Pra mim, o principal e maior campeonato do país tem que favorecer o melhor, ser minimamente mais justo que os demais. Porém, todos os demais devem ter emoção, e muita, até o final. Assim sendo, adoro os estaduais. A final do Paulistão foi um deleite para os amantes do futebol. No começo, confesso que fiquei de pirraça, por se tratar do time que mais odeio e de outro que eliminou meu time do coração. Me entreguei. O 3x2 santista, suado e com muito custo na primeira partida me encantaram. O jogo de volta, segundo todos, seria apenas para a entrega do troféu ao Peixe. Com menos de um minuto, Nunes fez 1x0 pro Santo André e instalou o temor nos corações alvinegros. Aí os meninos da Vila começaram. Após um lançamento longo, Robinho mata a bola e, ao mesmo tempo, a toca, de letra, pra Neymar. Pra muitos, letra " c ", de campeão. Pra mim, letra " e ", de encanto. Pro Santo André, letra " s ", de superação. Alê empatou pro time do ABC. No primeiro lance genial de Ganso na tarde, um toque de calcanhar do prodígio pra Neymar empatar de novo. Até que a pilha dos jogadores andreenses sobre os garotos do Santos deu resultado. Léo e Nunes expulsos por comportamento violento. Algum tempo depois, Marquinhos daria um carrinho por trás, desnecessário, no meio campo, e também vai pro chuveiro mais cedo. A primeira etapa se encerraria com o terceiro gol do Ramalhão, de Branquinho. Vale lembrar que desastrosa arbitragem já havia anulado um gol legal da equipe do ABC, que daria-os o título. O segundo tempo foi de apreensão. Roberto Brum foi expulso logo após entrar no gramado, e a parte final do jogo ficou ainda mais dramática. Dorival Júnior iria tirar Ganso, o melhor santista da final. Ele recusa, e diz que não quer sair pois pode decidir a final. Logo após o gesto, ele bate uma falta da intermediária que passa muito eprto do gol, semelhante ao lance imortalizado por Pelé. Sempre ao receber a bola, o camisa 10 a prendia com maestria. Um maestro de 20 anos prum time jovem e moleque. Aos 45 do segundo tempo o Santo André carimba a trave de Felipe, num lanco no qual Rodriguinho pega a bola meio sem jeito e a bola, caprichosamente, beija o travessão. Dois segundos sem ar para qualquer pulmão, eletrizado pela partida. No fim das contas, o melhor da final não venceu, mas o melhor do campeonato, sim. Fica a lembrança da melhor final estadual do novo milênio.
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O Gauchão tinha mais que um GreNal. O embate entre o time mais regular da competição, o Grêmio, contra o mais estrelado, a equipe do Internacional. A equipe colorada precisava de dois gols pra levar a partida para os pênaltis. Jogo no Olímpico. Inter com o time reserva, poupando jogadores para o jogo da Libertadores no meio de semana. Mesmo sendo clássico, o cenário parecia definido para o tricolor. Porém, como clássico, o imprevisível aconteceu. Giuliano fez 1x0, ainda no primeiro tempo. Mais apreensão nos pampas. O Inter vai pressionando, mas para no goleiro Victor e no próprio desesntrosamento do time. No fim da partida, o que nunca falta num jogo entre os dois gigantes do Rio Grande. Taison tira satisfações com um volante gremista e o clima hostil se instala. O 1x0 foi pouco pro colorado, e o Imortal é o campeão gaúcho de 2010. A regularidade e a eficiência apagaram o brilho das estrelas vermelhas.
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Diferentemente dos anos anteriores, a final em Minas Gerais não seria entre Cruzeiro e Atlético. O time azul foi eliminado pelo Ipatinga, nas semifinais. O Galo sim, marcava presença. Não tão forte, é verdade, ainda cambaleando com seu futebol regular. Mas, ao menos, chegou á final. Após vencer a primeira partida, fora de casa, o jogo no Mineirão seria apenas pra festa. De fato, o Atlético conseguiu neutralizar bem a equipe do Vale do Aço na primeira etapa. No segundo tempo, Tardelli arrancou pela esquerda e fuzilou, tal qual a sua já tradicional comemoração, atirando pra torcida. O título já ficaria com o Glorioso, era visível. Mas faltava algo pra deixar o quadragésimo título estadual do clube inesquecível. Elas, assim mesmo, no plural, vieram. Quase no fim do jogo, o veterano Marques, ídolo da massa, ganha do goleiro e faz 2x0. Como em seus tempos de garoto, atleticano fanático, o Mineirão, das cadeiras até a geral, pulava e gritava em uníssono. Tal qual no início de sua carreira, o lépido atacante deixava o goleiro pra trás e anotava mais um. No último jogo de sua carreira, Marques tirou sua camisa. Sem essa babaquice de tomar cartão amarelo, esqueça essa situação deplorável de cortar o melhor do futebol, a alegria. Com a camisa atleticana, ele se dirigiu até a bandeirinha e a vestiu, fazendo um bandeirão improvisado. O pioneiro Marques, sendo assistido por 70 mil ensandecidos fãs e cortejado por 10 leais escudeiros. A festa era dele. Era do Galo. Era da torcida mais fanático do Brasil. Galo 40 vezes. Que me perdoe quem discorda, mas o Mineirão é mais vibrante em preto e branco.
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Times de tradição estadual, aos poucos, voltam a ser campeões. O Atlético Goianiense, detentor de 11 títulos goianos, ganhou de novo o estadual, e no ano no qual volta a jogar a série A. O Avaí, após tantos anos no ostracismo futebolístico, voltou em 2009, vencendo o catarinense e com uma campanha fenomenal na primeira divisão. Ao menos a primeira parte foi cumprida novamente: o Leão da Ilha é bicampeão catarinense, com Guga no estádio e uma legião de torcedores comemorando.
