Mostrando postagens com marcador Livros. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Livros. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A bolha do futebol brasileiro

Mercado superaquecido gera alguma crise posterior. Isso é quase um dogma do capitalismo. Quando Adam Smith se referia à Mão Invisível do mercado e quando ele dizia que o "o mercado não podia ter limitações pois ele mesmo se controlava", o escocês certamente se referia a isso. Exemplos práticos para essas teses do ótimo livro A Riqueza das Nações não faltam: a Crise de 1929 e a de 2008 são os dois grandes estandartes desse pensamento. 
.
Por estar (bem) mais fresca na nossa memória, a Crise de 2008 é perfeita na comparação que quero fazer. Havia tanto crédito disponível naquele tempo que os bancos passaram a emprestar dinheiro até para quem não conseguia comprovar o mínimo de renda. O primeiro mercado a sofrer com essa irresponsabilidade foi o imobiliário, e todos os outros caíram no efeito dominó. O mundo todo sofreu, mais ou menos, por conta dessa situação.
.
O futebol brasileiro vive a mesmíssima situação que assolou o mundo há seis anos: valores inflacionados, quantias exorbitantemente altas (tanto de lucros quanto de despesas), dinheiro saindo pelo ladrão. Como qualquer mercado, uma hora o choque de realidade virá. E, cada vez mais, acho que o tranco virá tão forte que vai causar grandes problemas. 
.
Na verdade, o tranco já veio para alguns. Determinados clubes sofrem com dívidas. E não são aquelas dívidas que eram possíveis de se esconder (e seguir gastando como se não houvesse amanhã), são contas que inviabilizam qualquer projeto. 
.
O Vasco sofreu um colapso a partir do segundo semestre de 2012, com rendas penhoradas e intervenção do governo em suas contas. O Botafogo, em um ano e meio, conseguiu estragar dez anos de direções austeras para mergulhar na mais funda poça de lama do futebol nacional hoje em dia. Até mesmo o Atlético Mineiro, de resultados recentes tão espetaculares, sofreu com abatimentos
.
A seu jeito, cada clube tem seus problemas e parece acordar aos poucos para eles. Alguns acordaram tarde demais, mas parece que todos sabem o tamanho do buraco no qual se meteram. 
.
Cada situação tem sua própria história. Os primeiros a acordar para o mercado inflacionado foram Grêmio e Internacional, que serviram de exemplo para todos os clubes país afora: passaram a lucrar com o próprio torcedor por meio de planos de associação - e, assim, diminuíram sua dependêndia da TV e passaram a ter a certeza de que teriam algum dinheiro no orçamento anual. 
.
Até mesmo o São Paulo, que se orgulhava de ser uma máquina de fazer dinheiro, passou a ser deficitário. O Corinthians, clube com o marketing mais agressivo do Brasil, recentemente esbarrou em dificuldades financeiras para acertos com Tite e Paolo Guerrero - por mais que tais acertos viessem. Palmeiras e Flamengo passaram a colocar o futebol em segundo plano e tiveram como prioridade fechar as contas no azul. 
.
O Cruzeiro, atual bicampeão brasileiro, apostou alto no começo de 2013. A aposta deu certo demais, mas... e se desse errado? O Fluminense tem o caso mais específico: sua parceria de quinze anos com a Unimed permitia ao clube pagar altos salários e trazer estrelas para o clube. Sem a parceria, rompida no final desse ano, como o clube ficará? Vale dizer: algumas das estrelas do time das Laranjeiras, como Darío Conca e Fred, interessam a boa parte dos clubes, mas suas pedidas salariais são irreais - salários que eram bancados pela empresa de convênios de saúde.
.
Bem como qualquer crise, o aquecimento do mercado do futebol brasileiro tem seus agravantes. 
.
Como dito anteriormente, o primeiro clube a sofrer seriamente com seu caixa foi o Vasco, em 2012. Não por acaso, 2012 marca o começo de uma nova era nos contratos de transmissão do futebol brasileiro. Antes, a Globo pagava a bolada para o Clube dos 13, que repassava para os clubes de acordo com seus critérios. Em 2012, pela primeira vez, o Clube dos 13 (depois de intervenção do CADE) derrubou a exclusividade da emissora e abriu o mercado para os demais canais. 
.
Quem arrematou o Brasileirão foi a RedeTV!, com a inacreditável oferta de R$ 1 bilhão por três temporadas. A Globo, que nem entrou na disputa, passou a negociar de maneira individual com cada clube. O valor do contrato de vinte clubes (alguns que nem estão mais na Série A) vazou, e temos a singela quantia de R$ 1,03 bilhão - por apenas um ano. Boa parte dos jornalistas que leio trabalha com a estimativa de R$ 2,5 bilhões. Antes de 2012, esse valor era de R$ 200 milhões - novamente por três edições do Brasileirão. Um aumento de dez vezes em um valor já imenso, do dia pra noite. Mercado superaquecido é isso - e, entre 2016 e 2019, essa quantia pode até dobrar.
.
Em 2013, depois de um longo tempo, os atletas acordaram para a vida e formaram o Bom Senso FC. Uma das bandeiras da entidade era a de contrapartidas para clubes que deixassem de pagar seus atletas, com multas, perda de pontos e rebaixamento imediado. A mídia deu ampla repercussão para a organização, muitos torcedores compraram a briga e o governo apoiou a iniciativa. E, claro: o 7x1 da Alemanha sobre o Brasil na Copa do Mundo deixaram escancarados que tem algo errado demais no futebol brasileiro - e que o que acontece dentro das quatro linhas é apenas consequência do que ocorre fora dele. 
.
Pra terminar: 2015 mal começou e já tem novos agravantes. A FIFA proibiu a repartição de direitos federativos de atletas - agora, eles terão que ter seus passes presos ao clubes. Como toda mudança aguda, trará consequências imediatas para os clubes. Se essa mudança (que acho benéfica) não vai afastar ao menos os grandes empresários do futebol (já que eles já tem clubes próprios, como a Tombense de Eduardo Uram e o Rentistas de Juan Figer), ela dificultará a situação dos tão prejudiciais agentes aliciadores de atletas. Mas, hoje, são esses agentes que ajudam os clubes a trazer atletas mais caros. 
.
Por fim, a emenda que visava o parcelamento da dívida dos clubes com a União foi votada hoje. E, ao contrário do que o Bom Senso FC vinha conversando há um ano com clubes e com o próprio governo, a proposta aprovada pelo Legislativo prevê vinte anos para o pagamento dessas contas sem nenhuma contrapartida para quem não o fizer. Tudo para dar uma folga aos clubes - e fazer com que eles possam seguir gastando os tubos. 
.
O dinheiro tem que ser usado de maneira racional. Se o futebol brasileiro seguir nessa toada, sabe-se lá o que pode acontecer. E nós, como torcedores e principalmente como cidadãos, temos que cobrar clubes, governos e jogadores. Não apenas para fiscalizá-los, mas para evitar que nossos amores sumam do mapa.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O Carandiru vive

