Cacique de Ramos foi o homenageado e ficou feliz com toda a emoção do desfile, mas até os índios dessa tribo sabem que o título tá longe do Palácio do Samba.
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Unidos da Tijuca: Novamente o Pavão veio forte. Com o sempre inventivo e muitas vezes genial carnavalesco Paulo Barros, a escola veio com um tema diferente do que sempre trazia, falando sobre o centenário de Luiz Gonzaga. Mesmo sem show de Hollywood ou qualquer tipo de luz em tecnologia, o enredo foi magistralmente desenvolvido, com todos os atributos de uma escola que quer o título e sabe como fazê-lo. A comissão de frente, muito bem bolada, representava a chega de vários outros reis, de Elizabeth II a Michael Jackson, para homenagear e coroar o rei do sertão. Também vale destacar que a figura de Luiz aparecia apenas no último carro, enquanto o desfile retratava "apenas" o quão ele foi importante, e não apenas ele - ótima sacada. No mais, outra boa atuação da bateria Pura Cadência de mestre Casagrande. Lá vem azul-e-amarelo buscando o título novamente.
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Acadêmicos do Grande Rio: A escola mais afetada pelo incêndio do ano passado percebeu que tinha um enredo em suas mãos e o apreveitou. Falando sobre grandes superações da humanidade, o carnavalesco Cahê Rodrigues soube conduzir bem o andamento da história, passando sua mensagem de maneira muito adequada. A bateria Invocada do grande mestre Ciça manteve muito bem o andamento da escola. Foi tudo muito bonito, mas... não tem pinta de campeã. Deve voltar pro desfile das campeãs, mas não como primeira colocada.
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Com tudo isso falado, creio que a classificação do grupo Especial do RJ ficará assim:
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Tijuca
Vila Isabel
Grande Rio
Beija-Flor
Mocidade
Porto da Pedra
São Clemente
Portela
Mangueira
Salgueiro
Ilha
Imperatriz
Renascer
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GRUPO DE ACESSO
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No segundo grupo do carnaval carioca, duas das três favoritas são bem conhecidas de quem gosta de carnaval. Dentre as mais cotadas para subir estão Império Serrano (que homenageou dona Ivone Lara com seu enredo) e Unidos do Viradouro. A Inocentes de Belford Roxo também veio forte, e não seria nenhuma surpresa vê-la no Especial do ano que vem. De outro lado, a tradicionalíssima Estácio de Sá ficou devendo demais ao cantar a eterna musa do carnaval, Luma de Oliveira, e corre risco de rebaixamento para o terceiro grupo (!).

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Análise e palpites do carnaval de 2012 de SP

Após 14 desfiles, duas noites em claro e uma noite in loco no sambódromo, eis minha análise do carnaval paulistano, de acordo com a ordem dos desfiles:
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Camisa Verde e Branco: Voltando para o Grupo Especial após três anos no Acesso, não se esperava muito do Camisa. O samba era fraco, a escola seguia quebrada financeiramente... era difícil esperar algo dali. Falando sobre toda e qualquer forma de amor, as alegorias vieram bonitas mas mal acabadas (outras nem bonitas, é bem verdade), as fantasias vieram pobres... ao menos o samba melhorou bastante na versão do CD. A Furiosa, famosa pelas suas convenções e bossas, passou reta, embora bem ensaiada. Não empolgou, e a lanterna, infelizmente, deve ser o destino da escola da Barra Funda.
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Império de Casa Verde: Em 2003 a Império estreou no Especial. Foi bicampeã, fez alguns desfiles excepcionais, mas... parecia que o fôlego do Tigre estava acabando. Esse era o ano para acabar com qualquer dúvida acerca da escola da Zona Norte. E, quando desafiada, a escola respondeu muito bem. Com um enredo dificílimo (física ótica, algo que eu jamais imaginei ver num enredo) e um samba mequetrefe, todos imaginavam que quem poderia salvar a azul-e-branco seria o desfile - sobretudo seus carros alegóricos, histórico ponto forte da escola. Na avenida, o samba funcionou muito bem - carregado muitas vezes pela bateria Arame Farpado, magistralmente guiada por mestre Zoinho, que fez várias brincadeiras para empolgar o público - e é desde já candidata ao bicampeonato do trofeu Nota Dez do Diário de São Paulo, que premia cada setor das escolas de samba. Acho demais pensar em título, mas voltar para o desfile das campeãs é algo bem provável. Mas, acima de tudo, o desfile resgatou a Império bonita de se ver.
