segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A Globo e os nomes privados

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Para ~você que se liga na Globo~ (como diz o locutor Cléber Machado), tivemos hoje a decisão do Torneio de Manaus e um amistoso do Palmeiras contra o RB Brasil. Seria perfeito se fosse assim, mas não é. ~Você que se liga na Globo~ (e no SporTV também, já que é um canal das Organizações Globo) teve um erro grave de informação. Aliás, você vive convivendo com esses erros. 
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Não existe nenhum Torneio de Manaus, ao menos em 2015. O que existiu foi o Super Series, triangular amistoso disputado por São Paulo, Vasco e Flamengo e vencido pelo último. Assim como não existe nenhum RB Brasil: o que existe é o Red Bull Brasil, time fundado e mantido pela empresa austríaca aqui no Brasil, cujo time joga em Campinas. 
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A diferença pode ser pouca ou até mesmo irrelevante para você, mas é imensa para quem investe no esporte. Não ter o seu nome falado na transmissão afasta qualquer patrocinador ou parceiro possível. E isso vira uma bola de neve: sem dinheiro para ser bancado qualquer clube fecha, o que afeta o esporte e assim sucessivamente. Não tem ninguém que saia ganhando nessa história toda. 
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A Globo tem, por regra interna, nunca falar nomes de entidades privadas em suas transmissões. Não sei porquê ela existe (embora já tenha pesquisado algumas vezes), mas simplesmente funciona assim - infelizmente, aliás. 
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A regra é tão irracional que, muitas vezes, a Globo opta por dar um tiro no próprio pé que rever sua norma sem pé nem cabeça. Os exemplos mais claros são as Superligas masculina e feminina de vôlei, o Novo Basquete Brasil (NBB) e a Liga de Basquete Feminino (LBF), mantidas pelas próprias Organizações Globo. Como os clubes estão falidos há tempos (em parte por culpa também da Globo, mas o problema aqui é muito maior), quem costuma bancar essas equipes são empresas privadas. Hoje, a raridade é ver um time sem apoio de uma empresa em seu próprio nome - como "Winner/Limeira" ou "Unilever/Rio". 
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A Globo, então, cita apenas o nome da cidade - Limeira, Rio de Janeiro ou qual quer que seja. No vôlei, esporte no qual é ainda mais comum times apenas com o nome de patrocinadores, a situação é ainda mais crítica para as empresas que mantém os times - isso explica a rotatividade das empresas, das jogadoras e, infelizmente, o fechamento repentino de tantos times outrora vencedores. 
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Mas não é só nesses esportes que a Globo prejudica. Na F1, a Red Bull Racing é a RBR. A final da Champions League 2011-2012 não foi na Allianz Arena, mas sim na Arena de Munique - assim como o novo estádio do Palmeiras não é o Allianz Parque, é a Arena Palestra. É ridículo. 
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Segundo a diretoria do Corinthians, um dos motivos pelos quais o clube atravessa uma crise financeira é o fato de não ter conseguido encontrar uma empresa para colocar os naming rights na Arena Corinthians. Andréz Sanchez, antigo mandatário do estádio, sempre colocou a culpa por isso na mídia. Embora ele também tenha seu quinhão de culpa, ele não está de todo errado. 
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Eu não sabia, porém, que a medida era tão absurda. Nem mesmo nomes de torneios amistosos passam impunes. A Florida Cup, disputada por Corinthians, Fluminense, Colônia e Bayer Leverkusen virou o Torneio da Flórida na Globo. O Super Series, como já dito, se transformou no Torneio de Manaus. A troco de quê? Sequer haviam nomes de empresas nesses nomes! É difícil de entender.
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O que mais me chocou no tocante ao nome dos torneios é que, em um primeiro momento, a própria Globo e Globo.com citaram a Florida Cup e a Super Series. Tudo para, pouco antes das transmissões, colocar a nomenclatura que lhe conveio. Vai entender.
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Por mais poderosa que seja a Globo, acho difícil a emissora resistir a um processo de uma empresa grande - como as multinacionais Red Bull e Allianz, por exemplo. Também não sei o quão ilegal são essas mudanças de nome. E, mais importante: não é algo que vá causar grandes mudanças na Globo. Nem mesmo o fato de traduzir nomes estrangeiros se justifica. 
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Algo precisa ser feito. O que a Globo faz é prejudicial a todos - não que isso seja novidade. 
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