Vez por outra o maior presídio da América Latina reaparece por aí com força graças a algum episódio nefasto. O de agora visa acabar de uma vez com todos os fantasmas do complexo penitenciário - e nem preciso dizer que não vai conseguir. 
.
Pavilhão Nove pedindo paz em rebelião
Com o final do julgamento de vinte e cinco policiais militares envolvidos no Massacre do Carandiru (leia aqui sobre isso) tenta-se, novamente, exorcizar tudo que ronda a antiga cadeia o bairro da Zona Norte aqui de São Paulo. Se construíram o Parque da Juventude pra tentar purificar o local de tanta matança, desgraça, tragédia e agonia, não conseguiram. A beleza do verde não apagar o negro da memória nem as cinzas estiradas ao chão. 
.
Tive um belo exemplo de como nada vai apagar o que aconteceu na Casa de Detenção de São Paulo na última madrugada.
.
Liguei a televisão antes de dormir e estava passando o ótimo Carandiru, filme de Hector Babenco inspirado no livro Estação Carandiru, de Drauzio Varella. Contando a história dentro da prisão de alguns personagens, o desfecho é tocante - e se dá no já referido Massacre
Sobreviventes do Massacre
Em um dos intervalos do filme no Domingo Maior (intervalo em filmes, diga-se de passagem, é uma das maiores desgraças que a televisão aberta pode oferecer) eu coloquei na MTV e estava tocando Vida Loka Parte II (essa), um dos tantos clássicos do Racionais MC's. Se não é a melhor música deles nem a que mais fala da vida no Carandiru (em ambas as categorias a minha vencedora é Diário De Um Detento, essa aqui), as frases contra a PM se encaixam perfeitamente em tudo que os presidiários pensavam na antiga prisão
.
Você ainda acha que a cultura da periferia e a opressão dos "gambé coxinha" serão esquecidas ?