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X9 Paulistana: o desfile fez jus ao apelido que a escola da Zona Norte carrega, de ser a "Imperatriz paulistana", em alusão aos desfiles técnicos que surpreendem na hora da apuração e tornam-se campeões da Imperatriz Leopoldinense, do RJ. Era difícil ver algum erro no desfile da vermelho-e-verde, é verdade, mas faltou um pouco mais de cuidado com a parte estética da escola. O tema poderia ser clichê (Nordeste), mas ganhou novos ares ao contar a região de acordo com a ótica do Rally dos Sertões. A bateria Ninguém Dorme, de mestre Augusto, veio acelerada demais, e isso pode prejudicar um pouco. Não deve cair, mas até desfile das campeãs vai ser difícil.
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Vai-Vai: Certamente a maior decepção do carnaval paulistano. Tentando o bicampeonato, a escola do Bixiga veio homenageando as mulheres, num samba fraco e que fazia diversas alusões a Bom Bril, patrocinadora do desfile. A arquibancada ficou em polvorosa com a passagem da escola, mas só por ser o Vai-Vai, maior torcida do carnaval de SP (excluindo-se as organizadas) e maior vencedora do mesmo. Embora as fantasias e as alegorias estivessem num nível adequado, faltou brilho. Isso sme contar no erro absurdo do puxador Wander Pires, que atravessou o samba e deve complicar demais as coisas para a escola na apuração. O ponto forte foi a Pegada do Macaco de mestre Tadeu, sempre com seu ritmo forte, grave e sem maiores brincadeiras. Pouco pra escola que é.
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Rosas de Ouro: Foi, certamente, a melhor escola da primeira noite de desfiles. O ponto fraco é o enredo, que mistura a fantasia de um reino imaginário guiado por Roberto Justus com a história da Hungria, que não faz questão de esconder quem patrocinou a escola esse ano. No mais, tudo perfeito. Alegorias impecáveis, fantasias ricas, a Batucada de Responsa redondinha e a presidente da Roseira, Angelina Basílio, vindo como rainha na comissão de frente. Desfile espetacular, pra título da escola da Brasilândia.
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Acadêmicos do Tucuruvi: Grande surpresa do ano passado, quando arrebatou o vice-campeonato, a escola da serra da Cantareira veio homenagear a África. Embora bem desenvolvido pelo ótimo carnavalesco Wagner Santos, o tema é tão clichê para carnaval que torna-se batido. Talvez esse detalhe tenha sido o único ponto fraco da Tucuruvi, que veio disposta a brigar pelo título. Sem muito brilho, mas com muito luxo, a azul-e-branco fez desfile de gente grande. Não empolgou, é verdade (até porque sua torcida é pequena se comparada a algumas outras agremiações), mas duvido que venha mal na apuração. A bateria Pulso Forte, sob a batuta do grande mestre Adamastor, fez muito bem seu trabalho, com algumas convenções muito bem ensaiadas. Corre por fora, mas briga pelo título.
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Mancha Verde: Tida por mim como a grande favorita para o carnaval desse ano, acho que ela foi engolida por algumas outras concorrentes. O desfile foi muito bom, no entanto o começo do desfile não foi dos mais inspiradores, crescendo a partir do terceiro setor. A emoção foi destaque, desde as palavras de ordem proferidas pelo presidente da escola até o samba valente sobre a humildade, tema da escola palmeirense. A Puro Balanço, bateria guiada pelos mestres Moleza e Caju, veio afiada, mas não foi das mais apupadas pelo público. Título é demais, mas pode sobrar uma vaga para o desfile das campeãs.
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Dragões da Real: A estreia da torcida são-paulina no Grupo Especial foi muito boa. Com um tema de ótima aceitação e muito simpático (mães) e amplo, a vermelho-e-preto entrou animada e com toda a escola cantando a canção que ganhou vida na voz de Daniel Collête, sempre cantando muito bem. Os carros não eram um primor, mas ao menos estavam minimamente bonitos e bem acabados, ao contrário das fantasias, que tinham boa qualidade. Na bateria Ritmo que Incendeia, destaque para as poucas paradinhas e para o afinadíssimo surdo de terceira da bateria de mestre Carlinhos. Não era pra brigar por nada, mas a escola passou com sobras em seu principal objetivo: não cair.
