terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Tragédia? O 2016 do São Paulo foi muito melhor que a encomenda

(Créditos: Rubens Chiri/Saopaulofc.net)
Um clube que teve a proeza de ter um processo de impeachment depois de uma série inacreditável de fatos. Um time que passou por uma humilhação daquelas ao perder para o maior rival com o time reserva e já campeão. Um elenco que só conseguiu se classificar para a Copa Libertadores depois de dois jogos de nível técnico horrendo e com gols no final de cada uma dessas partidas. Uma casamata que teve quatro treinadores. 

Esse foi o São Paulo de 2015, em suma. Um ano que merecia muito menos do que foi conseguido - obrigado Juan Carlos Osorio, Paulo Henrique Ganso e Alexandre Pato, que levaram o time nas costas rumo à Libertadores. O 2016 da equipe tinha tudo para ser uma verdadeira tragédia. 

Muitos torcedores realmente devem achar que o 2016 do São Paulo foi uma tragédia de fato - muito por conta de mais um ano sem títulos conquistados e por um ou outro flerte com a Zona de Rebaixamento. A frase que esses torcedores falam é algo como "Isso é muito pouco para um clube tão grande quanto o São Paulo". 
(Créditos: Marcos Brindicci/Reuters)
Sim, é mesmo. Mas os torcedores, no alto do clubismo e arrogância (características que perseguem a torcida são-paulina desde sempre), não veem que o futebol é feito de fases. E a fase atual do São Paulo é ruim por conta do péssimo planejamento e de diretorias que não cansam de fazer besteiras - desde 2011, aliás. 

Pensemos aqui, friamente:

- O São Paulo chegou a uma semifinal de Libertadores - foi o melhor time do Brasil na competição e foi mais longe que clubes na crista da onda (River Plate, Corinthians, Rosario Central e Palmeiras, além de ter parado na mesma fase do Boca Juniors). O Tricolor só foi eliminado pelo campeão Atlético Nacional de Medellín, e após duas partidas com erros absurdos de arbitragem

- Apesar de por vezes flertar com a Zona de Rebaixamento, o São Paulo não encerrou nenhuma rodada no Z4 - algo até surpreendente para quem veio de um 2015 tão ruim
(Créditos: Rubens Chiri/Saopaulofc.net)
- O São Paulo fez 4x0 no Corinthians, dando um troco moral no maior rival no chamado "M4jestoso da Cuevadinha" - que teve, além de tudo, no mínimo duas expulsões claras não executadas pelo árbitro e que prejudicaram o resultado final do jogo

- O São Paulo manteve o tabu ante o Palmeiras (outro grande rival) no Moumbi: o time alviverde não ganha do Tricolor fora de casa desde 2002. O lance teve o épico lance no qual Kelvin entortou Zé Roberto

- Tão criticado por muitos (não sou desse grupo), o técnico Edgardo Bauza deixou um legado no São Paulo: a fortíssima defesa. O SPFC acabou o Brasileirão com a quinta melhor defesa do campeonato: apenas trinta e seis gols sofridos. O sistema consagrou Maicon, que logo tornou-se ídolo da torcida
(Créditos: SPFC.net/Reprodução)
- Depois de anos e anos, um antigo pedido da torcida e da diretoria foi atendido: a valorização das categorias de base. Dos quarenta e um jogadores utilizados só no Brasileirão, quinze vieram do tão falado CT de Cotia

- Se a diretoria seguiu trazendo jogadores que em nada agregaram e não pôde fazer muito quanto a craques que saíram (sobretudo Ganso e Calleri), dois caíram como uma luva no time: Christian Cueva e Maicon

Tragédia? Como pode ver, o são-paulino tem que agradecer aos céus pelo 2016 que teve. Foi muito melhor que a encomenda. E, vale dizer: 2017 ainda não vai ser o ano do Tricolor, que precisa se reconstruir e voltar a ser protagonismo. Vale dizer sempre que, até 2005, o São Paulo bateu na trave desde 2002, no mínimo.
(Créditos: Mauro Horita/Estadão Conteúdo)
O ano é 2018. Se o clube seguir controlando bem o dinheiro (dos poucos pontos positivos da gestão do presidente Leco), o Tricolor pode voltar a sonhar com algo grande em dois anos. Jamais apostaria em Rogério Ceni para 2017, mas obviamente vou torcer para que ele consiga bons resultados. 

Que 2017 seja surpreendentemente positivo, bem como 2016. E sem deixar margem para dúvida. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

O 2017 do São Paulo começa em 2011 - e tem tudo pra seguir sendo ruim

(Créditos: Ariovaldo Maia/Reprodução)
O São Paulo, dos únicos seis times que nunca foram rebaixados na história do Campeonato Brasileiro, assegurou a permanência na Série A de 2017. A ~conquista~, porém, não foi alcançada por méritos próprios, mas sim por conta da derrota do ameaçadíssimo Internacional para o Corinthians. 

A situação, aliás, é uma ótima síntese do que foi boa parte de 2016 do São Paulo. Uma campanha horrível no Paulistão (levando quatro gols do surpreendente Audax nas quartas-de-final, ficando de fora das semifinais do Estadual pela segunda vez nos últimos três torneios e jogando fora de casa a partida eliminatória por ter ido pior que o time de Osasco na primeira fase); uma eliminação vergonhosa para o Juventude na Copa do Brasil, perdendo em pleno Morumbi para um time que não conseguiu chegar nem na final da Série C; e um Campeonato Brasileiro quase sempre na metade de baixo da tabela - isso com a sexta maior folha salarial do país. Um desastre completo.

Ao contrário de tudo isso, não sou dos torcedores que acham o ano inteiro ruim. Acho o segundo semestre tenebroso, mas o primeiro teve, se deixar, mais altos que baixos. Tudo por conta da campanha monumental na Libertadores, quando o desacreditado time suou sangue para chegar até a semifinal e ser eliminado de maneira bem controversa pelo campeão Atlético Nacional de Medellín. Uma Copa dessas, amigo, vale demais.

O que, então, deu certo na Libertadores e falhou tão retumbantemente no resto do ano? Podemos dividir essa explicação em alguns tópicos:
(Créditos: Leandro Martins/Estadão Conteúdo)
- Importância da competição: a Libertadores é o torneio mais importante da América do Sul. Mais do que isso, o torcedor do São Paulo nunca escondeu o quanto gosta do torneio e faz questão que o time vá bem nela - mesmo que, pra isso, escanteie outros certames

- Técnico: Edgardo Bauza, então técnico são-paulino conhece a Libertadores - levou duas equipes que nunca tinham vencido o torneio (LDU, em 2008; e San Lorenzo, em 2014) ao título. O estilo de jogo implementado por Patón, privilegiando a defesa, também contou pontos

- Calleri e Ganso: o argentino foi o artilheiro da Libertadores, enquanto o meia foi o jogador que mais deu assistências para os companheiros. Tudo isso sem jogar a final. 

- Trujillanos: antes de enfrentar o time venezuelano no Morumbi e humilhar os Guerreros de la Montaña por 6x0 (maior goleada da Libertadores de 2016, junto com a vitória do Corinthians sobre o Cobresal), o Tricolor tinha uma derrota (em casa) e dois empates. O triunfo fez o clube, que corria seríssimo risco de cair na primeira fase da Copa pela primeira vez desde 1987, reagisse.

- Luiz Cunha: o diretor de futebol conseguiu blindar o elenco e dar uma paz pouco vista ao grupo de jogadores desde o trágico terceiro mandato de Juvenal Juvêncio, iniciado em 2011. Com ele, tudo era feito na surdina e não vazava para a imprensa - algo muito bem quisto. 

O ciclo sem fim começa, justamente, na eliminação com uma série de erros de arbitragem do São Paulo pela Libertadores. Sem a competição preferida da torcida, Calleri e Ganso foram vendidos. Bauza saiu pouco depois. Luiz Cunha já havia saído no espaço entre a classificação heroica contra o Atlético Mineiro e a eliminação para o Atlético Nacional. E, bem, no Brasileirão não existem times tão fracos como o Trujillanos. 
(Créditos: Fabio Suzuki/Lancenet)
Erros foram se sucedendo no segundo semestre. Da eliminação na Libertadores até agora, foram sete vitórias, sete empates e dez derrotas - aproveitamento de 38,8% dos pontos, que colocaria o São Paulo atrás do Vitória no Brasileirão, último time fora da zona de rebaixamento. Como você pode ver, nada é por acaso.

O planejamento foi inteiramente bagunçado. Ao todo, chegaram trinta e três jogadores e saíram trinta e um - sendo que onze chegaram e logo saíram, e três tiveram pelo menos duas transferências. Um clube que tem a média de mais de cinco mudanças no elenco por mês pode tudo, menos ter um bom ano. 

