sexta-feira, 27 de março de 2015

É hora de fechar a casinha

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É difícil entender o que raios acontece com o São Paulo. Um time que não sofre nada contra times pequenos (a Ponte Preta não é pequena) (ao contrário do Palmeiras, por exemplo) e que não consegue fazer nada em clássicos - só jogou bem no Paulistão contra o Corinthians e, mesmo assim, perdeu. 
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Crédito: http://migre.me/pcCPt
Não acho que o problema sejam desfalques ou excessivas mudanças - apesar de Muricy ter se arriscado até no 3-4-3 holandês em alguns jogos. O problema, aqui, me parece algo bem maior.
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Pode muito bem ser psicológico, claro. Na primeira passagem de Muricy Ramalho pelo São Paulo o time já tinha problemas para vencer os rivais, sobretudo o Corinthians. As eliminações para times brasileiros na Libertadores (incluindo aqui a semifinal de 2012 no Santos, para o... Corinthians) também colaboram para esse meu pensamento. Muricy tem várias qualidades e, dentre seus defeitos, pode não saber preparar bem o time para jogos decisivos. É uma hipótese - por mais que tantas derrotas em clássicos ou em decisões não condizem com o gabarito de um dos treinadores mais vitoriosos do país. 
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Tudo o que disse acima foi exposto no Choque-Rei de quarta-feira. Os primeiros dez minutos lembraram a metade final do primeiro tempo do histórico Brasil x Alemanha do 7x1. Deu tudo errado:o frango de Rogério Ceni aos quatro minutos; a expulsão de Rafael Tolói aos nove e a inexplicável substituição de Alexandre Pato aos dez. O jogo estava perdido faltando oitenta minutos para o apito final.
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Crédito: http://migre.me/pcCQz
Muricy não pode ser eximido de culpa, principalmente pelo duelo contra o Palmeiras - mas ele mostrou diversas variações desde sua volta, em 2012. Sua saúde, como se sabe, está combalida há algum tempo e ele não parece mais tão enérgico como antes - apesar de uma ou outra bravata em entrevista coletiva. Tudo joga contra, mas eu não o demitiria. Seu cartel é invejável, ele já recuperou um time bem pior (assumiu o São Paulo na zona de rebaixamento em 2013, não se esqueça), ele é identificado com o clube e muita gente corre por ele. E, além de tudo: quem seria o contratado? Dos nomes disponíveis vejo Cristóvão Borges com ótimos olhos, mas ele mesmo vem em baixa. Seja como for, ele precisa mudar algo.
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Não preciso dizer que o time precisa mudar. Seja no Choque-Rei ou no SanSão pelo Paulistão ou no Majestoso pela Libertadores, faltou coração de todo mundo. Poucos corriam, ninguém dividia. E falta tarimba e malandragem até mesmo para jogadores rodados - a expulsão juvenil de Rafael Tolói contra o Palmeiras falam por mim.
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Créditos: http://migre.me/pcCS2
Quando falo do time, falo também de Rogério Ceni. Aliás, falo principalmente dele. Falo insistentemente que ele deveria ter se aposentado em 2012, quando ele começou a se tornar irregular demais. O mesmo goleiro que fez milagre no último SanSão é o que tomou um frangaço no Allianz Parque. Goleiro é cargo de confiança; goleiro e maior ídolo da história do clube tem que ter responsabilidade imensamente aumentada. E ele, já no crepúsculo de sua carreira, deveria pegar o boné de uma vez. Pior: ele vai se aposentar apenas após a Libertadores, competição mais importante do ano. Por mais são-paulino que Rogério seja (ou tenha se tornado), sua gana em bater recordes o deixou cego - e, hoje, ele não vê que faz mal ao time, além de já ter perdido a oportunidade de fazer uma passagem de bastão digna e gradual ao seu sucessor, seja ele Dênis ou Renan Ribeiro.
