terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

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Poucas vezes na minha vida sento tão feliz em minha casa após um grande tempo sem computador frequentemente. Normalmente, as férias de verão são uma sequência de viagens familiares chatas e sem graça. Num primeiro instante parecia que essa sina iria se repetir. A viagem para o interior de São Paulo, mais precisamente para a pacata Lençóis Paulista foi totalmente sem graça. Até fiquei feliz em não ter ficado dois dias lá, e só. Depois ainda iria para o Rio de Janeiro ver alguns parentes. Em outros tempos isso também seria algo modorrento, pois ficávamos pouco tempo e nem saiámos de casa, na zona Norte da cidade. Minha mãe falou que esses 10 dias seriam de turistas na cidade maravilhosa. E realmente foram. Porém, não sabia que seriam dias cinematográficos e inesquecíveis. 

Chegamos no sábado, dia 10. Após uma viagem turbulenta até o aeroporto do Galeão, vimos que estávamos no Rio de Janeiro ao sair do ar condicionado do lugar. A distância entre o saguão e o o carro do meu primo, que não era de 60 metros, testemunhou cerca de 5 reclamações minhas. Também pudera, saímos de uma manhã fria em São Paulo para pegar 28 graus as 10:40h da manhã no lugar, isso com o tempo totalmente encoberto. 

Ao chegar e depois de dormir após o almoço, combinamos de ir passar o fim da tarde na praia de Copacabana. Não para tomar Sol, apenas para mostrar que de fato seríamos turistas no período. Eu, que nunca fui para o local, fiquei simplesmente maravilhado com o céu, a areia, o mar, a orla, o povo, o famoso calçadão. Tudo era divino, perfeito. Para completar, vimos alguns amigos na praia do Leme e matamos a saudade nos intervalos do futebol de areia. Após a tradicional sessão de fotos, comemos na rua Nossa Senhora de Copacabana uma pizza à francesa. Não sabíamos o que era e isso quase deu início a uma confusão, logo encoberta pela atendente que explicou do que se trata: comer sem pratos, na própria bandeja. Nesse dia eu vi que essa estadia seria longa e divertida. 

Domingo realizei um sonho de infância: conheci a Marquês de Sapucaí. Fomos ao ensaio técnico no sambódromo ver a Caprichosos de Pilares, a Grande Rio e a minha amada Beija-Flor de Nilópolis. Ver a bateria, as passistas, o samba comendo solto, tudo isso no setor 1 me deixou fascinado. A Caprichosos, que torço pra que volte ao Especial executou pela primeira vez a canção que eu tenho como tema pela minha passagem no Rio: o samba da escola do ano de 1985, entitulado " E por falar em saudade ", que se tornou célebre com o refrão " Tem bumbum de fora pra xuxu, qualquer dia é todo mundo nu... ". Confesso que não prestei atenção no samba desse ano da escola de Pilares, e que gostei de sua bateria e de sua rainha. A Grande Rio virá forte e com um samba que certamente melhorará na Avenida, já que a escola levou uma grande torcida à Sapucaí. A Beija-Flor, que dificilmente terá Neguinho, virá certamente disputando o tri, com uma força do chão nilopolitano contagiante, e com o mau-humor quase folclórico do diretor de carnaval Laíla. Porém o que mais me chamou a atenção foi ver a quantidade de pessoas que me paravam ao ver que estava cantando o samba entusiasmadamente, e como eu sabia a letra de cor. Conhecemos pessoas de todos os cantos da cidade, o que me alegrou bastante. Faça calor ou faça frio, é sempre carnaval no Rio, diria alguém. No mesmo dia conhecemos mais de perto a integrante caçula da família, a pequena Sophia, de 1 ano. Conhecemos também o prédio de meu primo Fábio e minha madrinha Carolina ( presença sempre constante, aliás ), sendo que ele, sua mulher Maíze e a pequena filha foram conosco na Sapucaí e viram boa parte dos ensaios. No almoço, churrasco com piscina pra começar um dia que se encerraria perfeito na passarela do samba. 

Ao visitar o Corcovado na segunda-feira, conheci algumas daquelas figuras anônimas que não saem da minha cabeça. A senhora que tinha medo do trenzinho, a bela carioca que não gostava de praia nem de Sol e o gaúcho que tinha vitiligo, por exemplo. No dia de receber o abraço do Cristo Redentor, minha mãe não conseguiu tirar a foto clássica com os braços abertos graças a claridade do Sol, que estava fritando a todos no algo do morro. Foi dos poucos passeios que a madrinha de minha mãe e que acabou virando a madrinha de todos nós pode ir junto, e apenas isso valeu a ida. A vista é algo deslumbrante, e isso nem precisaria citar aqui para todo mundo saber, creio eu. 

