sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O Brasília x Goiás da Sul-Americana diz muito sobre o futebol brasileiro

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Brasília x Goiás se enfrentaram pela segunda fase da Copa Sul-Americana na última terça-feira - dia 18/08. O jogo de ida entre o Colorado e o Esmeraldino acabou 0x0 e foi disputado no Bezerrão, no Gama - cidade-satélite do Distrito Federal. Apesar do lead, a intenção aqui não é fazer um pós-jogo: é mostrar que com informações bem simples essa singela partida diz muito sobre o atual momento do futebol brasileiro.
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Créditos: AFP/Conmebol.com
A primeiro pergunta a ser respondida: porque Brasília e Goiás jogam a Copa Sul-Americana?
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Vamos começar pelo Esmeraldino. O Goiás foi apenas o décimo segundo colocado no Brasileirão de 2014, mas tem vaga na Sul-Americana por conta do esquema absurdo da CBF, que emparelha a competição continental com a Copa do Brasil. Só joga a Sul-Americana quem está eliminado na Copa do Brasil e tem condições de herdar uma das oito vagas no certame - vagas que são herdadas de acordo com a posição nas ligas nacionais do ano anterior. Achou ruim? A Ponte Preta, vice-campeã da Série B do ano passado, também está na Sul-Americana. 
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Isso acontece por conta de uma disputa política entre a CBF e a CONMEBOL. A Confederação Brasileira de Futebol quis fortalecer a competição nacional, colocando os times mais fortes para disputar o torneio. Para isso, colocou a Copa com jogos entre os dois semestres (algo óbvio para qualquer pessoa com um polegal oponível), com os clubes brasileiros que participaram da Libertadores em fases posteriores. 
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Créditos: Brasiliafc.com.br
Com isso, quem sai perdendo são os clubes que poderiam jogar a Sul-Americana com o valor que ela merece. É uma competição continental, vista por toda a América - e que atrai alguma atenção fora desse eixo. É interessante para qualquer um disputar a Sul-Americana. Quem liga para o que a CBF diz?
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São sei vagas para os representantes advindos das ligas nacionais. As outras duas, pasmem, são para os campeões de competições regionais chanceladas pela CBF: a Copa do Nordeste e a Copa Verde. Ridículo, mas sempre dá pra piorar quando falamos de futebol brasileiro. 
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O Ceará foi o campeão da Copa do Nordeste de 2015 e teria por direito a vaga na Sul-Americana. Por competência própria conseguiu avançar às oitavas-de-final da Copa do Brasil e queria participar das duas, com times distintos. A CBF vetou e deu a vaga para o Bahia, vice do torneio e que não avançou até essa fase da competição nacional. 
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Créditos: Agência Estado
Copa do Nordeste de 2015, claro. O enrosco é ainda mais patético quando falamos do Brasília: o Colorado foi campeão da Copa Verde de 2014, e joga a Sul-Americana apenas um ano depois. Em 2015, o Brasília perdeu o Campeonato Brasiliense para o Gama (!) e ficou quatro meses sem fazer um jogo sequer. A pior mazela do futebol brasileiro foi escancarada para quem quisesse ver.
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Explicado? Sim, é difícil. A sorte é que o texto pode ser relido. 
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Tem mais: o Brasília costuma mandar seus jogos no Mané Garrincha, suntuoso estádio candango erguido no Distrito Federal para a Copa do Mundo - com custo superior a R$ 1,7 bilhão. Por sinal, é o segundo maior estádio brasileiro da atualidade - mesmo com o estado não tendo nenhum time em nenhuma das três divisões nacionais. Mas o jogo aconteceu no Bezerrão, na cidade-satélite de Gama. Tudo porquê o Mané Garrincha não tinha laudo para a partida. É isso mesmo: o jogo que recebeu sete jogos da Copa do Mundo de um ano atrás (incluindo três eliminatórios) não tinha laudo para uma partida da segunda fase da Copa Sul-Americana. 
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Créditos: Reprodução/SporTV
Como podem imaginar, o 0x0 foi um espetáculo digno de comédia pastelão. O Goiás entrou com time misto; o Brasília entrou com atletas que estavam sem a menor condição física, muitos que faziam sua primeira partida pelo Colorado. Estádio praticamente vazio, gramado literalmente voando a cada disputa de bola. 
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Só com muito amor para assistir o atual futebol brasileiro.
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