domingo, 20 de maio de 2012

Blue is the color. So... the game is unfair ?

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Prólogo: após o título conquistado ontem, os torcedores do Chelsea começaram a cantar "Blue is the color, football is the game". Modificado, o canto transformou-se em título dessa postagem.
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Pelo bem do futebol, a final da Champions League da temporada 2011-2012 sós erá lembrada a partir dos 37 minutos do segundo tempo. Não é exagero nenhum falar que o jogo começou de verdade após o gol de Thomas Muller, já que antes disso o que se viu era um jogo frio e sem muita graça nem grandes emoções.

Quando Muller cabeceou, a muralha Petr Cech (que vinha fazendo uma partidaça e depois se recuperaria com sobras, como vocês verão a seguir) falhou e o Bayern fez 1x0, muito se pensou. Pensaram que o time que procurou o gol merecia, que o Chelsea era amarelão, que o Bayern tinha muito mais camisa que os Blues e que Muller (que não jogou nada a temporada inteira, não vinha jogando muito bem na final mas que ia anotando o gol do pentacampaeonato) tinha estrela. Disso tudo, concordo apenas com a última afirmação. Muller não anda jogando muito bem depois da Copa, mas adora jogos importantes. Sobre as outras afirmações, o próprio jogo as anulariam.
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Algum tempo depois, o Chelsea teria o seu primeiro escanteio no jogo, a menos de cinco minutos para a final acabar. Drogba completou o cruzamento com uma finalização de cabeça que mais parecia um tiro de tão forte. Neuer também falhou, e, como eu disse anteriormente, ninguém mais pensava o tipo de baboseira que eu citei.
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A prorrogação, como em um belo manual de anti-clímax, teve seu melhor momento logo no comecinho: Drogba, autor do gol do Chelsea, calçou Ribery por trás. Pênalti que Robben bateu e fez Cech se redimir. Penalidade muito mal batida por um jogador com histórico de erros em pênaltis, como a que praticamente deu o bicampeonato alemão para o Borussia Dortmund, nessa temporada. E Drogba foi de herói para anti-herói em um lance, e no seguinte tornou-se herói novamente. 
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Nos pênaltis, Mata perdeu para o Chelsea e, pouco depois, o terrível Olic desperdiçou para os alemães. Na última cobrança do Bayern, Schweinsteiger. um dos melhores jogadores alemães da atualidade, chutou na trave. Pressentindo o pior, ele voltou para o meio campo chorando feito criança. A decisão, novamente, estava sob responsabilidade de Drogba. Como homem decisivo, o marfinense colocou a bola no canto direito de Neuer, selando um inédito título do Chelsea. Épico, conquistado na casa de um adversário mais forte após tirar um dos melhores times da história do futebol nas semifinais.
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Isso tudo dentro de campo. Entre conhecidos e amigos, ouvi, principalmente, três queixas: a falta de tradição do time inglês, o supertime londrino financiado às custas de um homem que tornou-se bilionário às custas de um sistema corrupto, aproveitando-se de brechas da lei e o futebol feio dos Blues.
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Antes de tudo, concordo com tudo o que foi dito. Mas não me queixo.
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O Chelsea está longe de ser um papa-títulos europeu ou inglês. Diga-se de passagem, é, no melhor dos muntos, o terceiro time em tradição da cidade de Londres. E daí ? Ontem eles tornaram-se os primeiros a ganhar a Champions da capital inglesa. Na era Abramovich, aliás, o time tem números respeitáveis na Champions. Antes de seu título e já com o russo no comando, os Blues chegaram a uma final, quatro semifinais, uma quartas-de-final e duas oitavas-de-final.Com tanta experiência adquirida, era óbvio que o título viria, cedo ou tarde. 
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Outro aspecto importante: Petr Cech, Ashley Cole, John Terry, Frank Lampard e Didier Drogba estão no time há muito tempo. Um em cada posição, formando a espinha dorsal do time, decisiva. Ontem, os quatro principais jogadores alemães (Robben, Ribbery, Schweinsteiger e Neuer) falharam em lances decisivos, enquanto os do Chelses mataram o jogo, literalmente, nessas horas. 
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Me irrita a tradição de muitos brasileiros de afirmar que um título só tem valor quando é conquistado com lances plásticos e um futebol bonito. O vencedor é quem leva a taça pra casa. Pode não ser o melhor, mas eu quero ser campeão, sempre, seja melhor ou pior. Ontem, o time treinado por Di Matteo fez um sistema defensivo exemplar, intransponível na imensa maioria do tempo. Com muita eficiência, bloqueando o Bayern nos pontos certos, o time venceu um adversário superior. E superar-se é um dos maiores méritos que um time de futebol pode ter. Aceitar que é inferior, jogar feio e saber o que fazer a cada segundo é uma imensa virtude. 
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De fato o dinheiro de Abramovich tem uma origem escusa. Mas, vendo a torcida azul em polvorosa como nunca antes, o que podemos fazer ? Ninguém os comprou para fazer festa, eles seguem o time desde quando o time de Londres tinha como maior clássico o do oeste de Londres, contra o Fulham. Hoje, o Chelsea subiu vários patamares e faz clássicos mundiais. Enquanto não tivermos leis no futebol mundial para afastar aventureiros como Abramovich, sofreremos com um futebol sujo. Sujo, mas bonito pela alegria dos torcedores. E eu espero que os torcedores orgulhem-se da história dos Blues, e não só do presente. 
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Parabéns ao Chelsea, um dos campeões mais improváveis da história da Champions. Mas saibam que improvável não é o mesmo que ser desmerecido.
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