A própria diretoria também mudou bastante. Nomes como o do próprio Luiz Cunha, Gustavo Vieira de Oliveira, Rubens Moreno, Ataíde Gil Guerreiro, José Alexandre Medicis da Silveira e José Jacobson Neto se revezaram em duas ou três funções, que não foram bem explicadas para ninguém até hoje. 

E é a diretoria o ponto nevrálgico dessa situação toda. 

Desde o já citado terceiro mandato de Juvenal Juvêncio, as diretorias do São Paulo não cansam de errar. De 2011 para cá, um dos clubes mais vitoriosos do Brasil ganhou apenas um título - muito mais pela união do grupo de 2012, que queria dar um troféu para coroar o ciclo de Lucas Moura no SPFC. Até mesmo uma impensável renúncia aconteceu, tudo marcado por denúncias de corrupção e bravatas que pouco combinam com o histórico das diretorias tricolores. 
(Créditos: Reprodução/Gazeta Press)
Carlos Augusto de Barros e Silva, o popular Leco, entrou em 2015 para estancar a sangria da tenebrosa gestão de Carlos Miguel Aidar. De lá para cá, empenhou-se em votar o novo estatuto do clube - que, ao menos em tese, traz o São Paulo para o século XXI. Seria lindo se, no caminho, não fossem vários casos que serviram apenas para irritar o torcedor e conturbar o ambiente

Em uma dessas lástimas que só o São Paulo é capaz de proporcionar, a eleição interna acontece em abril - com a temporada já a pleno vapor. O planejamento feito pode muito bem ser rasgado por caprichos de um mandatário ou de uma diretoria de oposição. E, como se a situação já não fosse ruim o bastante, 2017 é ano eleitoral. Ou seja: se 2017 começar bem, tudo pode mudar; se começar mal, pode ser que fique ainda pior - ou você realmente acha que, na atual situação, o São Paulo pode voltar às boas a curto prazo? 

No futebol, a diretoria é de um papel tão lastimável que nos lembra porque boa parte dela é amadora. Para substituir Edgardo Bauza veio Ricardo Gomes, que estava prestes a entrar na zona de rebaixamento com o Botafogo. O time carioca não poderia fazer muito mais que isso e o que o substituto Jair Ventura faz com o time é magnífico, mas claramente faltou ambição ao São Paulo. 

Como os resultados obviamente não vieram, a diretoria ficou espremida entre as críticas e bancar o treinador. Quatro manchetes ilustram a situação de maneira perfeita:

Já tínhamos ao menos um bom nome no mercado - se não para aquele momento, para o próximo ano. A vitória sobre o Fluminense veio, em uma partida que diz muito sobre a equipe: um primeiro tempo medonho; uma segunda etapa que, a partir de um erro clamoroso do adversário, fez o time voar em campo


Ricardo Gomes estava garantido, ao menos, até o fim do ano. Mesmo assim, convivia com a pior concorrência que alguém pode sofrer: o maior ídolo da história do clube, que estudava para se tornar técnico de futebol - e, obviamente, não tem nenhuma experiência no cargo.


Após a inesquecível goleada no Majestoso, o presidente decide apostar no técnico para o próximo ano. Eu mesmo pedia para que o treinador ficasse até o fim do ano por uma série de motivos, mas jamais o queria em 2017


É isso mesmo: oito dias (e um empate e uma derrota) depois de ser garantido para o ano seguinte, Ricardo Gomes foi sumariamente demitido da maneira mais vexatória e antiprofissional possível. 
(Créditos: Reprodução/Gazeta Press)
Não é possível confiar numa diretoria dessas, que em pouco mais de um mês erra ao menos quatro vezes (cada manchete representa pelo menos um erro, como pode ver) e muda o destino do clube ao sabor do resultado e da pressão da torcida, não do trabalho realizado. Seja com Ricardo Gomes, com Rogério Ceni ou com Jesus Cristo.

