sábado, 14 de maio de 2011

Todos os diferenciados dessa terra sem igual e sem iguais

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Em 2009, naquele período " já-estou-em-campanha-mas-o-TSE-não-pode-saber-disso ", Lula chamou Sarney e Collor de " diferenciados ", exaltando os grandes feitos políticos e memorável história que os dois possuem. Vamos ao popular agora: Sarney e Collor são donos de Maranhão e Alagoas, e elogiá-los significa ter apoio dos dois estados nordestinos nas urnas. Nas eleições de 2010, não por acaso, a candidata governista, Dilma Rousseff, teve uma vantagem esmagadora nos estados citados, e ganhou a eleição no segundo turno. Não preciso nem entrar aqui no histórico de Lula com Collor e Sarney, mas todos sabem o quão essas relações já foram tumultuadas. Na verdade, qualquer relação de Collor e Sarney é tumultuada, mas não cabe a mim falar isso agora.
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Nessa semana, o governador paulista, Geraldo Alckmin, disse que a estação de Higienópolis do metrô seria deslocada para uma outra região, mais próxima da praça Charles Miller e distante da avenida Angélica. O ato, surpreendente, tornou-se ainda mais surpreendente após todos saberem o motivo: pressão popular.
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Sim, pressão popular. Falar o que é pressão popular é algo subjetivo demais principalmente na politicagem, e, para os tucanos, o povo é representado pelas 3.500 assinaturas juntadas por residentes de Higienópolis que se mobilizaram para impedir esse verdadeiro atentado ao bairro, um dos mais tradicionais e valorizados da cidade. O metrô atrairia várias pessoas de renda bem inferior aos moradores de lá. O pedido, claro, visando o bem-estar comum do povo, foi acatado por Alckmin. O PSDB governa pro povo, dizem. Mas o povo, pra eles, é o povo que coloca a mão no dinheiro, e não nas máquinas.
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A palavra usada pelo governador para (des)qualificar os que iriam passar a andar por Higienópolis, veja só, foi " diferenciado ". Pessoas diferenciadas, que causariam mudança do panorama do bairro. O povo que pega nas máquinas começaria a andar nas largas calçadas da Angélica ou nas praças Vilaboim e Buenos Aires, um verdadeiro atentado contra os enriquecidos. Esses mesmos diferenciados que ergueram todos aqueles prédios antigos e participaram do aterramento das ruas e das praças que só o povo tucano anda, desconsiderando o outro povo, o que o tucano não vê.
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Ao comparar os dois casos, temos diferenças e semelhanças que acabam convergendo prum cenário desolador. Lula chamou dois muito ricos de diferenciados. O diferenciado de Lula é o de " pessoa que está acima da lei, que tudo pode e tudo faz ". Assim como Lula, outro " diferenciado " dessa espécie como deu a entender em todo o governo, eles queriam exaltar a si mesmos, esquecendo de quem os dá votos na sagrada hora da eleição. O diferenciado de Alckmin, se tivesse um significado, poderia ser o " que é estranho a determinada região, não contextualizando em sentidos maiores ". Em Higienópolis, de fato, pobres são diferenciados. Mas... e na cidade de São Paulo ? E para aquele que pega metrô em Itaquera ou trem em Pirituba, a maioria da população paulistana ? Esse diferenciado vale ? O diferenciado, para esse, seria o de Higienópolis. E a maioria de verdade ficou irritada, como deveria ficar com esse absurdo.
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Politicamente, temos um cenário ainda mais triste. Os episódios mostram apenas como as autoridades tratam quem não lhe é importante, ou só o é em determinados momentos. Ao taxar Sarney e Collor de diferenciados, Lula mostra que pode ser um distribuidor de renda, mas não deixa de lado seu lado camarada, distribuindo vantagens das mais diversas espécies a quem o rodeia. Já Alckmin mostra que os diferentes dele só são importantes para dar os votos necessários para o pleito, pois na hora de definir o local da estação do metrô, do hospital ou da escola-modelo, ele só tem olhos pros iguais a si, pra quem sempre mandou em São Paulo e vota sistematicamente em quem vence quase que por inércia na capital.
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O que é chamado hoje de direita e esquerda usa o mesmo termo não à toa. Ambos são iguais, mais do mesmo, cocô e excremento. Há um grupo que obtém o poder e não liga pros demais, seja direita, esquerda, vermelho, azul, tucano ou petista. A política pública está cada vez mais perdida em velhos conceitos que não podem ser explicados por não a termos na prática.
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Quem sofre com tudo isso são os diferenciados de Alckmin. Quem consegue o que quer são os diferenciados de Lula. E os diferenciados que assistem a tudo alheios a isso precisam acordar e se mobilizar.
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