quinta-feira, 29 de março de 2012

Paixão e carnificina

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Paixão é algo engraçado. É um sentimento que pode, em instantes bem próximos, te matar e te dar vida. Poeticamente falando, isso é lindo. Mas quando essa tradução é colocada ao pé da letra e de maneira literal, temos um grande problema.
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Nas duas últimas semanas, tivemos quatro péssimos exemplos de paixões regadas a muito ódio, truculência e sangue. Dois bem próximos, no estado de São Paulo. Um entre a Europa e a Ásia e um na África - mostrando o quanto a dicotomia entre paixão e irracionalidade é universal.
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No Egito, saiu a punição para os torcedores do Al-Masry e do Al-Ahly, que se envolveram numa tragédia sem precedentes no começo do ano - saiba mais aqui. Eis que o Al-Masry, time da torcida que bateu, está um ano com sua licença cassada e não entrará em campo até Janeiro de 2013, além do estádio onde a batalha campal ocorreu estar interditado até 2015. Uma punição justa, creio eu. A surpresa veio na punição para o Al-Ahly, que recebeu quatro jogos com portões fechados. Por que punir quem apanhou, penso eu ? Isso é premiar quem causou toda a baderna, por mais que eles tenham sido punidos severamente. Sofrer danos e ser punido é algo inconcebível, pra mim.
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Em São Paulo, dois palmeirenses morreram em outra batalha campal que aconteceu na avenida Inajar de Souza, Zona Norte de São Paulo. A avenida, conhecido ponto de briga entre torcidas organizadas, viu uma emboscada que faria qualquer pelotão da guerra do Vietnã ficar de queixo caído, sendo que torcedores corinthianos deixaram vítimas entre os verdes. Alvinegros e Alviverdes também protagonizaram cenas lastimáveis há cerca de 100km da capital paulista. Em Campinas, torcedores da Ponte Preta e do Guarani trocaram farpas ao longo de toda a semana, e um bugrino perdeu a vida na semana do Derby Campineiro.
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Os motivos pelos quais esse tipo de fato ocorre eu explorarei em outro texto, mas deixo claro uma coisa: uma pessoa em sã consciência torce para um time, e não abomina o outro por isso. A partir do momento no qual escolher um símbolo, uma bandeira e meia dúzia de argumentos padrão passa a significar também querer ver algo diferente do que é seu morto e na sarjeta eu prefiro me retirar de qualquer discussão. Quando o status quo de algoi é odiar outro, isso torna-se um problema social, que deve ser combatido com urgência e veemência.
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O último exemplo que queria elucidar aqui tem uma resposta positiva. O "derby dos eternos inimigos", disputado entre os gregos Olympiacos e Panathinaikos, foi cancelado pois torcedores do PAO começaram a fazer arruaça dentro do estádio Olímpico de Atenas. Cadeiras queimadas, rojões jogados para a torcida adversária, confusão, quebra-quebra... infelizmente, tudo aquilo que se espera dum clássico. O país, epicentro da crise econômica que perdura desde 2008 no planeta, não poderia deixar que um caos social se instalasse graças a isso. A federação grega de futebol, então, agiu rápido: tirou seis pontos da equipe na atual temporada, dois na próxima temporada e deu quatro jogos de portões fechados enquanto mandante para o PAO.
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Perfeito. Pela irracionalidade de alguns, o clube paga. Cruel, mas fazer o quê ? Que isso sirva de lição para os torcedores, pois o clube aprendeu da pior maneira possível: além de todos os estragos, toda a diretoria do Panathinaikos demitiu-se após a punição, o que deixou o clube numa grande crise.
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Quem sabe assim, com punições rápidas e pesadas, o futebol como um todo não passe a andar nos trilhos novamente. E que assim seja aprendido o mais importante: amar o clube não significa satanizar o outro.
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