Vamos dissecar os desfiles das escolas de samba cariocas. Uma a uma, as minhas impressões:
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União da Ilha do Governador: A lenda carnavalesca diz que escola que sobe do Acesso cai no ano seguinte novamente. Isso, definitivamente, não acontecerá com a Ilha. O único fato que remetia ao Acesso na escola, era, de fato, o horário. Com belas alegorias e com o primor de acabamento característico de Rosa Magalhães, a azul-e-vermelho abriu com primazia os desfiles. Bateria com várias bossas e com dois craques no comando, mestres Riquinho e Odilon, além do Estandarte de Ouro como puxador de Ito Melodia. O bom samba já dizia que a Ilha voltou e o povo delirou de alegria. Por favor, nunca mais caia.
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Imperatriz Leopoldinense: Todos sabem, eu apostava forte na Imperatriz. Mas todos também sabem que carnaval se ganha na avenida. O improvável aconteceu com a escola de Ramos, infelizmente. Um dos tripés do carro abre-alas quebrou, e, por já ter entrado na Sapucaí, não pode ser retirado. O carro teve dificuldades para ser guiado e deixou a evolução da escola lenta. Quando ele, enfim, chegou a dispersão, a escola correu para compensar o atraso. O samba funcionou bem, e a bateria foi a primeira a parar totalmente em certas partes do samba, além das inúmeras bossas que proporcionou ao público. Dominguinhos, como sempre, cantou demais e Max Lopes parece ter voltado aos melhores dias de sua carreira como carnavalesco. Num carnaval tão acirrado, porém, o problema com o carro jogará a escola pras últimas colocações.
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Unidos da Tijuca: Quando p presidente Fernando Horta pediu ao desacreditado Paulo Barros para que ele voltasse a Unidos da Tijuca, certamente não fazia ideia do tamanho do acerto que ele teve. A escola precisava da visibilidade que obteve com o próprio carnavalesco eme meados da década, e Paulo havia, aos poucos, se perdido em outras escolas. O desfile foi, literalmente, perfeito. A comissão de frente já entrou pra história, com truques de ilusionismo, fazendo mulheres trocarem de roupa em questõ de segundos. Parece que até as co-irmãs caíram na armadilha, visto que uma delas, a Imperatriz, entrou com uma petição junto a LIESA dizendo que a comissão não tinha 15, mas sim 45 integrantes, o que excederia o permitido pelo regulamento. De qualquer forma, o enredo soobre os segredoa foi muito bem explorado, com grandes segredos da himanidade, como o misterioso incêndio da biblioteca de Alexandria, retratado no abre-alas, até aos mais próximos de cada um. Bruno Ribas não prejudicou, o samba, se não era como o das escolas anteriores, levantou a arquibancada e a bateria fez bem seu papel. A escola saiu aclamada da Sapucaí, levou 2 Estandartes de Ouro ( incluindo o de melhor escola ) e, salvo uma grata surpresa, será a campeã do carnaval, 74 anos depois.
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Unidos do Viradouro: Em 2009, a Viradouro ficou em sétimo lugar por um pequeno milagre chamado comunidade. O povo de Niterói abraçou a escola e não deixou um desastre acontecer, apesar de todas as brigas e disputar internas que rodeavam a Viradouro. Mas, diz a crendice popular, raio não cai duas vezes no mesmo lugar. A agremiação foi, disparadamente, o maior fiasco desse carnaval. Homenageando o México, num enredo sem pé nem cabeça bolado pelos carnavalescos pratas da casa Júnior Schall e Edson Pereira, a escola passou com alegorias feias, mal-acabadas ( a sexta alegoria, aliás, despedaçou pouco depois de entrar na Sapucaí ), uma harmonia que deixou alguns clarões na avenida, evolução precária e com um samba fraco, que Wander Pires tentou, mas não conseguiu dar vida. Para não falar só mal da escola, a ala das baianas veio com uma bela fantasia homenageando Nsa. Senhora de Guadalupe, padroeira do país. O improvável pode acontecer, claro. Mas que a vermelho-e-branco terá que rezar muito pra ficar no Grupo Especial, isso vai.