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A torcida colabora com a cegueira de Rogério e, claro, prejudica todo o resto também. Desde os tempos de Juvenal Juvêncio, inclusive - quando defendia o presidente que conseguiu de maneira irregular seu terceiro mandato e que quase colocou o clube na Série B pela primeira vez na história. Ao pedir a saída de Muricy logo no começo do ano, a Independente jogou contra. Ao ficar calada enquanto o time joga mal, a torcida deixa os rivais (o time e os outros torcedores) crescerem. Por mais que o protesto pelo preço abusivo dos ingressos seja válido, disparar contra tudo e todos e não ver seu quinhão de culpa é um imenso erro.
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Por fim, a diretoria. É impressionante ver como desde 2012 o São Paulo não tem dias de paz. De lá para cá tivemos, principalmente, a ameaça de rebaixamento, os problemas de saúde de Muricy Ramalho, a eleição de Carlos Miguel Aidar e todas as suas querelas politiqueiras com o ex-presidente e seu antigo apoiador (hoje crítico ferrenho) Juvenal Juvêncio. Tudo isso só tumultua o ambiente e coloca pressão em um clube que já está, por seu tamanho, sob todos os holofotes. 
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Créditos: http://migre.me/pcCTD
Esse turbilhão de fatos, é claro, por vezes se juntam - e colocam uma interrogação em todos, além de potencializar os danos. A aproximação de Carlos Miguel Aidar com a Independente pouco antes do Majestoso e a nota em que a organizada detona o presidente do clube tem distância de pouco mais de um mês. Não existe paciência nem planejamento, apenas o agora e o interesse. 
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Vejam só o tamanho de um texto que consegui escrever apenas para falar de problemas do São Paulo - um clube que até bem pouco tempo atrás se orgulhava de sua estabilidade. É triste. Mas lembro de um período não muito distante e semelhante a esse. E lembro, com muita alegria, do período seguinte.
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Em 2003, o São Paulo se orgulhava de seu time. Rogério Ceni (ainda não tão badalado), Kaká, Luis Fabiano, Reinaldo, Ricardinho (a maior contratação entre clubes brasileiros da história na época)... no papel era um timaço. E, de fato, o time jogava bonito desde 2002. O ano anterior, porém, mostrava porque aquele time não se tornou histórico: perdeu a final do Rio-São Paulo e a semifinal da Copa do Brasil para o Corinthians (sempre eles), enquanto fez uma campanha brilhante na primeira fase do Brasileirão para ser eliminado pelo Santos, dos até então desconhecidos Diego e Robinho, logo nas quartas-de-final - série que, aliás, foi o embrião da ideia dos pontos corridos no Brasileirão de 2003. 
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Créditos: http://migre.me/pcCUy
Nova decepção em mata-matas em 2003: uma eliminação para o Goiás nas quartas-de-final da Copa do Brasil e, principalmente, as duas derrotas na final do Paulistão o... bem, você sabe. Oswaldo de Oliveira, técnico que sempre gostou do futebol ofensivo, foi demitido. A solução foi caseira: Roberto Rojas, que fazia parte da comissão técnica não-rotativa do clube. 
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Com Kaká vendido e um time em baixa, o chileno mudou tudo: passou a jogar defensivamente, fazendo todos correrem e valorizando o pragmatismo. O resultado não poderia ser melhor: a terceira colocação no Brasileirão (que levou o Tricolor à Libertadores após um hiato de dez anos) e a semifinal da Copa Sul-Americana, sendo eliminado apenas nos pênaltis pelo River Plate. 
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Não há muito o que fazer se um time não rende. Queira ou não o resultado é o que conta. Se vier com futebol bonito, melhor; se não, que se consiga os três pontos. É isso o que Rojas conseguiu e o que ninguém parece entender hoje em dia. 
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Crédito: http://migre.me/pcCUZ
É bem verdade que 2004 também foi um ano traumático, mas veio com uma semifinal de Libertadores no pacote. E, bem, a partir de 2005 creio que não preciso comentar muito.
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Falta muito ao São Paulo, dentro e fora de campo. Mas essa situação não é nova. Que os novos personagens saibam entender o recado. 
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