segunda-feira, 2 de março de 2015

A vida é bem mais que a vida alheia

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Aconteceu comigo, no domingo logo depois do carnaval. Estava saindo da ESPN e indo a pé até a estação Sumaré quando ouço uma súbita e forte freada na Doutor Arnaldo. Olho para a direita no instante que um Fox bate em um EcoSport; e, com a força da batida (que nem foi tão forte assim), o segundo carro atinge um Prisma. 
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Parece que o centro do mundo tinha virado aquele farol na frente da Torre da Cultura. Parece que a importância da ONU ou da Casa Branca tinham sido sumariamente diminuídas diante daquele pequeno engavetamento. As cercas de dez pessoas que estavam próximas do local da batida logo se amontoaram, cruzando inclusive a avenida com o farol aberto. 
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Os comentários eram sempre parecidos e atropelados pelas próprias pessoas. "Nossa, a menina do Fox tá chorando", "Vish, o cara da EcoSport saiu puto", "Meu deus, que moça desatenta" foram alguns dos exemplos que ouvi enquanto passava na frente do grupelho, que parecia que não tinha mais nada para fazer na vida a não ser ver aquela situação na rua. 
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Passe pelo grupo em dois segundos. Vi a batida e não parei de andar para frente. Eram 13h15 e eu teria que narrar dois jogos de casa, o primeiro às 16h. Alguns me olharam espantados por eu não dar relevância para aquele evento tão importante para outros. 
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Voltei para casa me perguntando porque raios as pessoas gostam tanto de futricar a vida alheia. Além de ninguém ganhar absolutamente nada com isso, essa atitude só prejudica os demais - a motorista que começou a chorar deve ter ficado ainda mais ansiosa ao ver que tinha gente prestando atenção nela. Os transeuntes não estavam nem aí, tanto que nenhum deles se dispôs a ajudar em nada. Só ficaram lá especulando sobre o ocorrido e comentando tudo o que viam.
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Sei que, infelizmente, esse grupo apenas representa uma enormidade de gente que faz a mesmíssima coisa não só ao ver acidentes, mas para absolutamente tudo na vida - você deve conhecer fofoqueiros, espíritos de porco, futriqueiros e por aí vai. Eu lamento por eles, mas não escondo a raiva. 
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Narrei meus dois jogos, ganhei meu dinheiro. Foi bem melhor que ficar vendo três carros batidos. 
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