O título pode ter assustado, mas, reflita bem. Veja que, de alguma forma, ela é verdade. O que você vê na TV ? Quais esportes acompanha ? Quais jogos de videogame compra pra sua família ? Hoje, sair matando, atirando e esfaqueando é algo rotineiro, duma forma ou de outra.
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Pelos mais diversos meios, a violência tornou-se próxima, quase que íntima de todos. Ela se apoia na muleta de que é um meio, e não um fim. Mas... se, na vida real, nós matamos para conseguir algo, não deixamos de tirar a vida de alguém, certo ? É essa reflexão que precisa ser feita. Também vejo pessoas defendendo que, em alguns casos, ela é uma fatalidade. Concordo com tal visão, mas isso apenas ilustra o quanto devemos ter cuidado em tudo que fazemos hoje. E, para quem defende a violência enquanto fatalidade, existe um ótimo exemplo a ser seguido.
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Pare pra ver a programação televisiva. Isso não é nem um pouco recomendável para pessoas que tem algo pra fazer ou algo na cabeça, mas milhões de pessoas vêem pela telinha o resumo do dia ou uma ótima diversão cotidiana. Nela, programas sensacionalistas, que abordam crimes cotidianos ou espetaculares, ganham destaque. Nacionalmente, José Luiz Datena e Sônia Abrão são ótimos estandartes de apresentadores que abordam o "cotidiano dos excluídos", segundo eles. Os moradores da periferia realmente merecem saber o que acontece em sua região (já que a grande mídia fala apenas das regiões mais abonadas economicamente), mas, antes de tudo, eles necessitam de uma mensagem de esperança, e não de carnificina. Regionalmente, outros apresentadores possuem programas ainda mais violentos, com casos ainda mais carniceiros, que fariam inveja a personagens como Freddy Krueger e Jason. Martelar em episódios tão tristes e violentos é pedir para que outros do mesmo naipe ocorram, incentivando a matança generalizada e o mundo-cão longe do centro das grandes cidades brasileiras.
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Nos esportes, me dá a impressão que o brasileiro começou a levar aquilo que vê na TV para outro patamar. O MMA, também chamado de wrestling ou vale-tudo, mistura várias artes maciais em lutas que fariam as gangues suburbanas tremerem de medo. É um festival de socos, pontapés e lesões que chega a impressionar. Ver atletas sangrando é tão comum quanto ver o público urrando, extasiado. A luta acaba, basicamente, se alguém desmaia ou fica inconsciente, se um lutador "finaliza" outro (por meio dos mais variados golpes, como chaves de braço e perna) ou se algo mais grave acontece. Recentemente, Frank Mir apanhava loucamente de Rodrigo Minotauro, quanto, alguns instantes depois, ele quebrou o ombro do brasileiro. Algumas lutas depois, Lyoto Machida ia melhor em sua luta contra Jon Jones. Num ágil golpe, o americano abre um corte fortíssimo na testa do brasileiro. O norte-americano teve caminho livre para prensar o paraense e fazê-lo perder a consciência por alguns instantes. Esse, para muitos, é o esporte que mais cresce no Brasil - e que poderia ter suas lutas noticiadas nos programas da tarde-noite das emissores nacionais.
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Até mesmo esportes considerados "leves" começaram a ter sérias lesões e problemas de saúde entre seus praticantes. No Pan-Americano, Jaqueline entrou em desespero com sua contusão, acidentalmente causada pela líbero Fabi. No futebol, tornou-se comum o choque cabeça com cabeça, com algum grau de perigo sobretudo quando um dos atletas é atingido na nuca. Zonzeira e perda de consciência momentânea também são normais em lances assim. Esportes mais viris também viram febre, pouco a pouco, no país, tais como o futebol americano e o rugby. Repito que muitos casos aqui são acidentes, mas também não deixam de indicar um perigo maior e mais frequente em atividades esportivas.
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Outro meio muito utilizado pelos brasileiros para se divertir são os videogames. E a preferência de muitos são por jogos que envolvem algum tipo de violência. Sejam socos e pontapés ou tiros com as mais potentes armas, passando por facas, poderes sobrenaturais ou qualquer outra arma que a capacidade lógica desafia de se utilizar na vida real, a violência está lá. O interessante aqui é que a matança é sim um fim. Ora, você mata diversos seres inferiores para chegar num ser superior e... matá-lo. Não importa aqui o enredo do jogo: se é simulador de guerra, aventura, luta ou o que quer que seja. Virou diversão usar armas e facas para transformar o oponente em carne de açougue e fazer o que bem entender dele.
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Isso cria um cenário muito peculiar: gradativamente, pessoas perdem o interesse em ver TV, sobretudo jornais ou programas sensacionalistas, que, segundo os antigos espectadores, era violento demais, e que só "passava tragédia". E lá vão eles jogar videogame ou ver esportes... cheios de tragédia, das mais diversas formas.
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O automobilismo deu, recentemente, uma boa mostra do quanto a fatalidade pode ser violenta: a morte de Dan Wheldon, num acidente incrível na última etapa da F-Indy. Na categoria mais vista do negócio, a F-1, o último acidente fatal foi de Ayrton Senna. Isso não quer dizer que não ocorreram acidentes gravíssimos - como os envolvendo Felipe Massa, Robert Kubica, Luciano Burti, Martin Brundle ou o que tirou praticamente todos os pilotos da corrida de Spa-Francochamps, em 1998. O que difere a F1 dos esportes é que houve um investimento maciço em segurança após a morte de Senna, com a criação da chamada "célula de sobrevivência" no cockpit ou com o fortalecimento do capacete com diversas fibras, deixando-o mais resistente. Investimentos que não vemos em televisão para melhorar sua programação, esportes para deixar seus atletas mais seguros ou programadores de games para deixá-los mais educativos e menos violentos. Porém não há como exigir muito dos outros enquanto o próprio governo não investir o que deve em educação, fazendo com que as crianças passem a ver com outros olhos que não os da diversão tais meios propagadores da carnificina.
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Seria negativo demais falar que é um caminho sem volta, e que a violência é intrínseca à sociedade. Há maneiras de evitá-la e deixá-la longe de nós, mas que a presença dela deveria nos incomodar muito mais é algo inegável.