quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Há muito mais que esporte no fim da fila do Chicago Cubs

>
(Créditos: Charles Le Claire/USA Today Sports)
Dentre as cinco major leagues dos esportes americanos, a MLB talvez seja a menos comentada no Brasil - a liga de baseball certamente é menos falada que a de futebol americano (NFL), futebol (MLS) e basquete (NBA), estando talvez no mesmo nível da competição de hóquei no gelo (NHL). A temporada que se encerrou ontem, porém, atraiu a atenção de várias pessoas não só no Brasil como também em todo o planeta.
.
Pessoas que, muitas vezes, nem gostam tanto (ou não gostam) do esporte. Valia a pena ver a história, que estava sendo escrita (ou quebrada) diante dos olhos de quem acompanhasse os sete jogos da World Series (final da MLB). Não era para menos: os dois finalistas estavam há eras na seca. o Cleveland Indians não era campeão desde 1948; enquanto o Chicago Cubs não levantava o principal troféu da MLB desde, pasmem, 1908. 
.
(Créditos: Chicago Tribune/Reprodução)
.
O blogueiro foi um dos tantos que não gosta de baseball e acompanhou a série. A sensação de ver um tabu desses cair em uma final tão improvável era sedutora, mesmo não entendendo absolutamente nada do esporte. Gustavo Setti, jornalista e fã de esportes americanos em geral, ficou com a mesma impressão: "Ninguém acreditava que Cubs ou Indians finalmente pudessem acabar com a seca de títulos.Acredito que o impacto da vitória dos Cubs foi bem maior do que seria se outro time tivesse vencido a World Series. Por ter sido os Cubs e por toda essa história de maldição, fiquei com a impressão que as pessoas deram maior valor para a conquista. Até mesmo aqui no Brasil eu senti mais pessoas interessadas do que costuma acontecer em outras World Series. Mesmo quem não gosta do esporte ou não acompanha ficou curioso para saber o que estava acontecendo.", resume.
.
Não bastava, porém, a final ser disputada entre duas equipe que somavam mais de cento e setenta anos sem títulos. A série inteira foi espetacular. Na melhor-de-sete, o Cleveland Indians venceu três dos quatro primeiros jogos (sendo dois em plena Chicago) e permitiu três triunfos consecutivos dos Cubs na sequência. 
.
O último jogo, aliás, não precisa de muito para virar roteiro de filme. Chicago ganhava por três corridas até a penúltima entrada, quando Aroldis Chapman (melhor arremessador do time do Cubs, de acordo com Gustavo) cedeu três corridas para Cleveland. Antes da prorrogação, um temporal caiu e paralisou a finalíssima por cerca de vinte minutos, que viu Chicago anotar duas corridas e ceder apenas uma ao Indians na entrada extra.
.
(Créditos: USA Today/Reprodução)
.
Esportivamente, Setti elogia dois jogadores em especial: "O Aroldis Chapman tinha números espetaculares durante a temporada e era o grande astro do time no montinho - e isso tornou bastante curioso o que aconteceu com ele na final. Seria um desastre completo o principal pitcher do time entregar a World Series desse jeito. Já em toda a World Series, acredito que o Kris Bryant foi o grande nome dos Cubs. Ele foi consistente durante toda a série e, no Jogo 7, foi decisivo com duas corridas anotadas. Pra mim, ele é quem devia ter vencido o prêmio de MVP da World Series" (o vencedor do prêmio de Most Valuable Player das finais foi Ben Zobrist).
.
O tabu, porém, acaba invadindo até mesmo a análise esportiva de quem entende do assunto: "Pelo histórico do Cubs, o jejum e todas essas maldições, todo mundo ficava com um pé atrás ao falar dos Cubs como favoritos apesar da campanha deles na temporada regular (a melhor do ano, com cento e três vitórias em cento e sessenta e um jogos)".
.
É o imaginário popular, porém, que mais chama a atenção no fim da fila dos Cubs. Por conta da seca de títulos, o time ganhou até mesmo o apelido de “Lovable Losers” ("Adoráveis Perdedores"). No filme "De Volta Para o Futuro 2", de 1989, o Cubs aparece como campeão da World Series de 2015 - para dar um ar quase nonsense à trama. 
.
(Créditos: De Volta Para o Futuro 2 - Reprodução)
.
A história mais lembrada dos cento e oito anos de seca, porém, é a Maldição do Bode. Em 1945 (última World Series disputada pelo Cubs antes de 2016), um torcedor levou um bode para torcer pelo time e foi impedido de entrar. Ele, então, rogou a praga: o time jamais voltaria a ganhar um título. Outros episódios famosos foram a aparição do gato preto em um jogo decisivo (e perdido) pelo Cubs em 1969; e o caso Steve Bartman, em que um torcedor tirou a bola da mão de um atleta do Chicago Cubs na final da Liga Nacional (série anterior à World Series) de 2003. 
.
Se o Cubs se viu livre de sua maldição, existem outros tantos times que passam a ser mais olhados como azarados. "Acredito que essa Maldição do Bode sempre vai ser lembrada, mas agora com um final feliz. Os esportes americanos são cheios dessas maldições, então agora as pessoas vão começar a dar mais atenção ao jejum dos outros times, como é o caso do próprio Indians, que não vence uma World Series há sessenta e nove anos (maior fila dos esportes americanos atualmente - e ironicamente)", comenta Gustavo.
.
A seca que parecia eterna acabou da maneira mais espetacular possível. Para muitos, a ficha do Cubs campeão da World Series ainda não caiu. Resta saber, agora, quais serão os finais de outros jejuns e como os "Adoráveis Perdedores" se portarão no futuro. 
Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário :