Desde a saída de Muricy Ramalho do São Paulo os torcedores acostumaram-se a ver projetos jogados fora, treinadores descartados como lixo industrial e um imenso descaso da diretoria perante quem apoia o time e ante quem trabalha nele.
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Muricy saiu do tricolor em 2009, após ser eliminado da Libertadores pelo Cruzeiro nas quartas-de-final - em partida que só mostrou a apatia da equipe naquele momento e que deixou clara para todos que o trabalho de Muricy, infelizmente, tinha chegado ao fim. Após conquistar um inédito tricampeonato de fato no país. A diretoria, até então tida como modelo e que adorava arrotar o quanto era "diferenciada", agiu rápido e trouxe Ricardo Gomes. Com vasto currículo europeu, ele conduziria a equipe num projeto de longo prazo e que só faria do São Paulo um clube ainda mais "diferenciado" - céus, como eu abomino essa palavra.
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O longo prazo de Ricardo Gomes durou pouco menos de um ano. Após não conseguir dar padrão de jogo nenhum à equipe e ser eliminado nas semifinais da Libertadores para o campeão Internacional - sabe-se lá como o "francês", como era conhecido, levou aquele time jogando daquela forma até as semifinais. De temperamento calmo, ele ainda foi destemido ao colocar um time extremamente defensivo no primeiro jogo da final contra o colorado, no Beira-Rio - mostrando-se valente e não ligando para as muitas críticas que surgiram. A paciência do presidente Juvenal Juvêncio, cansado da apatia do time e do treinador, acabou-se.
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Longo prazo de onze meses, presidente ? Em um trabalho de reconstrução no Vasco da Gama e que teve momentos muito piores com um elenco muito pior, Ricardo foi campeão da Copa do Brasil com uma equipe que não ganhava um título fora do Rio de Janeiro há então onze anos.
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Após a saída de Ricardo Gomes, o então treinador da equipe sub-20, Sérgio Baresi, ganhou uma chance. Ele chegava como interino, conseguiu bons resultados e foi efetivado. Quando a sorte virou, a diretoria trouxe Paulo César Carpeggiani. Mais uma vez, o trabalho de longo prazo mostrou-se bem precoce e à mercê de resultados muito imediatos.
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Vindo de um ótimo trabalho no Atlético Paranaense, Carpegiani logo implantou seu estilo ofensivo na equipe. A defesa, que até então era o ponto forte da equipe, via-se desguarnecida e começou a falhar sistematicamente. Por mais que o ataque correspondesse, o saldo de gols não ajudou e o tricolor iria fechar 2010 sem ir para a Libertadores da América pela primeira vez desde 2003.
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Como colocar a culpa num treinador que deu três títulos brasileiros para o São Paulo ? Como colocar em outro que viu mundos e fundos sendo prometidos e teve tudo roubado do dia para noite ? Como colcoar a culpa em um interino que também sofreu com o arrombo de seus sonhos ? E como colocar a culpa em quem acabou de chegar ? A culpa aqui, claramente, é de quem atrapalha tantos trabalhos, não confia em quem contrata e age prematuramente - e, muitas vezes, irracionalmente.
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Carpegiani resistiu até sucumbir ante o Avaí, nas quartas-de-final da Copa do Brasil. Após muitas brigas com o atacante Dagoberto e após ser demitido moralmente no vestiário após o jogo, chegou Émerson Leão.
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Bem como seu antecessor, Leão colocou o time para frente. O time se recuperou e quase beliscou uma vaga para Libertadores. Leão, novamente, não conseguiu dar padrão tático ao São Paulo e teve seu trabalho questionado desde o primeiro instante, criando uma eterna instabilidade na equipe. Tanta pressão resultou na demissão após nova eliminação para um time do sul na Copa do Brasil - dessa vez foi o Coritiba, nas semifinais.
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Para falar de todos os Paulistões desse período, basta apenas falar que o time há seis anos consecutivos fica nas semifinais. Basicamente, quando a equipe precisa mostrar que é forte ante os outros três grandes, fica pelo caminho. Esse é o São Paulo de Juvenal Juvêncio. Enquanto isso, Muricy Ramalho sagrou-se campeão brasileiro com o Fluminense (que não vencia o Brasileirão desde 1984) e também foi bicampeão paulista e campeão da Libertadores no arquirrival Santos.
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O São Paulo também viu o Corinthians classificar-se para a primeira final de Libertadores de sua história, além de vencer o Brasileirão com o desacreditado Tite. Até mesmo o Palmeiras foi para a final da Copa do Brasil. O São Pualo também perdeu diversas guerras políticas e viu o Morumbi ficar de fora da Copa do Mundo de 2014. Juvenal Juvêncio isolou o São Paulo, tanto politicamente quanto dos bons resultados.
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Sem técnico, a equipe se vê no meio de um Brasileirão onde cada jogo vale muito. Fala-se em trazer Dunga, que traria um choque de ordem na equipe - mas falam que ele seria um tampão, para a vinda dum grande nome em 2013. Também falam no eterno apagador de incêndios Joel Santana. Os grandes nomes seriam ou André Vilas-Boas ou Jorge Sampaoli, mas a diretoria queria que eles assumissem imediatamente e eles pularam fora. Até quando vamos perder nomes assim ?
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Até quando vamos ficar à deriva com tantos trabalhos não concluídos ? No ínterim entre a geração de Diego e Robinho e a de Neymar e Ganso, o Santos viveu alguns períodos sabáticos. Da primeira saída de Luxemburgo, em 2007, até o surgimento de Neymar, em 2010, a torcida santista sofreu. Foi um período sabático, mas que culminou no time que reconquistaria a América após meio século de espera.
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O Corinthians é outro bom espelho para o tricolor. Mano Menezes foi contratado pela diretoria alvinegra em 2008, para reconduzir a equipe a série A nacional - feito conquistado com sobras. Chegou em duas finais de Copa do Brasil, vencendo uma. Também venceu o Paulistão de 2009 e foi chamado para treinar a seleção - após recusa de Muricy Ramalho, ex-são paulino. A diretoria manteve o estilo do gaúcho e trouxe outro natural do Rio Grande do Sul, o desacreditado Tite. Ele sofreu uma das maiores vergonhas da história de clubes brasileiros ao ser eliminado na pré-Libertadores pelo Deportes Tolima, da Colômbia. A diretoria o manteve e conseguiu, além de outros bons resultados, o Brasileirão de 2011. Isso tudo deveria mostrar a essa tão incompetente diretoria (e sobretudo ao senhor Juvenal Juvêncio) que projeto e planejamento é que fazem um time ser diferenciado, e não arrogância e outros quetais do mesmo naipe.
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Enquanto isso, os tricolores sofrem. E como sofrem...