A chegada de Rogério Ceni, aliás, merece uma menção especial. Ela não pensa no futuro do clube, mas sim em atender à pressão da torcida (que precisa se sentir identificada com o time em campo) em ano eleitoral. Os cartolas fizeram o que a torcida querida: se der errado, a culpa é dos jogadores, e não deles. Politicamente brilhante - e de uma canalhice sem tamanho, já que o goleiro-artilheiro jamais treinou sequer uma equipe de juniores. Portanto, pro mais fã que eu seja de Rogério Ceni (é impossível ser são-paulino e não ser), sou contra a chegada dele nesse momento. Não me peçam pra bater palmas nem pra comemorar isso. Vou torcer, óbvio, mas o potencial de dar errado é imenso.

Não espere que 2017 seja muito diferente do que foi 2016 para o São Paulo. Títulos só com um elenco bem aguerrido (qualificado é algo bem difícil), um ou outro jogo memorável, algumas derrotas doloridas. 

Mais um ano na pasmaceira. Enquanto a diretoria não for mudada ou mudar de atitude, teremos vários 2016 nos próximos anos. 

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A direita à direita

(Créditos: AFP/Reprodução)
PS: esse texto busca fazer uma análise, e não uma crítica. Não é o que o blogueiro está acostumado a fazer - é, na verdade, quase um desafio. Nem de longe o blogueiro compactua com esse tipo de pensamento (é, aliás, muito combatido e criticado por ele), mas analisar também faz parte do processo racional - até para poder criticar com mais conhecimento da causa e sem falar asneiras. 

Como boa parte de tudo que diz respeito à civilização como conhecemos hoje, o conceito do que é "esquerda" e "direita" na política surgiu na Revolução Francesa. Na Assembleia Nacional Constituinte, que buscava limitar os poderes do rei e tornar a sociedade mais justa (tanto que originou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão), existiam três grupos, sendo dois mais famosos:

- Girondinos: representantes da alta burguesia, que se sentavam à direita do rei
- Jacobinos: representantes da média e baixa burguesia, que se sentavam à esquerda do rei

(Créditos: Domínio Público)
Consolidou-se, então, o que era direita e esquerda no espectro político. O blogueiro confessa que odeia essa classificação por achar que existem várias nuances e pensamentos que não podem ser rotulados em apenas dois grupos, mas por vezes é necessário usá-los para ser entendido mais facilmente. 

Nos últimos tempos, a chamada direita cresceu de maneira exponencial em todo o mundo. Talvez o primeiro movimento a se fazer notado nas urnas (não se sabe se é causa ou consequência do aumento desse pensamento) foi o Tea Party, que surgiu em contraposição às medidas assistencialistas do presidente Barack Obama. 

Convém falar, porém, que o pensamento rapidamente se espalhou mundo afora - não só em eleições. O crescimento de grupos neonazistas (sobretudo na Europa) fala melhor que qualquer outra atitude. Uma das facetas mais controversas de quem partilha desse pensamento é a aversão aos migrantes - que, para quem não compactua com esse pensamento, chega a patamares xenófobos. Os tantos árabes que morrem e/ou ficam em condições sub-humanas (como esquecer da foto do garoto morto na Turquia?) mostram as consequências práticas que essa aversão pode ter quando levado a níveis extremos. 

(Créditos: Getty Images/Reprodução)
Alguns grupos de mídia também não escondem seu ar bem conservador. Mundialmente, a Fox News talvez seja o caso mais conhecido. No Brasil existem várias polêmicas que versam sobre um suposto favorecimento a quem tem viés mais de direita - como a edição do Jornal Nacional do último debate presidencial de 1989 ou a cobertura da Operação Lava-Jato pela grande mídia brasileira. Por aqui, a revista Veja e, mais recentemente, a rádio Jovem Pan são tidas como porta-vozes do pensamento conservador.

Embora não possa ser definido apenas por conta de eleições, é nas urnas que a direita mais cresceu - e mais chamou a atenção. Na Europa, países de todos os cantos (do Leste, do Centro, do Oeste, do Reuno Unido e até da Escandinávia, região tida como tradicionalmente social-democrata) apresentam grande crescimento dos partidos de extrema direita. Isso inclui países muito importantes para a geopolítica mundial, como a França e a Inglaterra. 

O Reino Unido, aliás, foi o palco de uma das grandes demonstrações de força do novo pensamento radical de direita. A consumação do BrExit, que tira o país da União Europeia, é a uma vitória da extrema direita - que, entre suas principais características, contém o nacionalismo e a vontade de se livrar cada vez mais da garra do Estado, seja ele qual for. Tais atributos atraíram os ultraconservadores britânicos, que venceram o pleito.