Dentre os passeios com vistas excepcionais, pode-se incluir o Pão de Açúcar, onde pudemos ver tudo bem melhor graças ao tempo nublado e ao horário das 18:00h onde fomos. A emoção de subir o morro da Urca e o pão de Açúcar foi indescritível, e poder tirar fotos com tranqüilidade e sem Sol no local idem. Mais a tarde, ameaçou chover e, com medo de um eventual acidente como ficar parado no ar, descemos mais rapidamente que o esperado. De estação em estação, vimos um francês que tinha certamente mais de 200 picadas só ao longo da perna. Para eles, tudo é festa. Mas que os pernilongos realmente são desagradáveis ninguém discute. No penúltimo dia na Guanabara, fomos ao Mirante Santa Marta, das mais belas vistas do Rio. Após um longo percurso por dentro da Floresta da Tijuca onde ficamos perdidos um bom tempo, tivemos uma vista incrível da enseada do Botafogo, com uma panorâmica geral da cidade. Incrível. Para coroar o passeio, indo para o carro vimos uma iguana, mostrando que a beleza do lugar é realmente natural. 

Por pouco não fui ver um jogo no maior estádio do mundo pelo fato do Carioca começar 3 dias depois da minha volta pra terra bandeirante, mas ao menos fui fazer uma visita ao Maracanã. Conheci a calçada da fama, os vestiários, o campo e pude observar o estádio inteiro do alto logo ao sair do elevador. Certamente, das visões que mais mexeram comigo na viagem. O passeio foi acompanhado de perto pelo meu primo Fabio, com a filha Sophia, o que foi motivo de muitas histórias, conversas e algumas fotos antológicas, como o chute no ar dele que eu defendi. 

Como todos sabem, eu, louco por carnaval, não podia deixar de ir em locais que representavam a maior festa popular do planeta. Fomos a quadra da Imperatriz Leopoldinense em Ramos, bairro aliás onde fiquei nessa minha estadia lá. A energia é incrível, as mulheres são lindas, a bateria é espetacular. O esquenta durou algumas boas 2 horas, com sambas antigos de carnavais passados. Quando o ensaio ia começar de fato, foi cantado o hino da Imperatriz, o já tradicional “ Você Pagou com Traição “ de Beth Carvalho e o esquenta oficial do Cacique de Ramos. O clima era de desfile, todos ficavam arrepiados. Isso sem contar nos vídeos que fiz dos comandados de Mestre Marcone e da sensacional foto com duas mulatas da Leopoldina no local. No dia seguinte, ainda voltei para conferir o ensaio da bateria na rua, ainda mais de perto. O som do surdão batendo pulsando junto com o meu coração era uma sensação que eu só tinha ouvido falar, não sabia que era tão divino assim. Sem contar nas diversas passadas que demos em frente ao Palácio do samba mangueirense, e dos barracões de outras escolas de samba menores. Lamenta-se apenas não ter ido na quadra da Beija-Flor, mas ir à noite para Nilópolis é realmente um sacrifício que por vezes não é compensado, e preferimos não arriscar. 

Fechando os pontos que qualquer turista sempre visita no Rio, fomos aos arcos da Lapa. Mais do que isso, pegamos o bonde de Santa Tereza e fomos até o Largo do Guimarães, local onde temos um intenso comércio local, muito bonito por sinal. Voltamos antes de anoitecer e tiramos fotos na escadaria Selaron, também na Lapa. Para fechar o dia, comemos na pizzaria Guanabara, onde segundo minha prima Carolina e seu marido Marcelo ( que obviamente foram no passeio ) os famosos tem aficção pelas redondas de lá, que de fato são muito apetitosas. 

Mesmo nos dias que não saí acontecia algo de bom. Minha mãe foi no Mercadão de Madureira sem a minha pessoa e de lá trouxe um relógio para mim, coisa que estava necessitando a algum tempo. Quando ela e o Fábio foram ao Saara, ganhei a minha camisa do carnaval 2009 da Beija-Flor. Aliás, mesmo não indo aos conhecidos pontos turísticos do Rio de Janeiro eu me divertia. Na véspera do feriado de São Sebastião minha mãe voltou ao Saara, dessa vez comigo. Compramos camisas e panos das mais variadas espécies, e minha mãe comprou pra ela uma camisa da Imperatriz, escola do coração dela. Na Avenida Rio Branco, comprei uma camisa retrô do Vasco da Gama, relembrando Roberto Dinamite ( maior artilheiro da história do clube carioca ). 

