domingo, 28 de dezembro de 2014

Como a mídia te informou sobre a questão tarifária de São Paulo

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No dia 26, o prefeito paulistano Fernando Haddad anunciou uma série de medidas relativas ao preço dos ônibus cobrados na capital paulista. Como era de se esperar, isso foi amplamente noticiado pela mídia. Há, no entanto, uma diferença entre essa e outras simples notícias: não tínhamos apenas uma informação a ser dada. Cada veículo de comunicação trabalhou de maneira distinta.
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Para ficar apenas no que tange à tarifa de ônibus (já que na mesma ocasião foi deliberado sobre tarifas de táxi), temos três notícias principais:
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- O passe livre aos estudantes de escolas públicas e universitários cotistas ou com ProUNI e FIES
- A manutenção do preço para usuários do Bilhete Único
- O aumento da tarifa comum para R$ 3,50
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São notícias bem distintas, dava até para fazer três matérias boas com cada uma dessas questões - buscando especialistas, personagens e fazendo um pequeno histórico sobre as tarifas e sobre temas correlatos - mas é claro que isso seria pedir demais para um jornalismo que parece a cada dia mais preguiçoso e engessado.
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De qualquer forma, é interessante ver como seis das principais fontes de notícias da internet manchetaram as informações. Isso ajuda a entender uma série de coisas - entre eles, ao meu ver, a própria qualidade da transmissão das notícias.
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Veja você mesmo:
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Como podem ver, o único veículo que colocou ao menos duas das questões apresentadas por mim no começo do texto foi o portal G1, e merece um elogio por isso. As outras cinco manchetes são ilusórias e dão margem para pensamentos pré-fabricados, além de não informarem completamente (e até mesmo desinformarem) o leitor. 
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Nada explica manchetes erradas na internet. O tamanho de uma notícia é bem mais flexível (ao contrário da versão impressa, que tem uma evidente limitação física); mostrar apenas uma questão no texto não gera mais pageviews, não informa da maneira correta... é um desserviço. 
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Sabemos que (infelizmente) muitas pessoas leem apenas a manchete nos portais e sites de notícia. Imagine, então, se um estudante vê uma das primeiras duas manchetes ou se um usuário que não estuda vê as chamadas no site da Folha, do IG e do Terra. Os estudantes ficariam putos (já que tem (em tese) pouco dinheiro e teriam que desembolsar ainda mais para se locomover), enquanto os mais velhos poderiam pensar que também teriam algum desconto. Estariam mal informados. E, se alguém fica mal informado, o jornalista falhou. Um dos meus melhores professores na faculdade diz que jornalismo não é ciência exata e que não existe certo nem errado na área. Mas esses textos, ao meu ver, são trágicos. 
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Claro que o final de ano não poderia reservar mais um grande deslize jornalístico no trágico ano de 2014.
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