O grande salto mundial da extrema direita, porém, foi a recente eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Após oito anos de governo democrata, os americanos escolheram pelo polêmico candidato republicano - que, inclusive, venceu em redutos tradicionalmente rivais, como os estados de Wisconsin, Ohio e Michigan. 

(Créditos: Mike Segar/Reuters)
No Brasil, a parelha eleição presidencial de 2014 já foi uma prévia de que o pensamento de direita/extrema direita tinha ressurgido (para muitos, resultado das Jornadas de Junho), mas foi em 2016 que os candidatos dessa corrente ideológica se destacaram. O forte pensamento antipetista após o impeachment catapultou candidatos do PSDB (principal força da direita brasileira) e de tendência conservadora nas eleições municipais do país.

Donald Trump, João Dória Jr. (eleito prefeito de São Paulo em primeiro turno, primeiro candidato a cosneguir isso na história da Nova República), o BrExit e a extrema direita eurocêntrica têm alguns pontos em comum. 

- A rejeição do rótulo de político, apresentando-se muito mais como um gestor e/ou empresário de sucesso
- As críticas ao sistema político e ao establishment
- Ideias neoliberais, como privatizações e fim de programas assistencialistas
- Valorização do povo local, desprezando quem é de fora dos limites do espaço a ser governado
- Crescimento ao aproveitar uma rejeição de seus adversários políticos, por fatores característicos de cada região

(Créditos: Democratize Mídia/Reprodução)
É óbvio que os fatores particulares de cada uma das situações apresentadas é de fundamental importância para cada eleição. Mas é curioso notar que, em pleitos tão distintos, existem pelo menos cinco pontos de convergência. 

Também é importante dizer que, como quase tudo na história, a política é um pêndulo. O pensamento conservador voltou à baila após ano de ostracismo. Daqui um tempo deve voltar à penumbra, e assim sucessivamente. Isso é democracia

O que choca muitos, porém, é o quanto os novos pensamentos conservadores vão de encontro a ideias que estavam muito enraizadas e começavam a se tornar até mesmo verdades absolutas: globalização, livre fronteira, livre comércio, rejeição a qualquer tipo de fobia social. Mais que qualquer ideia econômica, talvez sejam essas questões que entram até mesmo no estilo de vida de cada pessoa que irritem e causem tantos arrepios quando se pensa no futuro da política.

(Créditos: Twitter/Divulgação)
Os expoentes da nova extrema direita de hoje em dia, se estivessem na Revolução Francesa, talvez nem se sentassem na Assembleia Nacional Constituinte por terem ideais que, de tão conservadores, mais se assemelhem à Monarquia que à República ou à burguesia. Talvez eles se sentassem ainda à mais direita dos girondinos. Cabe à sociedade de hoje, que se julga tão aberta, saber aceitar e dialogar mesmo com quem, por vezes, não parece tão disposto a isso.

A política do século XXI ganhou um grande desafio. Vamos ver qual vai ser a reação a ele.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Hilary já venceu a eleição nos EUA, diz a NFL (e outras curiosidades de Clinton, Trump e os esportes americanos)

