Até o final da década de 1980, o Campeonato Carioca era o melhor do país em nível técnico. Era o torneio em que jogava o estelar Flamengo de Zico; a Máquina Tricolor do Fluminense; ídolos classudos como Roberto Dinamite e icônicos como Cocada no Vasco; e o histórico Botafogo do fim da fila, de Maurício, Wilson Gottardo e Paulinho Criciúma. Além disso, times como o Bangu de Castor de Andrade, o América e o Madureira importunavam as grandes equipes.
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A partir da década de 1990, o Paulistão passou a ser mais visado e a contar com um futebol melhor. O Carioca mantinha seu charme - ainda que por conta do regulamento, que previa três finais e jogos decisivos a todo instante.
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Em 2015, o estadual do Rio voltou a ser o destaque dentre os torneios desse nível. Não pelo nível técnico. Muito pelo contrário, aliás: os holofotes ficaram todos na Guanabara por uma série de polêmicas e um estadual extremamente tendencioso.
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O começo das polêmicas aconteceu no dia 22/01, quando Flamengo, Fluminense e a Concessionária Maracanã criticaram em nota a decisão do Conselho Arbitral do campeonato para baratear os ingressos do torneio. A medida feria uma lei, foi sugerida por Eurico Miranda (presidente do Vasco) e pela FERJ. Oito dias depois, o clima azedou de vez quando Eduardo Bandeira de Mello (presidente do Flamengo) e Peter Siemsen (mandatário do Fluminense) foram literalmente xingados em outra reunião do Conselho Arbitral - isso já às vésperas do começo do Carioca. Surgiu aí a ideia da Liga Carioca de Clubes, tão presente nas futuras discussões.
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O jogo de estreia era a hora perfeita para enterrar qualquer polêmica, mas apenas a aumentou. Uma torcida organizada do Flamengo invadiu os vestiários do Macaé e agrediu o goleiro Ricardo Berna.
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O Maracanã também foi mote para outra discussão áspera: Eurico Miranda exigiu que o Setor Sul (historicamente ocupado pela torcida cruzmaltina) fosse ocupado só pela torcida do Vasco - como era antes da Copa do Mundo. Peter Siemsen (que, no novo contrato, ficou com o espaço) rebateu e o Clássico dos Gigantes foi disputado no Engenhão, com capacidade limitada.
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Por motivos já explicados, o FlaFlu da primeira fase foi aguardado com afinco - e, na verdade, começou antes do apito inicial. Suspenso por críticas ao torneio, o técnico Vanderlei Luxemburgo se amordaçou em uma entrevista coletiva - e ganhou o apoio dos jogadores dos dois times no clássico. No jogo em si, Fred foi expulso de maneira controversa e disse que, "do jeito que está, o Campeonato Carioca tinha que acabar"
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A arbitragem brasileira é uma lástima, mas pelo pano de fundo descrito, ela ficou ainda mais pressionada (e pior) no Campeonato Carioca. O Fluminense em específico sofreu demais, em uma atuação lastimável de Mauricio Machado Coelho Junior no empate do Tricolor contra o Tigres - jogo que causou a demissão de Cristóvão Borges. O Flu só se classificou para as semifinais por conta de um gol contra do Madureira no confronto entre ambos, na última rodada da fase de classificação - o que levou o presidente do Tricolor Suburbano, Elias Duba, a xingar o árbitro Péricles Bassols.
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Outro fato se destacou nas partidas: a quantidade de pênaltis dados ao Vasco. Foram, ao todo, oito penalidades - sendo três no louco Friburguense 5x4 Vasco. Foi, aliás, com um pênalti muito contestável que o time vascaíno eliminou o arquirrival Flamengo na semifinal do campeonato.
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A gota d'agua veio na entrega da taça ao Vasco. Não foi Rubens Lopes (presidente da FERJ e co-autor dessa patifaria toda) quem entregou a taça para Pablo Guiñazu, o capitão vascaíno - como manda o cerimonial. Foi o próprio Eurico Miranda quem fez isso. Parece até que foi ele quem organizou o campeonato. Só parece?
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Entendo a euforia vascaína, e o próprio Vasco não merece nunca ficar doze anos sem ganhar um Campeonato Carioca. O problema está na maneira com que o título foi ganha - e, principalmente, na onipresença de Eurico Miranda em todas as polêmicas do torneio. É triste ver torcedores comemorando a presença e a volta dele - ainda que Roberto Dinamite não tenha conseguido grandes resultados.
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O respeito não voltou porque ninguém nunca deixou de respeitar o Gigante da Colina. A volta de Eurico, na verdade, é a volta de tudo o que o futebol brasileiro nunca precisou - muito menos agora. O 7x1 segue sendo pouquíssimo.