Vendo a festa dos torcedores corinthianos pela conquista da Libertadores, eu fiquei triste. Não porque eu sou anti, porque não achei merecido ou por qualquer uma dessas babaquices que surgem na internet. Mas porque o meu time não é campeão de nada há muito tempo.
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É um sentimento estranho esse de ser torcedor tão louco de um time e não ter problema em falar que não odeia nenhum dos grandes rivais - e, modéstia à parte, eu sou um dos poucos desses. Mas eu me entristeci ao relembrar todas as conquistas que o São Paulo já teve (e todos os consequentes sorrisos que ele já me tirou) e que tornaram-se escassas já a alguns anos.
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Lembro do primeiro título que acompanhei: o Paulistão de 98. Na primeira aprtida, o Corinthians, com um time bem inferior, venceu por 2x1. A diretoria viu que precisava mexer com os brios do time e trouxe o comandante do campeonato mundial, Raí, que estava no Pario Saint-Germain. Ele chegou na sexta-feira, treinou sábado e... jogaria domingo ? Seria arriscado, e da chegada dele no aeroporto até a hora da final ficou o mistério. Ele entrou e, mais do que isso, fez o primeiro gol da partida. O que Galvão Bueno fala na narração do lance fala por mim - como esquecer aquele gol de falta na final do Mundial ? Ele caprichou.
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Ainda teriam dois gols de França e uma partida espetacular de Denílson. O título foi muito comemorado, e lembro de ver o meu pai, muitas vezes contido em suas emoções, pegar o meu lençol do São Paulo e colocá-lo para fora da janela ao ver o Globocop passando perto de casa. Eu tinha 6 anos na época e pouco via futebol (ou não lembro muito bem), mas dali em diante o tricolor ganhava um torcedor fanático.
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O Paulistão de 2000 teve gol de Rogério Ceni (que nem era tão ídolo da torcida assim naquela época e que marcou o primeiro gol de goleiro numa final na história do futebol) e do então Marcelinho, que levantou a camisa (ah, que saudade de quando os jogadores podiam levantar a camisa !) e mostrou a inscrição "100% Paraíba", que leva até hoje. Lembro também do gol de França logo no começo da primeira final contra o Santos, e também de ver Raí comemorando como um menino nas tribunas do Morumbi ao levantar aquele trofeu maravilhoso, o Palácio dos Bandeirantes em bronze puro - que fim teve aquele trofeu, aliás ? Disparadamente o mais bonito que já vi na vida. E o São Paulo fechava aquela década como o maior campeão estadual da década.
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Lembro também do primeiro e único Rio-São Paulo da nossa história. Aquele, que pra alguns só é lembrado (e por muitos nem lembrado é) como a estreia do Kaká foi marcante para mim. Foi o jogo no qual 80 mil pessoas saudaram o santista Mário Covas e não se abateram com o gol do Botafogo. Viria a virada, e a virada veio nos pés dum jogador que não precisa provar muito pra ninguém hoje em dia. Lembro também que, dias antes da final, eu tinha ido á praia e tinha ficado com uma insolação fortíssima. Comemorei o título com o corpo inteiro queimado de Sol, mas comemorei muito feliz.
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Outro título injustiçado foi o SuperPaulistão de 2002. Muita gente não liga por ter vindo contra o Ituano e ter vindo após (mais) uma traumática eliminação para o Corinthians no Rio-São Paulo. Lembro que foi o primeiro título do São Paulo com os meus pais separados, e eu comemorei esse na casa do meu pai, com quem eu aprendi a ser tricolor. Lembro que meu tio falava de um quadro com algumas figuras redondas e dizia que ele "representava o efeito dos MM's no corpo humano"... associo aquele título à felicidade. Todos, na realidade, mas reafirmo isso falando desse título por ser pouco valorizado - pela torcida, é claro; não por mim.
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Alguns anos de seca e veio 2005. Falar de 2005 prum são-paulino é trazer várias lembranças e comemorações, por motivos óbvios. No jogo do título do Paulistão, novamente contra o Santos, a comemoração apenas veio, já que com uma campanha tão incrível como aquela, ela viria de qualquer forma.
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Mas a primeira Libertadores ninguém esquece. O jogo de ida foi ruim, e o de Morumbi teve um gol no começo do jogo do predestinado Amoroso e teve pênalti perdido pelo Atlético Paranaense no finzinho da primeira etapa... quando Fabrício perdeu aquele pênalti eu senti que o título viria. O chocolae no segundo tempo só comprovou minha tese - na realidade, meu sentimento. Lembro de chegar em casa e pular em cima da minha mãe com toda a vontade do mundo e só conseguindo dizer "É campeão mãe, é campeão da Libertadores ! É tri, é tri !". Ela entendeu toda a minha alegria e não reclamou, apenas me abraçou e sorriu, feliz.
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E o Mundial ? Mais um título que vi na casa do meu pai. Quando Aloísio fez aquele lançamento e Mineiro marcou o gol, comemorei colocando o punho na altura da cabeça. Lembro daquela defesa literalmente no ãngulo de Rogério Ceni na falta de Gerrard com um olhar de admiração que poucas vezes fiz na vida. Mas o que marcou aquele título foi o último gol (justamente) anulado pela arbitragem do Liverpool, no qual eu fiquei tão extasiado que joguei uma corneta que segurava no chão, e que quase atingiu o olho da minha irmã. Meu pai ficou maluco e gritou comigo: "Você tá louco ? Vai deixar sua irmã cega, porra !". Ele estava tão nervoso quanto eu... após o apito final, eu ainda estava sem graça e ele estranhou. Ele mesmo me animou ao me falar: "Comemora cara, você é tricampeão do mundo !"
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Cada brasileiro do tricampeonato de fato tem sua história. O primeiro, ganho novamente contra o Atlético Paranaense, veio meio tímido, com um empate que ainda era sobra do campeão mundial do ano anterior - tímido, mas não menos comemorado, sobretudo com meu pai. O segundo, com goleada de 4x0 sobre o América de Natal, veio com muita tranquilidade: certamente o São Paulo mais equilibrado que eu já vi em Brasileirões. O último e mais emocionante foi comemorado sozinho, aqui em casa. O gol de Borges teve comemoração gravada e muito gritada. O Brasileirão de 2006 foi consequência de um time mágico, o de 2007 foi o início de uma nova era, e 2008 foi a raça que sobrava.
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Raça que sobrava e que hoje falta, bem como os títulos que cessaram. Tantas lembranças, tantos títulos dos rivais sendo comemorados e eu aqui... triste, querendo que fosse comigo. Até quando ?