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Renascer de Jacarepaguá: Comunidade forte, que canta o samba alto; chão exemplar; samba denso, valente e de boa qualidade... a escola da Zona Oeste foi quase uma Beija-Flor em proporções menores. Cantando a vida do artista Romero Britto, todos tinham muita esperança de que a escola poderia ficar no Grupo Especial graças aos investimentos feitos, porém tudo foi pelo ralo com o acabamento pobre de algumas alegorias e alguns erros de harmonia. Além da escola abusar do preto-e-branco ao retratar um artista que abusa do colorido e do pop-art, deixando a homenagem pouco condizente com o homenageado, os erros foram graves, e devem custar o rebaixamento da escola, uma pena. Nem a Explosiva bateria de mestre Paulão, que estava visivelmente emocionado, salvaram a escola.
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Portela: A maior vencedora do carnaval e que está a quase trinta anos na fila desfilou como gente grande falando de Clara Nunes e da Bahia. Alegorias muito bem-feitas (apesar da águia vir dourada, o que não me agradou), escola bem fantasiada, um samba arrasa-quarteirão e que empolgou a todos... era pra ser desfile de título. Era. A bateria Tabajara do Samba, que vinha muito bem, atravessou o samba ao executar uma de suas paradinhas e certamente será prejudicada por isso. Mas, após muito tempo, vimos Oswaldo Cruz e Madureira gigantes de novo, e o caminho a ser seguido nos próximos carnavais é esse.
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Imperatriz Leopoldinense: A escola de Ramos era um caldeirão. Com Luiz Pachedo Drumond, bicheiro patrono da escola, preso e mestre Marcone, uma das revelações do carnaval nos últimos tempos à frente da Swing da Leopoldina, baleado, não se sabia o que esperar da verde-e-branco da Zona Norte. Com exceção de ótimo samba sobre as lendas baianas retratadas por Jorge Amado e duma atuação segura do sempre afinado puxador Dominguinhos, o resto era uma grande incógnita. A comissão de frente merece destaque, com alguns bailarinos girando em torno dum farol baiano. No entanto, a escola teve vários problemas ao manobrar os carros alegóricos na esquina da Presidente Vargas com a Marquês de Sapucaí, fazendo com que várias alas ultrapassassem esses carros, prejudicando o andamento do enredo. Esteticamente a escola veio linda, em um grande trabalho do carnavalesco Max Lopes - não por acaso chamado de "Mago das Cores". A bateria também fez muito bem, com várias convenções. O mistério gira em torno do porque a escola da região da Leopoldina não conseguiu empolgar o público, que mostro-se frio e apático ao longo de todo o desfile.
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Mocidade Independente de Padre Miguel: Que me perdoem as escolas que sempre lutam pelo título, a escola mais aguardada no Sambódromo, ano após ano, é a Mocidade. Não pelo que ela pode fazer de bom, e sim pelo que ela pode fazer de ruim. Muito tumultuada recentemente nos bastidores, a escola alterna bons desfiles com momentos ruins na avenida, o que nunca nos dá a certeza sobre a real situação da escola. Nesse ano correu tudo bem até demais pra estrela verde-e-branca. Com um desfile sem maiores problemas e muito bonito homenageando Portinari, a escola deve vir bem na apuração. Destaque para o carro de som, que contou pela primeira vez com Luizinho Andanças como puxador (um dos melhores nos últimos anos) e pra bateria Não Existe Mais Quente, a eterna bateria nota 10, de mestres Andrezinho, Bereco e Dudu.
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Unidos do Porto da Pedra: Mais do que sempre ser cotada pra cair, a escola de São Gonçalo veio pro seu desfile de 2012 como a favorita para ocupar esse posto. Com pouco dinheiro, com um enredo fraco sobre iogurtes e com o pior sabma do ano, disparadamente, era preciso um daqueles desfiles monumentais pro Tigre permanecer no Especial. E ele veio. Apostando na simplicidade e na total identificação das pessoas com o enredo, a vermelho-e-branco passou bem e sem grandes erros de harmonia e evolução. Jaime Cezário, bom carnavalesco da escola que não tem tanto nome, merece ser muito elogiado pelo que fez. E mestre Thiago Diogo, da bateria Ritmo Feroz, idem.
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Beija-Flor de Nilópolis: me dispo da imparcialidade pra falar que ser Beija-Flor é ter a certeza de que a sua escola vai apresentar um ótimo desfile mesmo quando não ganha. E, novamente, foi assim. Falando dos 400 anos de São Luís do Maranhão, a azul-e-branco veio com tudo novamente: belos carros, ótimas fantasias, um samba pra lá de bem cantado por Neguinho da Beija-Flor, uma bateria acertada dos mestres Plínio, Rodnei e Binho... o destaque, porém, vai sempre pra Laíla, o homem-forte do carnaval nilopolitano. E não vai para o seu trabalho, feito, mais uma vez, com primor. Ano passado, quando a escola ganhou o título cantando Roberto Carlos, ele disse que queria ver a Beija-Flor mais popular, sem enredos que falassem tanto de mitologias e por aí vai. Esse enredo sobre o Maranhão era da Beija-Flor antiga, Laíla. Você rasgou sua palavra. A escola está de parábens, como sempre, mas algo aconteceu.
