sexta-feira, 26 de julho de 2013

O Atlético sobreviveu a todos os tipos de zica

>
Existem lógicas que o futebol desafia. Sempre foi assim e sempre será. Episódios que de tão surreais tornaram-se quase místicos não faltam e, certamente, todo torcedor tem o seu momento mágico. Alguns desses episódios se repetem continuamente (sem perder o encanto) e acabam se tornando frases feitas e/ou clichês do esporte bretão
.
Para vencer de maneira magnânima a Copa Libertadores da América na noite de ontem, o Galo passou por um sem fim dessas maldições, digamos assim. De cabeça listo alguns deles que sempre foram fortes:
.
Atlético Mineiro
.
Sim, o próprio Atlético tinha a sua maldição. Por vezes parecia que o próprio clube tinha um carma próprio, que impedia totalmente o Galo de ser campeão de algo importante. Um time que tem em seu DNA grandes equipes, grandes ídolos e tão poucos troféus é algo a ser levado em conta. Soma-se a isso as incontestáveis arbitragens polêmicas que norteiam o Galo (o Brasileirão de 80, a Libertadores de 81, a final do Brasileirão de 99 e as quartas-de-final da Copa do Brasil de 2007 são alguns dos maiores exemplos) e tenham um time que parecia fadado a ser de segundo escalão. 
.
Cuca
.
Cuca: futebol arte enfim campeão
Desde quando surgiu para o futebol brasileiro no Goiás, levando uma equipe da lanterna para a nona colocação em menos de um turno, o técnico carrega um estigma: monta muito bem suas equipes, sabe trabalhar com o que tem, sabe contratar e nunca leva a melhor. Sua eloquência e seu nervosismo tornaram-se característicos, e sua característica de reclamar sem pudores de erros de arbitragem contra suas equipes tornaram-se famosos em sua marcante primeira passagem pelo Botafogo e pelo Cruzeiro - embora na própria Libertadores, após o jogo de ida contra o Newell's, o treinador comprovou essa fama
.
Logo após a confirmação do título, Cuca foi o mais sincero possível: não tem mais azar porra nenhuma !
.
O espírito copeiro da Libertadores
.
Esse é um clichê que eu, inclusive, acredito firmemente - e devo confessar que o Atlético me surpreendeu nesse ponto. A principal competição da América do Sul raramente tem times técnicos como campeões. Quem costuma se dar bem na Libertadores são os times encrespados, de camisas pesadas e que jogam duro, virilmente. Por mais que o Atlético também saiba jogar sujo (não vá me dizer que Pierre é um mago e que Leonardo Silva é craque), a principal característica do Galo não era a fibra ou a raça. O time se deu bem por saber conter suas emoções, ser frio e não desistir jamais. 
.
A maldição da melhor campanha da primeira fase 
.
Galo encantou na fase de grupos
A última vez que um time foi campeão da Libertadores da América após fazer a melhor campanha da primeira fase foi em 1996 - no caso, o River Plate. De lá pra cá, times que tiveram inícios claudicantes cresceram no final do campeonato. Curiosamente, aconteceu exatamente o oposto com o Atlético: as primeiras partidas foram de um nível técnico fora do comum, enquanto a partir das quartas-de-final o time começou a ratear. 
.
O time brasileiro que elimina o São Paulo é vice-campeão
.
Chega a ser estarrecedor. Em 2007, o Grêmio eliminou o São Paulo e foi vice. Em 2008 foi o Fluminense; em 2009 o Cruzeiro. A zica parecia ter espairecido em 2010, quando o Internacional tirou o Tricolor na semifinal e foi bicampeão da América, mas foi definitivamente destruída pelo Galo. 
.
Deixar de jogar em casa é mortal
.
