sábado, 27 de julho de 2013

Tabelão da apuração do carnaval do Rio de Janeiro - 2013

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Não tinha muito o que mudar. Em tese, o resultado esperado do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro era isso aí mesmo. A apuração carioca foi muito mais justo que a paulista - até porque não tinha como ser pior que a da Terra da Garoa
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Ainda houve espaço para uma grande injustiçada, uma grande surpresa e uma escola que cada vez mais conquista a antipatia dos demais foliões por sempre desfilar mal e conseguir boas colocações.
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Vila Isabel: título incontestável
~ Algumas vezes eu digo que não tem como tirar ponto de determinada escola, dado o desfilaço feito pela agremiação. Mas é claro que, por vezes, essa escola vai mal. No caso da Unidos de Vila Isabel, não tinha nem discussão. Última escola a desfilar, a Vila saiu da Marquês de Sapucaí sabendo que seria tricampeã - ouso dizer até mesmo que já entrou com a certeza do título. Samba excelente feito por pesos pesados do porte de Martinho da Vila, Arlindo Cruz e André Diniz, dinheiro da BASF que patrocinou o enredo sobre a vida no campo, um desfile com a marca de Rosa Magalhães e de Carlinhos de Jesus... não tinha nem discussão. Título muito mais que merecido da Vila Isabel
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~ No final das contas, a Beija-Flor de Nilópolis mereceu o vice-campeonato. Em visível reformulação (a despeito de Laíla, que não abandona todos os seus inúmeros cargos nunca) após tornar-se hegemônica na última década, a escola de Nilópolis mostrou que sabe fazer carnaval como ninguém ao fazer um belo samba para um enredo bisonho e patrocinado sobre o cavalo Mangalarga Marchador. No fim das contas, a agremiação foi a melhor - já que a campeã fez quase que um desfile à parte.
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~ Desde o surgimento do carnavalesco Paulo Barros, a Unidos da Tijuca é a escola mais aguardada na Sapucaí. Não dá pra dizer que a azul-e-amarelo da Tijuca passou despercebida. Ela só não aconteceu e chocou como fazia antes. Desde o começo o enredo sobre a Alemanha não agradava, e faltou muito pro Pavão ser campeão.
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Imperatriz surpreendeu em 2013
~ Eis aqui a grande surpresa do carnaval carioca. Sem muito alarde, com um enredo feito integralmente pela sua Comissão de Carnaval (encabeçada por Cahê Rodrigues), ou seja, sem nenhum dedo de patrocínio nenhum, a Imperatriz Leopoldinense fez muito mais do que o esperado. Após um ano tumultuadíssimo, com  a suspeitíssima morte do grande mestre Marcone, a escola de Ramos relembrou seus bons tempos quando nunca era cotada e sempre ia bem. Com um samba correto (que ganhou vida própria na voz de Dominguinhos do Estácio) sobre o Pará, a Imperatriz abocanhou o quarto lugar que, pelas circunstâncias, é um título para a agremiação.
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~ A Acadêmicos do Salgueiro é conhecida pela sua capacidade de empolgar. Fazem parte da história da escola sambas-enredo com refrões inesquecíveis, carros alegóricos marcantes e aquela impressão de que a Academia do Samba vai ser campeã. Não foi assim em 2013. Ok, cantar que a escola "tem banca, moral e respeito" é válido e é verdade, mas isso e algumas sacadas interessantes sobre o mundo das celebridades não convenceram - e o Salgueiro fracassou retumbantemente. Faltou muito pro mestre Renato Lage fazer o mambembe enredo sobre a fama virar carnaval
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~ Cada vez mais eu acho que vejo um desfile (bem; muito) diferente dos jurados quando vejo o que a Acadêmicos do Grande Rio mostra. Pra começo de conversa: um enredo chapa-branca e político demais, defendendo a divisão que beneficia o Rio de Janeiro no tocante aos royalties do petróleo do pré-sal, simplesmente não deve ser nem pensado, muito menos levado em conta - e foi isso o que Roberto Szaniecki, um carnavalesco pra lá de incompetente, fez. O tom sério transformou-se num desfile que mais parecia um sonífero dos bons. Nem preciso comentar que o samba da escola era um imenso boi com abóbora. Era, no mínimo, pra brigar pra não cair - e ficou com a sexta colocação. Passou da hora de vermos como a Grande Rio consegue se sair tão bem em desfiles tão ruins - basta lembrar que a escola desfila vários artistas da Rede Globo ano após ano.
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Portela deixou uma ponta de decepção
~ Pelo segundo ano seguido a Portela apostou num samba com três refrões, de altíssima qualidade. Cantando Madureira, esperava-se uma águia ascendente, lutando na parte de cima. A baixa qualidade de suas fantasias e carros alegóricos, porém, destruíram qualquer chance da escola. Entretanto, fica o recado: a escola está no espírito. Se melhorar seu desempenho em quesitos estéticos, vai incomodar bastante nos próximos anos. 
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~ Foi, com certeza, o melhor desfile de Ivo Meirelles enquanto presidente. Cantando Cuiabá, a Estação Primeira de Mangueira fez um desfile novamente calcado na emoção e na força da Surdo Um, sua famosa bateria. Bateria que, aliás, foi dividida em duas, causando sensação sonora muito exótica. Como acontece há anos, faltou (muito) capricho e acabamento em alegorias e fantasias graças a imensa crise econômica atravessada pela verde-e-rosa.