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Pérola Negra: Escola que firmou-se no Grupo Especial mas não consegue vôos mais altos, a Vila Madalena veio cantando a história de Itanháem, cidade do litoral sul de São Paulo. A história do desfile da escola, porém, foi o mesmo: samba muito bom, grande desfile, mas com erros imperdoáveis. A escola teve que acelerar demais o passo no final do desfile para passar dentro do tempo regulamentar e deixou buracos visíveis na avenida, e isso irá prejudicá-la muito nos quesitos harmonia e evolução. A bateria Ritmo Terror, de mestre Bola, fez bem o seu papel, com uma bateria afiada. Deve brigar para não cair, mas apenas porque o carnaval paulistano tornou-se competitivo demais para aceitar qualquer erro.
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Mocidade Alegre: Atual papa-títulos do carnaval paulistano, a escola queria recuperar-se do sétimo lugar do ano passado, após desfilar como campeã e perder vários pontos graças a um carro alegórico que não entrou na avenida. Cantando lendas afro-baianas narradas por Jorge Amado (que faria 100 anos em 2012), a escola literalmente arrebentou. É difícil achar um erro no desfile impecável que a Morada do Samba protagonizou. Carros lindos, samba bom e muito bem cantado por Clóvis Pê, ótimas fantasias, a bateria Ritmo Puro de mestre Sombra dando show e até mesmo a rainha Aline Oliveira tocando surdo de terceira num pedestal improvisado por ela. Não há o que falar: mais uma vez, candidatíssima ao título.
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Águia de Ouro: O primeiro impacto que a escola da Pompeia causou foi a de que veio pra brigar pelo título. E vinha mesmo. Com carros e fantasias lindas, samba cantado a plenos pulmões, a Batucada da Pompeia de mestre Juca redondinha e cheia de convenções (como sempre)... dava pra apostar na Águia, de longe. Mas o tempo foi passando e a escola permanecia lenta... parecia que o tempo regulamentar não seria cumprido. No final das contas foi (65 minutos, o limite), mas com uma correria sem igual nos últimos quinze minutos. A escola que cantou a Tropicália e trouxe Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ângela Maria, Cauby Peixoto e outros grandes nomes fez um desfile histórico, mas que não será campeão.
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Unidos de Vila Maria: Sob o comando do premiado carnavalesco Chico Spinoza pela primeira vez, a azul-e-verde cantos as mãos na avenida. Falando de artesanato e todo tipo de trabalhos manuais, a escola não empolgou, mas não teve um erro sequer ao longo de seu desfile. O samba não era dos melhores e a Raiz Verdadeira, bateria da escola, fez bonito. A escola tem boas chances de voltar para o desfile das campeãs e briga sim pelo título, mesmo correndo por fora, mas precisa aprender a contagiar mais as arquibancadas.
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Gaviões da Fiel: Quando o enredo sobre o ex-presidente Lula foi revelado, muitos apostavam na emoção como o forte do desfile da Gaviões. Com o samba escolhido, não se sabia mais de nada - já que o samba não tinha uma marca e era fraco, a despeito de seu refrão de cabeça forte. No desfile, correu tudo certo. Tudo bonito, a bateria Ritimão de mestre Pantchinho (que já foi presidente da escola) bem ensaiada... mas faltou algo. Novamente, o desfile das campeãs deve vir, mas o título é algo muito distante da escola corinthiana.
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Tom Maior: Fechando o carnaval paulistano com um enredo bom-mocista, que misturava uma homenagem ao antigo presidente da escola vermelho-e-amarelo, vítima de leucemia, com um pedido de paz para todos na Terra, a Tom Maior passou, e só passou. Não encantou, não fez feio... passou. É daqueles desfiles que se faz pra colocar a escola na rua e pronto, pouco para quem tem uma história tão bonita no carnaval de SP. O samba era fraco, a bateria Sensação veio acertada... e só. Não tem muito mais o que falar.
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Com base nas opiniões expressas acima, creio que a classificação final do carnaval de SP fica assim:
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Mocidade
Rosas
Vila Maria
Tucuruvi
Gaviões
Mancha
Império
X9
Vai-Vai
Águia
Dragões
Tom Maior
Pérola
Camisa
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GRUPO DE ACESSO
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A opinião aqui não é das mais fortes, já que apenas li a respeito dos desfiles, e não os vi de fato. Pelo que me foi contado, as favoritas para subir são Unidos do Peruche, Nenê de Vila Matide e Leandro de Itaquera, três grandes forças do carnaval paulistano. A Imperador do Ipiranga corre por fora. A surpresa positiva do grupo foi a Estrela do Terceiro Milênio, que chegou muito bem e deve ficar no Acesso. Unidos de São Lucas, Morro da Casa Verde e Acadêmicos do Tatuapé brigam para não cair.