(Créditos: ABC/Reprodução)
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É engraçado pensar que, ao contrário de tantos outros políticos americanos (e também da maioria dos Estados Unidos), Hillary Clinton e Donald Trump não ligam pra NFL. No caso da candidata democrata à presidência, o esporte que a prende é o baseball, organizado pela MLB: ela já foi várias vezes vista em jogos e com artigos do Chicago Cubs, embora também não negue simpatia pelo New York Yankees  -  e ela, certamente, está muito feliz com a épica vitória do Cubs na World Series, que pôs a fim a incríveis cento e oito anos de jejum.
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No caso do candidato republicano a situação não é de indiferença, é quase de ódio. Donald Trump, em 2014, chegou a cogitar comprar o Buffalo Bills  - negócio que não ocorreu. Porém, ao contrário de Clinton, o ~~amor~~ do candidato se dá quase que unicamente por conta do mercado dos negócios  - verdadeira praia de Trump.
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O triângulo entre Trump, futebol americano e negócios não para por aí. Ao comprar o New Jersey Generals, ele impulsionou uma liga que concorria com a NFL, chamada United States Football League - USFL. A liga deu errado, adivinhem, muito por conta da megalomania dele.
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Mais engraçado ainda é ver que a NFL pode explicar muito bem a eleição americana. Mais precisamente, o time de Washington D.C. (capital do país) ajuda a entender essa relação: se o Redskins (time de Washington na NFL) vencer o ultimo jogo que faz em casa antes da eleição, o partido que está no poder vence. Caso perca, quem leva a presidência é o partido da oposição. Essa teoria é tão bem aceita nos Estados Unidos que recebeu até nome: é a Redskins Rule.
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(Créditos: USA Today/Reprodução)
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Desde que os Redskins estão em Washington (o time foi fundado em 1932 como Boston Braves (no estado de Massachusetts) e se mudou para a atual sede em 1937), ocorreram dezenove eleições presidenciais. Em dezoito (ou seja, em 94,7% dos casos), a regra se confirmou.
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A centelha de esperança para Trump é que a única vez em que a regra falhou foi justamente na última eleição presidencial: o Redskins perdeu para o Carolina Panthers e o democrata Barack Obama venceu a eleição sobre Mitt Rommey.
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Também vale explicar uma “brecha” na regra que acontece por conta do sistema eleitoral americano, que não se dá diretamente pela votação popular  -  mas sim pelo Colégio Eleitoral, que faz com que os delegados de cada estado votem integralmente no candidato vencedor na unidade federativa, e não proporcionalmente de acordo com os números estaduais. Assim, quando o vencedor em números totais de votos não vence a eleição, a Redskins Rule fica invertida para as próximas eleições presidenciais.
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Isso já aconteceu uma vez: nas polêmicas eleições de 2000, quando Al Gore teve mais votos totais que George W. Bush e o republicano foi eleito presidente por conta do episódio que ocorreu na Flórida, o Redskins havia perdido dias atrás para o Tennessee Titans. Já em 2004, mesmo com a derrota do time de Washington para o Green Bay Packers (que deveria favorecer o democrata John Kerry), Bush se reelegeu.
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Hilary Clinton pode preferir a MLB, mas é à NFL que ela deve agradecer.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Há muito mais que esporte no fim da fila do Chicago Cubs

