Quando o UFC começou a se popularizar como virais de internet Brasil afora, ele logo se atrelou ao futebol para consolidar-se como segundo esporte brasileiro. Lutadores passaram a falar de futebol, usar camisas e emblemas de seus clubes de coração ou daqueles times que trariam bom retorno de imagem para si. E os clubes ?
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Os clubes pouco fizeram, para não dizer que se omitiram totalmente na hora do "casamento" da imagem. Ao ver seu nome junto com o de um lutador de primeira linha, quem não iria gostar, não é mesmo ? A torcida estaria em polvorosa e poderia curtir o esporte, e gostaria ainda mais de vê-lo com um atleta de seu time do coração. Perfeito ! Marca mais forte, marketing feito, "intercâmbio" entre esportes realizado... o que poderia dar errado ?
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Simples: o lutador top perder. Um lutador conceituado, obrigatoriamente, luta com atletas tão conceituados quanto. Quando o lutador do seu time perde, é como o seu time perdesse junto. Piadinhas surgem, até críticas aparecem também. Aí o marketing cai, os torcedores reclamam... e o futebol ? Ora, o futebol não tinha se pronunciado quando a "parceria" começou. O futebol não tem nada a ver com isso, lutador é lutador, futebol é futebol.
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Aqui, há uma exceção: não sei se é verdade, mas ouvi que o Corinthians tem uma academia de MMA em seu centro de treinamento para ajudar os praticantes do esporte e Anderson Silva. Aliás, a parceria do Spider com o clube é oficial, intermediada pela empresa de Ronaldo Fenômeno, a 9ine. A diretoria corinthiana banca parte dos custos de Anderson Silva e arca com o retorno, seja ele positivo ou negativo. Isso sim é parceria de verdade e diretoria que não se omite.
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Essa relação confusa torna-se constante no UFC. Até mesmo os estrangeiros exploram a marca de times de futebol nacionais. Chad Mendes, que lutou contra José Aldo no UFC 142, realizado no Rio de Janeiro, associou seu nome ao Vasco da Gama - José Aldo é fortemente ligado ao Flamengo. Chael Sonnen, que odeia não só o corinthiano Aderson Silva como também já fez declarações com teor racista contra todo o Brasil, associou seu nome ao Palmeiras. Me pergunto quantas vezes os "torcedores" Chad e Chael estiveram em São Januário ou no Parque Antarctica, o quanto eles sabem e acompanham suas equipes e por aí vai.
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Isso também coloca pessoas do mesmo país em atrito. Vi muitos vascaínos torcendo contra José Aldo e a favor do norte-americano Chad Mendes graças ao futebol. Lembro-lhes que MMA não é futebol, e que, antes de um ser vascaíno e o outro ser flamenguista, um é brasileiro e o outro é norte-americano. Você, torcedor palmeirense, são-paulino, santista ou anti-corinthiano, vai torcer para Chael Sonne contra Anderson Silva ? Chael, o que odeia o Brasil e fala mal de nós mundo afora, vai ganhar sua torcida ?
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Baseado nas perguntas acima, recorro a outros esportes. Senna nunca escondeu sua paixão pelo Corinthians. Você torcia contra Senna graças a isso ? Você torce contra Maurren Maggi por ela ser atleta do São Paulo ? Você torce contra Frank Caldeira em maratonas por ele ser atleta do Cruzeiro ?
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O crescimento do MMA no país é imenso, e talvez associar o esporte com a maior paixão nacional (sim, na frente de bundas e samba) seja a melhor forma de consolidar tal fato. Mas falta um pulso firme mais por parte das diretorias dos clubes futebolísticos nessa história.