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Clássicos nordestinos, e hegemonias que continuam. No Ceará, o Tricolor de Aço perdeu a partida, mas venceu nos pênaltis. No Clássico-Rei da final, viu-se quem é o Rei do estado. O Fortaleza é tetracampeão. Também com 4 títulos seguidos vem o Vitória. Também com derrota, haja visto que o Leão da Barra perdeu para o arquirrival Bahia por 2x1. E quem se importa ? O título é do Vitória de novo, representante da Boa Terra na série A. Mais impressionante ainda é a sequência do Sport. A equipe sagrou-se pentacampeã pernambucana com o 1x0 na Ilha do Retiro sobre o Náutico. No clássico dos clássicos, o gol de Leandrão fez a festa dos torcedores rubro-negros, tão acostumados a vencer em Pernambuco.
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Na Libertadores, 4 brasileiros nas quartas-de-final. Mas poderia ser mais fácil. Fácil mesmo, só o Cruzeiro. Contra um perigoso Nacional, o time celeste simplificou tudo e fez 6 gols em 3 jogos, sendo 4 de Thiago Ribeiro. O 3x0 no Uruguai evidencia quem é o favorito pra conquista das Américas. Azar do São Paulo. O tricolor passou, num sufoco incrível, com direito a pênaltis. Com várias chances desperdiçadas nos 90 minutos, dava a impressão de que o time sucumbiria. Torcida vaiando, chamando Ricardo Gomes de burro, Marcelinho Paraíba entrando visivelmente irritado... o cenário era trágico. E só se agravou com o pênalti perdido por Rogério Ceni. Todos no Morumbi se entreolharam, atônitos, e pensavam " não vai dar ". Eis que, num desses milagres futebolísticos, um anjo já conhecido de todos fez das luvas suas asas. Seu nome é Rogério Ceni. Ele agarrou dois pênaltis dos peruanos do Universitário e foi parte fundamental da vitória nas penalidades por 3x1. Ao bater seu pênalti, o irritadiço Marcelinho mostrou sua fúria, tomando grande distância. Na hora de encher o pé, pegou errado. A bola triscou a trave. Silêncio. Não se ouvia nem respirações pois elas inexistiam. O coração se contraiu, e só se soltou ao ver a bola estufando as redes. O autor da cobrança extravasa na comemoração, e mostra-se um torcedor insatisfeito em ficar no banco. Após a vitória, um sentimento de que o time vibrou, e reagiu após o susto. É esperar pra ver. Cruzeiro e São Paulo, de novo. Libertadores, de novo. Insegurança, de novo. Mas algo me diz que a sorte sorrirá pros são-paulinos.
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O clima era tenso. Até as calmas águas do Guaíba sentiam a forte vibração do jogo entre Internacional x Banfield, no Beira-Rio. desde o príncipio, notava-se que a equipe argentina veio apenas catimbar. O time venceu em casa, por 3x1, e podia até perder por um gol de diferença, e veio com o único propósito de segurar o resultado. Mas o Inter é mais time, e mostrou isso com o gol de Alecssandro, no fim do primeiro tempo. Na segunda etapa, mais catimba. E, pra jogar com argentinos medianos e catimbeiros, nada melhor que um grande jogador do país platino. D'Alessandro fez uma partidaça, foi o melhor do jogo, disparado. De quebra, a jogada do gol da classificação começou com ele. O coloradou rolou pra Fabiano Eller, que cruzou na medida pra Walter anotar o 2x0. O Banfield pressinou, mas pecava em suas próprias deficiências. Fim de jogo nervoso, mas com o colorado classificado. Um argentino a menos, um brasileiro a mais. E cabe ao Inter a mais nobre das missões: eliminar o último argentino da Libertadores e atual campeão da competição. Se souber jogar e se atuar como sabe, a academia do povo educará os Estudiantes pra dentro e irá às semifinais.
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No confronto brasileiro das oitavas-de-final, as duas maiores torcidas do Brasil viram um primeiro tempo dum time só. O Corinthians jogava contra o vento. David fez o primeiro, contra. A Fiel, ensandecida desde o início do jogo, sentiu a classificação no ano do centenário vindo. Pra confirmar a aura mística do embate, ninguem mais ninguém menos que Ronaldo fez o segundo, de cabeça. Ele, carioca, declaradamente flamenguista e Fenômeno, tão criticado por uns e idolatrado por outros, decidiria a partida e fazia a torcida corinthiana perder a voz nas arquibancadas. O alvinegro poderia fazer mais um, dois, até três gols, não seria exagero. O domínio foi nítido. O Flamengo, sem técnico e zoneado dentro de campo era presa fácil. Mas, ainda sim, é o Flamengo. Na primeira chance na segunda etapa, Vágner Love chutou cruzado e fez 2x1. Derrota ainda, mas resultado que dava a classificação ao rubro-negro. O Corinthians tão tranquilo e calmo de outrora sumiu. Jogava agora na base do desespero, do chutão pra frente e da falta de inteligência. O Mengão se saia melhor contra-atacando em 20 segundos que os paulistas atacantado por 2 minutos. No fim de jogo, Chicão ainda obrigou Bruno a fazer uma defesa milagrosa. Mas, ficou por isso mesmo. O sonho do Corinthians, de vencer a Libertadores no centenário, ruiu. As maiores torcidas do Brasil protagonizaram um jogo incrível na quarta-feira. A maior venceu.