Lembro-me da minha primeira Copa do Mundo como torcedor. Era 1998, e o mundial foi sediado na França. Eu, brasileiro, vi os primeiros cinco jogos em solo tupiniquim, e depois fui viajar para a Disney. Em solo norte-americano, dos nossos primeiros compromissos foi ver a partida entre Brasil x Holanda, na qual a seleção canarinho venceu nos pênaltis após uma das partidas mais emocionantes da história. Também cresci vendo jogos épicos do selecionado nacional. Numa delas, em 1994, o Brasil passou pela Laranja Mecânica em outro jogo dificílimo terminado em 3x2 e imortalizado pelo gol de falta de Branco.
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Já em 2010, a euforia era grande. A Holanda sempre foi freguesa do nosso país, julgava a seleção brasileira melhor... tudo estava perfeito. Acerca do time holandês, sempre disse que eles eram diferentes. Historicamente, a Holanda nos brindava com equipes de toque de bola refinado, futebol vistoso, ofensivo e bonito. Esse ano, é uma seleção fria, calculista, eficiente, e, porque não, burocrática. O Brasil ia na raça, tinha jogadores com garra e sempre existe a chance de um de nossos habilidosos jogadores fazer uma jogada desconcertante e definir a partida em tal lance. Além do mais, nossos cruzamentos da direita e nosso contra-ataque eram conhecidos por todo o mundo como letais.
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O jogo se iniciou com rispidez. Num dos primeiros lances da partida, Luís Fabiano e van Bommel tiveram um pequeno atrito. Depois, o mesmo bôer discutiu com Robinho, em lance logo controlado pelo árbritro, mostrando o quanto seria difícil tomar as rédeas da partida.
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Após os estranhamentos iniciais, o Brasil mostrou seu futebol. Maicon, Daniel Alves e Robinho triangularam bem e fizeram o gol, bem anulado pelo juiz. Três minutos depois, Felipe Melo dá uma assistência de quarterback de futebol americano para Robinho. Após o longo passe, o camisa 11 do Brasil abre o marcador. O jogo era inteiro brasileiro e assim foi até o fim do primeiro tempo, com nossa seleção perdendo seguidas chances com Maicon, Juan e Dani Alves. No entanto, o lance mais bonito do jogo não resultou em gol. Robinho fez um carnaval pela esquerda, driblando três holandeses e rolou pra Luís Fabiano. O centroavante, de letra, tocou pra Kaká. Bem posicionado, o camisa 10 buscou o ãngulo, mas o bom Stekelenburg fez uma defesa plasticamente linda, mas nem tão difícil.
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O filme vinha se repetindo. Brasil na frente, jogando melhor e a Holanda mais amarela que laranja. Na volta do segundo tempo, mesmo atuando de azul, foi a vez do Brasil se assustar diante da grandiosidade da Copa e da Holanda. A partida mudou totalmente de figura nos 45 minutos finais de jogo. Logo aos sete minutos, o empate. Sneijder mete a a bola na área pra quem viesse cabecear. Felipe Melo e Júlio César não se entendem e a Jabulani passa pelos dois, morrendo no fundo do gol. Os europeus passam a focar suas investidas pela direita, com Robben, que caía nas costas do pendurado Michel Bastos. Num escanteio por aquele lado, Kuyt cabeceou pra trás, encontrando o baixinho Sneijder. Ele, de novo, escora pro gol e vira o jogo. O que era nervosismo transformou-se em apocalipse quando Felipe Melo dá um pisão antidesportivo em Robben e é expulso, aos 28 minutos. Dali em diante, uma tentativa desordenada de tentar empatar a partida, resultando em contrataques holandeses, os quais só não resultaram num placar ainda mais dilatado por displicência dos atacantes laranjas.
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O Brasil, tal qual em 2006, se despede do Mundial nas quartas-de-final, ante uma seleção pragmática. O filme parecia se repetir. Jogadores chorando, decepção e muitas explicações pro apagão no segundo tempo. Encerra-se o ciclo Dunga e se abre a temporada de críticas desmedidas à todos os integrantes dessa aguerrida seleção. Mesmo perdendo, eles não são perderores. Quem viu o Brasil de 2006, esses sim, viram uma seleção perdedora, com alma de derrotada. Em 2010, apenas não vencemos.