quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Não é sobre liberdade de expressão, mas sim sobre intolerância e irracionalidade

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Vejo muita gente (pra não dizer todos) dizendo que a liberdade de expressão foi atacada no terrível atentado terrorista à sede da revista Charlie Hebdo. Fico um tanto quanto chocado por discordar de tanta gente intelectual (e assumo minha pouca inteligência), mas não acho que o ponto nevrálgico dessa discussão seja esse.
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Se a liberdade de expressão estivesse em xeque, como a revista seria publicada desde 1970? Como ela teria liberdade para fazer piada e criticar absolutamente tudo? Se houvesse algum tipo de cerceamento de liberdade, o jornal não publicaria e/ou não poderia ser publicado. 
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Ao meu ver, a liberdade de expressão (e sua antítese, a censura) são características de Estado. O atentado que vimos não foi diferente de outros tantos que acontecem às pencas em outras diversas áreas do mundo - muitas das quais não são mostradas pela grande mídia. A diferença fundamental é que foi contra um veículo da imprensa. E esse é um dos lados negativos do corporativismo jornalístico: se foi um ataque em uma redação é um atentado contra algo muito maior que algumas pessoas; se foi em algum rincão qualquer contra indigentes (por exemplo), nem precisa ser noticiado. 
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O jornal, símbolo da mídia como um todo, apenas representou o principal (ou um dos principais) inimigos da religião, segundo os terroristas. Se fosse alguma outra entidade, eles a atacariam - como fez Mehmet Agca, que tentou matar o papa João Paulo II em 1981. 
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Para mim, temos duas principais questões no atentado. 
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A mais trivial delas é a irracionalidade. Ao praticar o ato terrorista, tenho certeza que os homens sabiam que estavam criando heróis modernos na luta contra diversas ideias que temos hoje em dia no Ocidente. E nem isso foi capaz de detê-los. Eles aumentaram a aversão de muitos a uma religião e a um grupo étnico que já sofre com diversas formas de preconceito. Eles agem apenas por si, não pensando em seus semelhantes. E isso me leva ao segundo ponto, esse muito mais crítico - pensando que a irracionalidade é de um ínfimo grupo, obviamente. 
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Nada me parece mais em alta no mundo nos tempos atuais que a intolerância e as fobias. Antes ela obviamente já existia, mas contra minorias - e já era nojenta. Hoje ela não se restringe: tudo é motivo para matar, torturar, assassinar e fazer coisas nojentas contra outras pessoas. À crítica se responde com violência. Esse é o mundo que queremos?
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A reflexão aqui não é só para quem é muçulmano - aliás, a expansão islâmica sob o comando de Maomé foi um dos períodos de maior liberdade em todos os tempos, em todos os aspectos. Embora hoje eles sejam vistos como violentos, os responsáveis por grupos terroristas são alguns poucos radicais ortodoxos. Assim como muitos católicos hoje em dia saúdam as Cruzadas, um dos maiores genocídios da Terra
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Também vale lembrar que a questão islâmica na França é ainda mais delicada. Como principal colonizador de países do norte da África, os gauleses recebem uma série de marroquinos, argelinos, congoleses e gente de outras tantas nacionalidades que apenas buscam uma vida melhor - terroristas, novamente, são uma parcela irrisória desses imigrantes. 
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Percebeu a semelhança entre as motivações de imigrantes do norte da África e nordestinos? Vimos a confusão que pessoas de pouco QI e/ou de pouca índole causaram na época da eleição. E vimos o que aconteceu hoje em Paris. Não ache que o preconceito entre africanos e nordestinos é diferentes. Você também tem sua parcela de culpa nesse caldeirão de intolerância em que vivemos atualmente caso tenha postado uma daquelas tantas mensagens vergonhosas em redes sociais ou coisas correlatas.
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Temos muito o que aprender em matéria de cidadania e sociabilidade ainda. Nos resta apenas lamentar, mais uma vez, um atentado tão chocante e intolerante - e torcer para que seja o último.
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