Dudu, um atacante veloz e habilidoso que atuou em bom nível em 2014 no Grêmio, virou uma das contratações mais desejadas pelos clubes brasileiros em 2015. Por si só isso já mostra a situação ruim na qual o futebol brasileiro está - mesmo bom jogador, Dudu passa longe de ser craque.
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O que quero aqui não é discutir finanças no futebol, mas algo praticamente correlato: a influência dos empresários no futebol. O caso de Dudu mostra bem essa situação: o Corinthians negociava com os empresários do atleta e o São Paulo com o Dínamo de Kiev - antigo clube do jogador. Dudu já tinha dito que preferia atuar no Corinthians, e com o fracasso das negociações, a OTB Sports (grupo de empresários do jogador) mandou seu próprio cliente atuar em um dos maiores rivais do clube em que desejaria jogar.
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O futebol não é o mercado de negócios, da mesma forma que clubes não são empresas. Por mais que seja necessário modernizar os tais clubes, não se pode dirigi-los como firmas que almejam o lucro - o futebol exige vitórias, o que não é sinônimo de dinheiro.
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O mais absurdo dessa negociação toda é a nota oficinal na qual a OTB Sports explica toda a novela que foi a contratação do jogador.
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Ela falou em tom jocoso sobre todas as insistentes tentativas que o São Paulo tentou para contratar o atleta. Vale dizer que o atacante atua pelos lados do campo e é veloz e habilidoso, perfil que é prioridade na equipe segundo o técnico Muricy Ramalho. Ser ironizado por tentar fazer a vontade de seu próprio treinador e por entrar em contato diretamente com o clube do atleta indicam que, apesar de decisões contestáveis nos últimos meses, a diretoria tricolor segui fiel aos seus princípios nesse caso.
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Por fim, a desastrosa nota ainda fala de um certo ~apequenamento~ do Corinthians. Os empresários confirmam não saber nada de futebol. Falta de dinheiro é tudo para eles, mas não é assim esportivamente. Para a OTB, o time que está na Copa Libertadores de 2015 e foi campeão mundial recentemente está se apequenando, enquanto um clube que não foi rebaixado apenas por incompetência alheia (isso sem falar nos dois rebaixamentos em dez anos) e soma apenas um título nacional nesse milênio é o melhor destino para o atleta. Vai entender.
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Óbvio que existem empresários que fazem um bom trabalho. Mas a essência do trabalho deles no futebol é muitas vezes confundida com a agiotagem de determinados profissionais que são incapazes de fazer qualquer plano de carreira ou de marketing para o atleta, buscando apenas a maior quantidade de dinheiro no momento.
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Uma das poucas atitudes boas que a FIFA tomou recentemente foi a proibição de fundos de investimento no esporte. É claro que vão tentar burlar essa regra e é claro que há o risco dela não pegar, mas é algo que eu particularmente acho necessário. O Brasil tentou dar mais liberdade para os atletas nas negociações por meio da Lei Pelé, mas os clubes são sacrificados - e os atletas também, embora não percebam. Tanto é assim que a Premier League, um show em formato de liga nacional de futebol, proíbe o mercado escravo-futebolista de atletas - isso começou, aliás, após a venda de Carlos Tévez e Javier Mascherano do Corinthians para o West Ham via MSI e Kia Joorabchian, nomes bem conhecidos dos torcedores brasileiros e exemplares no tocante ao quanto maléficos são os efeitos desse grupo de pessoas no futebol.
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Não achem que isso é choro de perdedor, palmeirenses. Vocês mesmos sempre reclamaram da postura de intermediários em negociações - os casos de Wesley e Thiago Mendes são os mais lembrados recentemente. Os torcedores de todos os clubes precisam deixar a rivalidade de lado e entender que certas bandeiras devem ser empunhadas por todos para o bem do futebol, para que o esporte e para que os próprios clubes e as próprias rivalidades sigam existindo.