A frase do título é o máximo de humor que eu consegui ter e fazer ao longo da apuração do carnaval paulistano. Essa ocasião, que já é tensa por sua natureza, ganhou status de selvageria em 2012, quando diversos tipos de crimes foram cometidos, e todos que gostam realmente do mundo do samba sentiram-se apunhalados.
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A apuração desse ano já começou errada. Houve um atraso de quase meia hora graças a uma reunião de última hora na qual algumas mudanças pareciam ser discutidas. Na transmissão tudo era muito confuso, com algumas pessoas falando uma coisa, outras falando outra... não se sabia direito o que de fato aconteceu - e acho que ninguém saberá ao certo jamais. O que fica desse episódio é a frase de Darly Silva, o Neguitão, presidente do Vai-Vai, que disse que todas essas situações deixavam um "cheiro de clorofila no ar".
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Muitos pensaram que a palavra "clorofila" foi estrategicamente colocada por Neguitão para não soltar um palavrão, mas tudo explicou-se depois. Ele usou essa palavra para dar a entender, subjetivamente, que a Mancha Verde estaria sendo ajudada graças a substituição de dois jurados do carnaval - a pauta da tal reunião secreta. Supondo que a clorofila é o que dá o pigmento verde para a folha, ele supunha que estavam querendo dar um pigmento verde para o carnaval, jogar o título no colo da Mancha. Outra informação que mostrou-se importante nessa história toda: por 8 votos a 6, a substituição das notas foi acatada - guarde sobretudo a diferença entre esses números.
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Ao longo da apuração, tudo ia dentro dos conformes legais (falo isso pois estranhava a colocação de algumas escolas e certas notas atribuídas a algumas agremiações) até a jurada Mary Dana, do quesito evolução, aparecer. Entre outras notas, ela deu um 9,2 para a Pérola Negra, um 9 para a Águia de Ouro (notas justas, já que as escolas correram no final do desfile para fechar dentro do tempo regulamentar), um estranho 9,6 para o Vai-Vai e um bizarro 8,9 para a Gaviões da Fiel.
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Duas notas depois, pouco antes de serem reveladas as duas últimas notas de cada escola, um homem com a camisa da Império de Casa Verde pulou a grade de proteção, roubou as notas das mãos do mestre Zulu (o narrador da apuração paulistana) e as rasgou, colocando alguns papéis dentro da calça (o que explica o escrachado título desse post) para quem quisesse ver, antes de sair fugido. Com os papéis no chão, um integrante da Camisa Verde e Branco os jogou para o alto, alegremente. Um vídeo que saiu logo após o lamentável fato mostra integrantes das duas escolas citadas conversando com pessoas do Vai-Vai, da Pérola Negra e da Tom Maior.
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Não é a primeira vez que a Império causa tumulto no carnaval de São Paulo. Em 2009, ao terminar em quinto lugar, o Tigre voltou para o desfile das campeãs fazendo muito barulho e protesto contra notas que ela julgava ser baixas demais. Esse ano acontece o que todos viram. Sou totalmente a favor da exclusão da escola da LIGA. Aos boçais que jogam um coquetel molotov num carro alegórico parado, outra punição exemplar, mesmo sabendo que a direção da Gaviões da Fiel é totalmente favorável ao samba, mas muitos de seus pseudotorcedores (aqueles que tem em toda torcida organizada, que só querem saber de baderna e violência) ligam mais pra selvageria... é triste esse cenário.
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Deixo bem claro aqui que sou a favor da participação das escolas de samba no carnaval paulistano. Repito: quem briga são vândalos, e não devemos punir quem samba graças a eles - devemos identificar os marginais e afastá-los. A Mancha Verde, por exemplo, não vai ao Anhembi na apuração para evitar tumultos. A Dragões da Real, ligada ao São Paulo, fez o mesmo. Não confundam torcedores e sambistas com delinquentes.
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Voltando ao lado político do carnaval: o resultado da apuração foi divulgado quase 6 horas após o esperado. Justamente e como o previsto, a Mocidade Alegre sagrou-se campeã, com a Rosas de Ouro vice, seguida por Vai-Vai e Mancha Verde. Tudo isso foi decidido após outra reunião, na qual, pasmem, a diferença também foi de dois votos para o resultado seguir como estava antes de todo o ocorrido.
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Acredite, isso é estranho demais e eu duvido que seja uma mera coincidência. Para quem não sabe, até o ano passado a LIGA dividia as atenções com a SuperLiga das Escolas de Samba. Eram duas instituições, mas ambas se fundiam e faziam o mesmo carnaval. Isso nunca fez muito sentido para mim, e a única explicação que eu encontro para a existência da natimorta SuperLiga é a defesa das escolas de samba desportivas - aquelas ligadas a torcidas organizadas de futebol. Quem era favorável uniu-se a SuperLiga, enquanto os contrários ficaram na LIGA.
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Além de Gaviões da Fiel, Mancha Verde, Dragões da Real e Torcida Jovem, ficaram na SuperLiga a Vai-Vai, a Camisa Verde e Branco, a Pérola Negra, a Império de Casa Verde, a Unidos do Peruche e a Imperador do Ipiranga - coincidentemente ou não, escolas com diretorias que buscavam uma linha mais progressista, que queriam tentar algo novo no carnaval paulistano. Repare que, com uma ou outra inclusão, são sempre escolas ligadas ao que era a SuperLiga que aparecem nesse post. Isso, ao menos pra mim, é coincidência demais. Mas eu não sei porque as antigas escolas da instituição se uniriam, se o presidente do Vai-Vai falou que visavam favorecer a Mancha Verde, outra escola da antiga SuperLiga. Tudo é um mistério, mas tudo parece ter alguma ligação.
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Após o anúncio da campeã, um boato forte tomou conta do Twitter, dizendo que a presidente da Mocidade Alegre, Solange Bechara, arquitetou a troca dos jurados sem avisar a ninguém. É uma denúncia grave, mas não podemos esquecer que a Morada do Samba fez um desfile praticamente perfeito, impecável. E, claro, boatos do Twitter também devem ser analisados com muita frieza e apurados muito bem. Outros boatos que ainda não foram provados também surgiram, como a de que houve um arranjo nos bastidores para que nenhuma escola fosse rebaixada... tudo muito triste.
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Por fim, é lamentável ver a cobertura de carnaval da TV Globo. A todo instante eles falavam que quem causou a confusão foram integrantes da Gaviões da Fiel. Ousavam inventar coisas que a própria imagem desdizia, e mentiam de cara lavada - até uma suposta briga com torcedores da Mancha Verde, que nem no Sambódromo estava, foi ventilada. A emissora a todo tempo tenta incriminar as torcidas organizadas, julgando a atitude de poucos como a de todos, um erro de generalização que ninguém que se considere jornalista deve ousar cometer.
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É tudo uma grande suposição de quem acompanha de maneira muito distante o carnaval paulistano - mas ao menos eu acompanho, e não especulo, como vejo muito. O que será do carnaval de SP em 2013 eu não sei, mas tenho a certeza de que desdobramentos graves ocorrerão. Sei que tudo sempre foi uma máfia, mesmo adorando o mundo do carnaval, mas o que aconteceu foi algo grave demais.
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Espero ter respostas para a minhas perguntas e ter certezas ao invés de ter tantas dúvidas. Quero que o carnaval volte a ser a festa do povo, e não a dos bicheiros ou a de quem tem dinheiro para comprar o carisma de alguma comunidade.