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~ Não que exista enredo ruim, mas existem escolas que não combinam com determinados temas. Foi exatamente isso o que vitimou a União da Ilha do Governador, que falou do centenário de Vinícius de Moraes. Acostumada a temas leves, a Ilha se perdeu na execução de um dos maiores estandartes da literatura e da MPB - algo que nem de longe é tão leve assim. O samba também ficou irregular (apesar da sempre ótima atuação de Ito Melodia ao puxá-lo), com partes que pareciam que iam empolgar e não empolgavam e outras em tom menor. Se serve de consolo, a União da Ilha consolidou-se de vez no Grupo Especial ao não correr riscos de rebaixamento.
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São Clemente deu sorte esse ano
~ Pelo terceiro ano seguido no Especial (recorde da escola de Botafogo), a São Clemente claramente perdeu o tom. Famosa pela irreverência e por sempre mexer com o público, a amarelo-e-preto da Zona Sul tinha um enredo muito bem sacado pelo ótimo carnavalesco Fábio Ricardo e fez um samba horrendo, listando grandes novelas brasileiras. Faltou, inclusive, ritmo para a canção, que por vezes atropelava os próximos versos. Ao menos a escola não desfilará no primeiro horário no próximo ano, o que já evita vários problemas recorrentes para escolas que não são tão tradicionais assim. 
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~ Há pelo menos oito anos a Mocidade Independente de Padre Miguel é uma incógnita. Em alguns anos se supera e faz um desfilaço, em outros desaponta demais - e os fracassos vem sendo mais comuns na história recente da Mocidade. Em 2013, a verde-e-branco foi bancada pela família Medina e cantou a história do Rock in Rio. É um tema interessante, mas a pergunta que ficava era: daria samba ? Sim, deu samba (e um samba bem agradável, diga-se de passagem) - com direito ao retorno da paradinha da eterna Bateria Nota 10 no segundo refrão. Mais que um samba, deu um desfile. É óbvio que a atual Mocidade Independente, cheia de problemas políticos e econômicos, não faria um desfile pra título, mas fez pra estar perto ou ao menos voltar pro Desfile das Campeãs, e não pra lutar contra o rebaixamento. Disparadamente a maior injustiça do carnaval desse ano.
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~ Em 2012, o título do Grupo de Acesso da Inocentes de Belford Roxo pegou a todos de surpresa. Tanto que investigações foram feitas para apurar se houve algum esquema de corrupção para beneficiar a escola, já que o presidente da LESGA (Liga das Escolas do Grupo de Acesso) era também presidente da escola da Baixada Fluminense. A Inocentes nem prometia muito e vai embora sem deixar tanta saudade assim. Fica apenas o lamento de não ver tudo o que a escola poderia fazer falando sobre a Coreia, já que a associação que patrocinou o desfile não pagou o que prometeu à escola - bem como fez com a Unidos de Vila Maria em São Paulo.
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GRUPO DE ACESSO (SÉRIE A)
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Império da Tijuca chega ao Especial
~ O que era ruim conseguiu ficar ainda pior. Após o fim da nem um pouco saudosa LESGA após o episódio citado acima, foi fundada a Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro - LIERJ. O Grupo de Acesso, então, passou a ter incríveis dezenove (!) escolas em duas noites de desfile - até 2012 eram nove escolas em apenas uma noite. A campeã foi a Império da Tijuca, que não perdeu sequer um décimo na apuração e deixou para trás pesos pesados como a Unidos do Viradouro, a Império Serrano, a Estácio de Sá e a Caprichosos de Pilares. Que a tradicional escola do Morro da Formiga consiga passar pelo abismo existente entre quem sobe para e quem já está no Grupo Especial há mais tempo, algo que precisa urgentemente ser mudado na folia da Cidade Maravilhosa.
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Campeã: Império da Tijuca
Vice-campeã: Unidos do Viradouro
Terceiro lugar: Império Serrano
Rebaixadas: Sereno de Campo Grande, Unidos do Jacarezinho e Unidos de Vila Santa Tereza
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GRUPO B
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Campeã: Em Cima da Hora
Vice-campeã: Arranco
Terceiro lugar: Império da Praça Seca
Rebaixadas: Unidos de Villa Rica, Difícil É O Nome, Rosa de Ouro, Boi da Ilha do Governador e Mocidade de Vicente de Carvalho
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GRUPO C
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Campeã: Unidos do Cabuçu
Vice-campeã: Unidos de Bangu
Terceiro lugar: Acadêmicos do Engenho da Rainha
Rebaixadas: Acadêmicos de Vigário Geral, Arrastão de Cascadura, Lins Imperial, Gato de Bonsucesso e Corações Unidos do Amarelinho.
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GRUPO D
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Campeã: Mocidade Unida de Santa Marta
Vice-campeã: Leão de Nova Iguaçu
Terceiro lugar: Arame de Ricardo
Rebaixadas: Vizinha Faladeira, Flor da Mina do Andaraí e Tradição Barreirense
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