sexta-feira, 2 de março de 2012

O dia em que o Estado disse amém

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No mesmo dia, dois atos regulamentados por leis nacionais colocaram em xeque a suposta laicização do Estado brasileiro. Em duas claras afrontas a separação entre igreja e governo, quem saiu perdendo, mais uma vez, foi o povo. Mas, dessa vez, o estrago pode ser ainda maior.
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O dis em questão é o tão singular 29 de fevereiro, que só ocorre uma vez a cada quatro anos e marca os anos bissextos. O dia, tão especial, tornou-se trágico nesse ano de 2012 graças a nomeação do senador Marcelo Crivella para o ministério da pesca e graças ao começo da regulamentação da chamada "lei do pai-nosso"
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Pra quem não conhece, Marcelo Crivella é senador do PRB do Rio de Janeiro, e, antes de político, era pastor da igreja Universal - a mesma de Edir Macedo, de quem é sobrinho. Com todo o respeito, mas não preciso explicar que pessoas desse naipe são totalmente dispensáveis do Planalto, quanto mais eleitos pelo povo. Crivella talvez tente o milagre da multiplicação dos peixes e dos recursos para fins hídricos no governo de Dilma Rousseff, mas talvez só ele acredite em sua capacidade e no investimento nessa área. Além duma escolha lamentável (comentada pela própria presidente de que só foi feita para "beneficiar um partido aliado"). Por mais que ele seja um dos senadores mais prolíficos em assuntos impactantes, para subir na vida creio que uma pessoa deve lançar mão de posições radicais - e Crivella é um servo de deus naquela medida que passa a ser preocupante.
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Além disso tudo, fica a pergunta: sendo sobrinho de Edir Macedo, e sendo o dono da TV Record uma das pessoas mais influentes do país, ele não seria apenas um fantoche de Edir para estreitar e pavimentar perigosos laços com o Executivo nacional ? Isso sim é preocupante. Ao colocá-lo no ministério, Dilma assinou o risco - risco totalmente dispensável, diga-se.
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Em Ilhéus, litoral sul da Bahia, a "lei do pai nosso" entrou em vigor. Segundo o texto, uma vez por dia os alunos devem parar e orar. É um flagrante desrespeito a culturas que não as cristãs Brasil agora. Ainda mais na Bahia, talvez o estado de maior sincretismo religioso brasileiro... é uma afronta.
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Já não basta o sobrinho de Edir Macedo no governo, os feriados puramente católicos romanos, todo o racismo velado que existe contra pessoas não cristãs... todos são obrigador a orar ? É um disparate o qual eu me recuso a acreditar - e fazer, caso fosse obrigado. E, como toda lei, quem não a cumpre corre o risco de ser preso. Já pensou em ser preso por não rezar ? Estando com suas contas em dia, ajudando o país com seu trabalho, sendo uma pessoa de bons modos e costumes, e... ser preso por não rezar ? Um absurdo completo.
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O Brasil é um país laico, diz a nossa constituição. Diria Roberto Pompeu de Toledo que o Brasil é um estado laico com a proteção de deus - ironicamente, claro. Não quero esse deus pra mim, não quero deus nenhum - e cada dia menos quero esse país moldado por radicais e pessoas sem o mínimo preparo, instrução e respeito com quem não faz o que a maioria faz.
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