Como foram as partidas, quem foi campeão e o que aconteceu acerca do maior torneio de futebol da Europa todo mundo já sabe. Mas a análise criteriosa de quem ama futebol com todas as suas forças e tenta sempre pensar friamente (mesmo tendo, evidentemente, algum tipo de torcida) talvez vocês ainda não saibam. Ela encontra-se aqui abaixo.
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PORTUGAL X ESPANHA
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~ Por muito pouco o toque de bola espanhol não parou no maior rival (ao menos geográfico) nacional. Sem muitas ladainhas e segredos, a seleção das Quintas avançou todas as suas linhas de marcação e sufocou os passes espanhóis. A Fúria começou a dar chutões pra frente e, pasmem, errar toques ! Paulo Bento foi, talvez, o primeiro técnico a conseguir suster o tão temido jeito de jogar espanhol. Ninguém fala justamente por ser Paulo Bento, mas se fosse José Mourinho ou Joachim Low falaríamos aqui que a Espanha estaria acabada e que encontramos o maior técnico da história do futebol.
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~ Também não falamos muito dos méritos de Paulo Bento porque, obviamente, não foi ele quem foi pra final. A pancada de Bruno Alves no travessão tirou Portugal da Euro. Mesmo jogando melhor nos primeiros 90 minutos de jogo, faltou tranquilidade aos tugas a partir da prorrogação, dominada pelos espanhóis. Faltou experiência aos portugueses, e, por que não, faltou camisa.
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~ O que aconteceu na semifinal, inclusive, é algo raro de se ver no futebol de hoje em dia: os 90 minutos regulamentares foram dominados por Portugal, e na prorrogação a Espanha mudou a sua sorte. Cada vez mais vemos prorrogações que são lastimáveis e sem emoção, sendo apenas um trampolim tedioso para a disputa por pênaltis, onde tudo se decide. Ótimo ver uma prorrogação tão disputada.
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~ Embora a Espanha tenha se saído melhor na prorrogação, podemos culpar minimamente Cristiano Ronaldo pela eliminação portuguesa. Ele perdeu ao menos duas boas chances de marcar - sendo uma claríssima, no fim do segundo tempo do tempo extra. Entre os destaques individuais, aparecem um surpreendente João Moutinho, que fez uma partida primorosa, e Rui Patrício, que operou, no mínimo, dois milagres pelo lado dos portugueses.
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~ Na Espanha, como quase sempre, o destaque foi Casillas. Além de fazer boas defesas, passou segurança a um sistema defensivo que via-se em apuros pela primeira vez em muito tempo - era nítido o nervosismo de Piqué ao enfrentar Cristiano Ronaldo no primeiro tempo. Alba, outro excelente coadjuvante da seleção, foi bem. E, para surpresa de todos, os grandes destaques de linha da Fúria foram apenas corretos - a saber: Iniesta, Xavi Hernandez, David Silva e Cesc Fábregas. Xabi Alonso teve algum destaque, mas tinha feito partidas melhores.
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ITÁLIA X ALEMANHA
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~ Se fosse apenas pela fase dos times, talvez alemães e italianos nem precisassem entrar em campo. A Alemanha era a úncia seleção com 100% de aproveitamento, enquanto a Itália teve que puxar alguns galões - e contar com a eficiência espanhola ante a Croácia. A Azzurra vinha ainda de um jogo chatíssimo contra uma França que, tal qual na Copa de 2010, esfacelou-se sozinha graças a problemas internos.
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~ Mas claro que futebol não é só isso. Aliás, em jogos eliminatórios, muitas vezes o que acontece dentro de campo é o que menos conta. Há todo um fator psicológico fora das quatro linhas que quase sempre é decisivo. Pois bem: em seis jogos em Copas do Mundo ou EuroCopas, a Alemanha nunca venceu a Itália - quatro empates e duas vitórias azuis. Inclui-se aí uma vitória latina no que é conhecido como o maior jogo de Copa do Mundo de todos os tempos, a semifinal da edição de 1970.
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~ Em campo, nem parecia a Nationalelf que todos se acostumaram a ver. Parecia mais a histórica Alemanha, de cintura-dura e de pouca movimentação, aliada à falta de eficiência - algo que não é característico nem do futebol nem do povo tedesco.