O outro objeto que comprei lá foi um mascote do São Paulo, num estande de um ateliê no shopping Rio Sul. Aliás, shopping foram um ponto que eu me surpreendi positivamente no RJ, e muito. Dos 3 que visitei ( Norte Shopping, Rio Sul e Nova América ) gostei muito deles, amplos e com muitas lojas. Não sabia da cultura deles de grandes centros comerciais de classe média, e gostei muito. 

Histórias nesses 10 dias não faltaram. Pra começo de conversa, tomamos banho de balde alguns dias. Devido ao consumo bem maior que o normal, provavelmente a pressão da água não agüentou e causou transtornos. Logicamente, eu fui o primeiro. Ao ver que durante o banho a água estava caindo mais lentamente, peguei um balde e joguei inteiro pra tirar o condicionador da cabeça. Haja visto o calor escaldante na cidade, foi um alívio e no mínimo engraçado. Tomar banho com dois baldes regulando a água virou uma diversão sem fim pra mim. Eu também quase deixei a janela do meu primo Romeu, nosso anfitrião, cair. Fui fechar e a dobradiça quebrou na minha mão. Chamei a filha dele e a minha mãe e elas consertaram, enquanto eu suava pensando “ To aqui e fiz merda, que lindo. “ 

Aliás, graças a água que não estava tão confiável provei as iguarias culinárias mais gostosas de minha vida, certamente. E não foi nada requintado. Pelo contrário, simples demais, até. O arroz, feijão, fritas e o bife acebolado da casa Maranguape ( um boteco de esquina de Ramos, não se iluda pelo nome ) se saiu muito melhor que a encomenda, nos fazendo almoçar lá 3 vezes. Certamente o melhor feijão que já comi em minha vida, sendo que todo o resto estava muito bom também. As vezes, certos problemas nos trazem algum retorno bom, como foi o caso. 

Aliás, a mesma Casa Maranguape foi cenário do último dia da viagem, onde quase ficamos na cidade por um tempo maior. Estávamos lá quando uma chuva torrencial começou, por volta das 13h. Como tínhamos que estar no aeroporto até as 17:50h, pensávamos que ela não iria atrapalhar. E ela não parava. A rua onde estávamos estava inundada alguns quarteirões pra frente. De fato ficamos ilhados. Ao conseguir pegar um táxi ( um Santana para 4 pessoas e 4 malas grandes, onde uma veio deitada sobre o Fábio e sobre mim e outra foi inteira no colo da Ellen ) nos demos conta da tempestade que caia. A Avenida Brasil estava totalmente inundada, e estavam assaltando a todos na Linha Vermelha na altura do bairro do Caju, pois não tinham locomoção possível para escapar. Chegamos ao Galeão pegando ruas totalmente alternativas. Lá, mais calmos, fizemos o balanço altamente positivo da viagem. Aliás, lá eu recebi um olhar de uma carioca anônima que eu dificilmente vou esquecer, que até meu primo percebeu. 

Entramos na sala de embarque nos despedindo do Fábio, e antes que a saudade começasse a bater recebemos uma ligação do meu pai. As únicas palavras que eu consegui entender foram “ Nasceu, nasceu ! “ e a ficha caiu. Eu ganhei a minha segunda irmã. Graziela nasceu bem, após uma gravidez abençoada da Sandra. O parto foi cesária e hoje estarei indo ao Santa Joana conhece-la. 

Apesar de tudo isso citado acima, o melhor sem dúvida foi a estadia. As pessoas que revisitamos. Afinal, o que faz uma viagem não são os lugares pelo qual passamos, e sim as pessoas que conhecemos. E com isso, deixo o meu agradecimento a dona Carmen, Romeu, Denize, Igor, Clara, Fábio, Carolina, Maize, Marcelo e Sophia. Conhecendo de fato o Rio, tão maravilhoso, com pessoas tão maravilhosas foi encantador. 

Já falei que essas férias davam um filme. Certamente um filme de Hollywood, onde tudo acontece, algumas coisas dão errado mas o final é sempre feliz.

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