Após 14 desfiles, duas noites em claro e uma noite in loco no sambódromo, eis minha análise do carnaval paulistano, de acordo com a ordem dos desfiles:
.
Camisa Verde e Branco: Voltando para o Grupo Especial após três anos no Acesso, não se esperava muito do Camisa. O samba era fraco, a escola seguia quebrada financeiramente... era difícil esperar algo dali. Falando sobre toda e qualquer forma de amor, as alegorias vieram bonitas mas mal acabadas (outras nem bonitas, é bem verdade), as fantasias vieram pobres... ao menos o samba melhorou bastante na versão do CD. A Furiosa, famosa pelas suas convenções e bossas, passou reta, embora bem ensaiada. Não empolgou, e a lanterna, infelizmente, deve ser o destino da escola da Barra Funda.
.
Império de Casa Verde: Em 2003 a Império estreou no Especial. Foi bicampeã, fez alguns desfiles excepcionais, mas... parecia que o fôlego do Tigre estava acabando. Esse era o ano para acabar com qualquer dúvida acerca da escola da Zona Norte. E, quando desafiada, a escola respondeu muito bem. Com um enredo dificílimo (física ótica, algo que eu jamais imaginei ver num enredo) e um samba mequetrefe, todos imaginavam que quem poderia salvar a azul-e-branco seria o desfile - sobretudo seus carros alegóricos, histórico ponto forte da escola. Na avenida, o samba funcionou muito bem - carregado muitas vezes pela bateria Arame Farpado, magistralmente guiada por mestre Zoinho, que fez várias brincadeiras para empolgar o público - e é desde já candidata ao bicampeonato do trofeu Nota Dez do Diário de São Paulo, que premia cada setor das escolas de samba. Acho demais pensar em título, mas voltar para o desfile das campeãs é algo bem provável. Mas, acima de tudo, o desfile resgatou a Império bonita de se ver.
.
X9 Paulistana: o desfile fez jus ao apelido que a escola da Zona Norte carrega, de ser a "Imperatriz paulistana", em alusão aos desfiles técnicos que surpreendem na hora da apuração e tornam-se campeões da Imperatriz Leopoldinense, do RJ. Era difícil ver algum erro no desfile da vermelho-e-verde, é verdade, mas faltou um pouco mais de cuidado com a parte estética da escola. O tema poderia ser clichê (Nordeste), mas ganhou novos ares ao contar a região de acordo com a ótica do Rally dos Sertões. A bateria Ninguém Dorme, de mestre Augusto, veio acelerada demais, e isso pode prejudicar um pouco. Não deve cair, mas até desfile das campeãs vai ser difícil.
.
Vai-Vai: Certamente a maior decepção do carnaval paulistano. Tentando o bicampeonato, a escola do Bixiga veio homenageando as mulheres, num samba fraco e que fazia diversas alusões a Bom Bril, patrocinadora do desfile. A arquibancada ficou em polvorosa com a passagem da escola, mas só por ser o Vai-Vai, maior torcida do carnaval de SP (excluindo-se as organizadas) e maior vencedora do mesmo. Embora as fantasias e as alegorias estivessem num nível adequado, faltou brilho. Isso sme contar no erro absurdo do puxador Wander Pires, que atravessou o samba e deve complicar demais as coisas para a escola na apuração. O ponto forte foi a Pegada do Macaco de mestre Tadeu, sempre com seu ritmo forte, grave e sem maiores brincadeiras. Pouco pra escola que é.
.
Rosas de Ouro: Foi, certamente, a melhor escola da primeira noite de desfiles. O ponto fraco é o enredo, que mistura a fantasia de um reino imaginário guiado por Roberto Justus com a história da Hungria, que não faz questão de esconder quem patrocinou a escola esse ano. No mais, tudo perfeito. Alegorias impecáveis, fantasias ricas, a Batucada de Responsa redondinha e a presidente da Roseira, Angelina Basílio, vindo como rainha na comissão de frente. Desfile espetacular, pra título da escola da Brasilândia.
.
Acadêmicos do Tucuruvi: Grande surpresa do ano passado, quando arrebatou o vice-campeonato, a escola da serra da Cantareira veio homenagear a África. Embora bem desenvolvido pelo ótimo carnavalesco Wagner Santos, o tema é tão clichê para carnaval que torna-se batido. Talvez esse detalhe tenha sido o único ponto fraco da Tucuruvi, que veio disposta a brigar pelo título. Sem muito brilho, mas com muito luxo, a azul-e-branco fez desfile de gente grande. Não empolgou, é verdade (até porque sua torcida é pequena se comparada a algumas outras agremiações), mas duvido que venha mal na apuração. A bateria Pulso Forte, sob a batuta do grande mestre Adamastor, fez muito bem seu trabalho, com algumas convenções muito bem ensaiadas. Corre por fora, mas briga pelo título.
.
Mancha Verde: Tida por mim como a grande favorita para o carnaval desse ano, acho que ela foi engolida por algumas outras concorrentes. O desfile foi muito bom, no entanto o começo do desfile não foi dos mais inspiradores, crescendo a partir do terceiro setor. A emoção foi destaque, desde as palavras de ordem proferidas pelo presidente da escola até o samba valente sobre a humildade, tema da escola palmeirense. A Puro Balanço, bateria guiada pelos mestres Moleza e Caju, veio afiada, mas não foi das mais apupadas pelo público. Título é demais, mas pode sobrar uma vaga para o desfile das campeãs.
.