(Créditos: Charles Le Claire/USA Today Sports)
Dentre as cinco major leagues dos esportes americanos, a MLB talvez seja a menos comentada no Brasil - a liga de baseball certamente é menos falada que a de futebol americano (NFL), futebol (MLS) e basquete (NBA), estando talvez no mesmo nível da competição de hóquei no gelo (NHL). A temporada que se encerrou ontem, porém, atraiu a atenção de várias pessoas não só no Brasil como também em todo o planeta.
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Pessoas que, muitas vezes, nem gostam tanto (ou não gostam) do esporte. Valia a pena ver a história, que estava sendo escrita (ou quebrada) diante dos olhos de quem acompanhasse os sete jogos da World Series (final da MLB). Não era para menos: os dois finalistas estavam há eras na seca. o Cleveland Indians não era campeão desde 1948; enquanto o Chicago Cubs não levantava o principal troféu da MLB desde, pasmem, 1908. 
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(Créditos: Chicago Tribune/Reprodução)
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O blogueiro foi um dos tantos que não gosta de baseball e acompanhou a série. A sensação de ver um tabu desses cair em uma final tão improvável era sedutora, mesmo não entendendo absolutamente nada do esporte. Gustavo Setti, jornalista e fã de esportes americanos em geral, ficou com a mesma impressão: "Ninguém acreditava que Cubs ou Indians finalmente pudessem acabar com a seca de títulos.Acredito que o impacto da vitória dos Cubs foi bem maior do que seria se outro time tivesse vencido a World Series. Por ter sido os Cubs e por toda essa história de maldição, fiquei com a impressão que as pessoas deram maior valor para a conquista. Até mesmo aqui no Brasil eu senti mais pessoas interessadas do que costuma acontecer em outras World Series. Mesmo quem não gosta do esporte ou não acompanha ficou curioso para saber o que estava acontecendo.", resume.
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Não bastava, porém, a final ser disputada entre duas equipe que somavam mais de cento e setenta anos sem títulos. A série inteira foi espetacular. Na melhor-de-sete, o Cleveland Indians venceu três dos quatro primeiros jogos (sendo dois em plena Chicago) e permitiu três triunfos consecutivos dos Cubs na sequência. 
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O último jogo, aliás, não precisa de muito para virar roteiro de filme. Chicago ganhava por três corridas até a penúltima entrada, quando Aroldis Chapman (melhor arremessador do time do Cubs, de acordo com Gustavo) cedeu três corridas para Cleveland. Antes da prorrogação, um temporal caiu e paralisou a finalíssima por cerca de vinte minutos, que viu Chicago anotar duas corridas e ceder apenas uma ao Indians na entrada extra.
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(Créditos: USA Today/Reprodução)
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Esportivamente, Setti elogia dois jogadores em especial: "O Aroldis Chapman tinha números espetaculares durante a temporada e era o grande astro do time no montinho - e isso tornou bastante curioso o que aconteceu com ele na final. Seria um desastre completo o principal pitcher do time entregar a World Series desse jeito. Já em toda a World Series, acredito que o Kris Bryant foi o grande nome dos Cubs. Ele foi consistente durante toda a série e, no Jogo 7, foi decisivo com duas corridas anotadas. Pra mim, ele é quem devia ter vencido o prêmio de MVP da World Series" (o vencedor do prêmio de Most Valuable Player das finais foi Ben Zobrist).
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O tabu, porém, acaba invadindo até mesmo a análise esportiva de quem entende do assunto: "Pelo histórico do Cubs, o jejum e todas essas maldições, todo mundo ficava com um pé atrás ao falar dos Cubs como favoritos apesar da campanha deles na temporada regular (a melhor do ano, com cento e três vitórias em cento e sessenta e um jogos)".
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É o imaginário popular, porém, que mais chama a atenção no fim da fila dos Cubs. Por conta da seca de títulos, o time ganhou até mesmo o apelido de “Lovable Losers” ("Adoráveis Perdedores"). No filme "De Volta Para o Futuro 2", de 1989, o Cubs aparece como campeão da World Series de 2015 - para dar um ar quase nonsense à trama. 
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(Créditos: De Volta Para o Futuro 2 - Reprodução)
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A história mais lembrada dos cento e oito anos de seca, porém, é a Maldição do Bode. Em 1945 (última World Series disputada pelo Cubs antes de 2016), um torcedor levou um bode para torcer pelo time e foi impedido de entrar. Ele, então, rogou a praga: o time jamais voltaria a ganhar um título. Outros episódios famosos foram a aparição do gato preto em um jogo decisivo (e perdido) pelo Cubs em 1969; e o caso Steve Bartman, em que um torcedor tirou a bola da mão de um atleta do Chicago Cubs na final da Liga Nacional (série anterior à World Series) de 2003. 
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Se o Cubs se viu livre de sua maldição, existem outros tantos times que passam a ser mais olhados como azarados. "Acredito que essa Maldição do Bode sempre vai ser lembrada, mas agora com um final feliz. Os esportes americanos são cheios dessas maldições, então agora as pessoas vão começar a dar mais atenção ao jejum dos outros times, como é o caso do próprio Indians, que não vence uma World Series há sessenta e nove anos (maior fila dos esportes americanos atualmente - e ironicamente)", comenta Gustavo.
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A seca que parecia eterna acabou da maneira mais espetacular possível. Para muitos, a ficha do Cubs campeão da World Series ainda não caiu. Resta saber, agora, quais serão os finais de outros jejuns e como os "Adoráveis Perdedores" se portarão no futuro. 

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Trilogia do Golpe - antes, depois e protestos

Sim, o blog está inativo há bastante tempo. Não pense que o blogueiro está contente com isso. Falta, basicamente, tempo para escrever. A postagem aqui no Blogger é bem mais burocrática que no Medium, por exemplo - genial ferramenta interligada ao Twitter. 
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O blogueiro quer voltar a postar no blog. Mas, enquanto isso não se concretiza, estreei meu Medium com três postagens acerca da situação política no país. A primeira, que antecedeu a consumação do Golpe em algumas horas; a segunda, mostrando o caminho das pedras para cassar o presidente Michel Temer; e, a terceira, mostrando uma linha cronológica de alguns fatos muito estranhos que ocorreram após o absurdo impeachment que o Brasil viveu.
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Para ler cada um desses textos (publicados de uma vez pois os três já perderam o timing para ser postados na íntegra), basta clicar nos links abaixo - que são os títulos de cada um deles. 
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Ademais, fica a saudade do blogueiro. A saudade da íntegra Dilma Rousseff, da democracia brasileira - que nos deixou na última semana, mas que torcemos e lutaremos para que volte. E, claro: fica aqui o repúdio e a promessa de que o governo que usurpou o poder que não é dele não terá descanso.