Sempre ouvi atletas e comentaristas da imprensa dizerem que o "torcedor paga o ingresso e pode cobrar o quanto quiser, desde que não aja com violência". Isso em qualquer esporte ou qualquer lugar. Eis que, no UFC Rio III, todos rasgam a antiga cartilha que parece doutrinar o Jornalismo e resolvem criticar veementemente a atitude que veio da platéia.
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Em alto e bom som, a torcida mandou Galvão Bueno para todos os lugadores possíveis e imagináveis, além de xinga-lo com vigor. A Globo, para disfarçar a vergonha, diminuía o som ambiente para aumentar quando os gritos parassem. Mas, com o volume alto novamente, os gritos voltavam.
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Certamente, as lutas transmitidas ao vivo (entre Rodrigo Minotauro e Dave Herman e Anderson Silva contra Stephan Bonnar) tiveram, no mínimo, um decréscimo de interesse perto da reação popular no UFC Rio 3. O público estaria, então, depreciando o evento pelo qual pagou ?
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Já ouvi coisas de todos os gêneros. Que sim, que não, que não é bem assim. Acho, particularmente, que algo dessa magnitude demorou pra acontecer. Galvão sempre foi odiado e tido como chato por muitos, era óbvio que em alguma aparição pública e ao vivo dele algo desse naipe ia acontecer - na realidade já aconteceu muitas vezes, a mais célebre delas (antes do acontecido no UFC, é claro) nas oitavas-de-final da Copa Libertadores da América de 2007, no jogo entre Grêmio e São Paulo em Porto Alegre.
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Como o narrador não é uma figura que determina os rumos do país, taxou-se o público de esnobe, falou-se que eles não tinham o que fazer. Mas... e se as mesmas pessoas, na mesma ocasião, fizesse algo semelhante com um Presidente da República ou chefe do Executivo de algum canto ? Pra ficar em um exemplo recente: no El Clásico, disputado entre Barcelona e Real Madrid, a torcida catalã começou a gritar enlouquecidamente no Camp Nou pela independência da Catalunha. O ato nada mais é que algo idêntico ao que ocorreu na Cidade Maravilhosa com motivações distintas.
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O motivo de tamanho protesto e burburinho, realmente, pode ser blasé. Mas ao menos nos mexemos para combater alguém com quem não concordamos. Devemos, agora, nos mexer da mesma maneira para assuntos mais sérios - política, educação e ética me parecem bons temas.