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Acadêmicos do Salgueiro: Quando o Salgueiro de 2010 virou a esquina da Presidente Vargas com a Marquês de Sapucaí, todos sentiram, no primeiro instante, uma reedição do Salgueiro de 2009. O abre-alas era semelhante, mas numa versão piorada, do carro que fez sucesso ano passado. A comissão de frente lembrava a anterior, também. Conforme os setores iam passando, o que se sentia era uma imensa saudade do Salgueiro de 2009. As alas não empolgavam, as alegorias não tinham brilho e a escola, famosa por sua explosão na avenida, não empolgava. O samba, feito especialmente pra isso, era apenas reflexo do fracasso salgueirense na Sapucaí, tanto que nem o empolgado Quinho e seus cacos mudaram essa história. Com um carnaval tão equilibrado como o desse ano, o Salgueiro pode sim ser campeão. Mas, por critérios técnicos. O que, de fato, não é bem o Salgueiro de Renato Lage.
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Beija-Flor de Nilópolis: Impressionava o começo do desfile da Beija-Flor. Não só pelo canto da comunidade, sempre forte. Não só pelo ótimo samba, o que vem se tornando frequente na escola nilopolitana. Mas sim pelos efeitos especiais de sua comissão de frente, com um tripé representando a Catedral de Brasília que levava aos ce´su um beija-flor, e também com os neons azuis no carro abre-alas branco, visíveis de longe. Tudo tinha extremo bom gosto. Conforme o desfile se seguia, algumas fantasias se mostravam não tão resistentes e se despedaçavam. Esse foi o único problema visível. A comunidade cantou forte o belo samba, Neguinho novamente deu show e a bateria, agora órfã de mestre Paulinho, se saiu bem com seus 3 novos diretores. Se há alguma escola que pode fazer frente a Unidos da Tijuca na primeira noite, essa é a escola de Nilópolis.
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Mocidade Independente de Padre Miguel: Em 2009, a escola da Zona Oeste quase caiu, novamente. Um sacode precisava ser dado na escola pra ela voltar aos eixos novamente. O sacode foi dado, e em forma de samba-enredo. O melhor refrão da segunda noite exaltava a escola, citava a paixão muito louca dos componentes e dizia que o coração ia disparar. A grande torcida da Mocidade presente na Sapucaí entendeu o recado e cantou o bom samba nas arquibancadas. A agremiação ajudava na Sapucaí, e fez um belo desfile. Comissão de frente correta, carros bem-acabados e fantasias que não comprometiam. A eterna Bateria Nota 10 não ousou tanto como em anos anteriores, o que seria arriscado pra uma escola que desfila no primeiro horário. A escola não teve problemas com o cronômetro. Sonhar com as campeãs deve ser demais pros jurados, mas a Estrela lavou a alma nesse ano.
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Unidos do Porto da Pedra: Antes da escola entrar, apostava abertamente nela para ser o desastre e a rebaixada desse ano. Ao ver o majestoso abre-alas, com o Tigre vindo com peircing e boné, em referência ao desfile sobre moda, mudei tal palpite. O mascote, aliás, foi o mais bonito do ano. O samba-enredom ruim, acabou ficando menos pior na potente voz de Luizinho Andanças. Com carros de extremo bom gosto e fantasias que não desapontavam, a escola teve alguns problemas com o desenvolvimento do enredo, se esqueendo de alguns nomes da moda, brasileira e internacional. Apesar disso, a escola de São Gonçalo ficará no Especial por mais um ano.
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Portela: Terceira colocada ano passado, a escola de Madureira sonhava com vôos mais altos esse ano. Ao entrar na Sapucaí ela começou a esquecer isso. O abre-alas trazia uma águia pequena e que parecia ter vindo do filme Transformers. Ela tinha movimentos complexos, era barulhenta e fazia sua cabeça se transformar numa roldana em certas horas. Uma lástima. A escola abusou dos tons de azul-e-branco, como em outros desfiles, e pode perder pontos no quesito conjunto. A bateria levou o Estandarte de Ouro e não fez grandes invenções, apenas o básico. A águia, aliás,a briu um debate instantâneo: especialistas em carnaval discutirão até onde as escolam podem e devem ir com a tecnologia. Tudo graças ao enredo portelense, sobre a internet, que nãoa gradou os mais tradicionais. Oswaldo Cruz e Madureira rachou, e a Portela não passou bem.
