Reclamar dos estaduais já virou clichê de tão batido - mas, bem, é um clichê verdadeiro. Cada campeonato tem seus problemas particulares, mas a falta de qualidade técnica é imensa em todos. Há, porém, uma competição disputada no primeiro semestre que é um exemplo a ser seguido.
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A Copa do Nordeste acabou na última quarta-feira e todos temos que olhar para o sucesso da competição. Jogos empolgantes, camisas pesadas, cem mil pessoas nos dois jogos finais e muita festa. Futebol em estado puro.
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Tudo isso não foi conquistado de uma hora para a outra. Muito foi feito (e brigado) para que a competição fosse jogada do jeito que os clubes queriam, a despeito de todos os problemas do calendário brasileiro.
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Aliás, muito do sucesso se explica pelo que foi dito no parágrafo anterior: os clubes fizeram a competição, que era escanteada pela CBF. Os clubes nordestinos participam da Liga do Nordeste, entidade formada pelos clubes em 1997 que desde então defende os interesses dos times locais - e isso inclui organizar o Nordestão.
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Sim: uma liga de clubes no Brasil. A Copa do Nordeste mostra que é possível, e que os resultados são muito satisfatórios. O mais curioso é que a CBF também organiza um evento. Ou seja: há algum espaço para diálogo.
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O segundo jogo da final da Copa cravou o maior público do ano no Brasil - 63.999 pessoas. O primeiro jogo ficou dos dez melhores públicos do país, bem atrás do antepenúltimo (a primeira final do Campeonato Mineiro, entre Atlético e Caldense: R$ 44). Uma festa de futebol, necessariamente, tem que ter um ingresso médio acessível para todos - o que não é nada frequente em arenas. Um título não tem preço, assim como a lembrança de um jogo qualquer para um torcedor não é comprável. Falta essa percepção para os clubes, que veem o torcedor como cliente.
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Mais: as duas partidas finais do Nordestão foram no mal-amado horário das 22h de um dia útil. Além das duas decisões, apenas o confronto entre Corinthians e San Lorenzo (pela Libertadores) foi nessa faixa horária.
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Se existe futebol às 22h de um dia útil (um absurdo), é porque existe a novela da Globo - que começa às 21h. E, quando o Nordestão voltou de vez (em 2013), a competição teve grande ajuda na organização pelo Esporte Interativo - que, aliás, ganhou a retribuição de todos eles na eterna luta do canal para entrar nas grade das principais TV's fechadas do país. A Globo, então, apenas transmite o torneio, sem mandar e desmandar na tabela e ter todos os benefícios que costuma ter - e, portanto, tem que engolir o sucesso de um torneio que não está sob sua alçada.
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Acredite: poderia ser melhor. A média de público do Nordestão de 2015 foi de 7 mil pessoas - baixo em qualquer lugar do mundo, mas média acima de TODOS os estaduais brasileiros. A ocupação média dos estádios foi de 21% - atrás do Paulistão, Mineiro, Gauchão e Catarinense. Novamente chama a atenção o valor médio dos ingressos: R$ 47 no Paulistão, R$ 33 no Mineiro, R$ 35 no Carioca, R$ 29 no Gauchão e... R$ 19 no Nordestão.
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Também vale destacar a ausência de alguns clubes de massa no certame. A classificação se dá por meio dos estaduais dos anos anteriores e cada federação tem direito a determinado número de vagas - três para Bahia e Pernambuco, dois para o resto. Por essa classificação, o Treze (Paraíba) ficou de fora. Por incompetência própria, não jogaram a Copa do Nordeste o CSA e/ou o ASA (Alagoas), o Sergipe, o Santa Cruz (Pernambuco), o Flamengo (Piauí) e o ABC (Rio Grande do Norte). Para 2016, mais baixas importantes: Vitória (Bahia), Náutico (Pernambuco) e novamente Flamengo e Sergipe não estarão. Por mais que esse critério seja o correto (para mim), a falta desses times e do público que eles trazem sempre fazem falta.
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A Lampions League (apelido carinhoso da Copa do Nordeste) é um recado para todos. Para as federações estaduais, que tem um exemplo de sucesso de que é possível fazer muito mais na organização dos torneios; para os clubes, que podem ter um retorno muito maior se mudarem o atual status; para a Globo, que vê que há vida sem ela no futebol.
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Falta a vontade de todos esses. Falta, aliás, pressão do torcedor - que é o principal interessado em um futebol melhor. A Copa do Nordeste mostra que o futebol ainda respira no Brasil - mas precisa se livrar dos fantasmas que ele criou o quanto antes.