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Quando alguém interage graças ao seu livro

Tô bem longe de ser a pessoa mais bonita do mundo (põe longe nisso, na realidade) e nunca ouvi assobios, burburinhos ou comentários quando eu saio andando por aí. Não deixa de ser triste, embora eu tenha aprendido desde cedo que meu ego tem que se contentar com esse rosto. Seja como for, me sinto feliz quando alguém faz algum comentário sobre o livro que eu tô lendo. 
.
Sou um leitor voraz. Daqueles de, numa semana, ler 200 páginas dum livro. Faço isso em casa e, sobretudo, no trem e no metrô rumo ao meu estágio. O da vez, apenas a título de curiosidade, é o conhecido Uma Breve História do Mundo, de Geoffrey Blainey. E foi lendo dois livros bem conhecidos que alguns causos aconteceram. 
.
Um aconteceu anteontem (terça-feira, 19 de dezembro), enquanto esperava minha mãe no shopping para comprar alguns presentes de natal. Lendo a publicação que já citei, eis que um homem passa, com uma criança no colo e acompanhado de uma mulher, dando a mão para outro garoto
.
"Esse livro é bom, hein, meu ? Eu já li, gostei !"
.
Me pegou de surpresa e respondi apenas que tinha começado a lê-lo no dia anterior, mas que tava gostando. Ele sorriu e foi embora. Pouco, mas o suficiente pra me deixar feliz. Gosto de ver que as pessoas compartilham das mesmas ideias que eu, que interajam e, principalmente, que leiam.
.
Isso já aconteceu outra vez, alguns meses atrás. Enquanto eu descia na estação São Caetano da CPTM pra voltar pra casa após mais um dia cansativo de estágio, uma mulher de mais ou menos 30 anos passa falando:
.
"Esse livro é incrível, tem muita pilantragem aí. Lê que você vai ver !"
.
O best-seller em questão era A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr., que conta um pouco sobre algumas privatizações do governo FHC, o enriquecimento de alguns membros do PSDB (notadamente ligados a José Serra) e também mostra alguns números escusos do governo do PT.
Se não falam nada da minha beleza, que falem do que leio. Me deixa tão feliz quanto. 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pra fugir do nosso mundo

