domingo, 13 de novembro de 2011

Sabe o Pará... ?

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Sabe ? Aquele estado brasileiro que tem como capital Belém, o segundo maior estado em área territorial do país... ? Pois bem, ele pode sofrer bruscas alterações daqui um tempo. Não lhe culpo se não souber, culpo a mídia, que vem escanteando o que pode ocorrer com o estado duma forma poucas vezes vista, sem dar sequer visibilidade, quanto mais de discussão pública sobre essa causa. E assim vamos vivendo, com uma comunicação porca sobre o que ocorre fora dos grandes eixos.
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Entrevistei para o Jornal Brasileiro de Ciências da Comunicação (JBCC) Cicilia Peruzzo, que esteve na VII Conferência de Mídia Cidadã, em Belém. Na oportunidade, ela contou-me que a ocorrência de uma garoa na avenida Paulista teve mais repercussão que qualquer evento local nas grandes redes - e, pior, as emissoras de lá retransmitiam isso. Lastimável principalmente com o povo amazônico, mas também com quem quer saber o que ocorre no país como um todo, e não apenas nas grandes cidades - são poucos, mas eles existem. E a grande mídia segue alienando e omitindo diversos fatos vitais para o seu público...
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Voltando à discussão paraense, ocorrerá no dia 11 de Dezembro um referendo estadual para saber a opinião dos paraenses sobre o desmembramento do Estado. A nomenclatura Pará seria usada para definir os arredores de Belém, apenas. Seriam criados os estados de Tapajós (tendo como capital Santarém, ocupando o oeste do atual Pará) e de Carajás (que teria como capital Marabá, ocupando a porção sudeste do atual Pará).
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Particularmente, sou a favor do desmembramento de unidades federativas para termos maior fiscalização de cada uma, mas isso no Brasil é pretexto para um festival de canalhices. Corrupção, falta de ética, sem-vergonhismo... tudo isso continuaria ocorrendo, e teríamos mais dois Estados para ver o dinheiro do contribuinte indo pro ralo. Temos dois lados, como tudo na vida, e embora eu goste de me apegar ao melhor, não posso nunca me esquecer e combater o pior.
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Criaríamos dois Estados totalmente diferentes. Não falo apenas de cultura, posição geográfica ou o que quer que seja, mas falo economicamente. Tapajós teria um irrisório saldo de balancça comercial de US$600 milhões, enquanto Carajás teria US$8,7 bilhões. O PIB per capita de Tapajós seria de pouco mais de R$4,9 mil, enquanto o de Carajás é de praticamente R$10,5 mil. São Estados distintos demais, que daria muito mais autonomia política para uma elite local, de Carajás, enquanto Tapajós poderia ser mais focado em toda a sua problemática. Cada um com seus problemas.
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Para medida de comparação, o atual Pará tem PIB per capita de quase R$8mil, e ficaria com cerca de R$6,5mil. Para quem mora na área mais urbana do Estado, portanto, não seria bom negócio do ponto de vista econômico.
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Localmente. é isso. Mas engana-se quem pensa que os brasileiros não-paraenses devem ficar alheios a essa movimentação nortista. Esse projeto de desmembramento do Pará é antigo, no mínimo existe desde o fim da ditadura militar.
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A proporção de novos parlamentares, que representam a população em Brasília, é definida por lei e está na Constituição promulgada em 1988. Proporcionalmente, Carajás e Tapajós teriam direito a quatro deputadores federais e um senador. Porém, por força constitucional, o mínimo de quórum em bancadas parlamentares por Estado é de oito deputados federais na Câmara e três senadores. Para a União, a criação dos Estados causaria um prejuízo imediato de R$2bilhões, isso sem contar nos gastos com os políticos que irão para Brasília.
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Voltando à esfera local: com mais dois governadores, dezesseis deputados federais e seis senadores, haveria muito mais motivo para preocupação e muito mais chances de escândalos políticos, que revoltam a população e criam um clima de antidemocracia em quem vive no local.
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De longe (e vendo apenas os números), criam-se três panoramas distintos. O Pará seria disparadamente o Estado mais urbanizado da região Norte, com alta densidade demográfica. Carajás seria um dos Estados mais ricos e da região, graças a sua baixa população e alto PIB. E Tapajós já nasceria com péssimos números sociais. Ora, porque criar dois Estados tão distintos ? Haveria alguma lógica se eles tivessem problemas parecidos, que necessitassem de fiscalizações parecidas, medidas parecidas, recursos parecidos... é claro que isso tudo tem, de novo, a velha problemática brasileira embutida: pouca transparência, números mentirosos e achismos danosos - mas é uma tentativa de compreender a região, ao menos.
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Além de todo o apresentado, o (talvez) mais inusitado: o referendo não criaria automaticamente Carajás e Tapajós. Caso a população diga "sim", o projeto passará pela Assembleia Legislativa do Pará, passará pelo Senado, pela Câmara dos Deputados e por sanção da presidente Dilma Rousseff. Ou seja, isso quer dizer que a população é consultada em caráter primário, e sua opinião pode não ser respeitada nesse ninho de burocracias que é o Brasil.
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Mais uma vez a politicagem vai tentar impor a opinião que bem quiser a população. Mais uma vez a mídia esconde um tema importante para todos. Tenha opiniões favoráveis ou contrárias, mas, antes de tudo, estude - e lute pelo que achar mais importante, necessário e justo.
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