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Palpite para o Acesso:
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Nenê
Leandro
Peruche
Imperador
Estrela
Tatuapé
Morro
São Lucas

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

No reino encantado da web, o carnaval abre alas e pede passagem ao futebol ~ post de Marcelo Barreto em seu blog

Como bom brasileiro que é, Marcelo Barreto é trabalhador e adora futebol e carnaval. O jornalista salgueirense trabalha nos canais SporTV e é o atual correspondente da emissora em Londres. Ano passado, pouco depois do carnaval, ele escreveu um texto incrível em seu blog, sobre a relação dele com o carnaval, sempre comparando-o com a outra paixão nacional:
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"Em algum momento do fim dos anos 70, perguntei a minha mãe por qual escola de samba ela torcia. O folião da casa era meu pai, que na época ainda desfilava pelo Cume Ardendo (bloco de piranhas fundado pelo meu avô, pai dele, que alegrava as ruas de Bicas com homens vestidos de mulher e um estandarte com o desenho de um vulcão em erupção) e até hoje vira as noites assistindo aos desfiles pela TV. Mas, por alguma razão, foi a opinião dela que escolhi para esse assunto. Talvez porque à figura do pai já esteja reservada a escolha do time de futebol – tradição que fiz questão de passar ao neto dele. E muito mais provavelmente porque minha mãe é carioca, o que conferia a meus olhos de menino mineiro apaixonado pelo carnaval uma autoridade inquestionável.
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“Salgueiro”, ela disse, sem imaginar o impacto que sua resposta teria. Desde aquele dia, me tornei salgueirense. Além de supreendente, porque minha mãe nasceu e passou boa parte da infância em Vila Isabel, era uma escolha irresistível: a escola dela tinha sido bicampeã do carnaval carioca em 1974, com O Rei de França na Ilha da Assombração, e 75, com O Segredo das Minas do Rei Salomão, enredos de Joãosinho Trinta. O carnavalesco revolucionário saíra em seguida para dar um tricampeonato à Beija-Flor, mas parecia questão de tempo voltar a conquistar um título mesmo sem ele. Eu tinha me tornado torcedor de uma das mais tradicionais e vencedoras escolas de samba do Rio de Janeiro.
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Quanto a festejar logo um campeonato, estava errado. Desde aquele dia, amarguei um jejum de títulos semelhante ao que o Corinthians tinha acabado de encerrar e ao que o Botafogo veria terminar antes do meu – que só chegou ao fim com “Peguei um Ita no Norte”, em 1993, aquele do refrão “Explode, coração, na maior felicidade” cantado até hoje nos estádios. Mas, embora tenha começado minha relação com o carnaval baseado numa lógica futebolística – a gente gosta primeiro de um time e depois do esporte em si -, fui aprendendo durante aqueles anos que, para quem torce por uma escola de samba, não ser campeão pode ser uma decepção, mas não é um sofrimento. E como a gente sofre com o futebol!
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Vejam bem: não estou falando em nome da comunidade salgueirense. Minha relação com o Salgueiro surgiu tão aleatoriamente quanto a que tenho com meu time de futebol. Não nasci num morro da Tijuca, como jamais fui sócio do meu clube. O que tenho por ambos, a exemplo de milhões de brasileiros (não só os que nascem fora do Rio, mas muitos dos próprios cariocas), é uma afinidade nascida artificialmente e transformada em amor verdadeiro. Uma eu precisei sublimar, para ser jornalista esportivo; a outra, pude manter e declarar publicamente, porque – no que considero uma das grandes lacunas de minha carreira – jamais cobri um carnaval. E acho que aqui finalmente chego ao ponto do que queria dizer, além do simples prazer de usar este blog para escrever sobre minha outra paixão no mundo do entretenimento.
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Carnaval e futebol são igualmente apaixonantes, mas fundamentalmente diferentes no jeito de se torcer. Enquanto o torcedor de um clube se define pela existência do outro, o de uma escola de samba se basta a si mesmo. Nunca precisei odiar a Mangueira ou a Portela, rivais históricas, ou Beija-Flor e Imperatriz Leopoldinense, as grandes vencedoras da minha era, para me definir como salgueirense. Não sei se isso é melhor ou pior – talvez seja apenas diferente, para usar o lema que minha escola criou nos anos em que não ganhava o carnaval. Mas não posso assistir a um desfile – como estou fazendo enquanto escrevo este texto, com o mar azul da Portela me lembrando vagamente o que me encantou em 1981, ao som de “O mar, oi, o mar, por onde andei mareou…”, um dos sambas mais bonitos que já ouvi – sem pensar que esse sentimento carnavalesco é mais.. É, não tem outra palavra: esportivo.
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“Você é meu adversário, mas não é meu inimigo. A sua resistência me dá força. A sua força de vontade me dá coragem. A sua determinação me enobrece. Embora eu deseje derrotá-lo, se eu vencer não vou humilhá-lo. Ao contrário, vou homenageá-lo. Porque sem você sou um ser menor” , narrou Robin Williams para um vídeo do Comitê Olímpico Internacional. Daria um samba. Mas jamais seria cantado numa arquibancada.
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E tinha tudo para ser o contrário. No futebol, o torcedor pode se sentir parte de uma conquista com seu grito, seu apoio, o show que dá nas arquibancadas – mas jamais entrará em campo. No carnaval, o torcedor pode ser componente – o desempenho da escola depende diretamente dele. O futebol se decide dentro do campo, com critérios objetivos – por menos objetivos que sejam seus árbitros. O carnaval não tem árbitro, tem juízes. O trabalho de um ano inteiro está muito mais sujeito à interpretação de seres humanos falíveis do que a lei do impedimento. Por isso a Beija-Flor, com seus ratos e urubus inesquecíveis de 1989, perdeu o título para a Imperatriz do maravilhoso samba “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós…”. E por isso Dona Zica e Dona Neuma volta e meia desmaiavam durante a apuração, se as notas da Mangueira eram baixas. Como julgar uma paixão?
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Como, apesar de tudo isso, torcedores de todas as escolas se juntam no sambódromo sem brigar para provar que a sua é melhor, como a arquibancada inteira pode aplaudir um desfile como o Kizomba da Vila Isabel de 1988, como o torcedor de uma escola pode frequentar o ensaio de outra e até desfilar por ela, como todo sambista pode tirar o chapéu para a comissão de frente mágica da Unidos da Tijuca sem torcer o nariz por ser de outra agremiação, como, no fim das contas, foi o futebol trazido ao país pela aristocracia e não o samba criado nos morros que se tornou visceral, que preencheu as lacunas associativas do brasileiro? Isso é coisa para Roberto da Matta, que estudou os carnavais, os malandros e os heróis, explicar.
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Eu vou continuar, a cada carnaval, achando inviável e fascinante a ideia de torcer por um clube de futebol como se torce por uma escola de samba. Tão perto e tão longe de sua essência. Se ainda não realizei o sonho de trabalhar na avenida, como vejo meu compadre Aydano André Motta (o maior repórter do carnaval carioca) fazer desde que me mudei para o Rio, dei meu jeitinho de participar da festa. Já assisti aos desfiles da arquibancada e de camarote – de onde finalmente vi de perto o Salgueiro passar campeão, tocando o Tambor de Renato Lage em 2009. Já desfilei por Beija-Flor, São Clemente, União da Ilha, Caprichosos de Pilares, Império Serrano, Mangueira…
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Nunca pela minha escola do coração. Mas sempre com o meu amor."

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Aqui, agora, de todo coração ~ Ivan Martins, para a Época

Como fazer a escolha mais delicada da sua vida?
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"Escolher é difícil. Pergunte a um psicólogo e ele vai explicar por que gente obrigada a optar entre uma coisa e outra – qualquer que sejam essas coisas – sente ansiedade. Isso acontece em lojas de sapato, em restaurantes, na porta do cinema e até no sexo. Uma amiga me contou outro dia como foi estar numa festa e ter dois homens sedutores dando em cima dela. “Tive de escolher um deles, mas com um aperto no coração”, ela me disse. No dia seguinte, o bonitão que ela escolheu caiu no vácuo e nunca mais deu notícias. Escolher, ela aprendeu, é abrir mão de alguma outra coisa - e as consequências podem ser irreversíveis.
