sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A entrevista da estudante que quer refundar o ARENA

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Vejo muito barulho acerca da informação de que a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) tem tudo para ser refundada. O partido, que dava sustentação para a ditadura militar fazer o que bem entendesse no Brasil, ficou marcado por ser um antro conservador, muito ligado à ditadura. A estudante Cibele Baginski, que cursa Direito na Universidade de Caxias do Sul (UCS), deu o primeiro passo para a refundação da legenda ao publicar o estatuto da sigla no Diário Oficial da União
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Ela concedeu uma entrevista para o Estadão na qual fala um pouco sobre quais os ideais da nova ARENA. Para explicar a você, leitor: a pergunta feita pelo jornal está em negrito; a resposta da estudante está em itálico; e o meu comentário vem sem gracinhas na fonte.
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O estatuto da nova Arena defende a "abolição de quaisquer sistemas de cotas raciais, de gênero, ou 'condições especiais'", mas você é bolsista do ProUni, um programa do governo federal que tem como objetivo dar acesso à universidade à população de baixa renda. Você considera isso uma contradição?
Não vejo contradição, porque o ProUni é pago com os impostos meus e de todo mundo. E eu entrei (na universidade) porque a minha nota no Enem foi boa. E o Enem, graças a Deus, ainda não tem cota separando por opção sexual, por cor, ou por qualquer outra coisa.
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Me pergunto se ela teria acesso a uma faculdade se o governo que ela propõe, sem cotas, governasse. É fácil gozar com o pau dos outros, principalmente quando você se beneficia de programas governamentais e, do nada, resolve criticá-los. Me desculpe, mas isso, é sim, uma contradição. Todo mundo paga impostos e muitos mal tem água encanada para beber, imagina acesso a uma universidade. De alguma forma a estudante leva vantagem (se não no seu desempenho no vestibular, mas em sua maneira de poder bancar seu estudo) em relação a várias outras pessoas, sendo cotista ou não - e isso já configura a contradição dita por mim. 
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Mas por que o partido é contra as cotas?
Porque isso é tapar o sol com a peneira, ao invés de melhorar a educação básica para fazer com que as pessoas tenham capacidade de passar em um exame nacional, num vestibular, e ganhar a vaga porque merece, esse sistema acaba dando oportunidades para pessoas que não estão bem preparadas.
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Eu concordo com o que ela diz, mas existe um outro lado que ela não vê - ou não fala. Cotas no Brasil são uma boa solução sim, ao meu ver. Em um país muito rico e muito desigual, uma cota momentânea (e não eterna) é uma boa solução para uma maior democratização da educação nacional. Não é o ideal, mas é o que podemos fazer por ora. E, sinceramente, nossa situação é urgente demais para esperarmos investimentos estatais. Só acho que cotas raciais não são a melhor solução; creio que esse papel é das cotas sociais - mesmo que a população mais pobre do país seja majoritariamente negra
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Em outra entrevista, você disse que o Brasil ainda estaria na idade da pedra se não tivesse existido o regime militar. A Arena apoia o período da ditadura no Brasil?
Toda a história do Brasil reflete o que o País é hoje. Se não tivesse, lá em 1808, o Dom João VI criado a Imprensa Nacional, a gente não ia ter jornal neste País. Se Mario Andreazza, que era caxiense, não tivesse sido ministro (dos Transportes nos governos Costa e Silva e Médici) e feito estrada até onde na época nem se planejava fazer, hoje não ia ter como a gente usar um carro, a gente ia ter que andar de carroça.
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Sim, a ditadura modernizou o país. À custa de muita desigualdade e muita crueldade. A modernização viria duma forma ou de outra e não precisava vir como parte de um capítulo tão nefasto na história brasileira.
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Então você acredita que o Brasil estaria menos desenvolvido se não tivesse havido esse período?
Eu nem sei se nós teríamos eletricidade, nós estaríamos vivendo com um monte de apagão. Metade das estradas não existiriam. O período do regime militar foi uma época de estruturação do País.
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Essa resposta é tão reacionária e ilógica (vide meu comentário acima) que nem precisa de comentário para parecer patética.
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E como vocês avaliam as centenas de pessoas que morreram por causa do regime militar?
Toda a morte, todo o desaparecimento, qualquer acidente, tanto antigamente quanto hoje em dia, é uma coisa triste. Agora, é aquela coisa, naquela época morreram 100, 200, 300 pessoas, eu não sei, estou sem uma estatística aqui para poder dar um número exato, mas hoje em dia morrem 1.000 pessoas por dia e nós não estamos nem preocupados com elas.
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É bem verdade que os números da violência no país hoje são assustadores - os recentes ataques criminosos em São Paulo e Santa Catarina não me deixam mentir. Mas existe uma "pequena" diferença entre os crimes da ditadura e os de hoje em dia. Os ataques contemporâneos referem-se a imensas organizações criminosas e que agem fazendo o que o governo deveria fazer - é triste e sou contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), Comando Vermelho (CV), Terceiro Comando (TC), Amigos dos Amigos (ADA) e etc, mas se o Estado fizesse seu papel elas simplesmente não existiriam, nós temos que reconhecer isso. Boa parte dos demais crimes cometidos tem origem nas mazelas sociais existentes no Brasil hoje. Já os daquela época eram puramente políticos: se você não pensa como eu e se você contesta, de alguma (e qualquer) forma o que eu faço, você merece a morte. Não dá nem pra comparar os esses tipos de homicídios
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O que acha da criação da Comissão da Verdade?
