quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Três minutos de silêncio

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Tudo foi estratégia, diriam os mais fanáticos mangueirenses. Ok, a primeira paradona foi uma pane no carro de som, mas o efeito ficou lindo. Já a segunda, essa sim, premeditada - e que com resultado final... empolgante, único, histórico. É tudo verdade, eu concordo e fiquei arrepiado com o desfile da Mangueira. Mas temos que olhar mais criticamente a situação.
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A bateria Surdo Um sempre foi conhecida por não fazer paradinhas. Ela passava reta, apenas mantendo sua cadência famosa, sem brincadeiras. Conforme Ivo Meirelles foi alçando lugares mais altos na hierarquia da escola, na segunda metade da década passada, os ritmistas ganharam força política na escola. Hoje, todos sabem que os desejos da bateria tornam-se leis na verde-e-rosa, mesmo quando são minoria. A Mangueira tornou-se uma ditadura.
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Sendo assim, é claro que a bateria iria fazer o que quisesse. Após o desfile de 2011 registrar uma grande paradinha, de 40 segundos, tivemos em 2012 uma passagem inteira do samba (cerca de três minutos) do mais puro silêncio. O samba não tinha tambor, caixa ou repique. A Mangueira calava o surdo de marcação. Um pouco de sua história morria.
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Muitos falarão que a escola tem que emocionar, entrar pra história. Eu concordo com essa tese, mas... não haveria outra forma de entrar pra história ? Uma forma que respeitasse as tradições da agremiação, que não ferisse o coração dos puristas que ajudaram a fazer o nome da maior escola de samba do planeta, como diria o puxador Luizito ?
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No final da apuração, a Mangueira ficou na sétima colocação. Será que o desfile foi tão histórico a ponto dessa colocação, que não leva a verde-e-rosa nem pro desfile das campeãs, ter valido a pena ? Será que não compensaria mais investir um pouco mais em alegorias, fantasias, comissão de frente... ? Emocionar é algo sensacional no carnaval, mas nenhuma escola se mantém grande como a Mangueira jogando apenas pra galera.
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Por fim, o que será que o Cacique de Ramos, um dos blocos mais tradicionais de carnaval do RJ, gostou dessa inovação toda num desfile em sua homenagem... ? Será que essas duas instituições imensas do carnaval carioca não poderiam emocionar de outra forma, mais clássica e não tão radical... ? Perguntas que talvez ninguém vai responder.
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Decreto três minutos de silêncio. A Mangueira pode ter se reinventado, mas, para isso, deve-se despir de todas as glórias do passado. Ivo Meirelles e a atual Surdo Um acabaram com uma das tradições mangueirenses. E você, mangueirense, prefere a escola de Cartola ou a de Ivo Mirelles ?
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