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Infelizmente para nós, nem todas as escolhas são tão simples quanto a do sexo na balada. Penso na escolha mais delicada que a gente faz na vida, aquela que envolve os parceiros de longo prazo. Em que momento concluímos que uma pessoa deixou de ser apenas item de prazer ou fonte de encantamento e se tornou a criatura com quem vamos dividir a vida? Pode ser casando, comprando apartamento e tendo filhos, ou, de forma menos ritualizada, pondo os sentimentos e necessidades dela no centro da nossa vida, mesmo vivendo em casas separadas. O compromisso é parecido, assim como os caminhos que levam a ele.
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A primeira coisa que conta nas grandes escolhas – eu acho - é a permanência. Ninguém tem direito a reivindicar um posto dessa importância sem ter ralado um tanto. Não adianta a Fulana decidir, em 30 dias, que vai ser sua mulher para o resto da sua vida. Não funciona assim. O teste do tempo é fundamental. Se aquela mulher ou aquele sujeito continua lá depois de todas as discussões e inevitáveis desencontros, se ela ou ele resolveu ficar depois de todas as chances de ir embora, se os seus sentimentos em relação a ele ou ela continuam vivos, um bom motivo há de haver.
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É essencial, também, que a experiência de convívio seja boa. Amores tumultuados dão bons filmes e péssimas vidas. É essencial acordar no sábado e ter vontade de ficar mais tempo na cama, enrolado naquele ser ao seu lado. Se a conversa antes de dormir deixou de ser gostosa ou se qualquer programa parece mais interessante do que a companhia dela ou dele, para que insistir? O prazer que o outro proporciona é essencial. Prazer de transar, prazer de olhar, prazer de ouvir, prazer de simplesmente estar. Se você caminha pela rua com ela e os dois são capazes de rir um com o outro, algo vai bem. Se você passa a tarde com ele no sofá, lendo ou transando, e o dia parece perfeito, eis um bom sinal. A felicidade não tem receita, mas a gente percebe quando está funcionando.
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Para que as coisas funcionem no longo prazo é essencial haver lealdade. Eu cuido, eu protejo, eu respeito – e você faz o mesmo comigo. Se você não sente que seus sentimentos e a sua vida são importantes para ele ou para ela, desista. Como o ambiente lá fora é hostil, é essencial saber que no interior da relação existe cumplicidade e abrigo, com um grau elevado de honestidade: você diz o que pensa e isso vai ajudar, ainda que doa. É impossível prometer que coisas ruins jamais irão acontecer, é falso garantir que os sentimentos permanecerão os mesmos para sempre, mas é essencial olhar nos olhos do outro e sentir a disposição de tentar, verdadeiramente, que seja assim. Aqui, agora, de todo o coração, tem de ser para sempre – ou então a gente nem começa.
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Se tudo isso existir – e não é fácil – ainda fará falta um quarto elemento, essencial ao equilíbrio duradouro das relações: os planos. Se ele que ter cinco filhos e você não quer ser mãe, não vai rolar. Se ela quer levar uma vida de viagens e aventura e o seu sonho é ficar aqui mesmo, perto das famílias e dos amigos, não deu. Viver bem pressupõe afinidades essenciais de gosto, sentimento e expectativas, sem falar de ideologia. Todas essas coisas se refletem nos planos. Eu penso no amor como um voo de longa distância. O avião precisa estar carregado com o tempo da relação, com o prazer que ela proporciona e com a lealdade em que ela está baseada – mas as pessoas ainda têm de concordar sobre o destino. Se eu quero ir à Tóquio e você à Nova York, precisamos embarcar em vôos diferentes."

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Tá ótimo

Tudo tá tão bom agora que nem parece que, alguns dias átras, vivíamos numa montanha-russa, cheia de altos e baixos. Nos acertamos, deixamos pra lá o medo que tínhamos de revelar as nossas verdades, conversamos, fomos francos... e estamos de novo nisso tudo. Tá tudo tão ótimo que eu não sei nem como dizer direito o quanto é bom te fazer rir, saber que você quer conversar comigo, saber que eu sou importante pra você, que você me quer bem... é ótimo. Até surgem alguns contratempos, claro, mas quem nunca passou por algumas pedras no caminho e não superou junto com outra pessoa, não é mesmo ? Nós superamos, e isso nem foi capaz de nos abalar tanto assim. Quando foi algo mais sério, te dei liberdade pra me falar. Eu te ouvia e pensamos juntos, como tem que ser sempre. E juntos vamos de novo. Mas com calma, como eu sempre te dizia e por algum motivo eu mesmo esqueci disso. Me esqueci disso e de outras coisas sim, mas de você eu não me esqueço jamais.