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~ Já do lado italiano, a superação foi o ponto forte. Em outra grande partida de De Rossi e Pirlo, em uma atuação destacada de Montolivo e, sobretudo, de Balotelli. O falastrão atacante, que muito falou e pouco fez ao longo competição (mesmo anotando um golaço de voleio contra a Irlanda), jogou, disparadamente, a melhor partida de sua vida. Com dois gols (sendo o segundo uma pintura), ele colocou a Itália na final da Euro.
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~ Perguntado sobre o porquê não comemorava seus gols, Balotelli mostrou a marra de sempre ao responder. "Não comemoro porque é o meu trabalho. Você já viu entregador de pizza comemorando entrega ?", retrucou. Foi, sem dúvida, a frase da Euro. Ele também mostrou-se marrento ao comemorar o segundo gol italiano, tirar a camisa e mostrar-se forte. Por fim, disse que faria quatro gols na final e dedicaria a sua mãe. Todos sabem que sou fã de Balotelli (pelo seu jeito bem peculiar de ser, nem tanto pelo que ele faz em campo), e tudo isso apenas comprova minha admiração por ele.
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~ A Alemanha até tentou reagir, mas era tarde demais. Descontou sim, sufocou sim, mas foi muito pouco para quem vinha tão bem e de quem esperava-se tanto. Novamente os alemães pipocaram quando era necessário ter culhão.
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ESPANHA X ITÁLIA
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~ O jeito tedioso da Espanha jogar começava a irritar o mundo - o reflexo cabal disso são as vaias que a Fúria recebia enquanto tocava a bola, como sempre faz. De outro lado, a Itália vinha de uma vitória fulgurante e engrandecedora. Junte a isso uma seleção que, historicamente, cresce em meio a crises futebolísticas - como a que aconteceu na temporada passada, envolvendo esquemas de manipulações de jogos. Mais que uma improvável final, a chance de termos uma improvável campeã vestida de azul estava mais firme do que nunca.
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~ Todas essas suposições foram por terra quando o jogo começou. Pela primeira na EuroCopa inteira (ou segunda, se considerarmos a fragilíssima Irlanda como um time de futebol - isso era bem difícil por vezes) a Espanha tocou e foi incisiva, foi paciente mas chutava a bola, tinha calma mas assustava. Os dois gols logo de cara foram a prova viva disso, desmantelando uma Itália que permanecia de pé muito mais por orgulho do que por sentir que tinha chances.
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~ A pá de cal na Itália veio após a entrada de Thiago Motta no lugar de Montolivo e, dois minutos depois, contundiu-se. Sem poder mais fazer alterações, Cesare Prandelli viu seu time perder por dois gols de diferença e ficar com a menos em campo. Fernando Torres e Mata selaram o bicampeonato de fato e o tricampeonato de direito espanhol da Eurocopa - igualando o número total de títulos da Alemanha e tornando-se a primeira seleção a vencer a competição duas vezes de maneira consecutiva.
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~ Alguns fatos interessantes acerca desse resultado tão incomum: essa é a primeira vez desde a final da Copa de 1970 que a Itália toma 4 gols em partidas válidas por torneios que valem algo. Foi também a primeira vitória espanhola sobre os italianos (antes disso, três vitórias da Azzurra e quatro empates) e também foi o resultado mais elástico da história das finais da Euro.
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PÓS-COMPETIÇÃO
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~ Chega a ser risível o prêmio de melhor jogador da Euro para Iniesta. Não gosto de usar argumentos rasos como "ele não fez gol e nem sequer deu assistência" - o que não deixa de ser verdade. Também não quero, muito longe disso, falar que Iniesta é ruim - muito pelo contrário, sou fã do futebol e sobretudo do caráter de Andrés. Mas, para mim, é nítido que ele só venceu porque a Espanha foi campeã, e porque precisavam de algum jogador de nome para entregar esse prêmio para a Fúria. Na Espanha, mereciam muito mais Casillas e Xabi Alonso, e até mesmo Alba teve uma competição melhor que o culé.
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~ Sem pestanejar, cravo que o melhor jogador da Euro foi Pirlo. Com muita folga para seus rivais. Também destaco atuações de Hummels, Cristiano Ronaldo, Khedira, João Moutinho, De Rossi, Gerrard, Fábio Coentrão, Pepe, Mandzukic, Dzagoev e Selassie. Devo ter esquecido alguns, mas...
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MINHA SELEÇÃO
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Casillas; Selassie, Hummels, Pepe, Alba; Gerrard, Pirlo e João Moutinho; Cristiano Ronaldo, Mandzukic e Dzagoev.