sexta-feira, 16 de novembro de 2012

COPArações

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As obras para a Copa do Mundo de Futebol de 2014, a ser realizada no Brasil, estão em andamento e tudo parece que vai ser finalizado a tempo. Sempre disse que, tal qual o Pan-Americano do Rio de Janeiro em 2007 (e, como prevejo, será como os Jogos Olímpicos da mesma cidade em 2016), o problema não seria o durante, mas sim o antes e o depois. Sempre tivemos sucesso com eventos, com elogios à organização de quem não viu de perto todo o processo que levou até ele e de quem nunca voltou para conferir o legado do que ocorreu. Esse sim é o maior problema.
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Não vou me ater aqui a outros detalhes como transportes públicos e serviços de hotelaria, já que a situação é risível. Basta ver a situação dos nossos aeroportos, que entram em colapso com uma facilidade incrível, dos sistemas de trens metropolitanos (os sobre trilhos dão pena, enquanto os subterrâneos tem ótima qualidade mas pouca extensão), nem a nossa malha rodoviária digna de pena. Aqui falarei apenas dos estádios.
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Para exemplificar meus pensamentos, começo comparando os valores dos estádios daqui com duas construções de estádios europeus recentes (inaugurados no meio de 2011) e de ligas conhecidas, de países com tradição no futebol. O Mainz 05, da Bundesliga alemã, inaugurou a CoFace Arena, com investimento total de R$140 milhões. Sim, um estádio inteiro, para 34 mil torcedores, por R$140 milhões. A Juventus, dos mais conhecidos clubes do planeta, também inaugurou recentemente o Juventus Stadium, na cidade de Turim/Torino. O estádio de 41 mil lugares custou R$281 milhões. 
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O que chama a atenção nesses empreendimentos não é só a liquidez e o baixo custo, quando comparamos com as obras brasileiras. A CoFace Arena conta com dispositivos que captam energia solar e abastecem residências vizinhas ao estádio, tornando-o sustentável. Já a arena da Vecchia Signora tem, entre outros bônus, um amplo shopping e um centro empresarial. Que estádio da Copa do Mundo brasileira vai ter algo perto disso ?
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Para situar o leitor do post, uma lista em ordem alfabética das cidades que são sedes da Copa, e, em ordem: nome do estádio, capacidade, custo total e custo por assento de cada um deles:
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Belo Horizonte - Mineirão - 69 mil pessoas - R$695 milhões - R$10 mil**
Brasília - Estádio Nacional - 71 mil pessoas - R$996,5 milhões - R$14 mil
Cuiabá - Arena Pantanal - 43 mil pessoas - R$519 milhões - R$12 mil
Curitiba - Arena da Baixada - 42 mil pessoas - R$220 milhões - R$5,24 mil*
Fortaleza - Castelão - 66 mil pessoas - R$518 milhões - R$7,84 mil**
Manaus - Arena Amazônia - 44 mil pessoas - R$532 milhões - R$12 mil
Natal - Arena das Dunas - 42 mil pessoas - R$400 milhões - R$9,52 mil
Porto Alegre - Beira-Rio - 60 mil pessoas - R$330 milhões - R$5,5 mil*
Recife - Arena Pernambuco - 46 mil pessoas - R$532 milhões - R$11,6 mil
Rio de Janeiro - Maracanã - 76 mil pessoas - R$932 milhões - R$12,3 mil**
Salvador* - Arena Fonte Nova - 50 mil pessoas - R$591 milhões - R$11,82 mil
São Paulo - Arena Corinthians - 65 mil pessoas - R$820 milhões - R$12,61 mil
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Em outra lista rápida, faço o mesmo com os estádios europeus citados no post:
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Mainz - CoFace Arena - 34 mil pessoas - R$134 milhões - R$4,12 mil
Turim - Juventus Arena - 41 mil pessoas - R$281 milhões - R$6,85mil
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Coloquei os estádios de Curitiba e de Porto Alegre com asterisco pois esses estádios já existem e estão sendo reformados em parcerias público-privadas entre os clubes donos dos mesmos (Atlético Paranaense e Internacional, respectivamente). Já os com dois asteriscos são estádios que também já existem mas são públicos, ou seja, estão sendo reformados com verbas que poderiam construir hospitais e escolas. Esses estádios marcados deveriam ter um custo muito inferior, já que já estão erguidos. E o Maracanã encontra-se em situação ainda mais delicada, já que foi reformado para o Pan-Americano de 2007 e, menos de uma década depois, passa por outra imensa revitalização. Será que o carioca acha que o estádio era tão ruim assim ? 
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A diferença é nítida. Os estádios brasileiros são muito mais caros que os europeus, sem contar que os materiais do Velho Mundo são mais caros, a mão-de-obra idem e há um retorno muito maior para a sociedade. Por que nossos estádios são tão mais caros, sendo assim ? 
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Esse post seria publicado no final do ano passado, e, para postá-lo hoje, fiz o reajuste de todos os custos orçados. Muitos aumentaram, e nenhum teve um decréscimo de investimento. E, o pior: muitos ainda podem ter novos reajustes.
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Isso sem contar na possibilidade de um vexatório RDC (Regime Diferenciado de Contratações Públicas), no qual o governo não precisa mostrar custos de nada relacionado à Copa, não prestando conta nenhuma com a sociedade.
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E depois ? O que fazer com um estádio de futebol caro e imenso em Brasília, que não tem um clube sequer nem na série B ? E com o caríssimo estádio de Manaus, que não tem um time nem na série C ? Fazer show de várias espécies bancariam em quantos longos anos a construção desses elefantes brancos que poderiam ser muito melhor investidos ? 
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Também não cito aqui as greves que ocorreram em algumas cidades graças às parcas condições de trabalho (chegaram a oferecer comida estragada nas obras do Maracanã), as licitações nefastas, a guerra política para ver quais seriam as cidades-sede (deixaram Belém, Goiânia e Florianópolis de fora por lobby político a favor de Manaus, Cuiabá e Natal, respectivamente), a guerra interna de alguns clubes para ver qual estádio seria escolhido (a lamentável briga entre o São Paulo Futebol Clube e CBF, que tirou o Morumbi da Copa e deu um estádio feito, à priori, com verbas públicas de graça para o Corinthians, a disputa entre o Beira-Rio e a futura Grêmio Arena)... 
Vai ser uma grande Copa, no país do futebol e com uma festa inesquecível para toda uma geração. Mas deveria ser também a oportunidade de ouro para o salto definitivo de qualidade do país. Deveria, mas dificilmente será.
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