A Massa fez a festa no Mineirão
Em 2002, o São Caetano precisou fazer a partida que era mandante (contra o mesmo Olimpia, inclusive) da final da Copa Libertadores da América no Pacaembu, e não no Anacletto Campanella. O Azulão perdeu um dos títulos mais ganhos da história da competição. Em 2005, também por força do regulamento, o Atlético Paranaense não pôde jogar na Arena da Baixada e levou sua partida para o Beira-Rio. Novo vice-campeonato da equipe que precisou fazer isso. Aqui, cabe uma lição dada pelo Galo: se um time rival tem um estádio que esteja dentro das regras, jogue nele. O Furacão não jogou no Couto Pereira só por ser de propriedade do Coritiba e foi presa fácil pro SPFC. 
.
O Atlético até bateu o pé e quis jogar no Independência, mas não reclamou de comemorar o título mais importante de sua história no Mineirão, casa do Cruzeiro. Basta ver a assombrosa renda de R$ 14 milhões, sendo R$ 7,2 milhões para o time alvinegro. 
.
O "Eu Acredito", enfim, deu resultado
.
A primeira vez que uma torcida encampou o "Eu Acredito" foi em 2008. A torcida do Fluminense, precisando incentivar um time que levou uma sacolada de 4x2 da LDU na primeira partida decisiva da Libertadores, criou o bordão. O time tirou o resultado, mas perdeu nos pênaltis a decisão. Vários outros times passaram a usá-lo em situações tão desesperadoras quanto, e poucas deram resultado. A Massa adotou o grito e, mais uma vez, contrariou a lógica. 
.
Toda campanha de título tem um jogo indiscutivelmente heróico
.
Victor fazendo história em BH
Vou dar dois exemplos rápidos: o jogo épico do tricampeonato da Libertadores de 2005 do São Paulo FC foi contra o River, na Argentina - as oitavas-de-final contra o Palmeiras, convenhamos, valeram "apenas" pelo gol de placa de Cicinho. Do Corinthians em 2011 foi o jogo de volta das quartas-de-final contra o Vasco - o mesmo caso do "valeu "apenas" pelo gol" aplica-se ao de Romarinho contra o Boca Juniors, na Bombonera. Mas... qual foi o jogo épico do Atlético ? O empate na bacia das almas contra o Tijuana no México ? O pênalti defendido por Victor no último minuto contra o time mexicano na partida de volta ? Os refletores apagados e a decisão por pênaltis contra o Newell's ? A final e o gol quase que no último lance de Leonardo Silva ? A reação improvável contra o São Paulo no Morumbi ? A incontestável goleada ante o Tricolor no Independência ? Os momentos mágicos contra o Arsenal de Sarandí na Argentina ou no Horto ? Cada jogo entrou pra história nessa campanha. 
.
Quanto menos decisões por pênaltis, melhor
.
Eu sempre achei o contrário, mas já vi quem afirmasse o que está escrito acima. E, sendo sincero, cada vez mais acho acho o contrário. Os pênaltis defendidos por Victor contra Tijuana e Newell's Old Boys deixam isso claro. E a cereja do bolo foi o primeiro pênalti da disputa ante o Olimpia defendido pelo arqueiro do Galo, cobrado por Herminio Miranda
.
Time de refugo não vai pra frente
.
Ronaldinho e Jô comemorando
Quem lembra de Leonardo Silva no Palmeiras não daria um tostão pelo atleta. Leandro Donizete idem. Marcos Rocha, até outro dia, era criticado no Atlético Goianiense (!). Richarlyson sempre foi um polivalente, mas nunca foi o jogador dos sonhos de ninguém. Mesmo que craque incontestável, Ronaldinho saiu em baixa (e põe baixa nisso) no Flamengo. era criticado desde os tempos de Corinthians e ganhou fama de mal profissional no Manchester City e no Internacional. Alecsandro, outro centroavante, vivia entre tapas e beijos no Vasco. Guilherme, ídolo no rival Cruzeiro, era visto com desconfiança até marcar o gol contra o Newell's. Mais uma escrita quebrada pelo Galo. 
.
...
.
Se todas essas maldições foram de uma vez pro espaço apenas o tempo há de dizer. O que podemos afirmar com certeza é que se um time foi campeão com tanta coisa contra, temos que reconhecer que a equipe é de fato especial. 
Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário :