"Caro amigo ladrão.
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Perdoe-me por usar deste recurso, mas como nem imagino seu nome, tampouco seu endereço ou telefone, quero te falar algumas coisas por aqui.
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Na sexta-feira à noite, quando encontrei meu apartamento completamente revirado, juro que tive vontade de te perseguir até a China e te-cagar-a-pau - apesar de não conseguir matar uma mosca. Com o tempo, percebi o quanto eu e minha esposa fomos privilegiados por não estarmos em casa no momento da tua investida. Talvez tu soubesse que não estávamos, então, fico agradecido.
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Ao registrar ocorrência policial, me senti adentrando no mundo da estatística, sendo mais um lesado do rotineiro “furto em residência”, que cansei de noticiar nos últimos anos, aqui na imprensa local. Ao ler o “Boletim”, antes de meu nome, vinha a palavra “Vítima”, eis o motivo de estar escrevendo esta carta: a vítima não sou eu, e, sim, você.
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Calma, te explico.
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É provável e plenamente aceitável que não esteja entendendo o que falo, pois todos os livros que tinha em meu apartamento continuaram no mesmo lugar. E eles estavam ali, prontinhos para serem furtados. Essa é a nossa diferença, amigo - se é que posso te chamar assim. O sol nasce pra todos. Sempre. O que nos diferencia não é nossa cor ou classe social. O que te torna vítima são tuas escolhas.
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E não me venha com discursos que és um excluído, que não tem outra saída a não ser viver às margens de uma sociedade hipócrita e bla-bla-blá. Sempre há saída, basta querer.
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Entendo que deve ser chato olhar para o teu vizinho que consegue adquirir diversos bens através do roubo e do tráfico. É mais cansativo ter que batalhar num trabalho correto. Mas acredite, muitos optam por esse caminho. E pena, você não escolheu.
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Perdoe-me por usar deste recurso, mas como nem imagino seu nome, tampouco seu endereço ou telefone, quero te falar algumas coisas por aqui.
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Na sexta-feira à noite, quando encontrei meu apartamento completamente revirado, juro que tive vontade de te perseguir até a China e te-cagar-a-pau - apesar de não conseguir matar uma mosca. Com o tempo, percebi o quanto eu e minha esposa fomos privilegiados por não estarmos em casa no momento da tua investida. Talvez tu soubesse que não estávamos, então, fico agradecido.
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Ao registrar ocorrência policial, me senti adentrando no mundo da estatística, sendo mais um lesado do rotineiro “furto em residência”, que cansei de noticiar nos últimos anos, aqui na imprensa local. Ao ler o “Boletim”, antes de meu nome, vinha a palavra “Vítima”, eis o motivo de estar escrevendo esta carta: a vítima não sou eu, e, sim, você.
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Calma, te explico.
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É provável e plenamente aceitável que não esteja entendendo o que falo, pois todos os livros que tinha em meu apartamento continuaram no mesmo lugar. E eles estavam ali, prontinhos para serem furtados. Essa é a nossa diferença, amigo - se é que posso te chamar assim. O sol nasce pra todos. Sempre. O que nos diferencia não é nossa cor ou classe social. O que te torna vítima são tuas escolhas.
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E não me venha com discursos que és um excluído, que não tem outra saída a não ser viver às margens de uma sociedade hipócrita e bla-bla-blá. Sempre há saída, basta querer.
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Entendo que deve ser chato olhar para o teu vizinho que consegue adquirir diversos bens através do roubo e do tráfico. É mais cansativo ter que batalhar num trabalho correto. Mas acredite, muitos optam por esse caminho. E pena, você não escolheu.
Hoje os teus dias estão contados.
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E não é uma ameça, longe disso. Mas se tu gostasse um pouco de leitura - o mínimo que fosse -, perceberia o que acontece com os que optam pelo mundo da criminalidade. Sempre estoura no mais fraco.
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Para mim não será fácil, pode ter certeza. Ainda tenho 14 prestações do notebook que tu já deves ter trocado por umas pedras por aí. Deve ter ganhado uns trocados, tudo bem, mas há de convir comigo, se arriscando ao extremo. Já eu, vou continuar com minha vida, procurando mais oportunidades que não se cansam de aparecer. E acredite: elas aparecem pra ti também e deixas passar.
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Em breve, vou recuperar tudo o que me levaste e, ainda por cima, irei adquirir experiência com isso. Depois do susto, percebi o quanto amo minha esposa e nos tornamos um casal mais forte. Apesar de não ter dinheiro para pagar minha mensalidade - e não poder assistir Inter e Chivas, no Beira-Rio -, o que me deixou profundamente revoltado, considero que esse episódio foi importante para meu amadurecimento.
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Te desejo sorte nessa caminhada ao buraco sem fundo. Apesar de ser o lesado do momento, a verdadeira vítima dessa história tu deves saber bem quem é.
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Um abraço
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Fabio"
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E não é uma ameça, longe disso. Mas se tu gostasse um pouco de leitura - o mínimo que fosse -, perceberia o que acontece com os que optam pelo mundo da criminalidade. Sempre estoura no mais fraco.
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Para mim não será fácil, pode ter certeza. Ainda tenho 14 prestações do notebook que tu já deves ter trocado por umas pedras por aí. Deve ter ganhado uns trocados, tudo bem, mas há de convir comigo, se arriscando ao extremo. Já eu, vou continuar com minha vida, procurando mais oportunidades que não se cansam de aparecer. E acredite: elas aparecem pra ti também e deixas passar.
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Em breve, vou recuperar tudo o que me levaste e, ainda por cima, irei adquirir experiência com isso. Depois do susto, percebi o quanto amo minha esposa e nos tornamos um casal mais forte. Apesar de não ter dinheiro para pagar minha mensalidade - e não poder assistir Inter e Chivas, no Beira-Rio -, o que me deixou profundamente revoltado, considero que esse episódio foi importante para meu amadurecimento.
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Te desejo sorte nessa caminhada ao buraco sem fundo. Apesar de ser o lesado do momento, a verdadeira vítima dessa história tu deves saber bem quem é.
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Um abraço
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Fabio"
" Só fica escravo aquele que tem medo de morrer " -> Zumbi dos Palmares, que morreu no mesmo dia 20 de Novembro e por causa disso celebramos hoje o dia da Consciência Negra.