Sempre ouvi que todos, em geral, precisam ler mais. Falam dos benefícios da leitura, falam o quão melhores ficamos e falam também do que estamos deixando de ser/fazer/esse tipo de coisa lendo cada vez menos. Concordo em partes com esse tipo de afirmação. Não sou catastrofista e acho que poderíamos ler mais sim, mas não acho que lemos pouco. O problema, ao meu ver, está no que lemos. 
.
Sempre vejo muitas pessoas com um livro na mão, mas quase todos são de ficção. É raro ver alguém lendo uma biografia, um livro sobre sociologiahistória ou até mesmo um livro-reportagem. A sabida falta de interesse nessas áreas mais intelectuais, digamos assim, junta-se ao pouco talento dos autores em construir um enredo minimamente palatável com um estilo de escrita leve e de fácil concepção para qualquer um - quando esse é o interesse do autor ou da autora, claro. 
.
Mas vejo muitos livros por aí, em suma. E boa parte desses pertencem a sagas de fantasia, algo criado do âmago e de um lampejo de criatividade de alguém. 
.
Ao longo da minha vida, lembro de algumas sagas que marcaram época na literatura - tomo a palavra literatura como algo independente de qualidade enquanto arte, e sim em seu sentido mais comercial. A história do bruxo Harry Potter, da britânica/british J.K. Rowling foi a primeira e principal delas, com uma série de fãs até hoje. Mas não esqueço, por exemplo de O Senhor dos Anéis/The Lord of The Rings, do inglês/english J. R. R. Tolkien. Mais: a saga Crepúsculo/Twilight, da americana/american Stephanie Meyer e todas as histórias do também americano Nicholas Sparks.
.
Todos os exemplos que citei tem algo de fantasioso. O mundo da bruxaria, a existência de vampiros e lobos ou até mesmo uma série de criaturas sobrehumanas. Sparks é a exceção à regra, já que suas ficções mostram histórias entre humanos, digamos assim. A exceção fica por conta dele mesmo: seu ritmo quase industrial de criar livros é, por si só, algo sobrenatural - e não quero aqui dizer se gosto ou não disso. 
.
Eu gosto de conhecer culturas diferentes, costumes que mal sei que existam e história incríveis. Até por isso sou fã de carteirinha do gênero não-ficção. Mas, ao que parece, sou dos poucos que pensa assim. Como falar mal de quem só quer um pouco de diversão e fugir da realidade ? Querendo ou não ela tá lendo e alimentando outro mundo, interno e bonito, no qual só ela vive e fica feliz. Basta, apenas, lembrar-se que a vida não é fantasia.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Veríssimo stalker

Na internet, virou conhecida a figura do stalker, aquele que segue seu/sua amada das mais diversas maneiras no mundo cibernético. O que muitos não imaginavam é o quanto essa figura tornou-se popular, ou a quanto tempo já existe. Prova disso é o livro "Os Espiões", do gaúcho Luis Fernando Veríssimo. Ótimo escritor, o portoalegrense cria uma grande trama de mistério com grandes (e boas) doses de comédia, seu ponto forte.
.
A história é simples, mas a forma como é contada e sobretudo o talendo do autor em narrá-la prende qualquer leitor do início ao fim. Um editor às turras com a vida e com um casamento naufragado trabalhava contra sua vontade, e tinha algum prazer às sextas, quando ia para o bar com os amigos beber. Por algum motivo, uma história chamou-lhe a atenção, e isso vai dando graça a sua existência, como há muito não se via.
.
Após muita curiosidade por parte do protagonista e dos amigos (uma hora dessas a história já era muito mais coletiva que apenas do editor), eles decidem perseguir a bela protagonista da história, e ficam ainda mais boquiabertos ao descobrirem ser parte de uma história real.
.
Os personagens são bem característicos e marcantes, dando ainda mais graça para o livro. Também é interessante prestarmos atenção no nome da protagonista: Ariadne. Na mitologia grega, Ariadne ajuda Teseu a sair do labirinto. Na história de Veríssimo, seriam os espiões que deveriam salvar Ariadne do imenso labirinto no qual sua vida se transformara.
.
Apesar do final comum, nada surpreendente e até certo ponto desapontante, a leitura é recomendadíssima. Seja como passatempo ou para se divertir com figuras de meia-idade platonicamente apaixonadas querendo ter alguma emoção em suas vidas que não a bebida nos finais de semana.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Viva Bussunda !

Terminei hoje a leitura do ótimo livro Bussunda, a vida do casseta, escrito por Guilherme Fiuza, biográfico, sobre o humorista falecido em 2006 e que deixou uma legião de fãs. Farei um texto específico sobre o livro, mas me sinto obrigado a transcrever uma carta que o personagem dedicou aos políticos nacionais no site do finado programa Casseta & Planeta.
.
Quem usa a internet há muito tempo lembra dessa carta, que chegou a vários e-mails como spam - dos poucos spams que valem a pena ser lidos. Na época, os deputados e senadores não gostaram dum quadro do Casseta que chamava os políticos de "deputados de programa", em referência às prostitutas. Chegou-se a cogitar um processo violento na Justiça, na época. Veio a resposta:
.
"NOTA DE ESCLARECIMENTO
.
Foi com surpresa que nós, integrantes do Grupo CASSETA & PLANETA, tomamos conhecimento, através da imprensa, da intenção do presidente da Câmara dos Deputados de nos processar por causa de uma piada veiculada em nosso programa de televisão. Em vista disso, gostaríamos de esclarecer alguns pontos:
.
1. Em nenhum momento tivemos a intenção de ofender deputados ou prostitutas. O objetivo da piada era somente de comparar duas categorias profissionais que aceitam dinheiro para mudar de posição.
.
2. Não vemos nenhum problema em ceder um espaço para o direito de resposta dos deputados. Pelo contrário, consideramos o quadro muito adequado e condizente com a linha do programa.
.
3. Caso se decidam pelo direito de resposta, informamos que nossas gravações ocorrem às segundas-feiras, o que obrigará os deputados a interromper seu descanso."
.
Talvez sentindo o golpe na jugular desferido, não houve ação judicial nenhuma - e o povo vingou-se de quem tanto o maltrata.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Veríssimo, boníssimo


Luís Fernando Veríssimo é um consagrado escritor brasileiro, capaz de divertir crianças e adultos com suas crônicas engraçadas sobre temas cotidianos, repaginando as comédias de costumes dos tempos do segundo Império. Filho de Érico Veríssimo, outro consagrado escritor que ganhou fama ao ambientizar o seu Rio Grande do Sul, o autor mostra-se à vontade no livro " Os Espiões ".
.
A história gira em torno de um mistério, que os " espiões " ( a saber, um grupo de amigos que se encontra num bar de Porto Alegre ) tentam desvendar. Ao receber um projeto de livro em sua editora, um editor que vive um casamento falido e trabalha sem vontade alguma, contando as horas para fazer sua rotineira visita ao bar do Espanhol e encontrar alguns poucos amigos ( os " espiões " já citados ), tem sua atenção despertada para um envelope que trazia um início de livro, que contava uma história interessante.
.
Conforme o tempo passava, notava-se a dramaticidade da história, e começam a surgir suspeitas de que a história era baseada em fatos reais. Cada vez mais interessados na autora ( ou protagonista, ou os dois ) da história, os amigos pedem uma foto, e logo se encantam pela moça. Ao descobrir que a mulher morava no interior gaúcho, numa cidadezinha chamada Frondosa, logo eles fazem planos para encontrá-la.
.
O final, mais previsível que cobrança de pênalti do Elano, decepciona um pouco, é verdade. Mas não dá pra culpar Veríssimo, que quase sempre fez crônicas, por isso. Muito pelo contrário: temos que venerá-lo por como ele construiu uma história satirizando as histórias de suspense e os thriller policiais, com diálogos cheios de ironia, que dão o tom sarcástico do livro.
.
Vale muito a pena ler " Os Espiões ", do maior escritor vivo do país, uma verdadeira ode ao bom-humor e um presente ao leitor de bom gosto intelectual.

domingo, 20 de março de 2011

Política de Aristóteles, a cidadania de hoje

Lendo o clássico livro Política, de Aristóteles, constatei o óbvio: a palavra-título da obra, com o tempo, teve seu significado alterado. Alterado pra pior, muito deturpado, praticamente estuprado. Considero que neste livro esteja o conceito original da palavra, o que a idealizou, o sentido grego. Hoje em dia ela mudou, e cheira mal. É um caminho sem volta.
.
Pensando por outro lado, a mudança do significado etimológico pode não ser de todo ou tão ruim assim, e ser apenas reflexo das mudanças sofridas por toda a sociedade ocidental durante a história. Isso significaria que a mudança de toda a sociedade oriental foi ruim ? Em partes, sim. Em grandes partes, sim. Mas não cabe a nós julgar isso, não nesse instante, ao menos. Vamos ao livro em si.
.
O que Aristóteles chama de política, hoje em dia, é sinônimo de cidadania. Tratados sobre constituição, educação, moral, ética e democracia tornaram-se pauta para discussões sobre o papel do homem na sociedade. O que faz o elo contextual com a época aristotélica é a frase que norteia todo o livro e já conhecida de muitos: " o homem é um ser político ".
.
Na ideia original, política é qualquer relação de poder e hierárquica entre seres humanos. Para exemplificar, muitos dão o exemplo das reuniões de condomínio, que elegem síndicos, secretários e outros cargos. Infelizmente, porém, nem com tal exemplo é possível mais dimensionar o que Aristóteles dizia. Até essas " simples " eleições envolvem interesses, corrupção e favores. A política em estado puro é, hoje, um mamute: só conhecemos por livros, extinto e deixa saudade e curiosidade em todos.
.
E sobre tudo que envolve o caderno de política dos jornas ? Deixe de bobagem. Isso é politicagem, não política. Partidos, coligações, chapas... tudo isso é o supra-sumo da irracionalidade e da falência das instituições que outrora eram chamadas de políticas. Enquanto não houver uma mudança grande no sistema político, continuaremos sendo governados por pessoas da estirpe que nos governam hoje. Mesmo que a politicagem não volte a ser política, ela pode voltar a ser algo minimamente bom para todos.
.
O livro fala sobre estudos empíricos dos assuntos já falados no texto, sendo interessantíssimo de ler. Para comprendê-lo totalmente, porém, é necessário contextualizar com a Grécia Antiga, algo bem difícil. De qualquer forma, é um grande ensinamento, seja qual for a sua interpretação. A literatura, a política, a cidadania e os leitores agradecem.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Memórias dum arrogante

Se você entende minimamente de futebol, já deve ter ouvido falar de Rogério Ceni. Goleiro histórico do São Paulo, famoso, jogador que mais vezes vestiu a camisa do clube e, pra muitos, maior nome da história da equipe. Se você gosta um pouco mais do esporte, provavelmente conhece algumas outras características do citado, como sua incrível semelhança física com Luciano Huck, seu gosto musical estranho para um jogador de futebol e já deve ter ouvido falar de alguém que ele é arrogante.
.
Nunca o achei presunçoso, mas, pra mim, também não é o principal nome do São Paulo, com tal cargo pertencendo a Telê Santana. É um goleiro lendário, mas muitos exageram com ele.
.
Sabendo de tudo isso, comprei o livro " Maioridade Penal ", no qual ele relata causos de seus então 18 anos como arqueiro tricolor - hoje são 20. Para auxilia-lo, o goleiro chamou André Plihal, jornalista da ESPN Brasil.
.
Destacam-se no livro seu amor pela esposa, Sandra, e suas filhas, Clara e Beatriz. Rogério não esconde de ninguém o amor pela família que construiu após chegar do Mato Grosso e vencer na cidade que não para. É apegado demais as três, coruja e apaixonado. Sua dedicação também é algo impressionante, por muitas vezes treinando além do horário normal para aprimorar a saída de bola e seus reflexos.
.
Entretanto, refiz um pouco do meu conceito sobre o camisa 1. Ele de fato é arrogante, e não é pouco. Mesmo sendo um livro de suas histórias, ele sempre, duma forma ou de outra, dá a impressão de querer vantagem sobre o outro personagem da trama. E, obviamente, ele consegue isso, por tratar-se dum livro seu.
.
Sempre digo que há pessoas que são arrogantes e nada podemos fazer. São tão reconhecidas e tão boas no que fazem que devemos apenas respeita-la, pois, de fato, ela está certa e não temos como argumentar. Mas, para um ídolo e exemplo para muitos jovens, essa não é a melhor conduta a se tomar, em nenhuma circunstância. Mesmo porque outro goleiro como Rogério Ceni dificilmente teremos.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Paulo Machado de Carvalho

Bem pouco tempo átras, comecei a ler " O Marechal da Vitória ", de Tom Cardoso e Roberto Rockmann, livro sobre o lendário empresário e cartola esportivo citado. Cartola não, dirigente esportivo, pois a primeira palavra é um tanto quanto depreciativa para falar da imponente figura do doutor Paulo. Na realidade, qualquer palavra é pequena perto de sua figura.
.
É fascinante a história do homem que, à contragosto de toda a sua família, erguei um império da comunicação que reunia rádios e televisões. A criação das Emissoras Unidas, os mais diversos gêneros jornalísticos no qual ele se especializou, seu instinto, sua cumplicidade para com seus funcionários, sua simpatia, seu conhecimento de causa em tudo... seu jeito humano de lidar com todos e viver. É fascinante.
.
Gostei também de ver sua participação em eventos como a Revolução Constitucionalista de 32, o Golpe Militar de 64 e a criação dos Festivais de MPB - mesmo que as motivações tivessem sido muito mais de cunho empresarial. Nas suas empresas também revelou-se grandes profissionais da comunicação brasileira, como Isaurinha Garcia, Ronald Golias e Roberto Carlos, ícones até hoje.
.
Como se não bastassem todos esses feitos, Paulo Machado de Carvalho foi o comandante da seleção brasileira bicampeã do mundo em 1958 e 1962 ( após o primeiro título nasceu a alcunha de " Marechal da Vitória ", famosa até hoje ). Antes disso, foi um influente dirigente do São Paulo, seu clube desde menino que adorava acompanhar os jogos da várzea, durante a " era Leônidas ", na qual o tricolor venceu cinco Paulistões em sete anos.
.
Sua relação com seus familiares também era notável. Fez de seus filhos e netos grandes empresários no mesmo ramo da comunicação, respeitava as diferenças de seu cunhado, também gestor, e contava com o apoio de sua mulher e seus parentes, que lhe davam confiança e conselhos.
.
O livro também destaca suas polêmicas relações com personagens como João Havelange, Walter Clark, Manoel Carlos e Boni, todos reconnhecidíssimos hoje em dia.
.
A partir da década de 70, com sucessivos incêndios em suas propriedades e pouco dinheiro em caixa para manter tantas estrelas, iniciou-se o declínio do império. Um fim melancólico para um homem de tal porte.
.
Óbvio que não quero terminar como ele, mas quero, e muito, ser como ele.

sábado, 14 de agosto de 2010

A clássica visão do mundo pela leitura

Não me considero um sujeito normal. Vi muitos adolescentes hoje na Bienal do livro, todos ávidos por lançamentos sobre vampiros, graças a saga Crepúsculo, tão aclamada pelos jovens ( e só por eles ). Numa loja na qual os telões passavam traillers dos filmes e entrevistas com os protagonistas da série, pessoas amontoavam-se e impediam o fluxo dos demais.
.
Eu apenas passei reto. Haviam mais pessoas vendo vampiros que presentes na palestra de Caco Barcellos e Serginho Groismann sobre jornalismo, a qual, infelizmente, não consegui ver. Reparava nas sacolas da minha faixa etária e só lia títulos destinados, direta ou indiretamente, aos fãs da série. Decepcionante.
.
Minhas sacolas voltaram cheias, mas de livros clássicos, de leitura não tão fácil e nada populares entre a minha idade. Tinha verdadeira aficção em comprar " Os Lusíadas ", de Camões, e " A Arte da Guerra ", de Sun Tzu. Adquiri os dois pelo montante de vinte reais, uma pechincha.
.
Por meros seis reais, levei dois livros de Machado de Assis: Quicas Borba e Memórias Póstumas de Brás Cubas. É quase um valor simbólico graças à genialidade das obras, considero a aquisição feita de maneira gratuita. Por outros 6 reais encontrei " Amar, Verbo Intransitivo ", de Mário de Andrade, no estande dum sebo.
.
Talvez a maior recordação do dia, no entanto, seja a felicidade de encontrar o autor da série " O Guia dos Curiosos ", Marcelo Duarte. Tenho quatro livros da série, e apenas me arrependi de não levá-los para serem autografados. No entanto, fica a lembrança da conversa com o escritor, de longos quinze minutos, sobre seus trabalhos e sobre o programa no qual ele apresenta na ESPN Brasil, " Loucos Por Futebol ", o qual eu também sou fã.
.
Tenho pena de quem sai de casa no frio de hoje para ir comprar artigos sobre vampiros bonzinhos. Sou mais minha vísão cética e não menos lírica de viver.