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Acadêmicos do Grande Rio: A escola dos artistas apresentava novidades nesse ano. A vermelho-e-verde de Duque de Caxias homenageava os grandes desfiles das co-irmãs num enredo sobre os 25 anos da LIESA. A agremiação já entrou na avenida com uma polêmica: seu samba foi acusado de fazer publicidade duma marca de cerveja, e ela pode perder pontos anes de se começar a apuração. De qualquer forma, a escola trouxe 8 carros alegóricos e 4 mil componentes, o máximo permitidoe pelo regulamento. A harmonia ficou confusa e fez a escola correr nos minutos finais para passar dentro do tempo. A coreografia feita por mestre Ciça com a bateria tinha uma excelente ideia, mas teve uma execução desastrosa. Os ritmistas visivelmente atravessaram o samba, e tal ato atrasou ainda mais a escola. Plasticamente, era a principal rival da Tijuca na briga pelo título. Tantos problemas a afastaram desse status. Vejamos agora se ela volta pras campeãs.
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Unidos de Vila Isabel: Foi, certamente, o desfile mais aguardado da noite. Quando Tinga gritou o seu tradicional " Solta o bicho ! " a Sapucaí inteira tremeu. Vinha aí um samba que é, talvez, um dos melhores da história, de autoria de Martinho da Vila. O homenageado era Noel Rosa, que nasceu há exatos 100 anos e eternizou a Vila Isabel em verso e prosa. A comissão de frente representava malandros cariocas do começo do século, com seus violões. Os intrumentos, aliás, eram destaque. Iam até as mãos dos bailarinos por meio dum controle remoto que ficava escondido e servia como apoio duma mesa em certos momentos da coreografia. Sensacional. O abre-alas lembrava que no ano de nascimento de Noel o cometa Halley deu suas caras. O samba seguiu num andamento rápido demais, contrariando o que o autor queria. A Swingueira de Noel, bateria de mestre Átila, veio bem e sem inventar muito. Esperava-se mais da escola, mas o que ela fez certamente a levará pro desfile das campeãs. Sonhar mais alto também é possível.
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Estação Primeira de Mangueira: As novidades mangueirenses começaram já no esquenta. Ao invés do tradicional Hino de Exaltação à Mangueira, de Chico Buarque, a escola buscou inspiração no campeão brasileiro do ano passado e puxou " Mengão do meu coração ", para trazer consigo o Setor 1. O desfile contava a música brasileira, de todos os gêneros e de grandes mestres. As fantasias duraram o desfile todo, ao contrário do ano passado, mas as alegorias estavam mal acabadas, com toda a fiação passando aos olhos de quem quisesse ver. Tanto que duas alegorias tiveram princípios de incêndio durante o desfile. O samba, bom, ajudou muito na empolgação de componentes e arquibancada. O destaque foi a bateria Surdo Um, fantasiada de presos e que homenageava os que foram censurados por suas músicas. Em alguns momentos, os diretores de bateria puxavam grades e confinavam a bateria numa espécie de cela, o que dava um belo efeito. Apesar do belo desfile, a escola apertou o passo duma maneira pouco vista antes para fechar no tempo.
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Assim como em SP, o nível caiu no carnaval carioca. Poucos inovaram, preferiram fazer o feijão-com-arroz, tirando um pouco a graça do espetáculo. Pode-se dizer que o que brilhou em 2010 foram as baterias. Seja inovando ou seja fazendo o básico, elas se destacaram. Escola por escola, minha classificação ficaria assim:
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1º: Tijuca
2º: Vila Isabel
3º: Beija-Flor
4º: Salgueiro
5º: Ilha
6º: Mocidade
7º: Imperatriz
8º: Grande Rio
9º: Mangueira
10º: Portela
11º: Porto da Pedra
12º: Viradouro
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Tô ruim nos chutes, maas, vamos ver...