Em 2003, o PT chegava à presidência pela primeira vez na história. O governo Lula, que conseguiu importantes conquistas sociais e teve uma política econômica destacável, teve um começo claudicante. Os primeiros seis meses foram, basicamente, para convencer o mercado financeiro que o Brasil não viraria uma ~nova Cuba~ (ou seja, seguimos tendo um sistema de saúde infinitamente pior que o deles, por exemplo) e para conter a inflação.
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Vamos enumerar as medidas e episódios altamente impopulares (para dizer o mínimo) que ocorreram em, repito, apenas vinte dias. Também é importante analisar de maneira um pouco mais profunda, saindo daquela superficialidade que os que se informam apenas em veículos de um mesmo grupo de comunicação são vítimas - ou reféns.
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A começar pelas mudanças em benefícios previdenciários. Basicamente: o acesso ao seguro-desemprego e à pensão por morte tornaram-se mais difíceis. Mas, em tempo: quem já recebe esses benefícios não terá mudanças em seus pagamentos, apenas quem ainda está por chegar no mercado de trabalho. Apesar do indiscutível arrocho, é um pacote bem menos ortodoxo que da França, em 2010 - que atingia a população inteira, sem cortes. Se o objetivo do governo fosse simplesmente deixar o povo à míngua, faria a medida como ela foi feita na França.
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Agora, vamos aos cortes no MEC. Pra quem não sabe, o governo cortou R$ 7 bilhões do Ministério da Educação no começo do mês. Alarmante, claro - ainda mais se pensarmos no desejo da presidente, que quer que o slogan de seu segundo mandato seja "Brasil, pátria educadora". Mas, vamos lá: os cortes atingiram 16 ministérios ao todo e como o MEC é o ministério com o maior orçamento dentre esses, é o que sofreu o maior corte - já que esses contingenciamento é proporcional. Antes, o Ministério da Educação tinha o terceiro maior orçamento dentre os ministérios e, agora, tem a... terceira posição. Pois é.
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O corte no MEC, ao que sugere, lima apenas os excessos da pasta - que, aliás, trabalha mal há tempos, mesmo sendo fundamental. Mais importante que isso é saber que os cortes não atingem as chamadas "despesas obrigatórias" - categoria onde se encontra os gastos com merendas e salários de professores e funcionários de escolas. Vai ter menos dinheiro, em suma, para a burocracia (copo meio cheio) e para investimentos (copo meio e bem vazio).
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Logo surgiu a informação de houve uma falha de transmissão na ONS. É muito mais óbvio - e, assim sendo, nada tem a ver com falta de água, de energia ou afins; embora a situação seja preocupante, obviamente. Já tivemos outros problemas semelhantes antes por conta de falhas diversas. E, o mais importante de tudo: essas (muitas) falhas nada tem a ver com o PT, com o PSDB ou com o PMDB. Mas, sim, com todos eles e todos que governaram o país nos 515 anos em que ele existe. Na verdade, esse problema é muito mais de algumas forças oligárquicas que mandam no país desde que o Brasil foi descoberto - e isso pode não ter muito a ver com partidos, mas sim com a política em si.
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Por fim, na última segunda-feira o ministro da Fazenda aumentou alguns impostos que vem embutidos na gasolina - deixando o combustível R$ 0,22 e o etanol R$ 0,15 mais caros. O governo planeja arrecadar R$ 20,6 bilhões em 2015 e não precisa dizer quem vamos bancar esse rápido enriquecimento da União.
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Mas convém lembrar: dentre tantos erros econômicos do primeiro governo Dilma, a inflação galopante era um dos principais - talvez o principal, aliás. Para conter a inflação só há um remédio: aumentar preços e impedir que tanto dinheiro circule - isso não vale só para o aumento nos combustíveis, mas para todos os cortes estatais anunciados até aqui. Esse, aliás, era um pedido de muitos que criticavam Dilma em seu primeiro governo - muitos que a criticam agora por fazer justamente o que eles pediram, dizendo-se ~defensores do povo~. Isso não é política, senhores: isso é oportunismo.
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É óbvio que as medidas não agradaram ninguém, mas alguns detalhes que não são divulgados com tanto alarde pela mídia merecem a nossa atenção - o que não alivia os dias nefastos que Dilma tem nos proporcionado.