sábado, 25 de outubro de 2014

Sobre o que nos faz decidir o voto

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Muita gente acha chato votar. Acha que o voto deveria ser facultativo só pra não ~perder um domingo~ - a cada dois anos, digitando no máximo setenta segundos algumas teclas em um local próximo de casa previamente escolhido pelo próximo eleitor. Eu não sou desses. Eu realmente gosto de votar. Fiz questão de votar com dezesseis anos para me envolver mais na mais nobre arte social - apesar de toda a sujeira que parece existir em muito do que é brasileiro. 
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Aliás, vimos em todas as campanhas de 2014 muita sujeira. Tenho a impressão que quanto mais acirrada são as pesquisas de intenção de voto, mais sujeira existe. Ataques pessoais. jogo baixo, ofensas das mais diversas. Deixei para escrever sobre assunto em cima da hora justamente por prever que fatos novos surgiriam. Não precisava ser adivinho para perceber isso; e nem posso me gabar da minha clarividência porque era isso era óbvio.
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"Obviamente, não se pode condenar Lula e Dilma com base apenas nessa narrativa", dizia um parágrafo da matéria de capa da Veja que causou furor desde ontem. Sim, é isso mesmo. A matéria bombástica de capa (que tem fonte única e que nasceu de um vazamento ilegal sabe-se lá de quem e com qual propósito) da revista que nunca fez nenhuma questão de esconder sua aversão por tudo que é vermelho reconhece que sua denúncia é fraca no próprio texto. No bom jornalismo, a reportagem é vetada na hora. Na Veja, é capa - de uma edição que foi antecipada ~obedecendo unicamente ao dever jornalístico de informar imediatamente os fatos relevantes a que seus repórteres tem acesso~, segundo a Carta Ao Leitor da edição.
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Tudo isso, repito, com uma matéria que reconhece sua motivação fraca e com uma única fonte, vazada ilegalmente sabe-se lá como. 
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Eu finjo que acredito, e finjo também que a motivação da publicação não é desestabilizar a campanha de Dilma Rousseff. 
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No texto, chama a atenção também que ~os investigadores simplesmente se convenceram de que Yousseff tem condições de obter provas do que afirmou a respeito de a operação não poder ter existido sem o conhecimento de Lula e Dilma~. Veja bem: estamos falando de um doleiro que negociava propinas. Você acreditaria em um "a" no que essa pessoa diria, ainda mais tão facilmente?
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Não é novidade para ninguém essas vergonhas que só a Veja é capaz de proporcionar. Também não é novidade que, se a Veja é vergonhosa, existem uma série de publicações (pró-PT/Dilma/Lula e pró-PSDB/Aécio/FHC e afins) que não hesitam em fazer edições panfletárias embuídas de espírito jornalístico. Pior: as respectivos eleitores compram a versão dessas revistas, o que gera a desinformação. 
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Se eu posso pedir um favor a quem lê esse texto, gostaria que desconfiassem MUITO de tudo que ouvem em relação a eleição - seja para presidente ou para governador, nos estados que as tem. Para os partidos, a sujeira vale a pena se garantir o voto. Espero que, para o eleitor consciente, não seja assim.
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Como disse, já vi outras campanhas sujas (talvez não tanto quanto essa), mas essa eleição se destacou em um aspecto, muito negativo: a intolerância. Desaprendemos a ouvir o que nos é diferente. A aversão antipartidária, que só era visível (e condenável) em pessoas com menos instrução (e/ou com menos caráter), hoje é generalizada. 
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Sujeira, jornalismo e intolerância ganharam contornos mutualistas: quando uma cresce, as outras duas também tiram proveito da situação. Esse círculo vicioso chega no dia da eleição mais forte do que nunca. 
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Me sinto bastante deslocado nos papos sobre política - aliás, é engraçado ver como de dois em dois anos todos somos cientistas políticos de meia pataca. Acho que tanto Dilma quanto Aécio podem ser bons presidentes. O pior já passou. E olha que no primeiro turno você vota "porque", enquanto no segundo turno você vota "apesar". Mais do que isso: eu torço para que os dois tenham bons governos - ao contrário da maioria, pelo que vejo. Espero que, se eleita, Dilma tenha um programa econômico melhor; enquanto espero que Aécio, caso vença, não queira censurar a imprensa. 
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Que vença o melhor. Que ao menos ao menos a vitória seja limpa. Que os veículos de comunicação se redimam de seus diversos erros, de alguma forma. Que aja abraços, e não ataques. Que o Brasil saia melhor do que entrou. 
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