segunda-feira, 20 de agosto de 2012

As Olimpíadas acabaram há uma semana atrás

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Esse título de post tão simples, insosso e sem graça, quase uma apostila do primário, deve-se unicamente a nós. Sim, a nós, que "vibramos" e "criticamos" com o desempenho dos atletas brasileiros em Londres e que agora voltamos a nossa humilde (e ridícula) posição anterior ao ciclo olímpico de meros coadjuvantes e de não-propulsores do esporte no país. 
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As Olimpíadas acabaram no domingo e na quarta-feira a seleção de futebol jogou. Desde o domingo, porém, a perguntaque ficava não era "por que ficamos tão mal no quadro de medalhas ?", mas sim "o Mano vai continuar sendo o técnico da seleção ?". Costumo falar que o futebol é muito mais que um esporte, mas quando chega-se nesse nível de monopolização a situação começa a ficar crítica. O tanto que criticamos o atual estado do nosso futebol não condiz com a falta de crítica (e de prática, e de apoio, e de audiência... de nada, basicamente) com todos os nossos esportes olímpicos.
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A nós, culpados (não os únicos e talvez nem os principais, mas certamente com uma boa parcela de culpa) pelo estado lastimável dos nossos esportes olímpicos, cabe a reflexão. Quantas vezes ao menos buscamos entender como funciona uma competição de tiro esportivo ou de badminton ? Como podemos não ver ou não gostar se nunca buscamos entendê-los ? Se gostarmos, criaremos audiência, o que ajudará o esporte, que pode trazer novos atletas, que fará a paixão pelo esporte se propagar por algumas gerações e assim sucessivamente. É um círculo virtuoso que só faz bem. Não adianta jogarmos a culpa nos demais (e, ah!, como gostamos de fazer isso !) e não olharmos pra nós mesmos. E sim, todo esse desmepenho patético nas Olimpíadas tem muito de nós mesmos. Que tal mudar isso e parar de se fazer de rogado colocando a culpa em terceiros ?
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Agora, a outra parte. O investimento do governo no esporte olímpico melhorou bastante de algum tempo para cá - o post do blog do Menon ilustra bem isso. Por que, então, nosso desempenho não cresceu da mesma maneira ? Creio que muito disso explica-se pelo Comitê Olímpico Brasileiro. O COB é presidido há 17 anos por Carlos Arthur Nuzman, que por sua vez era presidente da Confederação Brasileira de Vôlei. Sua gestão tá longe de ser transparente, e ele controla boa parte das confederações nacionais e estaduais dos esportes olímpicos brasileiros - incluindo cortes inexplicados de verba caso seu candidato preferido perca o pleito. Nada muito diferente do que acontece na política brasileira, como podemos ver. A sociedade, caso quisesse o bem do esporte olímpico, protestaria contra a presença de Nuzman há tanto tempo no COB, mas nada fazemos. E o governo deveria intervir na presidência - não tirando Nuzman do poder, mas sim acabando com seus longos tentáculos nos rincões do poder olímpico brasileiro. 
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Nuzman costuma dizer que, sob seu mandato, o Brasil cresceu demais no quadro de medalhas. Sim, crescemos. Passamos a ter nossas três ou quatro medalhas de ouro garantidas por edição, é bem verdade. Mas a economia nacional (e o consequente repasse de dinheiro estatal e ganho com investimentos Brasil afora) certamente cresceram muito mais que o nosso desempenho olímpico. Deveríamos estar bem melhores do que estamos hoje. 
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Também é visível o quanto boa parte dos investimentos destina-se a esportes coletivos. Nada contra, são esportes como quaisquer outros. Mas, no quadro de medalhas, eles rendem bem menos medalhas que os individuais. Por uma opçãp de gosto do público e puro comodismo da cartolagem do COB, vôlei, basquete, futebol e algumas outras modalidades ficam com boa parte da fatia do bolo, deixando boa parte dos esportes individuais com pouco - com algumas exceções bem pontuais, como o judô e a ginástica olímpica.
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Também devemos colocar o dedo na cara de um seleto grupo de atletas olímpicos que tornaram-se "popstar" do esporte nacional. César Cielo é o maior exemplo desse círculo. O caipira treinava na universidade de Auburn, nos EUA, e tinha uma rotina militar, que o levou ao ouro olímpico. Ao se tornar conhecido no Brasil, assinou com o Flamengo (que possui um parque aquático no mínimo vergonhoso, para ser simpático com o clube) deixando todos com a impressão de que ele queria lucrar, e não mais ganhar. Seu doping encoberto pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos apenas deixou sua situação ainda mais caricata - o episódio é narrado com maestria por Lúcio de Castro aqui
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Mas não é apenas Cielo que está nesse grupo. Maurren Maggi assinou com o São Paulo FC e viu seu desempenho ruir. Toda a delegação de ginástica olímpica (com a exceção lógica de Arthur Zanetti, que não tem tantos vínculos com a confederação da modalide) passou vergonho, sendo que possui um CT de alto rendimento em Curitiba. Fabiana Murer é um caso a ser estudado por psicanalistas, pois ser atrapalhada pelo vento é algo que eu jamais imaginei ver em uma edição de Jogos Olímpicos - e olha que ela adora fugir de suas responsabilidades em competições. Também vi erros da dupla Robert Scheidt e Bruno prada no iatismo, no vôlei masculino e no futebol feminino, mas tais erros são do esporte, e não de política esportiva. 
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Último ponto, e também o mais importante: falei até aqui de atletas de alto padrão, conhecidos mundialmente. Mas a função do esporte é, antes de mais nada, proporcionar uma vida melhor a seus praticantes, principalmente os jovens. Como será que o esporte olímpico brasileiro, nessa situação deplorável na qual se encontra, ajuda nossas crianças a sair da marginalidade e do sedentarismo ? Antes de formarmos grandes atletas, precisamos formar grandes cidadãos - e acho que todos sabem a importância que o esporte tem nesse desenvolvimento civil. Enquanto nosso esporte vai pelo ralo, vemos milhares de pessoas marginalizadas por todos os cantos, que poderiam receber incentivos governamentais em uma troca benéfica para todos: o governo financia e custeia treinamentos enquanto o futuro atleta treina e ajuda o país não só em Olimpíadas, mas também servindo de exemplo para todo o país se orgulhar. 
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Fica a lição para todos: sociedade, políticos e atletas. Mais do que obter um bom desempenho nas Olimpíadas do Rio, devemos olhar com muito cuidado para ainda mais além, com o legado eterno que qualquer competição de grande porte (não só o evento, mas também seus resultados práticos) deve deixar. Enquanto tivermos esse olhar simplista, superficial e horrendo que temos hoje, ficaremos átras de Hungria, Cazaquistão, Irã e Coreia do Norte em Olimpíadas, e átras de países bem mais sem tradição esportivo no quesito inclusão na sociedade por meio do esporte. 
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Mas, quem liga pra isso, não é mesmo ? O importante é saber se o Mano vai ser o técnico da seleção na Copa. 
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