Ouço muito falar, por parte de quem apoia o governo federal, de que "a oposição vai tentar um terceiro turno de alguma maneira". Devo concordar que todas as tentativas de não legitimar a eleição são ridículas, é claro. Mas a própria presidente precisa se ajudar - e tomar alguma atitude que não tenha como pano de fundo apenas a politicagem, mas sim o bem comum.
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Para começar, o mais óbvio de tudo: Dilma precisa tomar sérias atitudes contra qualquer envolvido nos escândalos da Petrobas e na Operação Lava-Jato. Demitir por justa causa qualquer pessoa que trabalhe na estatal é o mínimo - que não parece que vai acontecer, porém. Desviar dinheiro de qualquer empresa privada causa não só a demissão como sanções criminais. Por que em uma empresa estatal, que deveria ter punições ainda maiores, é justamente o que passa batido?
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Temos que concordar, porém, que essas punições teriam que vir de alguma entidade da Justiça - o Superior Tribunal Federal, por exemplo. O Judiciário brasileiro é demorado demais, isso é ponto pacífico.
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O que me faz lembrar que várias reformas (entre elas a judiciária) precisam ser feitas, e com algumas delas a presidente tinha se comprometido. Tributária, política, federativa, urbana... precisamos cobrar - e pedir mais se acharmos necessário, é claro.
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Há, também, algumas nomeações no novo ministério que, se não foram surpreendentes, foram decepcionantes.
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Joaquim Levy na Fazenda foi uma esfinge. Aliás, continua sendo. O nome do economista me parece colocado mais para acalmar o mercado (que reagiu mal à derrota de Aécio Neves no segundo turno) do que por serviços prestados. Por mais que tenha passagens pelo Governo Lula, ocupava um cargo de pouco renome para a população.
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Sim, ele passou pelo Governo Lula. Era Secretário do Tesouro Nacional. O nome é importante, claro, mas você sabe quem é Arno Hugo Augustin Filho? É ele quem ocupa essa cadeira atualmente. Se você não o conhece, repense a respeito.
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Levy era diretor-superintendente do Bradesco, o que já explica porque a Bolsa disparou com sua nomeação - embora depois tenha voltado a cair por conta da Operação Lava Jato, citada anteriormente. Mas é impossível não compará-lo com Guido Mantega, seu antecessor. Levy deve ser mais competente que Mantega (até porque isso não deve ser muito difícil para quem é da área), mas o que chama a atenção é a discrepância entre os estilos de cada um deles. Enquanto Mantega tinha uma orientação claramente voltada para o social, Levy pensa no mercado.
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Mais: muito se dizia que Mantega era apenas um capacho de Dilma, que estava na cadeira apenas porque ela não poderia assumir a função. Sem uma pessoa que se alinhe com a presidente, será que Levy terá a autonomia necessária para trabalhar? Será que seus interesses não se chocam com o que o atual governo pensa quanto a e quanto à economia?
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Pior ainda é a nomeação de Katia Abreu para ministra da Agricultura. Líder da bancada ruralista no Congresso (que infelizmente conta com quase 200 membros), ela não nega sua defesa da grande propriedade agropecuária. Sabe tudo aquilo que você aprendeu sobre o começo da colonização no Brasil, no qual os portugueses tinham grandes terras e faziam a monocultura por meio de plantation? Talvez você se lembre que o seu professor dizia o quanto isso era atrasado. Pois bem, é isso que a ministra da Agricultura do Brasil a partir de 2015 defende.
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Qualquer avanço na Agricultura, áreas tão importante para o Brasil, vai ser aniquilada pela raiz enquanto ela estiver no ministério. O desmatamento para a expansão da fronteira agrícola só tende a aumentar - afinal, quem liga para a questão climática, né? A falta d'água em São Paulo não existe, como dizem os que seguem Geraldo Alckmin. Reforma Agrária vai seguir sendo apenas um sonho tão distante - isso quando não virar piada pelos lados de Brasília.
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Dilma precisa se encontrar. Se a Economia foi seu principal ponto fraco no primeiro mandato, ela fez certo em chamar alguém que pense diferente - resta saber se ele poderá fazer o necessário. Entretanto, a corrupção e o nosso setor primário precisam de fiscalização - e não precisavam desses nomes.