A menos que você viveu em Urano em 2014, você certamente teve conhecimento da grave crise hídrica que assolou boa parte do Brasil em 2014. A seca atingiu mais fortemente São Paulo, que passou a acompanhar os níveis dos seus reservatórios de água (sobretudo o Cantareira, que atende 8,8 milhões de pessoas) atentamente. A porcentagem de água era dada no rádio e na TV como os índices da BOVESPA ou a temperatura máxima e mínima da previsão do tempo.
.
.
O governador Geraldo Alckmin atribuiu a crise à falta de chuvas, paliativamente - e ridiculamente. Como esperado por quem não quis se enganar, ele mudou a versão após a eleição que garantiu sua reeleição como governador. Não precisaria mostrar o quanto ele estava errado em sua avaliação, mas lá vai: nem mesmo as tão conhecidas e torrenciais chuvas de Verão (que alagam uma série de bairros paulistanos e cidades vizinhas à capital) foram capazes de elevar o nível dos reservatórios. Pelo contrário: eles caíram ainda mais desde então.
.

.
O verdadeiro culpado não é Alckmin, Serra, Lembo (lembra dele?) ou Covas; nem de Haddad, Kassab, Marta Suplicy, Pitta ou Maluf. Dos citados, todos tem o seu quinhão de culpa, é muito verdade. Mas os problemas são muito (deixe-me sublinhar o muito) anteriores. Vem da própria formação da cidade de São Paulo.
.

.
Não há sistema social que resista a esses números. Aliás, é difícil dizer se houve algum dia algum sistema social decente em São Paulo - e no Brasil. O reflexo desse boom populacional é óbvio: vai faltar tudo (e água é apenas um desses itens) e a população vai sofrer.
.
Para os políticos, mais importante que garantir algumas reformas estruturais vitais para uma cidade que agoniza aos poucos é pensar em eleições e no custo que mudanças bruscas (e necessárias) terão nas urnas. Se protestamos pelos preços abusivos pagos no transporte público, temos temas tão importantes quanto para exigir alguma mudança de política pública urgentemente.
.

.
Há muito a ser feito e já temos motivos mais do que suficientes para ver que São Paulo pede socorro. Atenderemos?