terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Temos que matar a possível volta do mata-mata desde já

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Nos últimos dias, a imprensa noticiou a vontade de alguns dirigentes em retomar os duelos eliminatórios no Brasileirão. Um imenso retrocesso. Mas precisamos ver quem é que está pedindo essa loucura.
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Até onde sei, foram três os cartolas que pediram a mudança na fórmula do campeonato: os novos presidentes de Grêmio e Santos (Romildo Bolzan Junior e Modesto Roma Junior, respectivamente) e o presidente da Federação Baiana de Futebol, Ednaldo Rodrigues. 
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O interessante é que os três tem motivos para reclamar. Não da fórmula, mas de seus próprios clubes/federações. 
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O Grêmio não ganha um título sequer desde 2010 e não ganha um troféu fora do Rio Grande do Sul desde 2001 - dentre os chamados "doze grandes brasileiros", tem o segundo pior jejum nesse quesito. O Imortal também não fica com um treinador por um ano sem demiti-lo desde 2008. Planejamento puro, como podem ver
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O Santos fez em 2014 um Brasileirão mediano e uma boa Copa do Brasil (além do vice no Paulistão), mas teve suas campanhas colocadas em segundo plano diante de dois episódios grotescos: a contratação mais cara da história entre clubes brasileiro mostrou ser um retumbante fracasso, e Leandro Damião por muitas vezes ficou no banco de reservas. O clube também chocou com a demissão de Oswaldo de Oliveira pelo ~baixo desempenho fora de casa~ - e como se Oswaldo tivesse como fazer melhor com o time que tinha em mãos. 
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Já o futebol baiano viu seus dois gigantes rebaixados para a Série B, além de todas as dificuldades encontradas pelo estado para se dar bem até mesmo na Copa do Nordeste - não alcança as semifinais do Nordestão desde 2010. Enquanto isso, a Bahia vê clubes de Pernambuco e Ceará crescendo no cenário regional e nacional. 
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Mais interessante ainda é ver a justificativa dos dirigentes para querer a volta do mata-mata. Ednaldo justificava sua loucura não querendo ver entregadas na última rodada do torneio. Como se clubes que apenas cumprissem tabela não fizessem seus últimos jogos contra possíveis classificados e rebaixados. 
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Romildo Bolzan Jr. diz que o campeonato é desequilibrado, já que algumas equipes começam o torneio mal. Ora, e isso não faz parte do jogo? Em 2008, o São Paulo começou o returno com onze pontos de distância para o próprio Grêmio, então líder do campeonato. Já em 2011, o Corinthians fez um primeiro turno exemplar e administrou a vantagem no restante do torneio. Em ambos os casos, o título só foi sacramentado na última rodada. 
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O presidente santista fala que a fórmula está esgotada para com o torcedor. Fale por si, sr. Modesto Roma. O torcedor vê o time ao longo de todo o ano, e não precisa ficar secando para o rival a partir de determinada data. Sua opinião não procede. 
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Os três cartolas também falam da tão batida ~falta de emoção~ dos pontos corridos. O mais chato é que esse choro sempre volta quando um clube ganha o torneio com rodadas de antecedência no ano anterior. E se ele ganha com facilidade é porque não teve rivais. Méritos próprios sim, mas muitos deméritos dos demais - Grêmio, Santos e times baianos inclusos. Vale lembrar que, no caso específico do Cruzeiro (atual bicampeão brasileiro), o time celeste ganha muito menos da televisão e dos patrocinadores que times de São Paulo e Rio de Janeiro. Lá, ao contrário de RJ, SP e RS, o trabalho é bem feito.
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Vale relembrar também que, em 2009, nada mais nada menos que quatro clubes chegaram com chances de ser campeões brasileiros - e um dos que tinha chances sequer foi para a Libertadores. Pergunte se alguém achou que era a fórmula que não dava emoção para o campeonato. Também é interessante notar que para a diretoria do Santos (campeã nos pontos corridos em 2004) e para a do Grêmio (vice-campeão em 2008 e 2013) a fórmula de disputa era perfeita enquanto seus clubes estavam bem nas tabelas de classificação. 
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Dirigentes, simplesmente parem de colocar a culpa de seus trabalhos mal-feitos na fórmula do campeonato. Já temos a Copa do Brasil como mata-mata. Respeitem o torcedor, entrem na linha no aspecto econômico e, acima de tudo, engulam esse choro juvenil. 
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Por fim, dou a sugestão do comentarista Antero Greco no Bate Bola 2ª Edição do dia 05/01: se tanto querem mata-mata para dar emoção, por que não fazem um mata-mata para definir os rebaixados? Assim, um time que terminou o torneio em 12º tem as mesmas chances de cair que o 20º. Nesse caso ninguém quer emoção nenhuma porquê? A dirigência do futebol brasileira fede.
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A CBF não vai mudar a fórmula do torneio até 2016. Mas, se era uma boa notícia, ela cai ao vermos que isso só acontecerá pela dificuldade de articular alguma mudança estrutural em dois anos seguidos com Copas América. A justificativa não me convence. A CBF já deveria ver o quanto os pontos corridos estabilizaram o calendário nacional - e o quanto sem ele estaríamos ainda pior. 
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Demoramos longos 54 anos para ver a principal competição do futebol brasileiro ter um formato que premie o time mais regular e mantenha as equipes jogando ao longo de toda a temporada. As demais eu quero mesmo que tenham emoção, mas já temos diversos torneios nesse aspecto. Um Brasileirão com mata-mata seria o oitavo gol da Alemanha nessa goleada que não tem fim.
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