quinta-feira, 30 de abril de 2015

Do Kiwi ao Whatsapp: estamos conhecendo pessoas da maneira errada

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Na postagem de ontem, falei um pouco sobre a ótima ideia que é o Kiwi e o péssimo uso que a maioria dos brasileiros fazem dele. Hoje, no mesmo Kiwi, vi uma pergunta que me instigou: alguém perguntava se o Facebook estava em baixo; uma conhecida disse que desativou a conta. 
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Créditos: Reprodução
Na minha cabeça, tudo está relacionado. O Kiwi (como eu disse ontem) é apenas uma consequência de um problema muito maior: em geral, os brasileiros não sabem se portar na internet - e você sabe que, se não sabe se portar na internet, não sabe se portar fora dela.
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Elenco exemplos: se o Orkut teve sobrevida porque brasileiros (e indianos, é bem verdade) abraçaram a rede social surgida ainda antes do Facebook, a ruína da primeira rede social de todos nós foi justamente a banalização de comunidades inúteis e algumas práticas comuns e escrotas (a expressão "o topo é meu" não é um meme até os dias de hoje à toa), que não deixavam que as pessoas conhecessem umas às outras.
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Particularmente, o segundo ponto me intriga. O Orkut permitia que várias pessoas se conhecessem (essa rede, aliás, era muito mais fácil de se conhecer pessoas que o Facebook, por ter comunidades, não grupos) e muitas preferiam se fechar em uma bolha, apenas para seus próprios amigos. Outros gostavam de se mostrar demais, querendo ganhar fama por ter um corpo bonito ou coisa que valha. 
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Eu sempre gostei de fazer novas amizades (logo, não me encaixava no primeiro grupo), mas gosto apenas de conversar e conhecer gente nova (e, por isso, não me enquadro no segundo grupo). Ser o meio-termo sempre é difícil, mas em redes sociais isso é ainda pior. O ambiente da internet é um convite ao extremismo; quem se mantém lúcido sofre de alguma maneira. 
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No geral, as pessoas não conseguem transitar por nada que não seja o meio - e isso me incomoda bastante. Tenho amigos que fiz no Orkut até hoje, assim como cultivo amizades e contatos no Twitter. Faltam redes sociais, apps ou afins que possam simplesmente juntar gente para falar de um assunto qualquer, seja ele qual for. E, quando eles existem, são desvirtuados. 
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O Kiwi não é o único. O Twitter conta com cada vez mais fakes que só sabem fazer brincadeiras sem graça, assim como contas com frases clichê existem aos montes. O Facebook é um caso ainda mais complicado pois quem o estraga são pessoas comuns e suas ideias dementes (textões, defesa de ideias indefensáveis, intolerância e afins) e a própria plataforma - que, por exemplo, matou o alcance orgânico das próprias páginas. 
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Pior: as pessoas transformaram o Whatsapp, que passa longe de ser uma rede social, em um instrumento pra conhecer gente. Alguém te adiciona em um grupo do WPP (aliás: como alguém consegue gostar daqueles grupos que só travam o celular?) e vão conversando em janelas particulares com que os interessa. 
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Isso é, ao menos para mim, uma completa inversão dos valores. O WPP é algo particular (que envolve, inclusive, o número do seu celular), que não deve ser banalizado. O que vemos hoje é apenas mais um capítulo da morte das redes sociais - vindo de quem deveria usá-lo, ainda que muitos outros fatores não contribuam para mantê-los vivos. 
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Costumo dizer que a internet é apenas um reflexo da sociedade. E, bem, tudo anda errado. 

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