Você deve conhecer a crise de 2008 muito mais pela fama que ela criou mundo afora do que pelo impacto dela na economia brasileira. Mas saiba que ela foi devastadora. Foram momentos difíceis ao redor da Terra, mas o mundo já está praticamente recuperado - tem um ou outro país ou região que fogem à regra, como quase sempre acontece. O mais importante é que o mundo aprendeu muito com a recessão recente, assim como aprendeu demais após a Quinta-Feira Negra.
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Em 2001, o Brasil viveu o famoso apagão por conta da baixa quantidade de água nas hidrelétricas nacionais. Após um período de muita economia, o país voltou à normalidade no aspecto de geração de energia. O que aprendemos com aquele triste período? Se pensarmos que de 2001 até 2013 o consumo de energia cresceu 51,6% (de acordo com o Ministério das Minas e Energia) e que de 2013 para 2014 o aumento foi de 3,6%, dá para deduzir que pouco aprendemos - se é que aprendemos algo. O desperdício segue imenso.
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Sei que a partir de 2002 (ou seja, um ano após o apagão) o Brasil começou a crescer demais economicamente, mas longe de acompanhar o ritmo de crescimento do consumo de energia. A conta simplesmente não fecha.
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Eis que, catorze anos depois, enfrentamos duas crises ao mesmo tempo - e, novamente, parece que insistimos eu não tirar nenhuma lição delas. Agora não há mais crise de energia (de maneira sistêmica, ao menos e por enquanto), mas sim de combustíveis e ética. (Não que a crise ética seja de hoje, mas ela está em voga novamente - se é que um dia ela saiu da pauta).
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Como o seu bolso já deve ter acusado, a gasolina ficou mais cara no país inteiro nos últimos dias. Se você teve algum contato básico com redes sociais na última semana deve ter visto muita gente contando casos diversos e reclamando do preço da gasolina.
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O mais engraçado é que quem faz essas reclamações não deixa de encher o tanque. Paga o que tiver que pagar, mas sem o carro não pode viver. Ônibus? Trem? Metrô? Bicicleta? Trólebus? Ora, faça-me o favor! O ilustríssimo classe média não abandona seu automóvel, custe o que custar. Entre a economia e o conforto (e o status), prefere os dois últimos.
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É simples: você pode colaborar bastante para abaixar a gasolina. Basta largar o carro e passar a andar de transporte público. Com menos procura, o preço vai cair. É a Lei da Oferta e da Procura ao nosso favor. Todo mundo agradece.
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Não tenha dúvida que os ônibus, os trens, os metrôs e afins estão lotados, infelizmente. Mas qual foi a última vez que você não pegou trânsito ao ir trabalhar? Ao pesar as duas situações, os motoristas preferem olhar para o próprio umbigo do que para o restante da sociedade - sem ver que o umbigo dele também pertente à sociedade. Isso para não entrar nos méritos ambientais, já que um carro polui muito mais que qualquer condução pública.
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Paralelamente a isso, vemos um tristíssimo episódio que devasta a Petrobras, outrora orgulho brasileiro. Tal qual tantos outros escândalos, o problema é o mesmo: corrupção.
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Não vou me lembrar onde vi a citação, mas concordo muito com ela: corrupção tem hierarquia. Nessa altura da vida, não podemos mais ser tão pueris para acreditar que guardar lugar na fila é algo que possa ser comparado a desviar bilhões de reais públicos para contas particulares. Isso só acontece na mente de mães carolas em explicações bem boçais, rasas e hipócritas para seus filhos - que já recebem uma noção ética errada desde o começo de sua educação, como podem ver.
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Guardar lugar na fila é errado, e é algo que muitos fazem. Mas e se alguém oferecesse um carro, uma casa ou uma boa quantia em dinheiro para ganhar seu voto, você se venderia? Se nós não temos acesso aos bilhões envolvidos no petrolão, podemos trazer a situação para valores e situações bem mais próximas de nós - como eu fiz acima.
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É fácil se revoltar com o que vemos todos os dias nos (radio/tele)jornais. É revoltante mesmo. Mas, se você faz o mesmo que eles (dadas as devidas proporções), você mesmo é um deles e esta atrapalhando o bom andamento do país.
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Aliás, o pior pensamento que pode existir em situação de conflitos éticos tão fortes como o que vivemos agora é o de que "se eles podem, eu também posso". Não, ninguém pode. E, se a impunidade te deixa livre, você ganha o asco de boa parte das pessoas, que passam a te olhar de canto de olho e a perder a confiança em você.
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Passe a ver a notícia com outros olhos. Como tudo na vida, elas também trazem aprendizados. E, nesse caso, aprender é mudar o próprio comportamento.