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Tenho fé que um dia tudo volte a ser como era antes e, ao menos ao meu ver, tudo caminha pra isso. Passei a respeitar seus momentos de solidão e te deixar voar, mesmo querendo te ter aqui a cada segundo. Relaxei e tratei de cuidar para que você voltasse dos seus vôos, e assim está sendo. Vou continuar fazendo isso, você vai se sentir bem e espero que um dia sinta-se bem ao ponto de querer voar, mas de asas dadas comigo. Mas, por enquanto, vamos assim, porque tá ótimo. Tá ? Tá. Tá ótimo.
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"Eu conto as horas pra você voltar pra mim
Vou te amar
Não importa o quanto eu tenha que esperar
Deixei a porta aberta para você entrar de novo aqui
No meu coração"

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Dou-lhe os parabéns na semana em que você terminou de morrer

Nessa semana, foi muito noticiado o aniversário de 32 anos do PT. Não só pela data, mas também pela natureza desse partido tão singular na história do país. O problema é que o partido importante tornou-se tão igual aos demais a partir do momento que cresceu. A semana do seu aniversário, ironicamente, ajudou a enterrar o PT, que segue sendo um grande partido, mas é cada vez menos o PT - sigla que representou, ao menos algum dia, esperança na política brasileira.
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Na mesma semana, três fatos ocorreram com a estrela que manchariam a "velha guarda" do partido em outros tempos, mas, hoje, não significa muito. Talvez porque pra se chegar ao poder no Brasil deve-se, por obrigação, tornar-se corrupto. Pode ser uma simples mudança (ruim para quem gosta de sinceridades políticas)... pode ser muita coisa. A verdade é que o PT poderia fundir-se com os PSDB, PMDB, DEM, PSD e tantos outros partidos que defendem alguma ideologia fraca e a ausência total de ética.
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No começo da semana, foi anunciada a privatização dos aeroportos internacionais de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. A notícia, por si só, é excelente. Todo ano temos apagão aéreo, a aviação civil tornou-se um caos da metade da década passada... a privatização em si é ótima. Mas é no mínimo irônico ver o PT privatizando algo.
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Ao longo do governo FHC, várias empresas foram estatais foram privatizadas. A grande maioria delas duma forma lastimável, algumas outras com bons resultados. O PT, em todos (repito, TODOS) os casos, criticou. Meu amigo Arthur Gandini comentou que eles falavam mal da maneira que Fernando Henrique Cardoso privatizava, e não das privatizações em si. Pesquisei um pouco e não achei muito parecido com isso, confesso, mas fica o registro.
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Eis que, no poder, o PT faz o mesmo. Ao ver o tamanho do buraco, o partido rasga sua ideologia e faz o que qualquer partido faria. Mas não era pra fazer diferente que você surgiu e ganhou tantos adeptos, PT ?
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Alguns dias depois, a presidente Dilma Rousseff, comentando sobre a greve dos policiais militares na Bahia, disse que "se anistiar alguém vira bagunça". Ora, companheira ! Como assim ? A senhora não se lembra como você mesma e tantos outros amigos, da senhora ou não, voltaram para o país, no final da ditadura militar ? Por que vocês eram os paladinos do bem, da justiça e da liberdade e eles são ou bagunceiros ? No fundo, é apenas a inversão dos valores: há 30 anos átras, os militares estavam no poder e cerceavam os direitos dos esquerdistas, e hoje o plano mudou de figura. Há vários detalhes, claro, mas a essência é essa.
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Por fim, um viral em redes sociais me alertou para um último fato. Um tempo átras, Dilma cortou cerca de R$1 bilhão do orçamento destinado para a segurança pública. Pouco depois, anunciou uma "ajuda de custo" para Cuba orçada em cerca de R$1,3 bilhão. Os montantes são parecidos, e talvez podem explicar o porque os bagunceiros, quero dizer, os policiais, estão em greve. Falei sobre o evento aqui e lá tudo é mais específico, mas não podemos deixar de destacar que eles tem direito a reinvidicações, como qualquer outro trabalhador.
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Parabéns, partido dos trabalhadores. Mas ao longo dessa semana o partido enterrou o PT.