sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O país das estatais que não funcionam

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Desde que eu me entendo por gente eu sou simpático à ideia de ter algumas empresas sob comando e intervenção direta do governo. Não todas, mas algumas em setores estratégicos: áreas que não interessam ao mercado privado seja lá por qual motivo; setores em que seja interessante que o produto final (em alguns casos a própria matéria-prima) fique no país; filões que comandem áreas que devem ficar fora de disputas quaisquer por tratarem de assuntos que estão acima de qualquer intriga - educação, saúde, transporte. 
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Isso, é claro, no meu utópico país - aliás, é interessante ver como o que é utópico para muita gente tem alguma ligação com ideias de esquerda, mas enfim. Eu mesmo não sou um esquerdista, socialista, comunista ou coisas do gênero. Eu só tenho algumas opiniões pessoais. A única certeza é que, conversando e deixando tudo claro, qualquer assunto pode ser resolvido. 
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E é aí, primariamente falando, que eu percebo que o Brasil não nasceu para ter empresas estatais decentes. Conversas entre governo e empresas de sua alçada até existem, mas costumam ser porcas e/ou insuficientes. Sobre essa relação ser clara... bom, a privataria e os petrolão falam por mim - e também provam que essa triste situação brasileira independe de partido. 
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Chega a ser espantoso como uma empresa brasileira se dá muito melhor quando sai do guarda-chuva do governo. A Vale do Rio Doce e a Embraer são alguns exemplos. E acho que não preciso citar o quanto a telefonia melhorou após a venda da Telebrás
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Eu sigo achando que aquele meu sonho de criança não é algo tão distante. Acho que o caso brasileiro é uma clássica (e histórica) situação de incompetência. Talvez mais: incompetência, má fé e desleixo. 
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Mesmo no meu tal sonho as empresas estatais gerariam lucros líquidos para o governo - não, eu não pensava em lucros líquidos com seis anos de idade, elas só tinham que ganhar mais dinheiro que gastar. Algo pueril, como se vê. Mas complexo demais para todos os governos brasileiros. 
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Uma empresa tem que crescer, buscar se expandir, querer ser a melhor em seu setor. Uma empresa governamental, então, tem que ter isso em seu DNA. E por muito tempo não foi assim: parece que as estatais eram imensos cabides de emprego, com pessoas que nada produziam e que estavam lá surrupiando o dinheiro de todos nós. Servia também para mães corujas suspirarem ainda mais pelos filhos, dizendo aos quatro ventos que ele era servidor público - acredite, isso era sinônimo de ser um bom partido até bem pouco tempo atrás. (Ok, talvez nem tão pouco tempo atrás, já que a expressão ~bom partido~ não é exatamente nova)
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Se era motivo de orgulho, era muito mais porque em muitos setores o Brasil tinha uma concorrência ínfima, difícil até mesmo de considerar - isso quando tinha. Quando as privatizações começaram, logo vimos o tempo que perdemos mantendo o sistema antigo por tanto tempo. 
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Em tempo: não faço aqui a defesa das privatizações ao jeito brasileiro, uma daquelas vergonhas que só os políticos brasileiros são capazes de proporcionar. Mas faço a defesa das privatizações das empresas brasileiras, que passaram a gerar muito mais riqueza para o próprio país que antes - de maneiras diferentes, claro. 
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Cabe a mim apenas invejar as estatais que são geridas do jeito que eu sonhava quando criança. Lá fora o modelo dá certo, como você pode ver aqui. Quatro das dez maiores empresas da Terra são estatais. As dez maiores empresas ligadas ao petróleo e ao gás são estatais, também. Parece que só aqui no Brasil nós não aprendemos a lidar com elas. 
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Como grande fã do modelo escandinavo de governo, também gosto de frisar que o sistema educacional finlandês (o melhor do mundo na opinião de boa parte dos analistas que leio) é inteiro estatal e a maior empresa do país com o maior IDH do mundo é estatal (a norueguesa Statoil), pra ficar em dois exemplos bem básicos. E ninguém diz que eles são comunistas/socialistas, eles apenas tem um governo que trata as empresas de um jeito eficiente e que busca o lucro, sabendo que é isso que vai ajudar o país. Algo que não aprendemos em 515 anos de história.
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Aquele meu sonho de criança fica a cada dia mais distante. Mas, no Brasil, é bom que ele seja enterrado de uma vez por todas. 
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