Essa comissão tem um problema, porque ela está sendo uma comissão da meia verdade. Ela vai investigar apenas uma parte do que aconteceu. Ninguém vai investigar o sequestro do embaixador (americano Charles Burke Elbrick, em 1969) ninguém vai investigar outras coisas ali, como os ataques armados a bancos, porque realmente ninguém quer criar um constrangimento para a presidente da República, por exemplo. Pra mim, ou a Comissão da Verdade investiga tudo ou fecha as portas.
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Sou favorável ao que ela diz, devemos investigar tudo o que foi feito de errado em qualquer época - sobretudo ao longo da ditadura militar. Mas fico me perguntando se, apenas se investigasse o que os comunistas, socialistas e guerrilheiros da época, ela ficaria tão indignada e seria contra a Comissão da Verdade.
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Você acredita que não estão investigando os supostos crimes praticados por grupos de esquerda porque a presidente Dilma participou da luta contra a ditadura?
É tendencioso, e considerando a posição que a senhora Dilma está agora, não é adequado fazer isso, porque ela foi anistiada como outras pessoas foram anistiadas. Então, se for cutucar os dos dois lados, vai ter uma guerra de novo. O pessoal não se toca disso. Se tu estás cutucando a Lei da Anistia, daqui a pouco estás cutucando a Constituinte e daqui a pouco tu vais pegar a Constituição de 1988 e tacar fogo.
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Bem, ela está condenando a presidente Dilma por fazer o que ela faria se pudesse, ao que parece. Ridículo.
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Você acha que falta um partido de direita no Brasil?
A direita não está representada de forma alguma. Por isso que as pessoas olharam para a Arena com esperança. A maior parte dos partidos que está aí hoje em dia são de centro, centro-esquerda, alguns são de "esquerda volver". Os partidos de hoje se vendem por governabilidade, esse é o sistema que se criou. E tu tens nesses partidos o sério problema de sufocarem a juventude, sufocarem boas lideranças, pessoas que são sérias, porque são pessoas que querem fazer as coisas direito.
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Sou a favor do debate ideológico entre partidos de direita, de esquerda e de centro, liberais e conservadores e toda e qualquer segmentação política que surja. Que a direta (ou seria extrema direita, no caso ?), apenas, seja aberta a discussão e respeitosa com quem pensa diferentemente dela - algo que não acontecia nos anos de chumbo.
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Vocês defendem a privatização do sistema penitenciário, mas a estatização de outros serviços considerados fundamentais. Por quê?
Hoje em dia o sistema penitenciário não está funcionando na mão do Estado. Um cara que roubou um pote de margarina vai entrar lá dentro e sair de lá formando quadrilha. Infelizmente se criou um sistema vicioso. Então, o que nós defendemos é uma coisa chamada Estado necessário, o que funciona na mão estatal, ótimo, o que não funciona, ou privativa ou transforma numa autarquia de economia mista.
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Acho apenas que devemos fazer um esforço para salvar empresas estatais que não dão muito lucro. Devemos ver se há ingerência ou incompetência na diretoria dessas tais empresas antes de privatizá-las. E, claro, tomar todo o cuidado caso se opte pela privatização - ao contrário do que ocorreu durante o governo Fernando Henrique Cardoso/FHC.
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E por que vocês consideram o reaparelhamento das Forças Armadas importante?
Eu não sei até onde é verdade esses boatos que circulam pelo Facebook, mas eu me assustei quando li que o Exército brasileiro tem munição para um ou dois dias de guerra. Imagina que desastre que isso ia ser. E se acontece alguma coisa? A gente não pode prever. E se alguém vier enfiar uma bomba na bunda dos brasileiros, a gente vai fazer o quê, dançar um samba?
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O problema não é reaparelhar o nosso exército, o que é algo muito bom. O problema é dar poder (de fogo, político e econômico) para os militares, que mais de uma vez na história do Brasil usaram desse poder para fazer o que quisessem com o país, sem se importar para a população civil.
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A sua família apoia você na criação do partido?
A minha mãe não dá bola. O meu pai, no começo, ficou muito preocupado. Ficou com medo de acontecer algum atentado, alguma coisa comigo. Ele já começou a teorizar sobre a União Soviética. E aí eu disse: "Meu Deus pai, calma". Aí ele disse: "Calma nada, porque a queda do muro de Berlim foi só um golpe de marketing". Ele ainda é daqueles que acham que a União Soviética é perigosa, porque ele é dessa época da Guerra Fria.
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Triste ver que os jovens de outrora não se atualizam - e falo isso não só mediante esse testemunho, mas também falo da impressão que tenho da população brasileira em geral. Também é triste ver que a juventude hoje não está tão aberta assim a debates ideológicos.
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Mas você já sofreu alguma ameaça por estar tentando refundar a Arena?
Já e provavelmente vai acontecer alguma coisa. Eu estou com medo, porque existem pessoas neste País que não sabem cair no debate ideológico, como em outros lugares do mundo em que as pessoas dialogam mesmo tendo ideias diferentes. Há algumas pessoas que o nível de fanatismo é tão grande ou a falta de argumentos é tão grande que elas vão partir para a agressão verbal ou até mesmo física. Não é o que eu desejo. O que eu desejo é fazer o debate político, só isso.
A entrevista acaba bem, com boa dose de consciência. Mas será que ela não pretende alguma espécie de poder com a criação do partido ?
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