Não sou o maior fã de Zagallo, confesso. Acho que ele tem, hoje, uma mentalidade antiquada e ultrapassada do futebol, ao ponto de falar que Neymar só vai tornar-se um jogador maduro de fato quando vencer uma Copa do Mundo - o que seria Messi pra ele, então ? Um muleque ? O que seriam Zico, Platini, Cruyff e Puskas então ? Perebas ?... apesar disso, o respeito. Aliás, o respeito muito, ao ponto de ter uma admiração sobrenatural pelo seu lado folclórico, que anima o futebol. É estranho, é estranho, diria o mesmo, em vinheta repetida incessantemente pelo Globo Esporte - junto com o impagável " Aí sim, fomos surpreendidos novamente ".
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O Velho Lobo sempre foi um pioneiro. Ganhou o troféu Belford Duarte ( que premia o Fair Play quando a FIFA mal havia tomando pra si essa expressão, e deixado o futebol mais sem graça com isso ) por não ser expulso ao longo de toda a sua carreira ( ! ). Também foi o primeiro jogador a lutar por melhores condições salariais, quase que numa espécie de sindicado de um membrmo só. Fez mais: foi o primeiro jogador a conseguir o passe ( nome mais romântico dos direitos federativos de hoje ) livre, ao transferir-se do Botafogo para o Flamengo.
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Mas ele ficou famoso mesmo por seu estilo, muito peculiar e pródigo em lançar bordões. Quem nunca ouviu o " Vocês vão ter que me engolir ! ", após a conquista da Copa América de 97 ? Ou quem não ficou juntando palavras para conseguir chegar em frases de treze letras, número preferido de Zagallo, só pra imita-lo ? Após a Copa América de 2004, chegou a dizer que " Brasil campeão tem treze letras, Argentina vice também tem treze letras ", com a euforia de sempre e encarando a câmera olho-a-olho, passando segurança e confiança.
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Confesso que me incomoda um pouco a estreita relação dele com a Rede Globo, que o tornou midiático demais - e, ao menos para mim, supervalorizado demais. Mas isso não tira dele o mérito de ser o único tetracampeão de futebol do planeta ( 58 e 62 como jogador, 70 como treinador e 94 como auxiliar técnico ). Como técnico também chegou a final da Copa de 98, sendo vice-campeão. Seu pedantismo em sempre exaltar o Brasil caía como uma luva para a Globo, e isso facilitou tudo para ambos e para a CBF. Mas, como disse, isso não tira todos e seus tantos méritos. Lembro também que uma das partidas mais incríveis que eu já vi na vida, o do tricampeonato cariocado Flamengo em cima do Vasco, em 2001, o tinha como técnico rubro-negro.
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Zagallo tem em torno de si uma aura mística, intocável. O vejo como folclórico e engraçado, diferentemente dos demais. Mas o que ninguém discorda é do quão carismático e importante ele foi. Parabéns, Velho Lobo.