quarta-feira, 27 de junho de 2012

Lugo: vítima, mas ingênuo; isolado, mas com culpa no cartório

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No final da última semana, a queda do presidente paraguaio Fernando Lugo reacendeu a chama política latino-americana. A eterna luta do socialismo contra os neoliberais exemplificou-se no papel do ex-mandatário guaraní, de tendências esquerdistas, e no de seus opositores, direitistas. O caso, entretando, tem peculiaridades tão específicas que precisam ser salientadas. 
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Eleito em 2008, Lugo representava os anseios dum povo que queria mais justiça social, um dos mais miseráveis da América do Sul. Em sua campanha prometeu sobretudo reformas de base, sobretudo a agrária. Nas últimas horas, o wikileaks divulgou que seu golpe era tramado desde 2009, mas para isso eles precisavam de uma derrapada política do presidente. 
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Ela veio em 2009, após o escândalo que envolveu o nome de Fernando enquanto ele ainda era bispo católico. Quando ainda era estandarte-mor da diocese de São Pedro (impressionante como isso frequentemente acontece com católicos, não ?), ele teve um caso extra-religião e assumiu a paternidade apenas ao largar a batina e tornar-se presidente. Isso derrubou suas taxas de aprovação logo de cara, tirou muitos apoiadores populares de seu governo e quase o tirou também da presidência. 
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A reforma agrária prometida nunca foi feita. Outras medidas sociais, idem. Sua taxa de aprovação já era bem pequena quando veio o golpe - sim, golpe, pois quase nenhum direito pessoal de defesa de Lugo enquanto cidadão e presidente foi respeitado. 
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Agora, convenhamos... Lugo foi vítima sim dum processo que queria derrubá-lo, mas, foi bem ingênuo ao pouco fazer para impedir que eles se tornassem maiores que ele próprio. Essa ingenuidade é tocante, já que ele não se defendeu "pelo bem da democracia", mas é ainda mais ingênuo quando pensamos que vários setores da sociedade declararam seu apoio a Lugo. 
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Ou seja, aqueles setores que levaram o ex-bispo à presidência e que, querendo ou não, o isolaram, estavam dispostos a voltar à militância caso ele brigasse, mas ele não brigou pelo bem da frágil constituição nacional. Tocante e bonito, mas ingênuo. No meu mundo perfeito existiriam vários Lugos, mas antes de existir várias pessoas assim, existia Justiça - justiça essa que não existiu em nenhum momento nesse casso todo. 
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Lugo é sim vítima, e o que fizeram com ele foi feio. Mas o que Lugo fez com seu país, ao prometer e não cumprir, é igualmente feio. Ele também foi culpado um dia, e, culpa após culpa, o resultado está aí. Triste. 
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O mais estranho é: por que raios Lugo colocou um potencial opositor como vice-presidente ? É como chamar seu adversário para sua chapa. Santa ingenuidade !
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