Eu costumo dizer que as categorias de base de futebol deveriam ter medidas menores, bem como o vôlei feminino em relação ao masculino. É uma questão física, não de incapacidade técnica. Mais: quanto mais novos os garotos, menores deveriam ser as medidas - pelo mesmo motivo: físico, não técnico. O problema da Copa São Paulo, porém, é muito maior que esse.
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Gosto demais da Copinha. Com ela conheço alguns times que nunca mais verei e desbravo o interior paulista ao ver a tabela da competição. O problema é que tudo isso vem em doses tão cavalares que torna-se algo ruim.
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São 104 times ao todo, e isso não seria um problema se fosse algo que tivesse critérios técnicos. Obviamente não é o caso. A lista de equipes participantes é convidada, e não tem pudor nenhum em mostrar que existe para satisfazer empresários ligados ao futebol. Ou você acha que o Sete de Setembro de Alagoas, o Tarumã do Amazonas, o Paracatu do Distrito Federal, o Serrado da Paraíba, o Guaicurus do Mato Grosso do Sul ou o o Babaçu do Maranhão fazem algum trabalho relevante no futebol, seja na equipe profissional ou na base?
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Não dá pare reclamar das equipes do interior de SP chamadas. Elas são equipes sede, e até na Copa do Mundo a seleção anfitriã é chamada. O problema é que na edição de 2015 duas cidades-sede não tem times no torneio. O Grupo U, em Ilhabela, tem Criciúma, São José do Rio Grande do Sul, Vila Nova e Guarani; enquanto a chave S tem Desportivo Brasil, Paysandu, Atlético Goianiense e Avaí jogando em Águas de Lindóia. É ridículo. Até mesmo o calendário indica que a competição está inchada até dizer chega e nada é feito.
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Pior ainda é ver que o show de equipes não contempla sequer algumas que tem destaque no cenário atual. Tem, inclusive, time da primeira divisão que não está presente: o Joinville. Da Série B, não temos Bragantino, Oeste de Itápolis (times paulistas, maioria absoluta no certame), Boa Esporte, CRB, Macaé e Mogi Mirim.
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Mais: alguns times de fora de São Paulo (estado que eu considero exceção, já que é a sede do torneio) que participam da Copinha sequer estão na primeira divisão estadual. Casos do Sete de Setembro (Alagoas), Tarumã (Amazonas), Goiânia (Goiás), Babaçu (Maranhão), Guaicurus (Mato Grosso do Sul), Araxá (Minas Gerais), Serrano (Paraíba) e Comercial (Piauí). Interessante é ver que, desses times, cinco caíram em grupos de pesos pesados do futebol brasileiro: o Sete de Setembro está no grupo do Atlético Mineiro; o Babaçu, no do Santos; o Guaicurus, no do Corinthians; o Araxá, no do Vasco; e o Serrano, no do São Paulo.
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Correção: com exceção de SP, todos os estados tem determinado número de vagas na competição, e elas são indicadas pelas competições sub-20 e sub-19 estaduais.
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A Copinha, principal torneio do futebol de base nacional, apenas mostra os problemas que as categorias inferiores enfrentam. Os problemas que apontei são específicos do torneio, mas existem outros tantos na base dos clubes: empresários que colocam jogadores agenciados por eles e tiram outras promessas, falta de estrutura, cooptação de empresários e empresas agenciadoras, valorização excessiva do resultado, cobrança da parte física e não da técnica... se alguns desses problemas são nítidos até no futebol profissional, imagine na base - longe de todos os holofotes.
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Falou-se muito na valorização das divisões de base após o 7x1. Ao menos por ora, nada mudou.