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Unidos de Vila Isabel: A escola de Noel Rosa acostumou-se a fazer bons desfiles e parece não querer largar essa alcunha jamais. Contando hábitos tradicionais de Angola, a azul-e-branco passou kizombando na avenida, como é de seu costume. Aos desavisados, kizomba é uma festa popular angolana que deu o primeiro título para a Vila, em 1988. Um samba estupendo (pra este que vos escreve o melhor do ano), fantasias e alegorias que remetem à África, a Swingueira da Vila de mestre Paulinho e Wallan com bossas bem ensaiadas... mais uma vez, vem forte pra disputar o título.
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São Clemente: Maior beneficiada pelo incêndio que destruiu alguns barracões na Cidade do Samba, a única escola da Zona Sul da cidade passou como nunca. Se não foi o maior desfile da história da agremiação foi algo bem próximo disso. Sem os erros comuns das escolas de menor expressão, a amarelo-e-preto cantou grandes musicais da história do teatro, e contou com um violino no carro de som que mantinha a harmonia da escola em altíssimo padrão enquanto a bateria Fiel dos mestres Gil e Caiquinho fazia suas paradinhas. O carnavalesco Fábio Ricardo está novamente de parabéns, com um desfile muito criativo e repleto de balões, material pouco utilizado através dos tempos na Sapucaí. E, claro, é ótimo ver que a irreverência da escola de Botafogo voltou.
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União da Ilha do Governador: Acostumada a desfiler pra galera e sempre ter má-sorte com os jurados, a escola exagerou dessa vez. Com um samba de apelo extremamente popular, com dois refrões muito bons, a vermelho-e-azul apostou nisso, e unicamente nisso para ganhar o público. Não deu certo. Se não estava feio, faltou empolgação por parte dos integrantes da escola. Apesar dos pesares, a BaterIlha de mestre Riquinho passou bem. Se conseguir livrar-se do rebaixamento a Cacuia já estará feliz, certamente.
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Acadêmicos do Salgueiro: Todo ano o Salgueiro entra como campeão. A escola, acostumada a explodir na avenida, tem que ser analisada com frieza e razão, e essas nunca foram as maiores características salgueirenses. O samba é bom, a Furiosa bateria de mestre Marcão nem sem fala - esse ano até paradinha em formato de forró teve... mas faltou estética. Renato Lage e Márcia Lávia erraram na mão ao dar brilho demais e acabamento de menos pra sua escolas, bem como os carros e seus eternos problemas pra virar o cruzamento da Presidente Vargas com a Marquês de Sapucaí. A literatura de cordel, tema do enredo, merecia o Salgueiro vencedor de alguns anos átras.
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Estação Primeira de Mangueira: Foi, certamente, o desfile mais emocionante de 2012. Com a chamada "paradona", três minutos sem cantores ou bateria Surdo Um e a escola sendo sustentada apenas pelo canto da arquibancada e de quem desfilava, a verde-e-rosa entrou pra história. Mas, assim como tantos outros carnavais memoráveis, não vai ganhar o título. Aliás, diga-se de passagem, vai passar bem longe disso. Novamente os problemas financeiros da escola fizeram-se presentes nas fantasias que desfaleceram-se na avenida e nos carros mal-acabados da escola. O Cacique de Ramos foi o homenageado e ficou feliz com toda a emoção do desfile, mas até os índios dessa tribo sabem que o título tá longe do Palácio do Samba.
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Unidos da Tijuca: Novamente o Pavão veio forte. Com o sempre inventivo e muitas vezes genial carnavalesco Paulo Barros, a escola veio com um tema diferente do que sempre trazia, falando sobre o centenário de Luiz Gonzaga. Mesmo sem show de Hollywood ou qualquer tipo de luz em tecnologia, o enredo foi magistralmente desenvolvido, com todos os atributos de uma escola que quer o título e sabe como fazê-lo. A comissão de frente, muito bem bolada, representava a chega de vários outros reis, de Elizabeth II a Michael Jackson, para homenagear e coroar o rei do sertão. Também vale destacar que a figura de Luiz aparecia apenas no último carro, enquanto o desfile retratava "apenas" o quão ele foi importante, e não apenas ele - ótima sacada. No mais, outra boa atuação da bateria Pura Cadência de mestre Casagrande. Lá vem azul-e-amarelo buscando o título novamente.
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Acadêmicos do Grande Rio: A escola mais afetada pelo incêndio do ano passado percebeu que tinha um enredo em suas mãos e o apreveitou. Falando sobre grandes superações da humanidade, o carnavalesco Cahê Rodrigues soube conduzir bem o andamento da história, passando sua mensagem de maneira muito adequada. A bateria Invocada do grande mestre Ciça manteve muito bem o andamento da escola. Foi tudo muito bonito, mas... não tem pinta de campeã. Deve voltar pro desfile das campeãs, mas não como primeira colocada.
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Com tudo isso falado, creio que a classificação do grupo Especial do RJ ficará assim:
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Tijuca
Vila Isabel
Grande Rio
Beija-Flor
Mocidade
Porto da Pedra
São Clemente
Portela
Mangueira
Salgueiro
Ilha
Imperatriz
Renascer
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GRUPO DE ACESSO
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No segundo grupo do carnaval carioca, duas das três favoritas são bem conhecidas de quem gosta de carnaval. Dentre as mais cotadas para subir estão Império Serrano (que homenageou dona Ivone Lara com seu enredo) e Unidos do Viradouro. A Inocentes de Belford Roxo também veio forte, e não seria nenhuma surpresa vê-la no Especial do ano que vem. De outro lado, a tradicionalíssima Estácio de Sá ficou devendo demais ao cantar a eterna musa do carnaval, Luma de Oliveira, e corre risco de rebaixamento para o terceiro grupo (!).