Dragões da Real: A estreia da torcida são-paulina no Grupo Especial foi muito boa. Com um tema de ótima aceitação e muito simpático (mães) e amplo, a vermelho-e-preto entrou animada e com toda a escola cantando a canção que ganhou vida na voz de Daniel Collête, sempre cantando muito bem. Os carros não eram um primor, mas ao menos estavam minimamente bonitos e bem acabados, ao contrário das fantasias, que tinham boa qualidade. Na bateria Ritmo que Incendeia, destaque para as poucas paradinhas e para o afinadíssimo surdo de terceira da bateria de mestre Carlinhos. Não era pra brigar por nada, mas a escola passou com sobras em seu principal objetivo: não cair.
.
Pérola Negra: Escola que firmou-se no Grupo Especial mas não consegue vôos mais altos, a Vila Madalena veio cantando a história de Itanháem, cidade do litoral sul de São Paulo. A história do desfile da escola, porém, foi o mesmo: samba muito bom, grande desfile, mas com erros imperdoáveis. A escola teve que acelerar demais o passo no final do desfile para passar dentro do tempo regulamentar e deixou buracos visíveis na avenida, e isso irá prejudicá-la muito nos quesitos harmonia e evolução. A bateria Ritmo Terror, de mestre Bola, fez bem o seu papel, com uma bateria afiada. Deve brigar para não cair, mas apenas porque o carnaval paulistano tornou-se competitivo demais para aceitar qualquer erro.
.
Mocidade Alegre: Atual papa-títulos do carnaval paulistano, a escola queria recuperar-se do sétimo lugar do ano passado, após desfilar como campeã e perder vários pontos graças a um carro alegórico que não entrou na avenida. Cantando lendas afro-baianas narradas por Jorge Amado (que faria 100 anos em 2012), a escola literalmente arrebentou. É difícil achar um erro no desfile impecável que a Morada do Samba protagonizou. Carros lindos, samba bom e muito bem cantado por Clóvis Pê, ótimas fantasias, a bateria Ritmo Puro de mestre Sombra dando show e até mesmo a rainha Aline Oliveira tocando surdo de terceira num pedestal improvisado por ela. Não há o que falar: mais uma vez, candidatíssima ao título.
.
Águia de Ouro: O primeiro impacto que a escola da Pompeia causou foi a de que veio pra brigar pelo título. E vinha mesmo. Com carros e fantasias lindas, samba cantado a plenos pulmões, a Batucada da Pompeia de mestre Juca redondinha e cheia de convenções (como sempre)... dava pra apostar na Águia, de longe. Mas o tempo foi passando e a escola permanecia lenta... parecia que o tempo regulamentar não seria cumprido. No final das contas foi (65 minutos, o limite), mas com uma correria sem igual nos últimos quinze minutos. A escola que cantou a Tropicália e trouxe Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ângela Maria, Cauby Peixoto e outros grandes nomes fez um desfile histórico, mas que não será campeão.
.
Unidos de Vila Maria: Sob o comando do premiado carnavalesco Chico Spinoza pela primeira vez, a azul-e-verde cantos as mãos na avenida. Falando de artesanato e todo tipo de trabalhos manuais, a escola não empolgou, mas não teve um erro sequer ao longo de seu desfile. O samba não era dos melhores e a Raiz Verdadeira, bateria da escola, fez bonito. A escola tem boas chances de voltar para o desfile das campeãs e briga sim pelo título, mesmo correndo por fora, mas precisa aprender a contagiar mais as arquibancadas.
.
Gaviões da Fiel: Quando o enredo sobre o ex-presidente Lula foi revelado, muitos apostavam na emoção como o forte do desfile da Gaviões. Com o samba escolhido, não se sabia mais de nada - já que o samba não tinha uma marca e era fraco, a despeito de seu refrão de cabeça forte. No desfile, correu tudo certo. Tudo bonito, a bateria Ritimão de mestre Pantchinho (que já foi presidente da escola) bem ensaiada... mas faltou algo. Novamente, o desfile das campeãs deve vir, mas o título é algo muito distante da escola corinthiana.
.
Tom Maior: Fechando o carnaval paulistano com um enredo bom-mocista, que misturava uma homenagem ao antigo presidente da escola vermelho-e-amarelo, vítima de leucemia, com um pedido de paz para todos na Terra, a Tom Maior passou, e só passou. Não encantou, não fez feio... passou. É daqueles desfiles que se faz pra colocar a escola na rua e pronto, pouco para quem tem uma história tão bonita no carnaval de SP. O samba era fraco, a bateria Sensação veio acertada... e só. Não tem muito mais o que falar.
.
Com base nas opiniões expressas acima, creio que a classificação final do carnaval de SP fica assim:
.
Mocidade
Rosas
Vila Maria
Tucuruvi
Gaviões
Mancha
Império
X9
Vai-Vai
Águia
Dragões
Tom Maior
Pérola
Camisa
.
GRUPO DE ACESSO
.
A opinião aqui não é das mais fortes, já que apenas li a respeito dos desfiles, e não os vi de fato. Pelo que me foi contado, as favoritas para subir são Unidos do Peruche, Nenê de Vila Matide e Leandro de Itaquera, três grandes forças do carnaval paulistano. A Imperador do Ipiranga corre por fora. A surpresa positiva do grupo foi a Estrela do Terceiro Milênio, que chegou muito bem e deve ficar no Acesso. Unidos de São Lucas, Morro da Casa Verde e Acadêmicos do Tatuapé brigam para não cair.
.
Palpite para o Acesso:
.
Nenê
Leandro
Peruche
Imperador
Estrela
Tatuapé
Morro
São Lucas